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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Uma escola vitimada pela intolerância dos tolerantes

(Foto: Agnieszka Monk/Pixabay)

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Hoje tenho a oportunidade de conversar com Andressa Oliveira, diretora e fundadora da Escola Eccoprime International Christian School. Juntamente com ela, entrevistarei também o reverendo Augusto Guimarães, pastor da Igreja Presbiteriana de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, e capelão da Escola Eccoprime.

A Eccoprime International Christian School é uma escola cristã confessional localizada na região metropolitana do Recife, e atende famílias que tenham crianças da idade do berçário até o 1.º ano do ensino médio. Esta escola surgiu por meio do sonho de uma mãe em oferecer a melhor educação possível para os seus filhos: uma educação cristã, guiada pela Escritura, que os cristãos creem ser a Palavra de Deus autoritativa, com uma perspectiva bilíngue e que fosse regida por um alto padrão de excelência pedagógica para preparar os alunos para a vida e para o mercado de trabalho.

No sábado, 26 de junho, a Eccoprime se posicionou em suas redes sociais de forma contrária à peça publicitária de 80 segundos publicada pela rede de lanchonetes fast food Burger King, quando essa rede apresentou crianças tratando de temas sobre sexualidade LGBTQIA+. Em um post, a escola alegou haver um problema em envolver crianças em uma peça publicitária com esse tema e alertou os pais cristãos acerca de como instruir seus filhos sobre essa questão.

“Rejeitamos qualquer prática de homofobia ou transfobia, mas usamos da nossa liberdade de expressão e de crença para nos posicionarmos de acordo com aquilo em que acreditamos.”

Andressa Oliveira, diretora e fundadora da Escola Eccoprime International Christian School

Desde então, a Eccoprime tem recebido ataques massivos nas redes sociais alegando que o post foi homofóbico e que dirigiu discurso de ódio contra a comunidade LGBTQIA+. A escola tem sido atacada com xingamentos contra a fé cristã, muitas ameaças foram feitas, e está em curso uma tentativa de destruir a imagem da escola, associando-a à homofobia. Em contrapartida, é possível observar também que muitos apoiaram as ponderações que a escola fez a respeito da propaganda da rede de lanches, a ponto de, até o momento, terem ganhado mais de 6 mil novos seguidores em uma de suas redes sociais.

Penso ser importante destacar o que a igreja cristã tradicionalmente tem ensinado sobre homossexualidade, como podemos aprender no Catecismo da Igreja Católica (§2.357-2.359):

“A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.

As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.”

A Declaração de Fé e Vida, redigida por presbiterianos norte-americanos em 1994, também estabelece:

“Afirmamos que as Sagradas Escrituras do Antigo [Testamento] e do Novo Testamento nos dizem claramente que Deus em seu amor por nós nos criou homem e mulher, e declarou sua criação ‘boa’. A Escritura nos diz que Deus pretendeu desde o início, como pretende hoje, apesar de nosso pecado e da queda de toda a criação, que nossos desejos sexuais fossem satisfeitos apenas no contexto do casamento de uma mulher e um homem, em uma fiel e alegre união de uma só carne. A Escritura nos diz que o casamento de marido e mulher tem o propósito de ajuda mútua, salvaguardando, sustentando e desenvolvendo seu caráter moral e espiritual, e para a propagação de filhos e a sua criação na disciplina e instrução no Senhor. Além disso, Deus condenou expressamente as relações sexuais fora do casamento. Essa proibição se aplica a pessoas casadas que cometem adultério, ao relacionamento sexual entre homens e mulheres solteiros e, porque a ordem de Deus pretende que o relacionamento sexual seja entre homem e mulher, à prática homossexual, uma perversão da ordem criada por Deus. Portanto, rejeitamos [...] que a compaixão e a justiça cristã exigem que a Igreja tolere relações sexuais adúlteras e homossexuais e outras relações sexuais não conjugais entre seus membros, e considere aqueles que se envolvem em tais práticas como vivendo um modo de vida que demonstra o evangelho cristão e os prepara para a ordenação como presbíteros, diáconos ou ministros da Palavra e do sacramento.”

Estes dois documentos testemunham o que tem sido a posição pública, baseada na Escritura, crida e afirmada por católicos, ortodoxos, protestantes e pentecostais. Vejamos, portanto, o que dizem Andressa Oliveira e o reverendo Augusto Guimarães.

“A Escritura não nos ensina a xingarmos ou tratarmos mal a pessoas que são homossexuais; pelo contrário, nos ensina a amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos.”

Reverendo Augusto Guimarães, pastor da Igreja Presbiteriana de Prazeres e capelão da Escola Eccoprime

Andressa, logo após os primeiros ataques que a escola sofreu, vocês poderiam ter recuado e apagado a publicação. Por que vocês não recuaram?

Em primeiro lugar, agradecemos a oportunidade de falar sobre esse tema tão importante. Mesmo a Eccoprime sendo uma escola cristã confessional, temos recebido muita pressão por todos os lados nesses últimos dias. Temos recebido muitas mensagens de ódio e desrespeito às nossas crenças, mas isso não nos tem abalado, porque não se trata da nossa opinião, mas daquilo que está revelado na Escritura, e por isso não recuamos.

Não fomos desrespeitosos, nem agredimos ninguém com a nossa publicação. Rejeitamos qualquer prática de homofobia ou transfobia, mas usamos da nossa liberdade de expressão e de crença para nos posicionarmos de acordo com aquilo em que acreditamos, conforme está escrito na carta de Paulo aos Romanos 1,18-32:

“Pois a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens, que impedem a verdade pela sua injustiça. [...] É por isso que Deus os entregou à impureza sexual, ao desejo ardente de seus corações, para desonrarem seus corpos entre si; pois substituíram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso, Deus os entregou a paixões desonrosas. Porque até as suas mulheres substituíram as relações sexuais naturais pelo que é contrário à natureza. Os homens, da mesma maneira, abandonando as relações naturais com a mulher, arderam em desejo sensual uns pelos outros, homem com homem, cometendo indecência e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro. Assim, por haver rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável para fazerem coisas que não convêm. [...] Os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que praticam essas coisas, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.”

Nossa postagem foi um alerta aos pais cristãos para que fiquem atentos à importância de reforçarem em casa as verdades cristãs e uma crítica a uma campanha publicitária da Burger King, que envolve crianças num contexto de sexualidade precoce.

Enquanto escola cristã, cremos que o nosso papel vai além de uma formação pedagógica com excelência dos nossos alunos, mas também de instruir e caminhar com nossas famílias na condução de seus filhos ao conhecimento de Deus e da Escritura. Inclusive é disso que se trata o Centro de Treinamento para Pais Cristãos, ligado à escola.

Reverendo Augusto, foram muitos ataques afirmando que a escola é homofóbica e que praticou um “discurso de ódio” contra a comunidade LGBTQIA+. O que a Eccoprime tem a dizer?

Como capelão, posso claramente afirmar não existe nenhuma prática homofóbica ou incentivo a isso em nossa escola. Afinal, nós entendemos que a sexualidade é parte essencial da complexa experiência humana e, de acordo com a revelação das Escrituras, só há uma definição para que se exerça de forma a glorificar a Deus: a união de um homem e uma mulher. Cremos que a Escritura não nos ensina a xingarmos ou tratarmos mal a pessoas que são homossexuais; pelo contrário, nos ensina a amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22,39). Portanto, em nossa vivência na escola, na relação com alunos, pais, profissionais que compõem nosso quadro e em todos os demais aspectos da sociedade, nós nunca tratamos e nem trataremos mal a quem quer que seja, independentemente de raça, credo ou opção sexual, o que não é diferente em nossas redes sociais.

Basta uma breve análise da postagem para se constatar que ninguém foi xingado e nenhum comportamento de agressividade foi incentivado. O que aconteceu foi que simplesmente exercemos o nosso direito de liberdade de crença, salvaguardado pela Constituição Federal no artigo 5.º, inciso VI, e instruímos aos pais cristãos a terem cuidado e a saberem como lidar com uma ideologia que é contrária aos padrões cristãos.

Por fim, vale também apontar que não é apenas a homossexualidade que é considerada como pecado na Bíblia, mas tantas outras práticas como a mentira, a lascívia, o adultério, a inveja, etc. E como cristãos nós iremos sempre defender estas verdades. Isso não quer dizer que, quando afirmarmos que uma prática é pecaminosa e orientarmos aos pais a como instruírem seus filhos em relação a isso, estaremos cometendo discurso de ódio contra quem as pratica, e de fato, rejeitamos qualquer violência contra toda e qualquer pessoa. Na realidade, o que presenciamos nos últimos dias foi um discurso de ódio contra nós, cristãos, pois fomos xingados e até mesmo ameaçados.

“O desejo de muitas destas pessoas que nos criticaram é que nem mesmo os cristãos verdadeiros existam e que, se eles existirem, que fiquem calados, em silêncio.”

Reverendo Augusto Guimarães

Andressa, como tem sido a reação dos pais da escola?

O nosso posicionamento não é novidade para os pais da escola, já que, antes de ingressar na Eccoprime, eles assinam um regimento que contém nossa declaração de fé, baseada na Bíblia, onde apontamos tudo aquilo que cremos e como se estrutura a cosmovisão cristã que permeia as ações da escola.

Graças a Deus temos recebido muitas mensagens de apoio das várias famílias da escola, nos encorajando a permanecermos firmes na fé cristã. E, ao mesmo tempo, recebemos muito apoio da comunidade cristã, que preza pela preservação do cuidado com as crianças.

Reverendo Augusto, qual o risco para outras escolas confessionais que também não concordam com o envolvimento de crianças em campanhas de ideologia de gênero?

Ora, a tentativa das pessoas que nos atacaram não é apenas de defenderem seus pontos de vista, mas sim de silenciarem a escola, que tem um ponto de vista contrário ao deles. Mas a diversidade de opinião não consiste exatamente nisto, em divergirmos de forma respeitosa e crítica? Eles parecem querer retirar a nossa liberdade religiosa, a liberdade de educarmos os nossos filhos em uma escola confessional, liberdade esta que também é garantida pela nossa Constituição (artigo 5.º, inciso VI da Constituição Federal, e artigo 19, §1.º da LDB). Com isso, o desejo destas pessoas não é apenas que a Eccoprime deixe de existir, mas sim que nenhuma escola cristã exista.

Diante do que presenciamos nos últimos dias, ainda podemos dizer que o desejo de muitas destas pessoas é que nem mesmo os cristãos verdadeiros existam e que, se eles existirem, que fiquem calados, em silêncio. Portanto, gostaríamos de alertar não apenas as escolas, mas também as igrejas, outras instituições cristãs e principalmente às famílias cristãs de nosso país de que este “ataque” não é contra a Eccoprime, mas sim contra todos nós, pois se trata de um ataque a nossa fé e liberdade de crença. Hoje eles tentam calar a voz de nossa escola, por meio de xingamentos, ofensas e imputação de crimes, mas amanhã eles tentarão silenciar a todos nós se não nos posicionarmos com ideias convictas. Por isso, queremos encorajar a você, que é diretor ou proprietário de uma escola cristã, pastor, presidente de sociedades cristãs, pai ou mãe cristão que preza pela inocência das crianças, a não nos deixar sós neste posicionamento, mas a orar por nós e nos apoiar naquilo que você puder fazer, pois esta causa também é sua.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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