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Nos últimos três anos presenciamos uma pandemia global, aumento do paganismo e esgarçamento do tecido civilizacional, guerras como a selvagem invasão russa da Ucrânia. Ao mesmo tempo as igrejas católica e protestante são atacadas e pressionadas por políticos, magistrados e formadores de opinião, que tentam apagar a fé cristã da vida pública. Tais crises suscitam a pergunta no cristão sincero: quando virá o fim? Apresento nesse texto o consenso católico e protestante sobre o fim dos tempos, o retorno do Salvador e seu triunfo espetacular. Enquanto refletimos sobre estas questões, lembremos que “o tempo presente é, segundo o Senhor [Jesus], o tempo do Espírito e do testemunho, mas é também um tempo ainda marcado pela ‘desolação’ e pela provação do mal, que não poupa a Igreja e inaugura os combates dos últimos dias. É um tempo de espera e de vigília” (Catecismo da Igreja Católica, § 672). Para tornar mais didático o texto, estruturo-o no formato das perguntas mais comuns, e as respostas refletem o consenso cristão mais amplo, católico e protestante. E recomendo que a leitura do texto seja realizada tendo como trilha sonora três ótimas músicas de Johnny Cash: Ain’t no grave, God’s Gonna Cut You Down e The Man Comes Around, todas com letras lindíssimas, embebidas na Sagrada Escritura e na crença da segunda vinda triunfal do único Messias, o Senhor Jesus.
Quais são os sinais de que o fim dos tempos é iminente?
De acordo com as Escrituras Sagradas, o evento da volta triunfal de Cristo pode realizar-se a qualquer momento. Mas, também de acordo com as Sagradas Escrituras, haverá sinais que precederão a vinda futura do Senhor Jesus, que são: 1. o Evangelho será proclamado a todos os povos (Mc 13,10); 2. uma futura conversão de Israel (Rm 11,25-29), que será a culminação da aliança da graça e da história da redenção; 3. a igreja sofrendo a grande tribulação e a grande apostasia, que ocorrerão juntas (Mt 24,9-12.21-24); 4. a revelação do Anticristo, o “homem da iniquidade” (2Ts 2,1-12); 5. o recrudescimento das guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, o que é descrito como o “princípio das dores” (Mt 24,8); 6. e o abalo da criação (Mt 24,29). Então, como o clímax destes sinais, “como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente”, todos “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mt 24,27-30).
Os acontecimentos dos nossos dias são sinais dos tempos?
Ainda que esses sinais aconteçam durante a história, parece que esses sinais ocorrerão simultaneamente na iminência do fim. Parece que a chave para entender esses sinais é oferecida em Mateus 24,33: “Quando virdes todas essas coisas, sabei [ou você saberá] que ele [o fim] está próximo, às portas”. Na iminência da vinda de Cristo, as guerras, os terremotos, a fome, as epidemias, “os poderes dos céus” abalados (Mt 24,29) acontecerão todos ao mesmo tempo, assim como sobrevirá a grande tribulação sobre a Igreja e a conversão de Israel.
De acordo com as Escrituras Sagradas, o evento da volta triunfal de Cristo pode realizar-se a qualquer momento. Mas, também de acordo com as Sagradas Escrituras, haverá sinais que precederão a vinda futura do Senhor Jesus
Onde e como podemos identificar esses sinais?
Parece, portanto, que estes sinais ocorrerão simultaneamente, antes do retorno de Cristo. Por isso, lembramos que existem nas Escrituras passagens que nos incentivam a estar prontos para a inesperada vinda de Cristo, estimulando-nos a estar preparados e vigilantes. Portanto, provavelmente, estes sinais serão mais intensos e extensos que as ocorrências parecidas que os precederam durante a história. E esses sinais não podem ser considerados independentemente, mas em conexão com a grande tribulação. Quando eles ocorrerem, serão reconhecidos pelos filhos de Deus como o que realmente são.
Os cristãos devem estar particularmente alertas para o aumento de perseguições no mundo – já vivemos a pior perseguição de cristãos da história. Somente em 2021, todo dia 16 cristãos foram assassinados em média, devido à sua fé. A perseguição aos cristãos, que já era hedionda, saltou quase 70% nos últimos cinco anos, sem sinais de arrefecimento. Portanto, como ensina o Catecismo da Igreja Católica (§§ 675-676):
“Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o ‘mistério da iniquidade’, sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudomessianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado. Esta impostura anticrística já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo, e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, ‘intrinsecamente perverso’”.
Os conflitos mundiais, doenças, guerras, a fome no mundo são sinais da vinda de Jesus?
A Escritura Sagrada ensina que o tempo exato da vinda de Cristo é desconhecido. Isso significa que uma vigilância contínua pela vinda de Cristo é exigida; devemos estar prontos para uma vinda inesperada, já que os sinais podem acontecer simultaneamente, num pequeno período. Mas devemos notar que esses sinais estiveram presentes no tempo do Novo Testamento, ao longo da história e estão presentes agora. Ainda que esses sinais tenham aparecido durante toda a história, antes da volta de Cristo eles se intensificarão, dirigindo-se para o clímax. Portanto, ao considerarmos a exortação à vigilância (Mt 24,32-33), não precisamos interpretá-la como uma exortação para se buscar sinais imediatos do aparecimento do Senhor. Antes, trata-se de uma exortação para permanecermos ativos na realização da obra do Senhor, para não sermos surpreendidos por sua vinda.
O evangelho será pregado em todo o mundo antes do fim?
O evangelho não será pregado a todas as pessoas, mas deverá ser pregado a todo grupo étnico. A palavra grega usada em Marcos 13,10 e traduzida por “nações” é ethnē, que pode ser traduzida como “países” e “nações”, mas também como “famílias” e “tribos”. A implicação é que quando todos os grupos étnicos tiverem conhecimento do evangelho, então virá o fim. Daí a necessidade de priorizarmos a tarefa missionária, especialmente entre os povos não alcançados, investindo os melhores esforços na tradução da Escritura para idiomas que ainda não têm acesso às porções bíblicas, assim como na comunicação do evangelho para estes.
Podemos interpretar eventos isolados como indicação do fim dos tempos?
A respeito da segunda vinda de Jesus não é possível determinar com precisão uma data. Sobre isso, ele mesmo declarou: “Mas, quanto ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24,36). Não se pode saber, então, a ocasião exata do retorno de Cristo. Todas as tentativas que as seitas têm feito para determinar o momento preciso desse retorno acabam por mostrar o quanto elas estão erradas em suas previsões. O que se pode dizer, com certeza, é que Cristo virá em hora inesperada. Por isso, devemos estar atentos. Qualquer um, portanto, que afirme conhecer a data em que Cristo virá, independentemente de quem é ou de quão importante seja, deve ser completamente rejeitado.
A nação de Israel seria o sinal mais importante do fim dos tempos?
A fundação do Estado de Israel, a principal democracia no Oriente Médio na atualidade, foi um dos grandes momentos do turbulento século 20, especialmente depois do sofrimento indizível dos judeus no Holocausto (Shoah). Também parece ser o cumprimento de profecias muito específicas do Antigo Testamento (Dt 30,1-6; Js 21,43-45; Is 49,6.15-20.22-23; 60,1-22; 62,1-2.4; Jr 23,7-8; 30,1-3; 31,34-40; Ez 36,22-30; 37,21-28; Jl 3,18-20; Am 9,15; Sf 3,20; Zc 12,1-14.21). Mas, me parece, o sinal determinante que se espera em conexão com Israel e o fim dos tempos é o cumprimento da palavra apostólica: “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados” (Rm 11,26-27). Como lemos no Catecismo da Igreja Católica (§ 674):
“A vinda do Messias glorioso está pendente, a todo o momento da história, do seu reconhecimento por ‘todo o Israel’, do qual ‘uma parte se endureceu’ na ‘incredulidade’ (Rm 11,20) em relação a Jesus. É Pedro quem diz aos judeus de Jerusalém, após o Pentecostes: ‘Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que os pecados vos sejam perdoados. Assim, o Senhor fará que venham os tempos de alívio e vos mandará o Messias Jesus, que de antemão vos foi destinado. O céu tem de O conservar até à altura da restauração universal, que Deus anunciou pela boca dos seus santos profetas de outrora’ (At 3,19-21). E Paulo faz-se eco destas palavras: ‘Se da sua rejeição resultou a reconciliação do mundo, o que será a sua reintegração senão uma ressurreição de entre os mortos?’ (Rm 11,15). A entrada da totalidade dos judeus na salvação messiânica, a seguir à ‘conversão total dos pagãos’, dará ao povo de Deus ocasião de ‘realizar a plenitude de Cristo’ (Ef 4,13), na qual ‘Deus será tudo em todos’ (1Co 15,2).”
Qualquer um, portanto, que afirme conhecer a data em que Cristo virá, independentemente de quem é ou de quão importante seja, deve ser completamente rejeitado
O mundo será destruído?
Ainda que esta ideia seja popular, especialmente pela influência do fundamentalismo dispensacional, oriundo dos Estados Unidos do começo do século 20, a Escritura afirma o conceito de renovação da criação. Por isso, é importante ter em mente uma compreensão firmemente bíblica de Deus: o Eterno é o criador e renovador da criação, sustentando-a por sua Providência. A Escritura nunca apresenta o Senhor Deus como destruidor. Como o teólogo reformado Anthony Hoekema escreveu, “tanto em 2Pedro 3,13 como em Apocalipse 21,1, o termo grego utilizado para designar a novidade do novo cosmos não é neos, mas sim kainos. A palavra neos significa novo em tempo ou origem, enquanto a palavra kainos significa novo em natureza ou em qualidade. A expressão [...] ‘novo céu e nova terra’ (Ap 21,1) significa, portanto, não a emergência de um cosmos totalmente outro, diferente do atual, mas a criação de um universo que, embora tenha sido gloriosamente renovado, está em continuidade com o universo presente”. Portanto, a Escritura nos assegura que Deus criará uma nova terra na qual viveremos para seu louvor, com corpos ressurretos e glorificados. Nessa nova terra é que esperamos passar a eternidade, desfrutando de suas belezas, explorando seus recursos e utilizando seus tesouros para a glória de Deus. Uma vez que Deus fará da nova terra seu lugar de habitação, e uma vez que o céu é onde Deus habita, estaremos no céu enquanto estivermos na nova terra. Tudo que é bom na cultura, que pela graça de Deus pode ser aproveitado em seu reino, será renovado e aperfeiçoado na nova criação. Em outras palavras, o “novo céu e a nova terra” será tanto um estado como um lugar, onde “Javé está presente” (Ez 48,35).
O que acontecerá na volta do Senhor?
Como a Confissão de Fé Belga afirma, “cremos conforme a palavra de Deus que, quando chegar o momento determinado pelo Senhor – o qual todas as criaturas desconhecem –, e o número dos eleitos estiver completo, nosso Senhor Jesus Cristo virá do céu, corporal e visivelmente, assim como subiu ao céu (At 1,11), com grande glória e majestade. Ele se manifestará Juiz sobre vivos e mortos, enquanto porá em fogo e chamas este velho mundo para purificá-lo” (Artigo 37). A vinda de Cristo está por acontecer. De acordo com a Escritura, é certo que Cristo voltará, ainda que não saibamos exatamente quando isso acontecerá. Mas a segunda vinda do Messias Jesus será um evento único, que ocorrerá no “dia do Senhor”, um termo que se refere especialmente à sua vinda em glória. Nesse dia, Cristo voltará uma única vez, corporal e visivelmente, gloriosa e triunfalmente, para vencer cabalmente todos os poderes do mal e renovar a criação. O mesmo Senhor Jesus que deixou os discípulos, em sua ascensão, será o que voltará. E a segunda vinda de Cristo será muito diferente de sua primeira vinda, não mais no corpo da sua humilhação, mas num corpo glorificado.
A volta de Cristo marcará o fim da história, com o propósito de introduzir a era vindoura, para inaugurar e completar tanto a ressurreição dos mortos como o Juízo Final. E a ressurreição dos mortos e o Juízo Final ocorrerão juntos, no grande dia do Senhor. Esse grande ponto decisivo marcará o triunfo final de Cristo, com a destruição de todos os poderes malignos hostis ao Reino de Deus. Em síntese, o “Cordeiro de Deus” virá como o “Leão da tribo de Judá”. Cristo voltará como o glorioso conquistador, o supremo juiz, o redentor de toda a criação, o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19,16).
Tudo que é bom na cultura, que pela graça de Deus pode ser aproveitado em seu reino, será renovado e aperfeiçoado na nova criação
O que seria a ressurreição do corpo?
A ressurreição do corpo é prometida aos que creem em Jesus Cristo e no evangelho. E a esperança da ressurreição do corpo foi testemunhada no Antigo Testamento (Is 26,19; Ez 37,1-14; Dn 12,2), e é significativo que os autores do Novo Testamento sustentaram que o Antigo Testamento ensinou a ressurreição (Mc 12,24-27; At 2,24-32; 13,32-37; Hb 11,19). No Novo Testamento, esta foi uma das doutrinas mais elaboradas, e sua realidade é ensinada por dois fatos: 1. Jesus ressuscitou com o mesmo corpo com que morrera (Lc 24,39), ressuscitando não apenas na forma de espírito, mas voltando à vida na forma física; 2. nós teremos um corpo igual ao de Cristo, pois ele é “as primícias dos que dormem”. Assim, a ressurreição do corpo implica numa continuidade entre o corpo físico que temos agora e o corpo que teremos no futuro. O corpo ressurreto será um corpo físico, e não um fantasma intangível. Daí a ênfase na espantosa transformação que terá lugar, da “corrupção”, da “desonra” e da “fraqueza” para a “incorrupção”, para a “glória” e para o “poder” (1Co 15,35-49). Assim, na ressurreição, o corpo do fiel se tornará como o corpo de glória com que Cristo ressuscitou; e todos os resultados do pecado, inclusive a morte, serão removidos. Na hora da ressurreição, portanto, os que estão em Cristo serão como ele. E tanto os justos quanto os ímpios ressuscitarão no mesmo dia (Jo 5,27-29), sem intervalo de tempo, sendo que os justos ressuscitarão para a vida eterna e os ímpios, para a condenação eterna.
Um ponto a se destacar é que, de acordo com a Sagrada Escritura, Deus não lavará a memória dos redimidos no céu, mas a glória que os salvos terão será tamanha que o estado de miséria anterior será tido como nada. Se a memória fosse lavada, a continuidade da identidade das pessoas antes e depois da ressurreição seria destruída, e a vitória de Cristo sobre o pecado e o mal seria obscurecida. Os próprios santos martirizados lembram de seu estado anterior e serão incluídos na ressurreição (Ap 20,4), e haverá mútuo reconhecimento na ressurreição (Lc 16,19-31; 1Co 13,12). Após essa ressurreição geral, virá o juízo.
Embora todos os crentes tenham de comparecer perante o tribunal, não precisam temer o dia do Juízo Final, já que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus
O que ocorrerá no Juízo Final?
Haverá julgamento já na presente vida, baseada na resposta que cada um já tem dado a Cristo. Mas o Juízo Final será um processo no qual haverá um discernimento entre o certo e o errado, e um agir em função disso, onde Deus será o juiz; quando o Pai dará poder e autoridade ao Filho para julgar (Jo 9,39). Assim, o Juízo Final será um evento majestoso, onde Cristo será o juiz “de vivos e de mortos”. Embora não saibamos os detalhes exatos, parece que os crentes também tomarão parte no julgamento (Mt 19,28; Lc 22,28-30), assentando-se em tronos para julgar o mundo (1Co 6,2-3; Ap 3,21; 20,4). E haverá apenas um único Juízo Final, o qual será pronunciado sobre toda a humanidade no último dia. Nesse Juízo Final toda a humanidade será dividida em dois grupos – os salvos e os perdidos – e estará diante do tribunal de Cristo (Mt 25,31-43). Tanto os incrédulos quanto os crentes se apresentarão diante do tribunal de Cristo para receber de Deus a condenação ou o galardão.
Embora todos os crentes tenham de comparecer perante esse tribunal, não precisam temer o dia do juízo, já que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus. Nesse dia, os salvos serão julgados segundo a maneira pela qual edificaram a igreja, a forma com que trataram seus irmãos, e o modo como sofreram por Cristo. Receberão galardão imerecido, “a coroa da justiça”, “a coroa da vida”, “a coroa da glória”, o “peso de glória”, recomendações pela fidelidade e os “tesouros no céu”. Os perdidos serão julgados segundo suas obras, pela maneira com que trataram os “pequeninos irmãos” de Jesus e pela incredulidade diante dele. Receberão como salário a morte eterna, a ira vindoura e o horrível juízo e fogo vingador. Como ensina a Confissão de fé Belga: “Portanto, pensar neste juízo é realmente horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios, mas muito desejável e consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor. Sua inocência será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo” (Artigo 37).
O que será a visão beatífica?
A visão beatífica – a contemplação de Deus na glória do céu – é o ensino bíblico de que a visão de Deus é o destino final dos eleitos santificados, a felicidade perfeita e eterna e seu maior bem. E o objetivo de toda a redenção é a união do ser humano com Deus, na visão beatífica. É somente por meio da graça que o homem chega a seu verdadeiro destino, o céu, tendo a perfeita felicidade, onde Deus mesmo será a felicidade de cada um dos bem-aventurados, pois ele “é o soberano bem”. Porque Deus é um ser espiritual, a visão beatífica será uma compreensão intelectual e imediata da glória de Deus. Será mais real do que qualquer outra já experimentada nesta vida. Será íntima e espiritual; envolve uma visão mais pura, mais ampla e mais deleitável do que a visão física pode captar. Como o clérigo congregacional Jonathan Edwards escreveu, no século 18:
“No prazer da visão beatífica a alma finalmente alcança o fim de sua busca suprema. Finalmente, adentramos este refúgio, onde encontramos nossa paz e descanso. O fim da inquietação é alcançado; a guerra entre a carne e o espírito termina. A paz que transcende a qualquer coisa neste mundo enche o coração. Alcançamos o apogeu da excelência e doçura somente sonhando neste corpo mortal. Devemos vê-lo como ele é. Nenhum véu, nenhum escudo para esconder sua face. A visão imediata e direta inundará a alma a partir da fonte jorrando do alto. A alegria mais sublime, o prazer mais intenso, o deleite mais puro serão nossos sem mistura e sem fim. Uma prova desta felicidade irá apagar todas as memórias dolorosas e curar cada ferida terrivelmente exposta neste vale de lágrimas. Nenhuma cicatriz restará. A jornada estará completada. O corpo da morte e o peso do pecado desaparecerão no momento em que contemplarmos a face de Deus.”
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos