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Nesta edição entrevisto Thiago Biazin, que trabalha no Fundo Barnabas desde 2018, quando foi aberto o escritório no Brasil. Desde janeiro de 2021, Biazin atua como Chefe de Operações e está à frente do Barnabas no Brasil e América Latina.
O que é o Fundo Barnabas?
O Fundo Barnabas foi criado na Inglaterra, em 1993, por Patrick Sookdheo, que é o nosso diretor internacional. O atual CEO internacional chama-se Hendrik Storm. Somos uma agência de ajuda e suporte para a Igreja sofredora; trabalhamos para fortalecer a Igreja local em contextos de sofrimento, discriminação e perseguição.
Atualmente, o Fundo Barnabas tem sua sede internacional em Pewsey, na Inglaterra, e conta com escritórios na África do Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Chipre, Escócia, Estados Unidos, Índia, Inglaterra, Irlanda do Norte, Nova Zelândia e Rússia. Um texto bíblico que temos como referência para nosso trabalho é Gálatas 6,10, que diz: “Portanto, enquanto temos a oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé”. Tendo isso em mente, buscamos servir de cristãos, através de cristãos, para cristãos. Agimos em nome da Igreja sofredora e perseguida, sendo sua voz – tornando suas necessidades conhecidas aos cristãos ao redor do mundo e a injustiça de sua perseguição conhecida aos governantes e organizações internacionais.
Levamos muito a sério os recursos a nós confiados e estamos sempre buscando trabalhar com custos baixos para que a maior parte do valor doado chegue a quem realmente precisa. Nossos custos operacionais são de apenas 12%, o que significa que, a cada R$ 100 doados, R$ 88 realmente chegam a quem necessita. Já no caso das doações feitas especificamente para projetos, 100% do valor doado é revertido.
“Agimos em nome da Igreja sofredora e perseguida, sendo sua voz – tornando suas necessidades conhecidas aos cristãos ao redor do mundo e a injustiça de sua perseguição conhecida aos governantes e organizações internacionais.”
Thiago Biazin, Chefe de Operações do Fundo Barnabas no Brasil e América Latina.
Como o Fundo Barnabas tem trabalhado diante das diversas crises em andamento no mundo, como no Afeganistão, Ucrânia e África?
Apenas no último ano financiamos 348 projetos em 63 países. Alguns dos números destes projetos: levamos educação para 13,9 mil crianças em 137 escolas e institutos em oito países; 36 mil vítimas de violência atendidas em 13 países; distribuição de 31 mil itens de literatura cristã, incluindo Novos Testamentos e livros cristãos, para 12 países; ajuda a mais de 495 mil vítimas de desastres naturais em 40 países; abertura de 19 mil pequenos negócios para sustento de famílias que perderam suas rendas em oito países; 9,7 mil pessoas receberam treinamento teológico e de liderança em 26 países. Além disso, em 2021 o Fundo Barnabas criou o food.gives, que consiste em recolher doações de alimentos, roupas e outros itens de necessidade básica e encaminhá-los para países ou regiões onde estes itens são mais necessários. O Fundo Barnabas cuida de todo o processo logístico e cobre todos os custos de transporte para que estas doações cheguem àqueles que mais precisam. Por meio da iniciativa food.gives já enviamos mais de 400 toneladas em ajuda para cristãos necessitados em todo o mundo.
Em relação à Ucrânia, como o Fundo Barnabas tem atuado?
Estamos trabalhando ativamente para ajudar e sustentar a igreja tanto nas regiões de fronteira quanto dentro da Ucrânia. No momento, estamos cuidando de refugiados e dando suporte para as igrejas na região. A maioria dos refugiados é de mulheres, crianças e idosos, que estão indo para países onde não correm risco de serem perseguidos; eles têm a intenção de voltar para seus lares depois que o conflito terminar. Muitos não querem ir para longe e deixar seus maridos e filhos homens para trás.
O Fundo Barnabas tem trabalhado junto com igrejas nas regiões de fronteira da Moldávia, Romênia e Polônia, pois há mais de 4 milhões de refugiados da guerra. Estamos também, por meio de igrejas locais, mandando mantimentos para dentro da Ucrânia, inclusive na zona de guerra. No total, já enviamos 350 toneladas de doações, incluindo alimentos, roupas, cobertores e leite em pó. Os caminhões não podem cruzar a fronteira sem terem de ficar parados por dias e frequentemente tendo de pagar subornos para poder entrar, mas as vans da igreja podem, uma vez que a igreja é muito respeitada na região. Então, descarregamos os caminhões e colocamos as doações nas vans, que saem em comboios de 10 a 20 veículos, levando ajuda para dentro do país, inclusive para locais de conflito. Além do envio de alimentos e demais itens de necessidade básica, também estamos suprindo financeiramente muitas igrejas, uma vez que suas despesas aumentaram significativamente por estarem abrigando tantos refugiados.
Temos relatos impressionantes de nossos parceiros de projeto, mas um sentimento marcante é a gratidão daqueles que estão recebendo ajuda. Muitas dessas pessoas tiveram suas casas destruídas, perderam tudo, e são extremamente gratas ao receber os alimentos e as roupas.
E sobre o Afeganistão? Depois da tomada do poder pelo Talibã, com o país sendo hoje considerado o lugar mais perigoso do mundo para um cristão, que tipo de trabalho tem sido feito para ajudar cristãos afegãos?
Este é um contexto bastante diferente da Ucrânia, pois os cristãos que fugiram do Afeganistão foram para países onde também existe perseguição e continuam correndo risco.
Depois de quase oito meses da tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão, ainda estamos trabalhando exaustivamente para levar as famílias a locais seguros. Eles estão em países vizinhos e estamos cuidando deles, suprindo suas necessidades e zelando pela sua segurança. Ficamos impressionados em ver a fé desses nossos irmãos e irmãs, e como confiam no Senhor, de que em breve estarão em um local seguro.
No total, estamos cuidando de 75 famílias e suas histórias são impactantes. Como a da mãe de quatro filhos, casada com um muçulmano dependente químico que pretendia vender as crianças. A mãe o deixou fazer isso, e por isso foi atacada com ácido, perdendo um dos olhos. O marido foi preso e, quando o Talibã tomou o poder no país, ela fugiu com os filhos, pois temia que o marido fosse solto; se isso acontecesse, ele com certeza iria atrás dela. Há também uma família que, em um ato de desespero, enviou seus três filhos (todos menores de 15 anos) de volta ao Afeganistão para que tirassem o passaporte, pois foi dito para eles que sem passaporte não iriam a lugar nenhum. Agora as crianças estão no Afeganistão, não conseguem sair do país e seus pais não podem voltar para buscá-los.
“Os cristãos que fugiram do Afeganistão foram para países onde também existe perseguição e continuam correndo risco.”
Thiago Biazin
Ouve-se pouco sobre a crise alimentar que tem crescido no mundo. Como o Fundo Barnabas está lidando com este cenário?
Segundo relatório do Programa Mundial de Alimentos da ONU, no fim de 2021 estimava-se que 1 bilhão de pessoas em todo o mundo enfrentavam subnutrição, à medida que a crise alimentar mundial se agravava, com 45 milhões de pessoas vivendo já à beira da fome. Globalmente, 22% das crianças com menos de cinco anos sofrem atraso de crescimento devido à falta de alimentos.
Um mingau especial chamado ePap, feito de milho e soja com adição de vitaminas e minerais, leva saúde rapidamente para crianças e adultos desnutridos. Uma melhoria visível poder ser observada após algumas semanas de ePap diário, e o efeito total é alcançado após dois meses. Em fevereiro de 2022, o Barnabas enviou 30 toneladas de ePap para alimentação emergencial de 7.889 alunos no Zimbábue. Fizemos outras entregas de ePap por meio do food.gives para o Zimbábue, variando entre 51 a 81 toneladas cada uma, o suficiente para fornecer nutrição vital a milhares de pessoas.
Após uma seca de três anos, choveu no Zimbábue. Mas choveu demais. Em Matabeleland, choveu cinco vezes mais do que a média de uma estação chuvosa. Resultado: os nutrientes foram eliminados do solo arenoso. Muitos agricultores de subsistência são pobres demais para comprar qualquer produto para fertilizar seus campos e perderam praticamente toda a safra. Adicione a isso os gafanhotos e as lagartas que varreram o Zimbábue este ano, devorando o milho em crescimento. Então os elefantes destruíram toda a plantação da comunidade em Shabula, Matabeleland Norte, poucos dias antes do início da colheita.
No Sri Lanka, sem alimento ou dinheiro, a jovem mãe Serena (os nomes nos relatos a seguir são todos fictícios) implorou a um lojista da vizinhança por um quilo de arroz, a crédito. Quando ela levou o arroz para casa, descobriu que estava misturado com fezes de rato. Como uma convertida ao cristianismo, Serena enfrenta muita oposição da comunidade local. Ela e seu marido sabem que o lojista colocou os excrementos de rato em seu arroz deliberadamente, por causa da decisão do casal de deixar sua antiga religião e seguir a Cristo. “No entanto, eles cozinharam o arroz e o consumiram por desespero”, segundo nos disseram nossos parceiros de projeto no Sri Lanka, que mais tarde forneceram à família uma cesta básica financiada pelo Barnabas, quando o pastor de Serena lhes contou sobre a situação da família. A fome e a privação no Sri Lanka são as piores de que há memória. Há uma crescente crise humanitária no país, provocada pelo colapso econômico do Sri Lanka, que destruiu muitos meios de subsistência. A inflação está na casa de 18,8%, com o aumento dos alimentos ficando em 25,7%. Tudo isso foi agravado pelas recentes perdas das colheitas.
No Madagascar, Jacqueline junta folhas de cacto em uma desgastada cesta. As colheitas foram perdidas mais uma vez, mas pelo menos os cactos – que a população local chama de raketa – ainda estão vivos. Jacqueline coloca o conteúdo de sua cesta em um pano esfarrapado para as pessoas comprarem. As folhas da raketa têm pouco valor nutricional e causam dor de estômago. Mas as pessoas agora estão com tanta fome em partes do Madagascar que vão comê-las mesmo assim. Não há mais nada para encher seus estômagos. Quatro anos de repetidas secas, seguidos por cinco tempestades tropicais destruidoras desde meados de janeiro, devastaram Madagascar, principalmente o sul do país. O povo de Madagascar costumava chamar seu país de “a ilha verde”, mas agora está gradualmente se transformando em uma ilha vermelha, à medida que a vegetação desaparece deixando a areia vermelha nua que sopra impiedosamente nos olhos das pessoas.
Ainda no sul de Madagascar, a idosa Catarina se perguntou por que seus parentes não aparecerem em sua visita mensal. Mas ela não tinha como entrar em contato com eles, então esperou por mais um mês. Novamente, ninguém apareceu. Viajando em um carro de boi, Catarina percorreu a jornada de 75 quilômetros de sua vila remota até a vila ainda mais remota onde seus parentes viviam. Ao chegar, ela descobriu que toda a família – pais e três filhos – estava morta. Eles morreram de fome, poucos dias antes de Catarina chegar.
O Fundo Barnabas interveio, com a ajuda de Deus, para quebrar esse ciclo vicioso. Iniciamos um programa contínuo de dois anos para fornecer 234 toneladas do nutritivo mingau ePap para mais de 79 mil cristãos nas 22 regiões de Madagascar. Isso aumentará sua força e saúde, permitindo-lhes também combater as doenças. As primeiras 18 toneladas de ePap chegaram no dia 14 de fevereiro. Isso é suficiente para restaurar a saúde de 6 mil crianças com mais de 7 anos por meio de porções diárias de ePap durante dois meses. As crianças com menos de 7 anos precisam de apenas metade da medida de ePap diariamente, sendo, então, suficiente para 12 mil pequeninos. Mais 36 toneladas foram enviadas nos meses seguintes.
Às vezes, as más notícias podem parecer devastadoras – mas para nós devem ser um chamado à ação, não ao desespero. Quando José recebeu através do sonho do Faraó o aviso do Senhor de uma fome de sete anos que atingiria o Egito e as terras vizinhas, ele imediatamente fez planos como resposta (Gênesis 41,33-36). Não temos a promessa de “sete anos de grande abundância” (Gênesis 41,29) antes que a escassez de alimentos comece – ela já está afetando milhões de pessoas –, mas a maioria dos cristãos no Ocidente realmente desfruta de “grande abundância”, principalmente em comparação com nossos irmãos e irmãs na Ásia, África e Oriente Médio.
“Às vezes, as más notícias podem parecer devastadoras – mas para nós devem ser um chamado à ação, não ao desespero.”
Thiago Biazin
Como se pode ajudar o Fundo Barnabas?
Em primeiro lugar, orando. Depois, acessando nossas publicações, incluindo nosso Diário de Oração, publicado todas as manhãs em nossas mídias sociais (Facebook, Instagram, Twitter e anexo à nossa revista impressa), e com isso aprender mais sobre nossos irmãos e irmãs que sofrem. Conhecer suas histórias, sentir um pouco do que eles passam pelo simples fato de seguirem a Cristo pode nos ajudar a orarmos de forma intencional e direcionada para as reais necessidades de nossos irmãos e irmãs da Igreja sofredora. A oração é um pilar essencial para nosso trabalho e sabemos que Deus faz grandes coisas por meio da oração do Seu povo. Nosso trabalho é prova disso. Ore individualmente, lidere um grupo de oração, caminhe conosco em oração. Você também pode compartilhar as histórias, contar às pessoas o que você aprendeu sobre a situação dos cristãos perseguidos e encorajar outros a orar. E, conforme sentir em seu coração, tornar-se um apoiador do Fundo Barnabas. Pois as doações que recebemos é que possibilitam fazer tudo o que fazemos pela Igreja sofredora.
Para nós, cada centavo importa. Com apenas R$ 10 conseguimos manter uma criança na escola por um mês no Paquistão. Ou com R$ 65 servimos refeições diárias para uma criança no Zimbábue. Com R$ 7,65 compramos um saco de 500 gramas de ePap, que fornecerá 10 dias de alimentação para uma criança de 7 anos ou mais, ou 20 dias para uma criança mais nova. E R$ 104,05 fornecem ePap suficiente para alimentar uma família de cinco pessoas por um mês. R$ 7.344 cobre os custos de um dia do principal programa de ePap do Fundo Barnabas, em Madagascar.
Nossa iniciativa food.gives tem sido uma ferramenta muito importante para levar ajuda a cristãos em todo o mundo, funcionando como um banco de alimentos, só que em nível mundial. Agricultores em todo o mundo têm se mostrado sensíveis à Palavra de Deus, que ensina em Levítico 19,9-10: “Quando fizerdes a colheita da tua terra, não colherás totalmente nos cantos do campo, nem recolherás as espigas caídas da tua colheita. Da mesma forma, não colherás a tua vinha até os últimos frutos, nem recolherás as uvas caídas da tua vinha; tu as deixarás para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor vosso Deus”. E, como resposta, produtores agrícolas ao redor do mundo têm respondido a este chamado e temos 11 contêineres cheios de alimento a caminho de países desesperadamente necessitados de ajuda. Desafiamos os produtores agrícolas cristãos do Brasil a se unirem conosco nesta tão nobre causa.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos