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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Lições da história

Aprendendo com o antigo Israel e sua guerra cultural

Detalhe de "Jezebel e Acabe", de Frederic Leighton. Rainha trouxe paganismo para o antigo Israel, e culto a Baal logo se espalhou pela região. (Foto: Wikimedia Commons/Domínio público)

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A cultura ocidental está sendo destruída – e não por um inimigo externo. A violência, a divisão da sociedade, a subversão da ordem e a irreligião são o resultado de políticas esquerdistas impostas de cima para baixo na sociedade – e o certo e o errado e o bem e o mal estão sendo distorcidos pelas elites que governam o Ocidente. O padrão do declínio e queda das civilizações ao longo dos tempos tem sido o de que a indulgência moral termina em caos social. O rei Salomão, de Israel, identificou esse padrão quando escreveu: “Quando o ímpio domina, [...] o povo lamenta” (Pv 29,2). Todos os líderes políticos legislam sobre moralidade, de uma forma ou de outra, a partir de suas visões de mundo. Mas, de uma perspectiva cristã, uma nação só é saudável na medida em que sua lei civil reflete a Lei moral, revelada no Sinai, ao povo de Israel, há tantos milênios atrás.

Embora alguns crentes achem que o que acontece em um estudo bíblico é mais importante do que o que acontece nos salões do Congresso, a política pública é importante. Não há base bíblica para sustentar uma divisão entre o secular e o sagrado, pois tudo o que fazemos deve ser feito para o Senhor Deus de Israel. Alguns dizem que a política é má. Mas o reino de Deus é altamente “político”, pois “justiça e direito são o fundamento do [...] trono” do Senhor (Sl 89,14). Política e religião podem algumas vezes ser dois temas a serem evitados, para que haja aceitação em certos ambientes sociais. Mas talvez esses sejam os dois temas que mais importam; ambos têm relação com questões de vida, autoridade, submissão, moralidade, existência, caos e guerra. Não havia divisão da existência no pensamento do profeta Isaías, quando ele proclamou que “o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe, [...] a verdade anda tropeçando pelas praças” (Is 59,14) – não apenas no Templo, em Jerusalém, na antiga Judá. Assim, a política é moldada pela visão de mundo do líder político que a elabora. Embora a política pública não salve as pessoas, a má política pode enredar as pessoas em massa em inflação, imoralidade, guerras, inclusive dificultando que as pessoas encontrem o evangelho e o Senhor Jesus.

Não há base bíblica para sustentar uma divisão entre o secular e o sagrado, pois tudo o que fazemos deve ser feito para o Senhor Deus de Israel

Se os cristãos devem ser o sal da terra, submissos à fonte última da verdade, da ética e da realidade, por que o Ocidente está se desfazendo em tempo real, sobretudo quando há milhões de cristãos espalhados por essa região? E se os cristãos não se pronunciarem sobre questões morais e éticas enfrentadas por uma nação, quem o fará? Onde as pessoas aprenderão sobre ética? Onde uma nação aprenderá a distinguir o certo do errado? Em programas de televisão? De seus amigos no trabalho? De seus psicólogos? De seus professores do ensino fundamental? O simples fato é que, se os cristãos não falarem publicamente sobre o que as Escrituras ensinam sobre o certo e o errado, não haverá outras fontes onde se encontre qualquer fonte transcendente da ética, qualquer fonte fora de nós mesmos e de nossos próprios sentimentos subjetivos. O mundo como o conhecemos pode estar caminhando para um fim definitivo sob a soberania de Deus, mas, no nível da responsabilidade humana, a cultura ocidental parece estar sendo destruída porque os cristãos podem ter abandonado uma tradição teológica que guiava sua participação nas políticas públicas e nas guerras culturais. Acontece que, de acordo com Scott Chandler, autor de Darwin or Design? What Biology Reveals About the Secrets of Life, temos nas Escrituras um modelo para avaliar qualquer guerra cultural: o período da monarquia do antigo Israel, um modelo pelo qual podemos construir uma teologia para envolvimento cristão nos debates políticos na atualidade.

Um modelo antigo para um mundo novo

A monarquia unida de Israel começou com o rei Saul, em 1050 a.C., e continuou sob o rei Davi. Com a morte de seu filho Salomão, em 930 a.C., Israel se dividiu em duas nações e assim permaneceu até sua destruição em 722 a.C. e 586 a.C., respectivamente. Ambos os reinos tiveram 20 reis, mas Judá durou 136 anos a mais, por causa das decisões políticas públicas de oito bons reis. Já o Reino do Norte não tinha reis que fizessem o certo à luz da Lei do Sinai. Israel era originalmente uma federação tribal, com uma revelação específica, a Lei moral de Deus. Em seguida, tornou-se uma monarquia, quando o povo, inseguro de seu privilégio, exigiu ter um rei como as nações ao seu redor. Embora isso acrescentasse um elemento de complexidade desnecessária, as promessas divinas eram as mesmas. Quando Israel obedecesse “aos mandamentos do Senhor, seu Deus”, a nação seria abençoada como a “cabeça” e não a “cauda” dos países vizinhos (Dt 28,13). Se abandonassem a Lei de Deus, deixariam de ser uma nação soberana e independente, e estariam subordinados às nações pagãs ao seu redor, o que indica que Deus lida com nações e não apenas com indivíduos.

O infortúnio de uma nação pode até parecer um fenômeno natural, mas isso não significa que Deus não esteja por trás dele. Os julgamentos de Deus na Escritura são classificados nas categorias de guerras, fome e doenças, com ramificações econômicas, comerciais e fiscais (Ez 6,11). Ao se rebelar contra a aliança de Deus, as duas nações que formavam o único povo eleito decaíram moralmente a partir de dentro e, finalmente, sucumbiram aos primeiros impérios do Antigo Oriente Próximo, os assírios e os babilônios. Podemos, portanto, identificar o princípio de que Deus costuma usar uma cultura bárbara para julgar uma mais iluminada – no caso, por sua Lei. O colapso dos dois reinos israelitas foi tão traumático para os judeus que ainda hoje ressoa na espiritualidade judaica. Na verdade, os anos de 722 a.C. e 586 a.C. deveriam estar gravados na memória de todos os leitores da Bíblia, pois são datas importantíssimas para a interpretação do Antigo Testamento.

Informações sobre a monarquia dividida de Israel são encontradas nos livros dos Reis e Crônicas, no Antigo Testamento. Presentes nas narrativas dos reis de Judá e Israel e como eles reinaram estão princípios que podem ser usados na construção de um modelo de avaliação do declínio cultural de um povo escolhido por Deus e iluminado pela revelação. Alguns princípios extraídos de um estudo das vidas dos reis de Judá e Israel nesse período dos reinos divididos são que: 1. existe algum tipo de relação de causa e efeito entre os elementos espirituais e políticos; 2. Deus lida com nações tanto quanto com indivíduos; 3. devido a más decisões de políticos, a descrença pode se tornar generalizada e cultural; 4. os líderes, sejam eles civis ou religiosos, têm responsabilidade especial pela orientação moral de uma nação, moldando a cultura, de uma forma ou de outra, de cima para baixo, com decisões de políticas públicas; 5. quando um líder estabelece primeiro o fundamento espiritual correto, as decisões domésticas, econômicas, militares e civis tornam-se mais claras; 6. líderes sem princípios corrompem a cultura muito além do que a população pode ter inicialmente previsto; 7. muitas vezes Deus humilha seu povo iluminado pela revelação da Lei por meio de uma cultura bárbara; 8. quando a adoração a Deus se torna diluída, privativa e sincrética, o declínio cultural é proporcional à passividade desse povo; 9. a mediocridade de uma nação é acelerada quando os crentes são oprimidos e perseguidos; e 10. uma nação perde as guerras culturais ao sucumbir aos infiéis de dentro antes de serem vencidas por inimigos de fora. Assim, Judá e Israel são um importante estudo de caso na anatomia de uma guerra cultural perdida.

Os profetas do Antigo Testamento tinham preocupações espirituais com a nação, em ela ser uma luz para os gentios, bem como interesses nacionalistas, pois viam a terra de Israel prometida como um presente de Deus pelo qual valia a pena lutar. Assim, o profeta Isaías, por exemplo, foi conselheiro na corte real do rei Ezequias durante a crise com a Asíria. Portanto, longe de divorciar as dimensões espirituais e seculares da vida, os profetas do Antigo Testamento se interessavam pelos eventos mundiais, chamados para confrontar a cultura e falar a verdade. Assim, os escritos dos profetas oferecem um mosaico fascinante das muitas razões para a derrota dos israelitas do Sul e do Norte na guerra cultural: 1. não havia conhecimento de Deus na terra (Os 4,1); 2. havia assassinato, maldição e violência (Os 4,2); 3. havia falta de justiça, e juízes ativistas invertiam o certo e o errado (Am 5,12; Hb 1,3-4); 4. havia orgulho, indecência e maledicência (Os 7,10; Am 6,8); 5. assim como imoralidade, que resultou em falência moral (Lm 1,9); 6. fascinação pela influência estrangeira, com ramificações na imigração desenfreada, no pluralismo e no multiculturalismo (Os 7,8-9); 7. roubo de terras (Mi 2,2); 8. ceticismo e negação (Am 6,3); 9. supressão da verdade pelos poderosos (Am 7,13; Sf 3,2); 10. políticas contrárias à família, incluindo desrespeito aos pais, aos idosos e aos desprivilegiados (Ez 22,7); 11. aumento da depravação sexual (Os 4,1-2.13; Ez 13,18); 12. negligência e crueldade contra as crianças (Lm 4,3-4); 13. aumento da confiança em riquezas (Os 10,1;12,8; Jr 48,7;49,4); 14. altos preços dos imóveis e um falso otimismo na economia (Jr 32,25); 15. uma sociedade cada vez mais litigiosa (Hb 1,3; Os 10,4); 16. práticas comerciais opressivas (Os 5,11; Mq 6,10-11); 17. intolerância à verdade revelada na Lei (Am 5,10; Is 30,11); 18. baixa integridade como nação (Mq 7,1); 19. conexão entre prosperidade e crueldade (Mq 6,12); 20. aumento do abuso de bebidas alcoólicas (Am 6,6; Os 4,11;7,5); 21. o emburrecimento da sociedade (Os 7,11); 22. adoração hipócrita ao Deus da aliança e da Lei (Am 8,2-3); 23. e confiança nos militares como substitutos de Deus (Os 8,14;10,13).

Determinando a cultura de cima para baixo

Podemos considerar reis de Judá que decretaram de cima para baixo políticas públicas que influenciam a nação, uma para o bem e outra para o mal. Pouco depois da morte de Salomão, o rei Asa reinou em Judá. Quando assumiu o trono, aos 20 anos, ele teve tempo para refletir e integrar o que acreditava em sua compreensão de governo. Revertendo várias gerações de políticas públicas licenciosas de adoração a Baal, Asa corajosamente “aboliu os altares dos deuses estranhos e o culto nos lugares altos, quebrou as colunas e cortou os postes da deusa Aserá [...]. Também aboliu de todas as cidades de Judá o culto nos lugares altos e os altares do incenso”. Ele ordenou a Judá que buscasse o Senhor, o Deus de seus antepassados, e obedecesse às suas leis e mandamentos. E o reino estava em paz sob o reinado de Asa (2Cr 14,3-5).

