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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Entrevista

Cuidando e orientando em tempos de lutas e desafios

O pastor e escritor Renato Vargens. (Foto: Thamirys Lima/Igreja Cristã da Aliança de Niterói)

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Para essa coluna, convidei meu amigo Renato Vargens para falar dos desafios de cuidar e orientar uma igreja num grande centro urbano. Renato é pastor da Igreja Cristã da Aliança de Niterói, fundada há 22 anos. Esta igreja é uma comunidade cristã de teologia reformada, com 300 membros, e que já fundou igrejas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraíba. Ele também é escritor, com 33 livros publicados em português, e um deles publicado em espanhol. Dentre os livros que ele escreveu, destaco Reforma agora e a trilogia Masculinidade em crise, Paternidade em crise e Feminilidade em crise. Em suas diversas redes sociais, que incluem o Instagram, ele tem cerca de 400 mil seguidores. E escreve regularmente em seu blog, que atingiu a marca de 25 milhões de acessos no Brasil e 2 milhões de acessos no exterior. Renato também tem pregado o Evangelho em conferências evangélicas no Brasil como a Consciência Cristã, na Paraíba, e a Conferência Fiel para Pastores e Líderes, em São Paulo. Também faz parte dos conselhos da Coalizão pelo Evangelho e do Instituto Brasileiro de Direito e Religião.

Quais foram os desafios de pastorear uma igreja evangélica num tempo de pandemia?

Ninguém precisa explicar os efeitos da pandemia na sociedade. Realmente foram tempos muito difíceis; contudo, apesar das lutas e tensões, a nossa igreja cresceu significativamente. Confesso que o trabalho pastoral triplicou. Em meio à turbulência, realizamos três cultos no domingo, isso sem contar os inúmeros atendimentos semanais, além de pessoas recebidas na sala pastoral. Tivemos pessoas vindo de outras cidades para ouvir a exposição do evangelho de Jesus. Aulas e cursos foram dados para muita gente, fazendo com que a membresia de nossa igreja se multiplicasse a olhos vistos. Isso tudo aumentou em muito o trabalho pastoral, fazendo que os desafios de conduzir a igreja de forma saudável também aumentasse significativamente.

Durante a pandemia experimentamos momentos muito difíceis. Lembro que devido aos decretos municipais tivemos de reduzir em muito a participação dos nossos membros em nossos cultos. Houve uma ocasião em que, devido a isso, fomos obrigados a realizar cinco cultos por domingo. A questão é que não havia isonomia por parte do Estado: cinemas ou teatros podiam ter mais pessoas que os nossos encontros religiosos. Lembro que, juntamente com outros pastores, nos reunimos na prefeitura solicitando que as igrejas fossem tratadas de forma isonômica. Na ocasião, nosso pleito foi atendido, conseguindo assim que as igrejas de Niterói pudessem ter mais pessoas em seus cultos e missas.

“Cariocas e fluminenses vivem num dos lugares mais bonitos do mundo; contudo, o Rio de Janeiro consegue também ser um lugar de violência, insegurança e muita corrupção.”

Renato Vargens, pastor em Niterói (RJ) e escritor.

Quais são as dificuldades em pastorear igrejas em lugares como o estado do Rio de Janeiro?

Como bem disse o poeta, o Rio de Janeiro é lugar onde o caos e a beleza se encontram. Sem sombra de dúvidas, cariocas e fluminenses vivem num dos lugares mais bonitos do mundo; contudo, o Rio de Janeiro consegue também ser um lugar de violência, insegurança e muita corrupção. Um fato interessante é que muitas igrejas, em virtude do temor das ruas, têm migrado seus cultos públicos para as manhãs de domingo, visto que a preocupação com segurança se tornou importante para muitos pastores. Aliado a isso, pastorear no Rio de Janeiro traz a reboque a necessidade de que o pastor possua um bom condicionamento teológico, bíblico e emocional. Teológico, porque no Rio de Janeiro fabrica-se, em virtude do sincretismo religioso, doutrinas absolutamente antagônicas às Escrituras; bíblico, visto que, em virtude das dores e demandas de um mundo mau, torna-se mister conhecer e aplicar a Palavra de Deus ao coração dos que sofrem; por fim, emocional, a fim de suportar, aconselhar e ajudar as vítimas de uma sociedade absorta em iniquidade.

De que maneira as pessoas têm olhado para as dificuldades que lhes cercam?

Em primeiro lugar, para tentar atenuar a dor e o sofrimento de uma sociedade insegura e envolta em corrupção e violência, o carioca e o fluminense optaram pelo escárnio e o deboche. Outro dia eu fui pregar numa igreja localizada numa comunidade no Rio de Janeiro e descobri que o nome daquele lugar era “Morro do papel cagado”. Confesso que me assustei com o nome. Imediatamente perguntei à pessoa que me havia convidado o porquê da nomenclatura, o que gerou a seguinte reposta: “isso aqui é uma m... mesmo”, seguido por uma sonora gargalhada. Em segundo lugar, apesar do contexto, o carioca é crédulo e esperançoso, o que atenua em parte suas dores e angústias. Por fim, o carioca apela para tudo, construindo sonhos e utopias, fabricando deuses segundo sua conveniência, na expectativa de se ver livre dos temores que lhes cercam a vida e a alma.

De que maneira a Igreja pode trazer esperança em tempos de desesperança?

Anunciando o Evangelho de Jesus Cristo e os valores do Reino de Deus. Estou convicto de que somente o entendimento do Evangelho de nosso Senhor é capaz de proporcionar transformação no homem e, por conseguinte, na sociedade. Veja bem, eu creio no poder do Evangelho. Eu creio que as Boas Novas de nosso Senhor podem transformar a vida de quem quer que seja. Eu creio no Evangelho de Cristo. Sim! Creio que o Espírito de Deus pode metamorfosear a vida dos homens. Acredito piamente que indivíduos regenerados pelo Espírito Santo podem viver a vida de forma diferenciada a ponto de isso reverberar positivamente na sociedade.

Um claro exemplo disso é a Genebra de João Calvino. Antes de o reformador francês se estabelecer na cidade, a promiscuidade, a injustiça e todo tipo de iniquidade eram marcas de uma cidade absorta em pecado. Existem relatos contando que os genebrinos costumavam jogar pela janela os seus excrementos, isso sem falar na corrupção que os marcava significativamente. Para piorar a situação, os comerciantes de uma Genebra de antes da Reforma lesavam com enorme facilidade o cidadão que, por conseguinte, sempre que podia, roubava os donos de estabelecimentos comerciais levando para suas casas o fruto do seu roubo. Junta-se a isso o fato de que a imoralidade sexual era uma das principais características da cidade, a ponto de existir uma lei que dizia que um homem só podia ter uma amante. A ignorância e o analfabetismo também se faziam presentes entre os moradores de Genebra, que em virtude da baixa escolaridade viviam submersos num mundo desprovido de oportunidades sociais. No entanto, a história relata que, quando o Evangelho chegou àquele lugar, a cidade foi absolutamente transformada.

Como disse, eu creio no Evangelho e no seu poder para mudar uma cidade. Por isso, penso que, ao pregar o Evangelho, a igreja reconstrói a estrada da esperança numa cidade em que a maldade tem prevalecido de forma acintosa.

“A igreja não pode desistir de fazer teologia pública, manifestando à sociedade aquilo que o Senhor diz e ensina sobre o homem e suas relações na família e no mundo.”

Renato Vargens, pastor e escritor

Num tempo em que os valores judaico-cristãos estão sendo relativizados, qual deve ser a postura de uma igreja cristã diante do caos instalado?

Anunciar a Palavra de Deus. O Ocidente foi fundado debaixo de valores que nortearam compreensões relacionadas à cultura, família, trabalho e fé. Infelizmente o marxismo cultural, aliado ao feminismo radical, tem desconstruído conceitos caros à sociedade como um todo. As consequências disso têm sido a desestruturação da família, da igreja e da sociedade como um todo. Em virtude disso, penso que mais do que nunca a igreja precisa pregar e anunciar a Bíblia e os valores do Reino. Ademais, penso também que a igreja não pode desistir de fazer teologia pública, manifestando à sociedade aquilo que o Senhor diz e ensina sobre o homem e suas relações na família e no mundo.

Quais são os seus próximos projetos literários?

Atualmente estou escrevendo um livro chamado Pais fracassados – o que os personagens bíblicos têm a nos ensinar sobre os seus fracassos familiares. Esse livro será lançado ainda esse ano pela Editora Trinitas. A proposta deste livro é olhar para a história de grandes homens de Deus que, apesar de terem sido usados poderosamente pelo Senhor, fracassaram como pais, trazendo assim a cada um de nós lições práticas quanto à importância do relacionamento familiar.

Também estou começando a trabalhar num livro que, possivelmente, será o mais extenso que já escrevi. Esse livro, ainda sem editora, tratará das similaridades do período dos juízes de Israel com a igreja evangélica brasileira. Aliás, é impressionante como os 21 capítulos do livro de Juízes assemelham-se ao nosso tempo. A ideia é mostrar, por meio da exposição deste livro, que também servirá como comentário bíblico, os problemas do evangelicalismo brasileiro e a necessidade de fazermos da Palavra de Deus instrumento de ensino e correção da família, da igreja e da sociedade.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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