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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Igreja evangélica, Evangelho, teologia moral, história e cultura. Coluna atualizada às quintas-feiras

Religião

Romanos 10–11: A fidelidade de Deus à aliança com Israel

Apóstolos pregando o evangelho aos judeus
Detalhe de "Os apóstolos pregando o Evangelho", de Gustave Doré. (Foto: Wikimedia Commons/Domínio público)

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Romanos 9 enfatiza a soberania absoluta de Deus na eleição e salvação de pecadores. Paulo argumenta que a promessa de Deus não falhou, porque a eleição não depende da descendência física, mas da graça divina. Deus escolhe livremente os pecadores que serão salvos, como exemplificado na escolha de Isaac em vez de Ismael e de Jacó em vez de Esaú, antes mesmo de nascerem ou fazerem qualquer bem ou mal. A salvação não depende da vontade humana ou de obras, mas da misericórdia divina. Deus tem o direito de fazer de alguns “vasos de misericórdia” e outros “vasos de ira”, segundo sua vontade, revelando tanto sua justiça quanto sua misericórdia.

Romanos 10 trata da importância da fé no Messias Jesus para a salvação, destacando que a justiça que vem de Deus não se baseia na lei, mas na fé. Paulo explica que a salvação está acessível a todos, tanto judeus quanto gentios. Ele afirma que o Messias Jesus é o fim da lei, porque cumpriu os requisitos da lei para todos os que creem. No início do capítulo, Paulo expressa o desejo de que os israelitas sejam salvos, mas lamenta que muitos busquem a justiça pelas obras da lei, em vez de pela fé. Ele enfatiza que a verdadeira justiça é alcançada pela confissão de que Jesus é Senhor e pela crença de que Deus o ressuscitou dos mortos. O apóstolo reforça que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (10,11), destacando a necessidade da pregação do Evangelho para que as pessoas ouçam, creiam e sejam salvas. Ele conclui mencionando que, apesar da pregação, muitos judeus continuam rejeitando o Evangelho, enquanto os gentios estão aceitando o Senhor Jesus pela fé (10,16-21).

Atualmente, existem aproximadamente 15 milhões de judeus no mundo (eram 16,5 milhões em 1933), dos quais cerca de 1 milhão se identificam como judeus messiânicos ou cristãos. Em Israel, onde vivem 10 milhões de pessoas, 7 milhões são judeus, e entre 15 mil e 30 mil são judeus messiânicos. Diante desses números, surge uma pergunta importante: o único Deus permanece fiel às alianças feitas com os patriarcas de Israel? Será que Deus abandonou seu povo escolhido?

A situação de Israel no tempo presente (Rm 11,1-10)

Paulo inicia o capítulo 11 de Romanos com uma pergunta retórica: “será que Deus rejeitou o seu povo?” (Rm 11,1), à qual responde de maneira enfática: “De modo nenhum!”. Com base nisso, ele desenvolve uma argumentação em quatro pontos para apoiar essa afirmação, refutando a ideia de que Deus teria abandonado o povo de Israel.

Primeiro: a experiência pessoal de Paulo (11,1): Paulo utiliza seu próprio exemplo para demonstrar que Deus não rejeitou Israel. Ele afirma ser israelita, descendente de Abraão e da tribo de Benjamim, provando que, apesar de ser judeu, não foi descartado. Sua transformação, de perseguidor da igreja a apóstolo, reforça que Deus continua a agir por meio de judeus. João Calvino comenta que a eleição divina de Paulo comprova que a graça de Deus ainda repousa sobre Israel, refutando a ideia de que Deus abandonou a nação judaica por completo. Paulo, assim, ilustra que a eleição de Israel permanece ativa.

A salvação está acessível a todos, tanto judeus quanto gentios. Paulo afirma que o Messias Jesus é o fim da lei, porque cumpriu os requisitos da lei para todos os que creem

Segundo: a doutrina da eleição (11,2-6): O segundo argumento de Paulo envolve a doutrina da eleição, previamente tratada por ele em Romanos 9. Paulo reafirma que “Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu” (Rm 11,2). A palavra “conhecer”, aqui, carrega o sentido de amar e escolher antecipadamente, como visto em Romanos 8,29. Portanto, a ideia da rejeição de Israel é incompatível com a eleição divina. Mesmo que, na época de Paulo, a maioria do povo judeu estivesse afastada de Deus, o apóstolo deixa claro que a eleição de Israel, como nação, permanece. Ainda que haja apenas um “remanescente segundo a eleição da graça” no presente, as promessas de Deus a Israel não foram anuladas.

Terceiro: as Escrituras e o exemplo de Elias (11,2-6): Paulo cita o exemplo de Elias para mostrar que, mesmo quando a maioria de Israel (o Reino do Norte, destruído em 722 a.C. pela Assíria) se afastou, Deus preservou um “remanescente segundo a eleição da graça”. Deus revelou a Elias que havia reservado “sete mil homens” que não adoraram Baal, evidenciando que, apesar da infidelidade de muitos, Israel ainda permanece a nação eleita.

Quarto: o remanescente fiel no tempo de Paulo (11,2-7): Paulo aplica a ideia do remanescente ao seu tempo, afirmando que, assim como no passado, um grupo de judeus continuava fiel por causa da eleição da graça divina (Rm 11,5). Tiago, em Atos 21,20, confirma que milhares de judeus creram no Evangelho, mostrando a ação de Deus entre eles. Paulo enfatiza que essa eleição é resultado da “graça”, não de “obras” (Rm 11,6). Ele conclui que, embora a maioria de Israel tenha falhado ao buscar justiça por meio da lei, o remanescente alcançou a salvação pela graça, enquanto os outros foram endurecidos (Rm 11,7).

Quanto ao endurecimento do coração (11,8-10) de Israel, abordado por Paulo, ele é consequência da desobediência persistente dos judeus e um ato judicial de Deus. Ao rejeitar a justiça que vem de Deus, Israel foi entregue à cegueira espiritual. Paulo cita Isaías 29,10 e o Salmo 69,22-23 para ilustrar essa insensibilidade de Israel, que conduziu a nação à punição, cegueira espiritual e humilhação.

Assim, Paulo conclui que a rejeição de Israel não é total ou definitiva. Há um remanescente fiel em Israel, escolhido pela graça, que garante que as promessas de Deus a Israel ainda permanecem. Contudo, a maioria de Israel, endurecida e cega espiritualmente, carrega temporariamente o fardo da rejeição divina.

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A esperança de Israel no futuro (11,11-32)

Paulo levanta outra questão importante: será que essa rejeição parcial de Israel é definitiva? Novamente, a resposta do apóstolo é categórica: “De modo nenhum!” Ele nos ensina que, embora Israel tenha tropeçado, esse tropeço não é o fim. Pelo contrário, Deus tem um plano futuro para o Israel étnico, que culminará na salvação desse povo. Paulo utiliza três argumentos principais para demonstrar esse propósito divino e as bênçãos que decorrem dessa queda temporária de Israel.

Primeiro: a sequência de bênçãos (11,11-12): Paulo apresenta uma sequência de três bênçãos que ilustram o plano de Deus. Em primeiro, a transgressão de Israel resultou na salvação dos gentios, pois a rejeição da mensagem cristã pelos judeus abriu espaço para que os gentios a aceitassem. Em segundo, destaca o propósito de Deus em provocar “ciúmes” em Israel, fazendo com que os judeus desejem as bênçãos da salvação de que os gentios estão desfrutando. Por fim, em terceiro, se a transgressão de Israel trouxe riqueza ao mundo, a restauração plena de Israel resultará em ainda mais bênçãos para todos.

Segundo: o ministério de Paulo e o ciúme de Israel (11,13-16): Paulo visava provocar ciúmes em Israel através das bênçãos recebidas pelos gentios, esperando que isso levasse alguns judeus a se voltarem para o Messias. Ele compara o restabelecimento de Israel a uma ressurreição, eco de Ezequiel 37, afirmando que, se a rejeição trouxe reconciliação ao mundo, seu retorno trará ainda mais bênçãos. Para ilustrar, Paulo usa a metáfora das primícias, onde os judeus crentes são como “primícias” que antecipam a salvação, e a metáfora da árvore, em que a “santa raiz” representa os patriarcas, santificando “os ramos”, que simbolizam Israel.

Terceiro: a alegoria da oliveira (11,17-24): Na alegoria da oliveira (F. F. Bruce informa que “uma das sinagogas em Roma tinha o nome de Sinagoga da Oliveira”), Paulo contrasta a “oliveira boa” e cultivada, que é Israel, com a “oliveira brava”, os gentios. Os judeus incrédulos são comparados a “ramos [...] quebrados”, enquanto os gentios crentes são enxertados na oliveira de Israel, participando das promessas divinas. Paulo adverte os gentios a não se vangloriarem, enfatizando que sua inclusão é pela graça e fé, não obras ou mérito. Ele promete que, ao abandonarem a incredulidade, os judeus poderão ser novamente enxertados na “oliveira boa”. Assim, a restauração étnica de Israel é assegurada, mostrando que Deus pode reintegrar os “ramos naturais” em sua própria oliveira.

O mistério divino e a plenitude de Israel (11,25-32): Paulo, então, revela um “mistério”, que estava oculto, mas que agora é revelado: “veio um endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios” (11,25). Esse endurecimento de Israel é temporário e parcial, e perdurará até que o número total dos gentios eleitos tenha sido alcançado pela salvação. Após esse evento, “todo o Israel será salvo” (11,26).

O plano de Deus inclui tanto o chamado aos gentios quanto a futura redenção de Israel

Aqui, o termo “Israel” refere-se claramente ao Israel étnico. Paulo não está falando de um Israel espiritual composto de judeus e gentios crentes, mas do povo judeu como nação. Ele explica que, embora atualmente Israel esteja endurecido espiritualmente, Deus tem um plano de restauração para os judeus, que será cumprido quando o número completo de gentios for salvo. Essa futura restauração de Israel está baseada nas promessas de Deus e na sua fidelidade ao pacto que ele fez com os patriarcas. Deus não abandonará seu povo escolhido, e, no tempo certo, Israel reconhecerá Jesus como seu Messias, e assim será salvo. Assim, Paulo reafirma que o plano de Deus inclui tanto o chamado aos gentios quanto a futura redenção de Israel, mostrando que a rejeição dos judeus é temporária e parte do propósito divino de salvação global.

Em Romanos 11,26-27, Paulo fundamenta sua defesa da restauração futura de Israel citando passagens do Antigo Testamento. A primeira citação é de Isaías 59,20-21, uma profecia messiânica que se refere à primeira vinda do Messias e à expiação dos pecados de Israel. Paulo ensina que a salvação futura de Israel será por meio do “Libertador”, o Messias Jesus. Ele destaca que essa salvação trata da libertação dos pecados, confirmada pela nova aliança de Deus com “a casa de Israel” e a “a casa de Judá”, conforme descrito em Jeremias 31,33-34, quando o único Deus “tirar os [...] pecados” de Israel.

A salvação de “todo o Israel” como fidelidade à aliança

O ponto de Paulo vai além de afirmar que a salvação de Israel é apenas através do “Libertador”, o Messias Jesus. Ele também afirma que essa salvação é certa. Não se trata de uma possibilidade, mas de uma certeza garantida. Em Romanos 11,25-26, lemos essa promessa: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘O Libertador virá de Sião e afastará de Jacó as impiedades’.” Deus fez uma promessa e escolheu Israel, e Paulo reforça: “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (11,29).

Prestem atenção. Não é “todo Israel pode ser salvo”, mas “todo Israel será salvo”. Há divergências sobre o significado de “todo Israel”. Alguns entendem que se trata dos judeus crentes que, ao longo do tempo, são salvos pela fé em Cristo (esta foi minha posição até 2020, seguindo João Calvino). Outros acreditam que Deus salva todo o seu povo eleito, e “todo Israel” seria de “igreja”. Essa última interpretação tem sua origem na exegese medieval romana, e foi popularizada pelo neocalvinismo holandês. É preciso deixar claro que esta ideia é supersessionista. Ela presume que Deus abandonou seu pacto e eleição com Israel e substituiu Israel pela Igreja. Mas a Escritura não ensina em lugar algum que Deus repudiou Israel ou anulou sua eleição e aliança com Israel ou substituiu Israel pela Igreja. Devemos notar: o problema posto aqui está no campo da salvação e não da escatologia. A pergunta importante é: se o único Deus rejeitou Israel e revogou sua aliança e eleição com os judeus, que esperança de redenção temos nós, gentios?

Mas precisamos nos ater ao texto: em Romanos 9-11 “Israel” é mencionado sempre referindo-se ao povo de Israel e aos judeus. Paulo não ensina em momento algum que o Israel judeu seria substituído por uma igreja gentílica. Israel passou por um endurecimento parcial até a entrada dos gentios, mas um remanescente judaico permaneceu fiel. O Israel salvo é o mesmo Israel que foi parcialmente endurecido.

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Romanos 11:26 diz: “E assim todo o Israel será salvo”. Esse dito significa que, algum dia, a nação de Israel como um todo (não necessariamente cada indivíduo; cf. 1Reis 12,1 e 2Crônicas 12,1) será convertida ao Messias, e será salva. Entre os séculos 17 e 19, os puritanos e seus sucessores acreditavam que o retorno dos judeus à sua terra era uma condição histórica necessária para sua salvação futura. Eles entendiam que os judeus seriam restaurados à terra, prometida a eles por uma aliança eterna a Abraão, sendo reunidos de todos os cantos do mundo. Assim, em sua terra, chegaria o momento em que “todo Israel será salvo”, por meio do “Libertador” que “virá de Sião”.

Então, aqui estão cinco razões oferecidas por John Piper sobre essa perspectiva em Romanos 11. Você pode encontrar outros argumentos a favor dessa posição nos textos de praticamente todos os escritores puritanos e seus sucessores, tais como John Owen, Samuel Rutherford, John Gill, Jonathan Edwards, Robert Murray M’Cheyne, Charles Spurgeon e J. C. Ryle, e os comentários da Epístola aos Romanos, como os de John Murray, Charles Cranfield, Douglas Moo e Thomas Schreiner, entre outros.

O termo “Israel” nos versos 25 e 26 refere-se à mesma entidade. Paulo menciona: “Veio um endurecimento em parte a Israel...” Isso se refere à nação como um todo, e a ideia continua com “... até que tenha entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo.” Não vejo uma mudança de significado entre os dois versos; o Israel endurecido, a nação, será o Israel salvo, a nação.

A referência no verso 26 à remoção da impiedade de Jacó se alinha com a visão nacional de “todo o Israel.” A frase “o Libertador virá de Sião e afastará de Jacó as impiedades” sugere uma imagem da segunda vinda do Messias, correlacionando o perdão dos pecados com a remoção do endurecimento mencionado no verso 25. “Jacó” não é uma referência ao remanescente eleito de Israel, mas sim a toda a nação de Israel.

Os paralelos na segunda metade do verso 28 apontam para “todo o Israel” como a nação. Quando Paulo diz: “Quanto ao Evangelho, eles são inimigos por causa de vocês”, isso se refere à nação como um todo. Assim, a segunda parte do verso, “mas quanto à eleição, amados por causa dos patriarcas”, também se aplica à nação.

A Escritura não ensina em lugar algum que Deus repudiou Israel ou anulou sua eleição e aliança com Israel ou substituiu Israel pela Igreja

Os paralelos no verso 12 reforçam essa ideia. O verso diz: “Se a transgressão deles resultou em riqueza para o mundo [...] quanto mais a plenitude deles!” Aqui, “plenitude deles” se refere à mesma nação que cometeu as transgressões, apontando para a salvação de “todo o Israel”.

O mesmo se aplica aos paralelos no verso 15. A afirmação “se o fato de eles terem sido rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento senão vida dentre os mortos?” sugere que a nação rejeitada será aceita, o que implica na salvação de “todo o Israel” como nação, no futuro.

Paulo, portanto, ensina que uma grande conversão de Israel, vivendo em sua terra ancestral, ao Messias Jesus ocorrerá em conexão com a segunda vinda do “Libertador [...] de Sião”. Embora os detalhes sejam incertos, algumas profecias, como Zacarias 12,10, que menciona um derramamento do Espírito sobre a casa de Davi e a visão do Messias traspassado, e Isaías 66,8, que fala do nascimento de Sião “num só dia [...] de uma vez”, indicam essa transformação. Em Mateus 23,39, Jesus diz que os judeus não o verão até que clamem por ele. Apesar de não saber o momento exato, a certeza da conversão de Israel é inegável. Esta ocorrerá com os judeus vivendo em sua terra ancestral, será realizada pelo Messias Jesus, que perdoará os pecados, removerá a impiedade de Israel e o libertará.

Podemos destacar algumas implicações do que estamos considerando:

1. É vital que os cristãos orem pela conversão de Israel, pedindo que o endurecimento que aflige essa nação seja removido e que se complete o número de gentios eleitos. Missões e testemunhos voltados a Israel são essenciais, assim como devemos evitar qualquer arrogância em relação aos judeus que não creem. O objetivo é que Israel sinta ciúmes das bênçãos de que os gentios desfrutam no Messias Jesus, levando-os à fé e à salvação. Na verdade, compreender corretamente o processo histórico de como Deus salva gentios e judeus elimina o orgulho tanto dos judeus quanto dos gentios.

2. Os judeus que integram o Israel nacional desfrutam de grandes privilégios e bênçãos externas, como “a adoção, [...] a glória, as alianças, a promulgação da Lei, o culto e as promessas [...] os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para sempre” (Rm 9,4-5). No entanto, o que garante a salvação dos judeus que compõem o Israel nacional é sua participação no Israel espiritual, alimentados pelos meios da graça estabelecidos por Deus com a nação pactual, e selada pelo sacrifício do Messias Jesus. Embora os dois conceitos de eleição, corporativa e pessoal, se sobreponham, não se contradizem. Assim, podemos falar de um Israel dentro do Israel, da eleição pessoal dentro da eleição nacional.

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3. Por meio dos profetas, Deus prometeu estabelecer uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá (Jeremias 31,31-34), nova aliança essa revelada em Jesus, um judeu, para apóstolos judeus. E, por meio dos apóstolos judeus, os gentios do mundo todo são chamados a participar dessa nova aliança, tal qual Raabe, Rute, Urias, Lucas e Tito. Portanto, os crentes gentios são enxertados na oliveira, que representa a nação de Israel, e não o contrário. Paulo destaca que a igreja gentílica depende das promessas feitas ao Israel judeu, que fornecem seu fundamento histórico e espiritual. A igreja está alicerçada nas promessas de Deus a Israel e, em última instância, no próprio Israel. Assim, os judeus que ainda não creem no Messias devem ser tratados pelos cristãos como “irmãos mais velhos” e “guardiões da Escritura Sagrada”. Pois a esperança é que logo “chegue a plenitude dos gentios”, e quando o “Libertador” visitar os judeus, “todo o Israel será salvo”.

4. Jesus é o eleito de Deus (Is 41,1; 1Pe 2,4), especialmente escolhido para ser o “Libertador” do seu povo. Como o Deus-homem, o único Messias e Servo de YHWH, ele assumiu a carne humana, o israelita perfeito. O Messias judeu assumiu a carne humana para redimir não apenas o Israel eleito, mas homens e mulheres eleitos de toda tribo, língua, povo e nação, cumprindo o plano redentor de Deus de atraí-los para ser parte de Israel. A salvação vem por meio do sacrifício e ressurreição de Jesus, o judeu sem pecado, cuja perfeita obediência cumpriu a Lei e as promessas feitas a Israel. Ele ascendeu aos céus em sua carne judaica e, na Ceia, somos alimentados por seu corpo e sangue judeu, unindo-nos a ele. Como o eleito, e a cabeça de todos os eleitos, somos escolhidos no Messias judeu, para sermos eternamente unidos ao Deus-homem judeu. Por isso, como Karl Barth escreveu, “o homem que tem vergonha de Israel tem vergonha de Jesus Cristo”.

5. A crença na irrevogabilidade da eleição de Israel oferece conforto e confiança. Paulo afirma que a fidelidade de Deus em cumprir as promessas aos patriarcas reforça a confiança nas promessas divinas para a salvação dos crentes gentios. Embora os judeus sejam considerados inimigos do Evangelho devido à rejeição do Messias, permanecem amados por Deus por causa da eleição, que é graciosa e irrevogável. Se Deus mantém sua eleição e aliança com a nação de Israel, ele também manterá sua aliança e eleição com os gentios crentes enxertados na oliveira, a nação de Israel. Como resumiu Leslie Allen: “Visto que [...] Deus [é] imutável, não toma de volta um presente nem cancela um chamado”.

6. Podemos ver o moderno Estado de Israel como o cumprimento das profecias bíblicas. Como Barth disse, Israel seria a única prova natural da existência de Deus. Assim, os cristãos devem se opor a toda forma de antissemitismo e antissionismo, apoiando o Estado de Israel, a única democracia do Oriente Médio. No entanto, isso não implica aceitação irrestrita das ações do governo israelense. Israel, com seus desafios internos, não é perfeito, mas se destaca em comparação com seus vizinhos. É a única democracia legítima no Oriente Médio. Lugares sagrados do cristianismo são protegidos, e liberdades e direitos são garantidos a judeus e não judeus. E, se há uma interdependência entre o povo judeu e o Estado de Israel, a existência da nação é a melhor proteção dos judeus hoje. Portanto, para os cristãos, apoiar Israel e os judeus é um dever – baseado nas Escrituras.

Devemos nos mirar em Mosab Hassan Yousef, filho de Sheikh Hassan Yousef, um dos fundadores do grupo terrorista Hamas. Mosab escreveu um livro chamado Filho do Hamas, onde conta sua história de transformação e mudança de perspectiva. Ele cresceu como parte de uma família influente no Hamas, mas acabou se tornando um informante para o Shin Bet, o serviço de segurança israelense. Mosab revelou como, após um longo período de questionamento e exposição à violência, passou a discordar das ações e ideologias do Hamas. Ele acabou se convertendo ao cristianismo e se refugiou nos Estados Unidos, rompendo totalmente com o grupo e sua família – e hoje vive para apoiar e defender Israel.

A fidelidade de Deus em cumprir as promessas aos patriarcas reforça a confiança nas promessas divinas para a salvação dos crentes gentios

Paulo conclui seu argumento reafirmando que Deus não rejeitou o Israel étnico (11,25-32). A primeira base dessa afirmação é a irrevogabilidade dos dons e do chamado de Deus (11,29); embora os judeus rejeitem o Evangelho, permanecem amados por Deus devido à eleição e promessas feitas aos patriarcas. A segunda base é a misericórdia soberana de Deus (11,30-32). A desobediência de Israel permitiu que os gentios recebessem misericórdia, que também será estendida aos judeus no futuro. Paulo enfatiza que todos, judeus e gentios, são encerrados na desobediência para que judeus e gentios recebam a misericórdia de Deus.

Louvor pela maravilhosa fidelidade de Deus (11,33-36)

Ao fim, Paulo se prostra em reverente adoração a Deus e sua fidelidade à aliança com Israel, destacando a grandeza (11,33), independência (11,34-35) e soberania absoluta de Deus (11,36). Como Paulo, somos chamados a render nosso coração em adoração, exaltando a Deus por tudo o que ele é e faz e por seu plano salvador revelado no Messias Jesus, que é misericordioso “primeiro do judeu e também do grego” (1,16). Devemos louvá-lo por sua sabedoria, juízo e por seus insondáveis caminhos. Portanto, rendamos toda a glória ao único Deus eternamente, que é digno de todo louvor.

“Ó Senhor, nosso Deus, Tu que és cheio de misericórdia e graça, nós clamamos a Ti pela salvação do Teu povo, Israel, os descendentes de Abraão, Teu servo. A Tua promessa foi feita a eles, e através deles todas as nações da terra foram abençoadas.
Nós Te suplicamos, ó Pai celestial, que em Teu tempo certo, cumpras as Tuas promessas de restaurar e salvar Israel. Tira o véu que cobre seus corações para que possam ver a glória de Cristo, o verdadeiro Messias. Que o Espírito de vida toque as almas dos filhos de Israel, para que se arrependam e creiam no Teu Filho, Jesus Cristo, aquele a quem eles rejeitaram, mas que ainda os ama.
Desperta o Teu antigo povo para a luz do Evangelho, para que eles possam conhecer a Tua redenção e se unam com os gentios como uma só igreja, um só rebanho sob o Teu pastor, Jesus Cristo. Faze-os parte do corpo de Cristo, para que juntos, como uma nova humanidade, glorifiquemos o Teu nome.
Converte-os, Senhor, pelo Teu poder soberano. Glorifica o Teu nome na salvação deles, mostrando que Tu és fiel e justo em todas as Tuas promessas. Que a plenitude de Israel venha para que o mundo inteiro veja que Tu és o Deus de todos os povos.
Oramos em nome de Jesus, o Salvador de judeus e gentios. Amém.”

(Esta coluna é a transcrição de uma prédica proferida pelo colunista em 10 de outubro de 2024, no 40.º Congresso Fiel para Pastores e Líderes, em Águas de Lindoia-SP.)

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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