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Infelizmente, há tempos, muitos jornalistas que trabalham para meios de comunicação com grande visibilidade se tornaram militantes de redação. Para estes, só é “democrática” a opinião alinhada com a ideologia que eles servem. Tudo aquilo que não está de acordo com a agenda dos militantes esquerdistas encastelados nos jornais é tratado como “antidemocrático”. Essa doença da militância acomete até os comentaristas de religião e os que fazem a pauta evangélica nos grandes meios de comunicação.
Alguns exemplos ilustram como colunistas e jornalistas se portam como militantes, sem nenhuma preocupação com a verdade dos fatos, mas com a promoção da causa esquerdista.
Desinformação a serviço da ideologia
O pastor “cristão progressista” Ronilso Pacheco propôs, em 2016, invadir e ocupar igrejas evangélicas, com o intuito de torná-las ONGs psolistas. Apareceu num vídeo de 2017, conversando animadamente com o deputado federal Marcelo Freixo (à época no PSol), que o reconheceu como “adepto da Teologia da Libertação”. Aliás, atualmente estuda não em Cuba ou na Venezuela, mas no Seminário Teológico Union, em Nova York, nos Estados Unidos, cuja presidente, Serena Jones, repudia o nascimento virginal de Cristo, por considerá-lo “bizarro”; a crença de que Deus é onipotente e onisciente como “uma invenção da teoria jurídica romana e da mitologia grega”; bem como nega a ressurreição de Jesus.
Em matéria publicada no The Intercept, em 4 de fevereiro de 2020, Ronilso afirmou, num texto onde ele tratava de um suposto complô calvinista para influenciar a Presidência da República, que após o presidente Jair Bolsonaro ganhar “de presente o livro Contra a idolatria do Estado, de [minha] autoria”, passamos “a ficar cada vez mais próximos” e passei “da admiração a Bolsonaro à defesa política e teológica de sua campanha e, posteriormente, de sua gestão”. Tais afirmações de proximidade e defesa de governo são mentirosas, frutos dos delírios esquerdistas do colunista.
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Em 17 de agosto de 2020, Ronilso fez outra “matéria” no The Intercept citando a mim, a Tiago Santos e a Renato Vargens como “evangélicos [fundamentalistas] brasileiros que miram no Black Lives Matter” (BLM). Entretanto, em nenhum momento ele provou que o BLM não é um movimento tóxico para a sociedade. Ele reconheceu que o BLM rompe “com o requisito de estrutura familiar nuclear” e que uma das líderes do BLM e suas colegas são “marxistas treinadas [...] superversadas em teoria ideológica”. Além disso, o BLM esteve envolvido em queima de Bíblias e ataques a templos e esculturas cristãs nos Estados Unidos, e seus líderes apoiam o ditador venezuelano Nicolás Maduro, cujas políticas socialistas trouxeram colapso econômico e miséria incalculáveis a milhões de pessoas em seu país. Na verdade, não é possível ser cristão, crer na ética bíblica e, concomitantemente, aceitar as premissas do BLM, que milita contra a família nuclear, a polícia e as prisões, além de demonizar a “heteronormatividade” e a liberdade econômica.
Preparando uma lista de alvos
Em 17 de maio de 2021, Ronilso, que também é colunista do UOL, fez uma lista de pastores em sua conta no Twitter que, para ele, são “bolsonaristas”. De acordo com Ronilso, estes, ao “afastarem suas imagens do bolsonarismo”, segundo sua interpretação, “ampliam [sua] desonestidade e o mau-caratismo”. Ele cita, além de mim, Augustus Nicodemus, Renato Vargens e Jonas Madureira, entre outros. Em meio a ataques pessoais e insultos, ele revela a razão de sua repulsa: “Negam a teologia negra, queer, feminista, da libertação, indígena etc., porque, óbvio, pra eles só existe [sic] eles. Não poderiam apoiar outra coisa que não fosse ditadura, repressão e negação da diferença”. De acordo com o amoroso e compassivo pastor “cristão progressista”, os citados “são indesculpáveis” por não se alinharem às pautas da esquerda.
Colunistas e jornalistas se portam como militantes, sem nenhuma preocupação com a verdade dos fatos, mas com a promoção da causa esquerdista
Em 9 de setembro de 2021, em sua conta no Twitter, Luciana Petersen, uma “cristã progressista” que se identifica como podcaster, teve o trabalho de publicar fotos de 39 pastores, líderes e cantores de igrejas históricas, pentecostais, carismáticas e neopentecostais, além de cinco igrejas, que ou apoiaram ou estavam nas manifestações de 7 de setembro e que seriam, de acordo com a interpretação de Luciana, apoiadores do “fascismo” e do “golpe”, e se “dobraram ao bezerro de ouro”. Entre as dezenas de imagens, há uma com uma legenda que fala de “pastores brancos que não conheço todos, fechados com Bolsonaro”. Ela publicou os pedidos de oração pelo país que eu e Hernandes Dias Lopes publicamos em 7 de setembro, “como quem não quer nada”, segundo ela. E concluiu: “deixo com vcs [sic] a interpretação”.
Após o trabalho de expor dezenas de nomes e fotos pessoais, ela recebeu um elogio de Ronilso: “To [sic] amando esse seu serviço de utilidade pública. Fonte primária para articulistas rs.” Ao que ela respondeu: “hahahahaha servindo a Deus com meu dom da fofoca”. Importa frisar que apoiar um presidente democraticamente eleito não é crime, e o tal do “golpe” “fascista” imaginado pelos esquerdistas nunca aconteceu. Outro detalhe a se destacar é que as publicações de ambos no Twitter são acompanhadas por dezenas de ataques pessoais, ameaças e xingamentos feitos por seus seguidores.
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Em 25 e 26 de novembro desse ano, participei, em Anápolis (GO), de um encontro do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR), entidade na qual sirvo como secretário do conselho deliberativo. Durante os dois dias, uma jornalista do UOL, Juliana Arreguy, que, parece, é egressa do setor de jornalismo esportivo, circulou pelo evento, fazendo entrevistas e tirando fotos. Depois de descrever o que vem a ser o IBDR, baseado em uma fonte secundária, e fazer um relato do evento, ela faz menção de minha participação de forma muito imprecisa. Num contexto em que Angela Gandra Martins, da Secretaria da Família, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, é mencionada, ela atribui a mim a seguinte afirmação: “‘Então é melhor não tirar foto’, recomendou o pastor Franklin Ferreira, secretário do conselho deliberativo e responsável por reger [sic] a oração de agradecimento antes do jantar”. Na sequência, a jornalista continua: “O pastor [...] possui bom trânsito no governo [...]. Ao se dirigir ao salão onde foi servido o jantar, Franklin foi apresentado a um associado que o cumprimentou com a seguinte observação: ‘Estamos no mesmo grupo, o Evangélicos com Bolsonaro’”.
O que foi retratado é uma impostura. Sobre a foto, ela atribuiu a mim uma fala de outro membro do IBDR. Tal informação é facilmente verificável na gravação realizada pela equipe da UniEvangélica e disponível on-line. A afirmação de que tenho “bom trânsito no governo” é uma invenção da jornalista. Não tenho contato com membros do governo e nem nutro este interesse. Sou pastor e professor de Teologia, e é nessa perspectiva que ofereço minhas impressões sobre o mundo da política. E, por fim, o cumprimento que ela atribui de “um associado” a mim também é equivocado. Confirmar informações que se visa publicar é o mínimo que se espera de um trabalho sério de jornalismo. Mas em nenhum momento a jornalista me dirigiu palavra ou me procurou para conversar. Alertada dos seus erros pelo IBDR, a jornalista corrigiu dias depois o nome de quem falou da foto, e manteve o restante das informações equivocadas, acrescentando que, de acordo com o IBDR, “o pastor não se recorda do episódio relatado”. Na verdade, tal episódio não existiu. E os três ou quatro colegas que estavam comigo durante o jantar podem confirmar que ninguém se dirigiu a mim nos termos descritos pela jornalista.
Não tenho contato com membros do governo e nem nutro este interesse. Sou pastor e professor de Teologia, e é nessa perspectiva que ofereço minhas impressões sobre o mundo da política
Aliás, o tom da matéria é contrário à indicação de André Mendonça para o STF, mas, se a jornalista almejava algum resultado de sua coluna, perdeu em muito o timing – a matéria foi publicada nove dias depois do evento e quatro dias após a aprovação do nome de André Mendonça como novo ministro do STF.
Em sua coluna na Veja, em 6 de dezembro, Matheus Leitão, depois de lamentar a exclusão de um pastor “cristão progressista” de uma organização de pastores associada à Convenção Batista Brasileira, supostamente “perseguido por bolsonaristas e fundamentalistas”, escreveu: “Pessoalmente, estou preparando uma lista dos pastores brasileiros que apoiaram Jair Bolsonaro. Na minha visão, é importante fazer esse registro para a história”, isto é, quando “o movimento evangélico brasileiro” se aliou “a um governo fascista encabeçado por Jair Bolsonaro”. Leitão, que se apresenta como “sobrinho bisneto, neto, sobrinho e primo de pastores”, parece desconhecer que as igrejas têm suas normas internas – confessionais e canônicas – que devem ser respeitadas pelo Estado, outras entidades e pessoas. Na verdade, é uma violência à laicidade e à liberdade de crença um jornalista se arrogar dizer como uma entidade eclesiástica privada deve ter sua teologia e critérios de aceitação de fiéis.
Novamente, vale frisar: apoiar o presidente não é crime, nem pecado; quanto à história, o legado dessa presidência será colocado sob escrutínio nas eleições de 2022. Já o esquerdismo, tão ao gosto desses colunistas, legou ao país um rastro de miséria, corrupção, violência, deseducação e instituições quebradas e vilipendiadas.
A violência revolucionária
Estes poucos exemplos ilustram que muitos setores da imprensa brasileira viraram ferramenta de propaganda da esquerda, traindo a importante tarefa de informar o público, ao promover matérias inexatas ou falsas, sem compromisso com a verdade dos fatos, como as apontadas. Além de fazer panfletagem das pautas da esquerda, estes setores também têm operado, em conjunto com a maioria das empresas que controlam a internet, para censurar e suprimir qualquer conteúdo que se oponha à agenda socialista. Para todos esses, quem não reza pela nefasta cartilha do ideário da extrema-esquerda é um vilão malvado que deve ser abatido.
Mas os articulistas citados não têm trânsito ou sequer influência sobre a maior parte da igreja evangélica brasileira. Muito menos a conhecem, de fato. Assim, ao rotularem pastores e líderes evangélicos de “bolsonaristas” e “fascistas”, só alimentarão ainda mais o desprezo e a imaginada superioridade que as elites esquerdistas bem-nascidas têm do Brasil real, ao mesmo tempo em que sonham com Paris, Nova York ou Londres, e que vivem no Brasil como se carregassem um peso. Portanto, qual o intento desses “formadores de opinião” em fazer listas de pastores supostamente “bolsonaristas” e “fascistas”?
O que os colunistas estão fazendo é colocar um alvo em quem não concorda com a nefasta ideologia que eles idolatram
À luz do estudo da mentalidade revolucionária da extrema-esquerda, o que os colunistas estão fazendo é colocar um alvo em quem não concorda com a nefasta ideologia que eles idolatram. Associar pastores e líderes cristãos ao “bolsonarismo”, “fascismo” ou “supremacismo”, sem que estes o sejam de fato, tem como objetivo “neutralizá-los”. O que se tem não é o livre embate de ideias, mas o ataque pessoal. Assim, na verdade, formadores de opinião estão desumanizando o “inimigo”, para justificar a destruição de reputações, a intimidação, o cancelamento, a perseguição e a violência, inclusive dentro das igrejas.
Foi isso o que aconteceu com o deputado federal Marco Feliciano (PSC), em março de 2013, quando mais de 200 pessoas, com cartazes, faixas e gritos de ordem, atacaram-no verbalmente na porta da Igreja Assembleia de Deus – Catedral do Avivamento, em Franca (SP), quando ali ele foi pregar. Em agosto e dezembro de 2013, ele também foi agredido verbalmente nos aeroportos de Brasília e Recife. Em 15 de setembro de 2013, em São Sebastião (SP), durante um culto evangélico onde se reuniam cerca de 15 mil cristãos, duas moças se beijaram diante de todos, interrompendo o culto. Feliciano deu voz de prisão a elas. O Código Penal considera crimes contra o sentimento religioso: “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Segundo a lei penal brasileira, as moças praticaram (em tese), em um só ato, pelo menos aos olhos de um leigo é o que parece, três crimes: escarneceram de um líder religioso publicamente por motivo de suas crenças; interromperam uma liturgia; e ainda por cima ofenderam um ato religioso, no caso o próprio culto.
Formadores de opinião estão desumanizando o “inimigo”, para justificar a destruição de reputações, a intimidação, o cancelamento, a perseguição e a violência, inclusive dentro das igrejas
Mas, apesar dos crimes em tese praticados, nenhuma punição foi imposta. Nem Feliciano, nem os 15 mil fiéis que participavam do culto prestaram queixa contra as moças. O mais surpreendente da história é que, em 2015, as duas moças resolveram processar o pastor e tentar ganhar R$ 2 milhões em indenização por danos morais decorridos, segundo elas, de homofobia, modalidade de crime que está pendente de julgamento no STF (na ADO 26). Mas, segundo apurado, Marco Feliciano ganhou o referido processo. O motivo de todas estas agressões foi o fato de o pastor ter assumido a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.
Assim, se houver ataques à reputação, constrangimento, perseguição e violência contra pastores e igrejas evangélicas, já sabemos o estopim de tais atos, alimentando e fomentando o chamado “discurso de ódio”.
Embaralhando o jogo
Por fim, é importante frisar: os esquerdistas confundem deliberadamente Estado laico com Estado laicista. O Estado brasileiro é laico. E o Estado laico, corretamente entendido como colaborativo no modelo brasileiro, significa que o Estado deve proteger amplamente a liberdade religiosa tanto em sua dimensão pessoal como social. E o Estado laico não deve impor, por meio de leis e decretos, nenhuma verdade especificamente religiosa, mas elaborar as leis com base nas verdades morais naturais. E o Estado laico reconhece que a liberdade, inclusive religiosa, é uma dádiva, um direito natural, não uma concessão do Estado. Já o Estado laicista, como ensinam Thiago Rafael Vieira e Jean Regina em Laicidade Colaborativa Brasileira: da aurora da civilização à Constituição brasileira de 1988, é “muito mais do que um simples sistema de relação entre a Igreja e o Estado, mas uma verdadeira ideologia, um movimento social, político e cultural que promove o fim do fenômeno transcendental oriundo da fé em geral. De modo que o laicismo se apresenta, pois, como uma forma fundamentalista de religião secular e tem algo de uma nova forma de ‘confessionalismo’” – como na China comunista. Esse é o Estado ansiado ardorosamente pela esquerda, inclusive por “cristãos progressistas”. E o século 20 nos ensina o que o laicismo legou: 100 milhões de homens e mulheres assassinados impiedosamente no altar da ideologia e do Estado.
Os “cristãos progressistas” não podem ser considerados cristãos ou evangélicos, pois o que vale para eles é o apreço à ideologia e não à revelação divina recebida pela fé
E sejamos claros, mais uma vez. Os chamados “cristãos progressistas” tentam se passar por cristãos ou evangélicos. Mas, como disse Karl Barth, eles “têm uma fé diferente, um espírito diferente, um Deus diferente” do que os cristãos católicos, protestantes e pentecostais têm confessado historicamente. Logo, os “cristãos progressistas” não podem ser considerados cristãos ou evangélicos, pois o que vale para eles é o apreço à ideologia e não à revelação divina recebida pela fé. Os “cristãos progressistas” repudiam o Deus uno e trino, criador e soberano, a autoridade da Bíblia Sagrada, a seriedade do pecado, a absoluta centralidade do salvador Jesus Cristo, a santidade, a igreja e o poderoso triunfo de Jesus ao fim da história. Logo, o “cristianismo progressista” é uma mixórdia que tem mais relação com o gnosticismo, o marcionismo e o pelagianismo, as antigas heresias inimigas da fé cristã, do que com a fé no único Messias, o Senhor Jesus.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos