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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Cidade dos homens e Cidade de Deus

A eleição que mais importa

João contempla a Jerusalém Celeste na Tapeçaria do Apocalipse, no Château d"Angers (França). (Foto: Wikimedia Commons)

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Cristãos brasileiros, a eleição presidencial não deve levá-los a esquecer de sua eleição em Jesus Cristo. Esta é uma eleição soberana, graciosa, pessoal, e que não é perdida – nunca! Os cristãos brasileiros nasceram de pais brasileiros. Mas, como cristãos, nasceram de novo, do alto, por meio do Espírito Santo.

Se você é um cristão brasileiro, você é um cidadão daquela que é, verdadeiramente, a maior nação que o mundo já conheceu – e esta não é o Brasil. A maior nação que o mundo conhecerá não foi moldada por agendas políticas, nacionais, ideológicas ou étnicas, mas sim pelo nosso Redentor, o Senhor Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus. O credo desta nação não é uma falível Constituição Federal. Seu credo é sua declaração de fé em Cristo Jesus, como revelado na inspirada Escritura Sagrada. Diferente de um país fraturado, cristãos brasileiros podem, juntos, descobrir uma nova unidade nesse credo, como há tanto tempo proferiu George Whitefield:

“Pai Abraão, quem está com você nos céus? Os episcopais? Não! Os presbiterianos? Não! Os independentes ou metodistas? Não, não, não! Quem está com você? Nós, aqui, não sabemos seus nomes. Todos os que estão aqui são cristãos – crentes em Cristo –, homens que venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra de seu testemunho. É esse o caso? Então, Deus, me ajude, Deus, nos ajude a esquecer o nome de grupos e nos tornarmos cristãos de verdade.”

A maior nação que o mundo conhecerá não foi moldada por agendas políticas, nacionais, ideológicas ou étnicas, mas sim pelo nosso Redentor

Os cidadãos dessa nação buscam muito mais do que vida, liberdade e felicidade. Os cidadãos dessa nação são marcados pela ressurreição futura, vida eterna, liberdade em Cristo e a alegria em Deus. Sua cidadania é assinada pelo sangue de Jesus Cristo derramado na cruz e selada pelo Espírito Santo. Deus os chama de nação santa, um povo reunido de todas as etnias da terra e que é Sua própria propriedade pessoal, um povo que habitará com Ele na nova Jerusalém para sempre.

Esta nação sagrada está dispersa por muitas nações no mundo hoje, incluindo o Brasil. No entanto, não devemos esconder nossa cidadania eterna enquanto vivemos em nossas nações temporárias. Somos a luz deste mundo escuro – a luz celestial de nossas nações terrenas. Portanto, devemos agir como tal. Devemos suplicar para que a justiça de Deus opere. Como os cidadãos dessa nação aprendem na Escritura, ainda que “as nações se enfureçam e os povos tramem em vão [e] os reis da terra se levantem, e os príncipes conspirem unidos contra o Senhor e seu ungido”, o Messias que seria enviado a esta nação santa e escolhida, o único Deus “que está sentado nos céus ri; o Senhor zomba deles”. E Deus no futuro “os repreende[rá] na sua ira e os aterroriza[rá] no seu furor”. E o seu ungido, o único e verdadeiro Messias, os quebrará “com uma vara de ferro” e os “despedaçará como se fossem um vaso de barro” (Sl 2,4-5.9). E quanto aos juízes iníquos que torcem a justiça nas nações deste mundo, o Deus dessa nação santa diz: “Como homens morrereis e, como qualquer dos príncipes, caireis”. Portanto, os cidadãos dessa nação escolhida podem clamar: “Ó Deus, levanta-te, julga a terra, pois a ti pertencem todas as nações” (Sl 82,7-8).

Ainda que os cristãos brasileiros nesse mundo votem contra a injustiça e a violência, mas mesmo assim sejam derrotados, eles devem lembrar que, no entanto, são muito mais do que brasileiros – são cristãos. Talvez alguns desses cristãos brasileiros venham a ser perseguidos e sofram diretamente a maldade desse mundo. Mas, como John Owen escreveu: “Mesmo que caiamos, a nossa causa será certa, verdadeira e infalivelmente vitoriosa porque Cristo está assentado à mão direita de Deus. O Evangelho triunfará e isso me conforta extraordinariamente”.

Muitos cristãos brasileiros podem não ter noção clara do risco que estão correndo. Podem supor que haja alguma escapatória mágica, tal qual um “arrebatamento secreto”, crença abrigada por muitos no Brasil. Mas, como Jürgen Moltmann escreveu, esta “nova apocalíptica dos fundamentalistas norte-americanos [e que foi trasplantada para o Brasil por missionários] trabalha com elementos de ciência-ficção, e dificilmente é mais séria que as fantasias de Batman”. Talvez muitos cristãos brasileiros tenham medo de aparentarem ser conspiracionistas. Dessa forma, correm o risco de ignorar que há, sim, uma conspiração maligna em ação, como também aprendemos nas Escrituras, e que toda igreja acabará por ser objeto final da odiosa ira. Mas não devem temer o futuro.

Os cristãos brasileiros não devem esperar ansiosamente por um salvador do Brasil, mas devem esperar ansiosamente por seu Salvador que virá em glória e poder. Seu Salvador não se assentará no Palácio da Alvorada; Ele se assentará no grande trono branco

Cristãos brasileiros devem lembrar que, quando jovem teólogo na Baviera, Joseph Ratzinger intuiu que a igreja passaria por um processo de simplificação que o cristianismo teria de enfrentar nos anos seguintes. O perfil da nova igreja seria de uma igreja pequena, forçada a abandonar importantes lugares de culto e com menos influência na política. O futuro papa estava convencido de que a fé cristã iria passar por um período similar ao do Iluminismo e da Revolução Francesa, época marcada por martírios de cristãos e perseguições a clérigos. Mas desse período resultaria uma Igreja mais simples e mais espiritual. Como ele escreveu:

“A Igreja diminuirá de tamanho. Mas dessa provação sairá uma Igreja que terá extraído uma grande força do processo de simplificação que atravessou, da capacidade renovada de olhar para dentro de si. Porque os habitantes de um mundo rigorosamente planificado se sentirão indizivelmente sós. E descobrirão, então, a pequena comunidade de fiéis como algo completamente novo. Como uma esperança que lhes cabe, como uma resposta que sempre procuraram secretamente.”

Acima de tudo, os cristãos brasileiros precisam, então, lembrar que a sua cidadania não está no Brasil, está em um novo céu e uma nova terra, na Santa Cidade, na nova Jerusalém, que de Deus descerá do céu. Por esse motivo, os cristãos brasileiros não devem esperar ansiosamente por um salvador do Brasil, mas devem esperar ansiosamente por seu Salvador que virá em glória e poder. Seu Salvador não se assentará no Palácio da Alvorada; Ele se assentará no grande trono branco. E seu Salvador não os serve por apenas quatro ou oito anos, ele os governa para sempre. Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e ninguém pode retirar esse título dele. Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata de Sua natureza, e sustenta o universo pela palavra de Seu poder. Ele governa com perfeita justiça julgando os pecadores; mas Ele perdoa e justifica os pecadores que creem nele com seu próprio sangue. Seu nome é Jesus Cristo e Ele – e somente Ele – é o nosso Salvador.

Os cristãos brasileiros, mesmo quando derrotados em sua luta para, de alguma forma limitada, mas ainda assim digna, ver triunfar a verdade e a justiça no Brasil, não devem sofrer como aqueles que não têm esperança em um Salvador

Aliás, cristãos brasileiros, lembrem-se de que o único Deus com quem nos relacionamos não é uma divindade que possamos explicar, manipular ou domesticar: “O nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12,29).

Portanto, os cristãos brasileiros, mesmo quando derrotados em sua luta para, de alguma forma limitada, mas ainda assim digna, ver triunfar a verdade e a justiça no Brasil, não devem sofrer como aqueles que não têm esperança em um Salvador. Mesmo na derrota, os cristãos brasileiros podem encontrar forças da fé, para continuar fiéis ao seu chamado e eleição, como aprendemos do testemunho do mártir James Renwick: “Tem havido dias gloriosos e grandiosos do Evangelho nesta terra, mas eles serão nada em comparação àquilo que haverá no futuro”. Portanto, os cristãos brasileiros podem se alegrar porque, crentes no Único Deus, podem crescer em santidade, alegria, confiança e esperança naquele que dará fim às guerras, derrotará Satanás, trará justiça às nações, consertará o dano das injustiças e removerá os efeitos do pecado na criação: no grande Rei, o Senhor Jesus, que reina desde agora e para sempre de seu trono de graça, a quem seja dada glória para sempre!

“Nós, pecadores, te imploramos, ó Senhor Deus, que nos ouças e nos libertes; por tua agonia e suor de sangue; por tua cruz e paixão; por tua preciosa morte e sepultura; por tua gloriosa ressurreição e admirável ascensão; e pela vinda do Espírito Santo. [...] No tempo de nossa tribulação, no tempo de nossa prosperidade; à hora da morte, e no dia do juízo. [...] Conforta, suplicamos-te, clementíssimo Deus, os teus servos abatidos e desanimados em meio às tristezas e dificuldades do mundo; e concede que, pelo poder do teu Santo Espírito, prossigam alegres em sua jornada na vida, dando-te contínuas graças por tua longânima providência; por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.”

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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