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João Calvino, renomado teólogo, pastor e reformador francês, nasceu em Noyon, na região da Picardia (França), em 10 de julho de 1509, e faleceu em Genebra (Suíça), em 27 de maio de 1564. Ele é famoso por seu papel fundamental na Reforma Protestante e por desenvolver a corrente teológica conhecida como calvinismo, sendo reputado com um dos quatro pensadores cristãos mais destacados da história. Sua obra mais importante, intitulada As institutas da religião cristã, teve grande impacto no estudo teológico. Além disso, Calvino foi essencial na organização da Igreja Reformada em Genebra, que se tornou um modelo para igrejas reformadas ao redor do mundo.
Por que ler Calvino?
Ler as obras de Calvino é importante por diversas razões, especialmente para aqueles interessados em teologia, história da Reforma Protestante ou história do cristianismo em geral. Ele foi um dos principais reformadores protestantes do século 16 e uma figura central na formação do pensamento teológico e cultural do mundo ocidental.
Sua obra mais famosa, As institutas da religião cristã, é uma das exposições teológicas mais influentes da história cristã. Nela, ele organiza de forma sistemática as doutrinas da Reforma, como a soberania de Deus, a predestinação e a justificação pela fé, que moldaram a teologia protestante posterior. Ele também se destacou como um exegeta prolífico, sendo seus comentários sobre a Bíblia amplamente lidos e estudados atualmente. Eles oferecem insights detalhados sobre o texto bíblico e refletem sua compreensão rigorosa e reverente das Escrituras. Além de seu conteúdo teológico, Calvino é reconhecido por sua clareza e precisão no uso da linguagem. Seus escritos representam um exemplo de prosa teológica que alia profundidade intelectual com uma apresentação acessível e direta.
Ademais, Calvino desempenhou um papel crucial na Reforma do século 16, movimento que alterou significativamente a paisagem religiosa, social e política europeia. Suas obras contribuem para compreender as bases teológicas que sustentaram essa revolução e suas repercussões duradouras. As ideias de Calvino não apenas moldaram a religião, mas também deixaram marcas na política e na cultura. O calvinismo teve um papel importante na formação de sociedades baseadas em valores como o trabalho árduo, a disciplina, a ética e a governança que priorizam a responsabilidade individual.
A obra mais famosa de Calvino, “As institutas da religião cristã”, é uma das exposições teológicas mais influentes da história cristã
A influência de Calvino perdura ao longo dos séculos, deixando sua marca em áreas diversas como ética, direito, economia e política. Seu pensamento contribuiu para moldar tradições protestantes, como as igrejas Anglicana, Batista, Congregacional e Presbiteriana, sendo objeto contínuo de estudo e debate. Estudar suas obras não apenas possibilita compreender um período crucial da história, mas também explorar questões teológicas profundas que seguem pertinentes até hoje.
A vocação pastoral nos escritos de Calvino
Calvino elaborou valiosos ensinamentos sobre a vocação pastoral, enfatizando que essa vocação vai além de uma simples escolha pessoal ou profissão, sendo, na verdade, um chamado divino. Para ele, ser pastor significa atender a um chamado específico de Deus, o que traz consigo uma grande responsabilidade espiritual e moral. É essencial que o pastor sinta internamente essa convicção do chamado e receba a aprovação da igreja cristã.
Além disso, Calvino destaca a importância da pregação da Palavra de Deus no centro da vocação pastoral. Ele acredita que a principal missão do clérigo é expor fielmente as Escrituras, ensinando e aplicando suas verdades à vida dos cristãos. Em sua visão, a pregação é o meio pelo qual Deus se comunica com Seu povo e, portanto, deve ser conduzida com seriedade, clareza e fidelidade ao texto bíblico.
Calvino também enxerga o papel do pastor como um verdadeiro “pastor” no sentido literal – alguém responsável pelo cuidado espiritual da congregação. Ele destaca a importância de conhecer as necessidades dos membros da igreja, oferecer orientação espiritual, consolar os aflitos e corrigir os desviados. Esse cuidado pastoral requer tanto compaixão quanto firmeza. Adicionalmente, Calvino defende que o caráter do pastor é tão crucial quanto suas habilidades teológicas e capacidade de pregação. Ele argumenta que o pastor deve servir como exemplo de piedade em sua própria vida, refletindo em seu comportamento pessoal os princípios que ele ensina. Integridade, humildade e a prática da oração são consideradas qualidades fundamentais para os clérigos, de acordo com ele.
Além disso, Calvino enfatizava a importância de uma formação sólida para aqueles que se sentem chamados ao ministério, estabelecendo a Academia de Genebra como um centro de educação teológica para pastores e líderes religiosos. Ele via o estudo das línguas bíblicas, da teologia e da história da igreja como elementos cruciais para desempenhar eficazmente o papel pastoral.
Outro ponto relevante em sua perspectiva era a defesa da pureza na igreja, enfatizando que os pastores têm o dever de proteger a comunidade contra ensinamentos errôneos e condutas imorais. Isso envolve tanto a pregação correta quanto a aplicação disciplinar eclesiástica quando necessário.
Os ensinamentos de Calvino sobre o ministério pastoral ressaltam a seriedade e santidade desse chamado, servindo como guia para aqueles que buscam servir fielmente a Deus e à sua congregação. Abaixo, seguem citações dele sobre a vocação pastoral, retiradas de suas mais importantes obras:
As institutas da religião cristã
“[Deus Se dignou em nos consagrar a Si mesmo] as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar Sua própria voz.” (As institutas, IV.1.5)
“[Visto] que foi aos pastores incumbida a pregação da doutrina celeste; vemos que todos, a uma, estão sujeitos à mesma disposição, de sorte que se permitam ser dirigidos, com espírito brando e dócil, pelos mestres criados para esta função.” (As institutas, IV.1.5)
“Entre tantos dotes preclaros com os quais Deus há exornado o gênero humano, esta prerrogativa é singular: que digna a Si consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar Sua própria voz.” (As institutas, IV.1.5)
A influência de Calvino perdura ao longo dos séculos, deixando sua marca em áreas diversas como ética, direito, economia e política
“A erudição unida à piedade e aos demais dotes do bom pastor são como uma preparação para o ministério. Pois aqueles que o Senhor escolhe para o ministério, equipa-os antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que lhe não venham vazios e despreparados.” (As institutas, IV.3.11)
“Portanto, esse é o poder soberano com o qual os pastores da igreja, independentemente do título que recebam, devem estar investidos, para que tenham grande ousadia em fazer todas as coisas pela Palavra de Deus; obriguem todo poder, glória, sabedoria e exaltação do mundo a se submeterem e a obedecerem à sua majestade; sustentados pelo poder do Senhor, comandem a todos, desde o mais importante até o mais humilde; edifiquem a casa de Cristo e derrubem a de Satanás; alimentem as ovelhas e expulsem os lobos; instruam e exortem os ensináveis; acusem, repreendam e persuadam os rebeldes e obstinados; unam e soltem; por fim, se necessário, lancem raios e relâmpagos, mas façam todas as coisas com base na Palavra de Deus.” (As institutas, IV.8.9)
Comentários à Sagrada Escritura
“A Escritura amiúde designa a Davi pelo título de pastor; mas ele mesmo atribui tal ofício a Deus, assim confessando que ele é totalmente insuficiente para tal ofício, salvo só no caso em que ele é ministro de Deus.” (Salmos, vol. 1 [Sl 28,9])
“Se Paulo tivesse usado a acuidade de um filósofo e a linguagem pomposa em seu trato com os coríntios, o poder da Cruz de Cristo, no qual a salvação dos homens consiste, teria sido sepultada, porque ele não poderia nos alcançar desta maneira.” (1Coríntios [1Co 1,17])
“A fé não admite glorificação senão exclusivamente em Cristo. Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens os privam de sua genuína grandeza. Pois a coisa mais importante de todas é que eles são ministros da fé, ou seja: conquistam seguidores, sim, mas não para eles mesmos, e, sim, para Cristo.” (1Coríntios [1Co 3,5])
“Ministros são aqueles que colocam seus serviços à disposição de Cristo, para que alguém possa crer nele. Além do mais, eles não possuem nada propriamente seu do que se orgulhar, visto que também não realizam nada propriamente seu, e não possuem virtude para excelência alguma exceto pelo dom de Deus, e cada um segundo sua própria medida; o que revela que tudo quanto um indivíduo venha a possuir, sua fonte se acha em outrem. Finalmente, ele os mantém todos juntos como por um vínculo comum, visto que tinham necessidade do auxílio mútuo.” (1Coríntios [1Co 3,5])
“Os ministros são postos lado a lado com o Seu Senhor à guisa de comparação. A razão para tal comparação é que os homens, atribuindo pouco valor à graça de Deus, são excessivamente liberais em enaltecer os ministros; e assim furtam o que é de Deus e o transferem para si próprios.” (1Coríntios [1Co 3,7])
“Não lograremos progresso a menos que o Senhor faça próspera a nossa obra, os nossos empenhos e a nossa perseverança, de modo a confiarmos à sua graça a nós mesmos e tudo o que fazemos” (1Coríntios [1Co 3,7])
“Os genuínos ministros não trabalham para si mesmos, mas para o Senhor. [...] Não lograremos progresso a menos que o Senhor faça próspera a nossa obra, os nossos empenhos e a nossa perseverança, de modo a confiarmos à sua graça a nós mesmos e tudo o que fazemos.” (1Coríntios [1Co 3,7])
“Paulo ensina que o alvo de todos os ministros deve ser, antes de tudo: não ficar de espreita à espera do aplauso da multidão, senão que devem agradar ao Senhor. Ele procede assim com vistas a evocar o trono do juízo divino e a pôr aí os mestres ambiciosos que se achavam intoxicados pelas glorificações do mundo e não pensavam em nada mais...” (1Coríntios [1Co 3,8])
“Quando Deus resolve, por si mesmo, levar avante as coisas, ele nos toma, seres insignificantes que somos, como seus auxiliares e nos usa como seus instrumentos.” (1Coríntios [1Co 3,9]).
“Um ministro sábio deve determinar qual deva ser o seu método de ensino, e persistir neste plano.” (1Coríntios [1Co 4,18])
“É dever de um bom pastor induzir seu rebanho a seguir seu caminho de maneira pacífica e afável, de modo que ele permita ser guiado sem o uso da violência. Concordo que às vezes é necessário o uso de severidade, mas ele [o bom pastor] deve sempre começar pela benignidade, e perseverar nela enquanto seu ouvinte se mostrar tratável.” (2Coríntios [2Co 10,2])
“A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele.” (Gálatas [Gl 1,1])
“Os pastores piedosos e probos terão sempre que manter esta luta de desconsiderar as ofensas daqueles que querem desfrutar de vantagem em tudo. Pois a Igreja terá sempre em seu seio pessoas hipócritas e perversas, as quais preferem suas próprias cobiças à Palavra de Deus. E mesmo as pessoas boas, quer por alguma ignorância quer por alguma fraqueza, são às vezes tentadas pelo diabo a ficar iradas com as fiéis advertências de seu pastor. É nosso dever, pois, não ficar alarmados por quaisquer gêneros de ofensas, contanto, naturalmente, que não desviemos de Cristo nossas débeis mentes.” (Gálatas [Gl 1,10])
“Ainda que o mundo inteiro fosse incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável. E aqueles que ensinam o evangelho sob o comando de Deus não estão desperdiçando seu tempo, mesmo quando seu labor não produza fruto.” (Gálatas [Gl 2,2])
“... os pastores genuínos não se precipitam temerariamente ao sabor de sua própria vontade, e, sim, são levantados pelo Senhor. [...] Nenhum homem estará apto para tão excelente ofício, caso não seja ele formado e produzido por Cristo mesmo. O fato de termos ministros do evangelho é um dom divino; o fato de que se desincumbem da responsabilidade que lhes foi confiada é igualmente um dom divino.” (Efésios [Ef 4,11])
“Deus mesmo não desce do céu para nós, nem diariamente nos envia mensageiros angelicais para que publiquem sua verdade, senão que usa as atividades dos pastores, a quem destinou para esse propósito.” (As pastorais [1Tm 3,15])
“... Em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja a proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade.” (As pastorais [1 Tm 3,15])
“Este é o principal dote do bispo que é eleito especificamente para o magistério sagrado, porquanto a Igreja não pode ser governada senão pela Palavra.” (As pastorais [Tt 1,9])
“Não se requer de um pastor apenas cultura, mas também inabalável fidelidade pela sã doutrina, ao ponto de jamais apartar-se dela.” (As pastorais [Tt 1,9])
“O pastor necessita de duas vozes: uma para ajuntar as ovelhas, e outra para espantar os lobos ladrões. A Escritura o mune com os meios de fazer ambas as coisas, e aquele que tem sido corretamente instruído nela será capaz tanto de governar os que são suscetíveis ao aprendizado quanto a refutar os inimigos da verdade.” (As pastorais [Tt 1,9])
“O bispo é realmente sábio quando retém a fé genuína; e faz um correto uso de seu conhecimento quando o aplica à edificação do povo.” (As pastorais [Tt 1,9])
Outras obras
“Que aqueles que desejam desempenhar bem a tarefa do ministério da Palavra aprendam não apenas a discursar e a falar em público, mas especialmente a penetrar na consciência, para que as pessoas vejam o Cristo crucificado e seu sangue escorrendo. Se a igreja tiver esse tipo de artista, ela não precisará de madeira nem de pedra, ou seja, não precisará de representações sem vida e, na realidade, não precisará mais de imagem alguma.” (citado em Herman J. Selderhuis, John Calvin: a pilgrim’s life, p. 115).
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos