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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Declaração sobre a guerra na Ucrânia por estudiosos do genocídio, nazismo e 2ª Guerra Mundial

(Foto: EFE)

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O presidente russo, Vladimir Putin, invocou a Segunda Guerra Mundial para justificar a invasão da Ucrânia pela Rússia, dizendo em comentários na semana passada que sua ofensiva visava “desnazificar” o país – cujo presidente democraticamente eleito, Volodymyr Zelenskyy, é judeu, assim como o ex-primeiro-ministro Volodymyr Groysman. Aliás, três dos irmãos do avô de Zelenskyy foram mortos pelos alemães no Holocausto. Mas, de acordo com Putin, “o objetivo desta operação é proteger as pessoas que há oito anos enfrentam humilhações e genocídios perpetrados pelo regime de Kiev”, disse ele. “Para esse fim, buscaremos desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, bem como levar a julgamento aqueles que cometeram vários crimes sangrentos contra civis, inclusive contra cidadãos da Federação Russa”. Porém, na terça-feira passada, ataques russos atingiram o memorial do Holocausto de Babyn Yar – o local onde os nazistas mataram dezenas de milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

E o ataque da Rússia à Ucrânia, que lembra muito o ataque da Alemanha nacional-socialista e da União Soviética à Polônia, em 1939, é um “crime de agressão”. E agora está gerando a pior crise humanitária da Europa desde 1945. Pelo menos 1,2 milhão de refugiados tiveram que fugir da Ucrânia, após a cruel invasão da Rússia. Se parte do país for desmembrado pela Rússia, ou se for totalmente conquistado, o número de refugiados aumentará expressivamente.

Foi publicado em 27 de fevereiro de 2022, no Jewish Journal (Jornal Judeu), uma declaração de acadêmicos e especialistas em temas como genocídio, nazismo e Segunda Guerra Mundial sobre a guerra da Rússia na Ucrânia. Por sua importância, publicamos aqui o preâmbulo e a declaração na íntegra, que condena veementemente “o abuso cínico do governo russo do termo genocídio, da memória da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, e a equiparação do estado ucraniano com o regime nazista para justificar sua agressão não provocada”. E a linguagem empregada por Putin e pelos meios de comunicação russos para desligitimizar a Ucrânia, além ser uma distorção da história, é ofensiva e factualmente errada. O texto original pode ser lido aqui, em inglês e russo, com a lista completa dos signatários.

Que continuemos em oração pela Ucrânia, para que Deus tenha misericórdia desse valente país.

Clareza em meio ao horror da guerra

Enquanto escrevemos essa declaração, o horror da guerra está se desdobrando na Ucrânia. A última vez que Kiev esteve sob o fogo de artilharia pesada e viu tanques de guerra em suas ruas foi durante a Segunda Guerra Mundial. Se alguma pessoa deveria saber disso, esse seria Vladimir Putin, que é obcecado pela história daquela guerra.

A propaganda russa tem retratado a Ucrânia como nazista e fascista, desde que as forças especiais russas entraram na Ucrânia pela primeira vez, em 2014, anexando a Crimeia e fomentando o conflito em Donbas, que ardeu a fogo lento por longos oito anos.

Essa foi a propaganda russa em 2014. E permanece sendo usada como propaganda até a atualidade.

É por isso que nos unimos: para protestar contra o uso dessa falsa e destrutiva narrativa. Entre aqueles que assinaram a declaração abaixo estão alguns dos estudiosos mais talentosos e célebres da Segunda Guerra Mundial, do nazismo, do genocídio e do Holocausto. Se você é um estudioso dessa história, considere adicionar seu nome à lista. Se você é jornalista, agora tem uma lista de especialistas a que pode recorrer para ajudar seus leitores a entender melhor a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

E se você é um consumidor de notícias, por favor, compartilhe amplamente a mensagem desta carta. Não há governo nazista a ser erradicado em Kiev por Moscou. Não houve genocídio do povo russo na Ucrânia. E as tropas russas não estão em uma missão de libertação. Após o sangrento século 20, todos nós deveríamos ter desenvolvido discernimento suficiente para saber que guerra não é paz, escravidão não é liberdade e a ignorância oferece força apenas a megalomaníacos autocráticos que procuram explorá-la para suas agendas pessoais.

A declaração pode ser conferida abaixo. Se você é um acadêmico e gostaria de adicionar sua assinatura à lista, envie um tweet para @eugene_finkel ou @izatabaro ou envie um e-mail para efinkel4@jhu.edu.

Declaração de acadêmicos sobre genocídio, nazismo e Segunda Guerra Mundial

Desde 24 de fevereiro de 2022, as forças armadas da Federação Russa estão engajadas em uma agressão militar não provocada contra a Ucrânia. O ataque é uma continuação da anexação da península da Crimeia pela Rússia, em 2014, e seu forte envolvimento no conflito armado na região de Donbass.

O ataque russo veio na sequência de acusações do presidente russo Vladimir Putin de crimes contra a humanidade e genocídio, supostamente cometidos pelo governo ucraniano no Donbass. A propaganda russa apresenta regularmente os líderes eleitos da Ucrânia como nazistas e fascistas que oprimem a população de etnia russa local, que ela afirma precisar ser libertada. O presidente Putin afirmou que um dos objetivos de sua “operação militar especial” contra a Ucrânia é a “desnazificação” do país.

Nós somos estudiosos do genocídio, do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial. Nós dedicamos as nossas carreiras estudando fascismo e nazismo, e honrando suas vítimas. Muitos de nós estão ativamente engajados no combate aos herdeiros contemporâneos desses regimes malignos e aqueles que tentam negar ou ocultar seus crimes.

Rejeitamos veementemente o abuso cínico do governo russo do termo genocídio, da memória da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, e a equiparação do estado ucraniano com o regime nazista para justificar sua agressão não provocada. Esta retórica é factualmente errada, moralmente repugnante e profundamente ofensiva à memória de milhões de vítimas do nazismo e daqueles que corajosamente lutaram contra ele, incluindo soldados russos e ucranianos do Exército Vermelho.

Não idealizamos o estado e a sociedade ucranianos. Como qualquer outro país, tem extremistas de direita e grupos xenófobos violentos. A Ucrânia também deveria enfrentar melhor os capítulos mais sombrios de sua história dolorosa e complicada. No entanto, nada disso justifica a agressão russa e a grosseira descaracterização da Ucrânia. Neste momento fatídico, estamos unidos à Ucrânia livre, independente e democrática, e rejeitamos veementemente o uso indevido do governo russo da história da Segunda Guerra Mundial para justificar sua própria violência.

Tradução: Beatriz Silva Ferreira

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