O assim chamado “cristianismo progressista” é uma abordagem teológica pós-moderna surgida nos Estados Unidos, e que se desenvolveu a partir do cristianismo liberal europeu dos séculos 19 e 20. Seus adeptos – que assumem uma postura crítica e revisionista da tradição cristã – são, na verdade, devotos da igreja vermelha do politicamente correto, e se veem como parte de um tipo de nova ordem religiosa, totalmente leais ao Partido e ao santo graal da Ideia.
Uma ruptura com a fé
Seguindo a Nova Esquerda e suas políticas identitárias, os assim chamados “cristãos progressistas” se notabilizam, na atualidade, por entenderem que a classe que salvará o mundo será a dos “excluídos” e das minorias. Mas os “cristãos progressistas” têm reinterpretado profundamente a fé cristã, tornando-a em algo amorfo, totalmente distinto daquilo que se pode receber como revelação de Deus nas Escrituras Sagradas.
Em linhas gerais, os “cristãos progressistas”:
• repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível;
• falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto;
• são indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal e a salvação pela graça;
• repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus;
• seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz;
• e sua ressurreição corporal;
• rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino;
• são críticos das igrejas ou “desigrejados”;
• são indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo.
Os “cristãos progressistas”, para lembrar do brado de Karl Barth em 1934, “têm uma fé diferente, um espírito diferente, um Deus diferente” do que os cristãos têm confessado tradicionalmente
Esta ruptura com a crença consensual cristã pode ser encontrada numa consulta aos livros, artigos, ensaios e apostilas sugeridos ou publicados por estes, além de entrevistas concedidas a jornais e televisão, e que ilustram a ruptura com a fé entre muitos dos “cristãos progressistas” brasileiros; há em nosso país várias faculdades teológicas e instituições que também disseminam tal incredulidade.
Deve-se deixar claro que os “cristãos progressistas” não estão questionando questões secundárias ou não essenciais à fé. Eles romperam, como escreveu Vicente de Lérins, com “aquilo que foi crido em todo lugar, em todo tempo e por todos [os fiéis]”, a fé comum a cristãos católicos, protestantes e pentecostais. Os “cristãos progressistas”, para lembrar do brado de Karl Barth em 1934, “têm uma fé diferente, um espírito diferente, um Deus diferente” do que os cristãos têm confessado tradicionalmente.
Um novo credo
Se há tal ruptura com a tradição cristã mais ampla, como reconhecer esses ditos “progressistas” como cristãos?
Ao mesmo tempo, estes “cristãos progressistas” tornam absoluta toda a agenda atrelada aos anseios hegemônicos da esquerda e extrema-esquerda, defendendo ferrenhamente:
• a imanência de Deus e o panenteísmo;
• o foco na moralidade, não na salvação;
• a união homoafetiva e a redefinição do conceito de família;
• a defesa do aborto;
• a liberalização das drogas;
• o antissemitismo e antissionismo, e Israel como um “Estado terrorista”;
• a divisão marxista da sociedade em categorias de opressor e oprimido/vítima;
uma política identitária que divide a sociedade, sem nenhum interesse em reconciliação;
• a crença de que “todos os homens brancos são responsáveis pela opressão branca” e que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo” (James Cone), e que “a igreja ‘branca’ é o Anticristo” (Jeremiah Wright);
• a satanização dos opressores e imposição aos indivíduos de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem;
• que aqueles que não concordem com eles são fascistas, homofóbicos, racistas, misóginos etc.;
• e a fé de que o Estado controlador, sob o domínio do Partido, pode moldar e controlar a sociedade civil, levando-a a um milênio secularizado.
Cada um desses tópicos assume status de dogma inquestionável para os “cristãos progressistas”. E alguns de seus autores prediletos são Jürgen Moltmann, Hans Küng, Paul Tillich, Rob Bell, Brian McLaren, John Howard Yoder, Rosemary Radford Ruether, Leonardo Boff, Frei Betto, Gustavo Gutiérrez, Severino Croatto, entre outros.
Este é todo o “evangelho” que os “cristãos progressistas” têm para oferecer. Assim, estes têm por alvo subverter os alicerces mais básicos da fé e da ética cristã para que a Igreja seja controlada (Gleichschaltung), subordinada à agenda do Partido/Estado esquerdista, com sua agenda inflexível e colossal. E todos aqueles que não concordam com eles são tratados, simplesmente, como “não pessoas”.
Os pastores “cristãos progressistas”
Também é curioso notar que vários desses “cristãos progressistas” se identificam como “pastores”. Mas – sobretudo aqueles que se identificam com as igrejas cristãs históricas, especialmente de tradição independente – é difícil descobrir quando ou quem os ordenou ao ministério pastoral.
Aliás, seria interessante saber se os pastores que se identificam com o progressismo e que foram ordenados em denominações históricas ainda mantêm as crenças defendidas em sua ordenação ministerial. Ou, pior, se depois de ordenados, volveram ao liberalismo teológico, trocando o evangelho do Senhor Jesus Cristo por uma mixórdia gnóstica. Também não se deve descartar a possibilidade de que a ordenação tenha sido mero acordo de amigos, passando ao lado das questões realmente vitais e importantes num concílio pastoral.
Alguns dos pastores aderentes ao “cristianismo progressista” lutam para ocupar espaço para disseminar esta nova reinterpretação da fé e torná-la hegemônica. Mas estes pastores não representam a igreja evangélica e, na verdade, são completamente desconhecidos da imensa maioria dos cristãos no país. Foram “criados” por meios de comunicação e partidos de esquerda e extrema-esquerda para ter visibilidade – mas sem representatividade alguma.
Os “cristãos progressistas” têm por alvo subverter os alicerces mais básicos da fé e da ética cristã para que a Igreja seja controlada, subordinada à agenda do Partido/Estado esquerdista
Assim, aproveitando-se da falta de uma confessionalidade clara por parte de muitas igrejas cristãs históricas, substituída por afirmações ingênuas do tipo “nenhum credo, só a Bíblia”, alguns desses “cristãos progressistas”, que romperam com as afirmações doutrinais que são consensuais aos cristãos, malandramente também tentaram se esconder por trás de linguagem ambígua, em seu esforço de infiltração nas igrejas – assim, muitas vezes serão os discípulos “milicrentes” desses que levarão o discurso dos “pastores progressistas” às últimas consequências.
Diferentemente de alguns destes “progressistas”, que se criaram em grupos paraeclesiásticos, eu fui enviado pela igreja batista onde cresci para estudar Teologia formalmente, num seminário teológico. E eu ainda lembro de professores de Antigo Testamento, Teologia do Antigo Testamento, Filosofia da Religião, metodologia teológica etc., despejando sua incredulidade sobre mim e meus colegas. Um destes professores, esquerdista teimoso, sem temor a Deus, proferia blasfêmias grosseiras sobre Jesus Cristo em sala de aula. Ao mesmo tempo que eram propagandistas da teologia liberal ou da Teologia da Libertação, eram devotos esquerdistas – e isso no começo da década de 1990. Na verdade, alguns dos professores com quem estudei no seminário eram agnósticos ou ateus, ou transformaram suas igrejas em ONGs.
Um “evangelho” que não é o Evangelho
Mas todas as denominações cristãs que abraçaram o “cristianismo progressista” nos Estados Unidos estão em franco declínio. Então, quando pregadores, escolas cristãs e autores e blogueiros começam a se inclinar para o “cristianismo progressista” não é preciso adivinhar onde eles terminarão. O “cristianismo progressista” conduz seus adeptos à incredulidade.
No fim, os “cristãos progressistas” se submetem a uma Ideia, não à Revelação. Por isso, não podem ser considerados evangélicos ou cristãos. São mais próximos do gnosticismo que do cristianismo. Portanto, devem ser caracterizados como “cavalos de Troia” dentro da igreja cristã. Pois, citando a avaliação de Bento XVI sobre a Teologia da Libertação, pode-se afirmar que os “cristãos progressistas” procuraram “criar, já desde as suas premissas, uma nova universalidade em virtude da qual as separações clássicas da Igreja devem perder a sua importância. […] [São uma] nova interpretação global do cristianismo […] [que] revira radicalmente as verdades da fé […] e as opções morais”.
Cada geração de cristãos tem sido confrontada com falsas doutrinas, movimentos heréticos, lobos em pele de cordeiro e “cavalos de Troia”. As palavras de Inácio de Antioquia, escrevendo contra os hereges de sua época, os gnósticos, ainda hoje ecoam: “Eu vos exorto, portanto, não eu propriamente, mas o amor de Jesus Cristo, a usar somente alimento cristão, abstendo-vos de toda erva estranha, que é a heresia. Aqueles que, para terem crédito, misturam Jesus Cristo consigo mesmos, são como aqueles que oferecem veneno mortal misturado com vinho melado. O incauto o toma com prazer, mas nesse prazer nefasto lhe dá a própria morte. Cuidado, portanto, com essas pessoas. [...] Portanto, armai-vos com doce paciência e recriai-vos na fé, que é a carne do Senhor, e no amor, que é o sangue de Jesus Cristo. [...] Sede, portanto, surdos quando alguém vos fala sem Jesus Cristo, da linhagem de Davi, nascido de Maria, que verdadeiramente nasceu, que comeu e bebeu, que foi verdadeiramente perseguido sob Pôncio Pilatos, que foi verdadeiramente crucificado e morreu à vista do céu, da terra e dos infernos. Ele realmente ressuscitou dos mortos, pois o seu Pai o ressuscitou, e da mesma forma o seu Pai ressuscitará em Jesus Cristo também a nós, que nele cremos e sem o qual não temos a verdadeira vida. [...] Fugi, portanto, dessas más plantas parasitas. Elas produzem fruto mortal, e quem o experimenta morre imediatamente. Tais pessoas não são a plantação do Pai. Se o fossem, elas apareceriam como ramos da cruz, e seu fruto seria incorruptível. Por meio de sua cruz, Cristo vos chama em sua paixão, vós que sois membros dele. A cabeça não pode ser gerada sem os membros, pois Deus prometeu a unidade, que é ele mesmo”.
A igreja cristã no Brasil precisa entender que o mesmo adversário que parasitou e predou a igreja na América do Norte e na Europa está presente em nosso país, e luta com todas as forças para seduzir alguns em nosso meio. Como Agostinho de Hipona escreveu: “Se você crê somente naquilo de que gosta no Evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”.
E que lembremos do alerta do apóstolo Paulo: “Há alguns que vos perturbam e querem perverter o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregue um Evangelho diferente do que já vos pregamos, seja maldito. Conforme disse antes, digo outra vez agora: Se alguém vos pregar um Evangelho diferente daquele que já recebestes, seja maldito” (Gl 1,7-9).
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