As Escrituras dizem que “ele ordenou”, de cima para baixo, que Judá seguisse ao Senhor da aliança. Todos os líderes conduzem nações a partir de suas visões de mundo e adotam políticas que são extensões de suas crenças. Assim, as culturas são determinadas principalmente pelas políticas e visões de mundo daqueles que estão no poder. Assim, as políticas públicas tendem essencialmente ou a glorificar a Deus ou a rebelar-se contra ele. Uma vez que há uma propensão nos homens para a transgressão e a rebelião contra Deus, os líderes sem princípios têm mais facilidade em espalhar suas crenças. Por outro lado, Asa teve a coragem de suportar os ataques de pequenos bolsões de grupos de interesses em Judá, no processo de reverter várias gerações de paganismo deletério na Terra prometida.

Deus lida com nações e não apenas com indivíduos. O infortúnio de uma nação pode até parecer um fenômeno natural, mas isso não significa que Deus não esteja por trás dele

Isso nos leva a um exemplo negativo do antigo Israel de como uma cultura é transformada de cima para baixo. Após o reinado de Asa, um governante chamado Jeorão assumiu o trono de Judá. Seu pai, Josafá, embora um bom rei, cometeu uma falha de julgamento e casou seu filho com Atalia, filha mais velha de Acabe e Jezabel, do reino do Norte. Jezabel foi famosa por introduzir a adoração de Baal em Israel e torná-la a religião oficial patrocinada pelo Estado naquele reino. Assim, o culto a Baal se metastatizou em Judá, como uma ação interna da realeza. O casamento com Atalia criou um vício no coração de Jeorão, e ele disseminou uma onda de violência em Judá, matando seus irmãos. Também introduziu o culto a Baal, que era uma religião sexualizada e imoral. A liderança de Jeorão afastou as pessoas de Deus, com graves consequências para a nação. Pois, como o profeta Elias escreveu, Jeorão “andou nos caminhos dos reis de Israel e seduziu o povo de Judá e os moradores de Jerusalém à idolatria, segundo a idolatria da casa de Acabe. Além disso, [...] matou os seus próprios irmãos, da casa de seu pai, que eram melhores do que” ele (2Cr 21,13).

A história de Jeorão reafirma o princípio de que uma sociedade declina mais completamente quando leis iníquas são decretadas de cima para baixo, como Elias disse, que Jeorão “seduziu o povo de Judá”. Os líderes determinam a cultura, o que torna ainda mais importante examinar a visão de mundo de um candidato. Portanto, ao examinar um candidato a um cargo público, o interesse não deveria ser sua personalidade, postura, simpatia ou elegibilidade, mas deveria se concentrar em suas visões de mundo, ou seja: esses candidatos são niilistas, relativistas, secularistas, ateus e naturalistas? Ou são teístas, tradicionalistas, literalistas e constitucionalistas? O princípio deve preceder o pragmatismo e as políticas de um líder são as janelas para suas visões de mundo.

A adoração a Baal

Qualquer leitor da Escritura já leu os termos “lugares altos”, “postes da deusa Aserá”, “baalins” e “astarotes” no Antigo Testamento. Que termos são estes e por que foram tão denunciados pelos profetas do antigo Israel? Baal e Astarote eram as divindades masculina e feminina adoradas pelos fenícios e cartagineses. Baal era o deus da tempestade, da vegetação e da chuva; Astarote era a deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da guerra. Aserá era a divindade cananita da fertilidade, cujos símbolos sagrados eram pilares e árvores. Anate era a divindade egípcia da virilidade e do amor. As estatuetas de Baal eram comuns nas casas e cada campo de agricultura era tratado como se tivesse seu próprio Baal ou espírito de fertilidade. A adoração do bosque era associada ao baalismo, pois as árvores simbolizavam a vida e a fertilidade; frequentemente, enormes árvores eram queimadas com sacrifícios suspensos nelas. O termo “lugar alto” originalmente se referia à adoração em colinas naturais com vista para uma cidade, mas mais tarde o termo foi adaptado para qualquer lugar onde uma pedra sagrada, altar e poste de Aserá fossem erguidos. Um “lugar alto” típico, no qual os ritos ancestrais eram realizados, continha os componentes de um poste de Aserá, uma pedra sagrada e um edifício para os sacerdotes, onde o incenso era queimado.

O motivo pelo qual o baalismo era tão prejudicial ao povo da aliança, um ataque cultural frontal contra o antigo Israel, era que os sacerdotes e o povo se envolviam em atos sexuais imorais como um gesto para que os deuses fizessem chover nas plantações. Ou seja, quando as secas ocorriam no ciclo reprodutivo agrícola, os adeptos do baalismo tentavam manipular a divindade local para fazer chover, entregando-se a pecados e imoralidade grosseiras e sacrifício de crianças. Aliás, os postes, pilares de pedra e árvores podem ter representado símbolos fálicos, dando mais ímpeto para as pessoas em Israel se envolverem em imoralidade sexual grosseira. Essa imoralidade era sistêmica, espalhando-se por toda a nação, com prostitutos masculinos e femininos disponíveis nos lugares altos, uma espiritualidade espúria, que permitia que uma pessoa fosse devota e mantivesse qualquer preferência religiosa, mas vivesse em complacência moral. As pedras sagradas e postes de Aserá, como símbolos da deusa do sexo, eram muito sedutores e se enraizaram na alma do povo de Deus, em Israel e Judá. Assim, padrões sexuais lassos abriram caminho para outros tipos de vícios culturais que eram opressivos, tornando a adoração ao único Deus, o Senhor que amou e elegeu Israel, praticamente impossível. Assim, a adoração de Baal foi o pior inimigo cultural contra o qual os israelitas lutaram por cerca de 800 anos. Que paralelos podemos traçar desses antigos cultos com os desafios atuais enfrentados no Ocidente?

O baalismo no passado e no presente

Aparentemente, não há mais adoração a Baal na atualidade. Mas a ação demoníaca criou rivais à fé no Deus de Israel, nas formas do naturalismo, do ateísmo e do secularismo, como interpretações alternativas da realidade. Estes, em última análise, tentam eliminar a existência do Deus de Israel da esfera pública para evitar a responsabilidade moral perante um poder superior, assim como tentam racionalizar qualquer escravidão que a imoralidade possa causar na alma. Os esquerdistas agora dizem que vivemos em uma nova era de liberdade e experimento moral, em um esforço para livrar o Ocidente da rigidez e do sistema de valores de uma sociedade modelada por valores judaico-cristãos. No entanto, a decadência espiritual e moral ocorreu antes no antigo Israel, assim como na Grécia e em Roma, com resultados trágicos. Não devemos nos enganar só porque os contextos são diferentes. Nossas guerras culturais não são diferentes da luta contra a adoração de Baal que terminou por corromper o antigo Israel. Os efeitos sociais são semelhantes, seguindo padrões previsíveis ao longo da história. Podemos identificar os paralelos da guerra cultural no antigo Israel e no Ocidente hoje. Embora tenham assumido um toque mais contemporâneo, os fundamentos da adoração de Baal permanecem vivos e atuantes hoje. Os principais pilares do baalismo eram sacrifício de crianças, imoralidade sexual e panteísmo, a reverência à criação e não ao Criador.

A adoração a Baal pode ser assim descrita: Os adultos se reuniam em torno do altar de Baal. Os bebês seriam, então, queimados vivos como uma oferta de sacrifício à divindade. Em meio aos gritos horríveis e o fedor de carne humana carbonizada, os adoradores de Baal, homens e mulheres, se envolviam em orgias sexuais. O ritual destinava-se a produzir prosperidade econômica, induzindo Baal a trazer chuva para tornar fértil a “mãe terra”. As consequências de tal comportamento (gravidez e parto) e os encargos financeiros associados à “paternidade não planejada” foram facilmente resolvidos. A pessoa poderia optar por se envolver em relações homossexuais ou poderia simplesmente participar de outra cerimônia de fertilidade e “eliminar” a criança indesejada, sacrificando-a.

Embora os rituais macabros da antiga religião pagã tenham sido higienizados com termos floreados e eufemísticos, seus princípios e práticas permanecem assustadoramente semelhantes

O esquerdismo moderno não está longe de seu antigo predecessor cananita. Embora seus rituais macabros tenham sido higienizados com termos floreados e eufemísticos, seus princípios e práticas permanecem assustadoramente semelhantes. A adoração da “fertilidade” foi substituída pela adoração da “liberdade reprodutiva” ou da “escolha”. O sacrifício de crianças em holocausto foi atualizado, para se tornar o sacrifício de crianças por meio do aborto. A prática e a celebração ritualísticas da imoralidade e promiscuidade sexual foram cuidadosamente encobertas, ainda que abraçadas de todo o coração, pelos cultos do feminismo radical, da dissolução da família e da “educação sexual abrangente”. E o culto panteísta da “mãe terra” foi substituído, apenas no nome, pelo ambientalismo radical. Tanto a agenda social do ex-condenado Lula quanto a do Congresso estão repletas de pautas ambientalistas, pró-aborto, contrárias à família natural e ao casamento, almejando a conquista do poder total, total supremacia sobre a nação. O mesmo tipo de esperança que, suponho, foi acalentado pelos antigos cananeus adoradores de Baal. Portanto, o esquerdismo atual é apenas uma visão de mundo enraizada em antigas tradições pagãs, das quais não há nada para se orgulhar.

Por novos santos e mártires

A religião do baalismo, com sua imoralidade sexual destrutiva, exerceu influência terrível no antigo Israel de cima para baixo, sendo o principal fator de sua derrota na guerra cultural – até que o Senhor Deus teve misericórdia do povo eleito e o conduziu de volta à sua terra santa, sob o Ciro, o Grande, rei da Pérsia (Is 44,26-28; 45,1-2; Ed 1,2-4). Grandes trechos do Antigo Testamento tratam diretamente do problema do culto às divindades cananitas, com denúncias severas contra aqueles que se associavam às mesmas, feitas pelos profetas fiéis de Israel, como infidelidade e quebra da aliança entre a nação e o único Senhor e Deus.

Para os profetas do Antigo Testamento, a adoração a Baal era uma tentativa de autossatisfação em rebelião ao Deus de Israel. O aspecto religioso do culto às divindades cananitas era uma racionalização, que sancionava a imoralidade e apaziguava qualquer culpa associada à violação da Lei moral. Nas religiões do Antigo Oriente Próximo o acesso ao Deus transcendente era tentado por meio de relações sexuais com prostitutas do templo. Talvez, quando os ocidentais se entregam na atualidade aos mesmos vícios, estejam fazendo nada menos do que prostituir a si mesmos e aos outros dessa mesma maneira. Como se poderia aprender do Antigo Testamento, sem ter experimentado a verdadeira adoração, o sexo ilícito pode parecer profundamente transcendente. Mas, no fim, o sexo ilícito ainda é a grande falsificação da verdadeira relação com Deus em oração, e rivaliza diretamente com o Santo de Israel como supostamente a mais profunda das experiências “espirituais” humanas. Pois sem ter experimentado a verdadeira adoração, o sexo ilícito parece profundamente transcendente. Mas, se Israel foi julgado por causa de seu pecado e violação da aliança, como o Ocidente poderia esperar manter sua proeminência se Deus lida com as nações como faz com os indivíduos? Qualquer que seja a forma com que a imoralidade assuma, seja através do baalismo, do ateísmo, do secularismo ou do paganismo globalista, o sexo ilícito é a experiência de adoração falsificada a Deus, que é repudiada pelo próprio Deus.

Líderes sem princípios corrompem a cultura muito além do que a população pode ter inicialmente previsto

Como visto acima, o que um líder legisla de cima é o maior fator que determina a saúde de uma nação, seja uma cultura de descrença ou de virtude. Se a diligência constante é o preço da liberdade, bons valores exigem mais trabalho para um bom líder implementar o bem do que para um líder perverso difundir políticas perversas. Se a guerra cultural no Ocidente está perdida ou não, esta não é a questão. O mundo está progredindo para algum tipo de mudança de paradigma do fim dos tempos sob a soberania total de Deus. Mas, no nível da responsabilidade humana, há razões para o declínio de uma sociedade, como o modelo do antigo Israel oferece. Se o trabalho de Deus é vencer o mal, responderemos apenas por nós mesmos se individualmente fizermos algo para conter este declínio, primeiro nos purificando com a lavagem da água da Palavra e depois nos envolvendo com alguma área que precisa ser trazida cativa “à obediência de Cristo” (2Co 10,5). Talvez alguns sejam chamados para ir à linha de frente dessa guerra, lutando na esfera pública pela defesa do casamento tradicional, ou atuando contra o aborto e o tráfico de escravos sexuais, ou a reabilitação de viciados em drogas, ou por assumir algum cargo público, servindo da maneira mais fiel possível para redimir e moldar a cultura. Mas, quaisquer que sejam os meios que a guerra cultural assuma, no fim, levar as pessoas a Cristo Jesus é a distância mais curta da barbárie à civilidade, e o único caminho da perdição à salvação.

Portanto, devemos ansiar que os cristãos não se refugiem na passividade política, como muitos têm feito hoje. O melhor caminho para os cristãos consiste num retorno à sua distinta herança de fé e confiantemente interpretar toda a vida através da revelação divina nas Escrituras – isso se os cristãos querem ser fiéis e anseiam em navegar confiantemente pelo pântano do esquerdismo licencioso. Sempre assumindo uma postura de arrependimento e quebrantamento, os cristãos devem vindicar as Escrituras como a única revelação do Deus da aliança. Para aqueles cristãos dados à passividade ou que não têm uma teologia para se envolver na guerra cultural, de onde o mundo obterá sua verdade? Que outras opções existem?

Devemos ansiar que os cristãos não se refugiem na passividade política, como muitos têm feito hoje

Diante do momento que o povo de Deus testemunha no Ocidente, devemos anelar que o Deus de Israel, o Senhor todo-poderoso, levante novos santos e mártires. Pois, como bem lembrou G. K. Chesterton:

O santo é remédio por ser antídoto. Realmente é esta a razão por que o santo é tantas vezes mártir: tomam-no por veneno por ser teriaga. Em geral sucede restabelecer ele a saúde do mundo exagerando aquilo que o mundo despreza: um elemento qualquer, que não é, de modo nenhum, sempre o mesmo em todas as épocas. No entanto, cada geração procura o seu santo por instinto, não o que ela quer, mas o de que precisa. Com certeza é este o significado destas palavras, tão mal compreendidas, dirigidas aos primeiros santos – ‘Vós sois o sal da terra’ [...]. O sal [...] serve para condimentar e conservar a carne não por lhe ser semelhante a ela, mas por ser muito diferente dela. Cristo não disse aos Seus Apóstolos que eram unicamente excelentes pessoas, ou as únicas pessoas excelentes, mas que eram pessoas excepcionais, permanentemente discordantes e incompatíveis [...]. Por serem pessoas excepcionais, é que não deveriam perder a sua qualidade excepcional.”

E ele conclui: “Se o mundo se tornar demasiado mundano, pode ser censurado pela Igreja; mas, se a Igreja se tornar demasiado mundana, não pode ser censurada por mundana pelo mundo. [...] Daqui resulta o paradoxo da história, de cada geração ser convertida pelo santo que mais em desacordo está com ela”.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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