Jonas Dassler no papel de Dietrich Bonhoeffer, em “A Redenção: A História Real de Bonhoeffer”.| Foto: Paris Filmes/Divulgação
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Tive o privilégio de participar de uma cabine do filme A redenção: a história real de Bonhoeffer, no estúdio da distribuidora Paris Filmes, a convite do pastor Gilsemar Silva, diretor-executivo da 360 WayUp. Também esteve presente na apresentação do filme Jorge Assumpção, diretor de Marketing e Programação da Paris Filmes, uma das maiores distribuidoras de filmes do Brasil. A redenção será lançado nos cinemas no próximo 12 de dezembro.

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Quem foi Dietrich Bonhoeffer

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Dietrich Bonhoeffer nasceu em 4 de fevereiro de 1906, em Breslau, na Alemanha, em uma família de intelectuais, religiosos e militares. Desde jovem, destacou-se por seu interesse em teologia e filosofia, estudando em instituições renomadas como as universidades de Tübingen e Berlim. Influenciado por Karl Barth, Bonhoeffer defendia a integração entre fé e ação prática, enfatizando que o cristianismo não deveria ser apenas uma experiência espiritual individual, mas um compromisso ético com a realidade social. Ele acreditava que o seguimento ao Senhor Jesus exigia responsabilidade diante das injustiças e coragem para confrontar o mal.

Bonhoeffer foi uma das primeiras vozes cristãs a reconhecer o perigo do nacional-socialismo. Em 1933, logo após a ascensão de Adolf Hitler ao poder, ele denunciou as políticas antissemitas do regime e criticou o apoio de muitos cristãos alemães ao partido nacional-socialista. Como resposta, participou da fundação da Igreja Confessante (Bekennende Kirche), junto com Martin Niemöller, que seria uma aliança de clérigos luteranos e reformados comprometida com a preservação do evangelho puro, e que rejeitava a influência de Hitler sobre a fé e defendia a autonomia da Igreja diante do Estado. A Igreja Confessante, assim, tornou-se um centro de resistência cristã na Alemanha.

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Bonhoeffer não se limitou à resistência religiosa. Ele foi recrutado por seu cunhado, Hans von Dohnanyi, para em 1940 entrar no serviço de inteligência militar (Abwehr), onde atuou como agente duplo, levando mensagens para agentes dos Aliados ocidentais em países neutros e colaborando com os conspiradores que planejavam assassinar Hitler. Um dos eventos mais notáveis da resistência militar alemã foi a Operação Valquíria, uma tentativa frustrada de golpe liderada pelo coronel Claus von Stauffenberg, em 20 de julho de 1944. Esses atos aparentemente contraditórios para um pastor que era pacifista são um dos aspectos mais fascinantes de sua história.

Bonhoeffer não apenas pregava sobre o amor ao próximo, mas colocou essa pregação em prática ao arriscar sua vida para proteger os judeus e resistir ao nacional-socialismo

Bonhoeffer acreditava que, diante de uma situação extrema como o Holocausto judeu, o cristão tinha o dever moral de agir contra os perpetradores da maldade, mesmo que isso implicasse escolhas difíceis. Ele via a conspiração para remover Hitler do poder como uma forma de cumprir sua responsabilidade perante Deus e a humanidade, protegendo aqueles que estavam sendo perseguidos, os resistentes e judeus. Em seu livro Discipulado, Bonhoeffer enfatizou que a verdadeira fé exige sacrifício e comprometimento, não apenas uma aceitação passiva ou anuência intelectual às doutrinas cristãs.

Sua participação na resistência militar ao regime culminou em sua prisão em 1943 e, posteriormente, em sua execução em 9 de abril de 1945, poucos dias antes da libertação do campo de concentração de Flossenbürg. Bonhoeffer foi enforcado por ordens diretas de Hitler, evidenciando o impacto que ele causou ao desafiar o regime. Seu martírio, aos 39 anos, simbolizou o custo de sua fé ativa e fundamentada em Jesus Cristo.

Por que Bonhoeffer é importante na atualidade

A importância de Bonhoeffer transcende sua época. Seu legado teológico e moral continua a inspirar cristãos ao redor do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, os escritos de Bonhoeffer foram redescobertos, gerando interpretações divergentes. Alguns evangélicos o criticam por considerá-lo próximo do liberalismo teológico, enquanto outros enxergam suas obras como um chamado radical ao discipulado. Livros como Discipulado e Vida em comunhão oferecem reflexões profundas sobre a vida cristã, enfatizando a necessidade de viver o evangelho de forma concreta e comprometida. Segundo seu amigo Eberhard Bethge, intérpretes liberais muitas vezes descontextualizam as ideias de Bonhoeffer, especialmente suas cartas escritas na prisão, o que leva a leituras equivocadas e simplistas, “no interesse do marxismo”. No entanto, suas reflexões revelam uma teologia complexa, profundamente enraizada na centralidade de Jesus Cristo e na ética cristã. Cito a seguir algumas razões pelas quais ele é tão relevante:

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Em primeiro lugar, o testemunho de uma fé corajosa. Bonhoeffer é frequentemente citado como um exemplo de alguém que viveu sua fé de forma radical. Ele não apenas pregava sobre o amor ao próximo, mas colocou essa pregação em prática ao arriscar sua vida para proteger os judeus e resistir ao nacional-socialismo. A resposta que ele ofereceu para um colega italiano de prisão, em Tegel, em 1944, ficou famosa: “Quando um louco joga o seu carro sobre a calçada, eu não posso, como pastor, contentar-me em enterrar os mortos. Se eu me encontrar naquele lugar, devo pular e agarrar o motorista ao volante”.

Em segundo, um modelo de discipulado autêntico. Seu conceito de “graça barata” versus “graça custosa” desafia os cristãos a reconsiderarem o que significa seguir a Cristo. Para Bonhoeffer, a fé verdadeira requer sacrifício e ação, não uma aceitação passiva das bênçãos divinas:

“A graça barata é graça como resto de estoque, perdão barateado, consolo barateado, sacramento barateado. [...] É graça sem preço, sem custo. [...] A Igreja que segue esse tipo de doutrina da graça [...] o mundo encontra cobertura barata para seus pecados, dos quais não se arrepende e, na verdade, não quer se libertar. Assim, a graça barata é a negação da Palavra viva de Deus, negação da encarnação da Palavra de Deus. A graça barata, em vez de justificar o pecador, justifica o pecado. [...] A graça barata é a graça sem discipulado, é a graça sem cruz, é a graça sem Jesus Cristo vivo e encarnado. A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, pelo qual o ser humano vende feliz tudo que possui. [...] É o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo deixa suas redes para trás e o segue. A graça preciosa é o evangelho que sempre se deve procurar, a dádiva que se deve pedir, a porta à qual se tem de bater. Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado; é graça porque chama ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao ser humano; é graça pois só assim dá vida ao ser humano; é preciosa porque condena o pecado; é graça porque justifica, perdoa o pecador. É preciosa sobretudo porque foi preciosa para Deus, porque lhe custou a vida de seu Filho [...] e, portanto, não pode ser barato para nós o que custou caro para Deus. É graça, sobretudo, porque Deus não considerou que seu próprio Filho custasse caro demais para pagar por nossa vida, e assim o deu por nós. A graça preciosa é a Encarnação de Deus”.

Por fim, ele permanece profundamente relevante para os debates políticos contemporâneos. As reflexões de Bonhoeffer sobre a relação entre Igreja e Estado e a responsabilidade moral dos cristãos diante do totalitarismo e da dignidade da vida humana continuam a ressoar hoje. Em sua obra Ética, ele criticou firmemente o abortismo, reafirmando que a vida, desde o início, é um dom de Deus e merece proteção. Sua postura nos desafia a considerar a inviolabilidade da vida como um princípio fundamental, independentemente das pressões sociais ou políticas. Bonhoeffer nos lembra que a Igreja não pode se omitir diante de injustiças, mas deve ser uma voz profética contra o poder corrupto e em defesa dos mais vulneráveis: “O silêncio diante do mal é, por si só, um mal”.

O filme A redenção: a história real de Bonhoeffer

O lançamento do filme A redenção: a história real de Bonhoeffer traz a história de Bonhoeffer para um público mais amplo, oferecendo uma dramatização dos eventos que marcaram sua vida. Este filme foca nos dilemas morais enfrentados por Bonhoeffer diante do racismo e antissemitismo e ao considerar sua participação na conspiração para remover Hitler do poder, tensionando sua fé pacifista com a necessidade de agir contra o mal. Por que vale a pena assistir ao filme nos cinemas?

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O filme mostra como a fé cristã pode ser uma força poderosa contra a tirania quando vivida de forma autêntica e comprometida com o único Messias e Salvador, Jesus

Em primeiro lugar, pela discussão densa de dilemas éticos e teológicos. O filme aborda questões profundas sobre a ética cristã e o conceito de justiça. Bonhoeffer se vê diante de uma tensão: ele deve violar seu princípio pacifista, consagrado em sua obra Discipulado, envolvendo-se em uma conspiração para remover um ditador, ou deve permitir que o mal continue prevalecendo? Esse dilema convida os espectadores a refletir sobre suas próprias responsabilidades morais diante do mal no mundo.

Em segundo, é uma inspiração para a ação cristã. O filme destaca como a fé de Bonhoeffer foi transformada em ação. Ele acreditava que o cristão não pode ser um mero espectador diante da injustiça no mundo. Assim, os cristãos podem ser inspirados a reconsiderar seu papel em questões sociais contemporâneas, como perseguição religiosa, racismo, injustiça, antissemitismo e totalitarismo.

Em terceiro, há importantes lições sobre coragem e sacrifício. A vida de Bonhoeffer nos lembra que o compromisso com a verdade e a justiça frequentemente exige sacrifício, e tem mais peso que a própria segurança pessoal. Sua disposição de enfrentar a morte por suas convicções é um testemunho poderoso de coragem moral para a Igreja na atualidade.

Em quarto, o filme nos oferece um ótimo vislumbre do contexto histórico e cultural. Assim, o espectador se encontra diante de uma obra educativa, que ajuda o público a entender melhor o contexto histórico do surgimento do nacional-socialismo e o papel da igreja evangélica na resistência a Hitler. Ele mostra como a fé cristã pode ser uma força poderosa contra a tirania quando vivida de forma autêntica e comprometida com o único Messias e Salvador, Jesus. A caracterização da Alemanha nas décadas de 1930 e 1940 é impressionante, no nível dos melhores filmes realizados sobre a Segunda Guerra Mundial.

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Quase todas as pessoas importantes da vida de Bonhoeffer estão presentes no filme: Martin Niemöller; Hans von Dohnanyi; seus pais Karl e Paula; seu irmão Walter; suas irmãs Sabine e Christine; seu cunhado e primeiro biógrafo Eberhard Bethge; Adam Powell, pastor da Abyssinian Baptist Church, no Harlem, em Nova York; e George Bell, deão de Canterbury e bispo de Chichester, na Inglaterra. Até mesmo Winston e Clementine Churchill aparecem no filme. Uma notável omissão é sua noiva, Maria von Wedemeyer, que ganhou destaque no filme anterior, Bonhoeffer: O agente da graça, de 2000.

Por fim, o filme também destaca a compaixão de Bonhoeffer pelos judeus, enfatizando sua oposição ao virulento antissemitismo nacional-socialista, que assassinou 6 milhões de judeus. Ele considerava a defesa dos judeus uma extensão do amor cristão, desafiando a Igreja evangélica a agir contra a injustiça. Pois, para ele, o verdadeiro discipulado exige solidariedade com os judeus oprimidos, mesmo quando isso implica riscos pessoais, ecoando o chamado das Escrituras Sagradas para os cristãos amarem o povo eleito, os judeus.

Este filme é uma poderosa e bem-executada introdução à vida de um clérigo luterano e de suas convicções cristãs profundamente arraigadas, transmitindo uma mensagem impactante sobre a responsabilidade moral que os cristãos têm de enfrentar o mal. A narrativa é envolvente e comovente, e aborda temas que tocam questões éticas fundamentais, destacando a ideia de que o silêncio diante da injustiça é uma forma de cumplicidade. As atuações se destacam pela autenticidade e intensidade, trazendo profundidade e realismo aos personagens. É uma obra cinematográfica provocante e belamente filmada, que permanece viva na memória muito depois dos créditos finais e tem sido muito bem recebida pelo público nos Estados Unidos.

“A ação não nasce do pensamento, mas da prontidão para assumir a responsabilidade.”

Dietrich Bonhoeffer

O chamado à responsabilidade cristã

A estátua de Dietrich Bonhoeffer na Abadia de Westminster, em Londres, é parte de um conjunto de esculturas dedicadas aos mártires cristãos do século 20. Situada acima da porta principal da abadia, ela está ao lado de figuras como Maximiliano Kolbe, mártir do campo de concentração de Auschwitz; e a grã-duquesa Isabel Feodorovna, martirizada durante a Revolução Russa. A presença de Bonhoeffer neste local não apenas reconhece seu martírio, mas também simboliza a luta cristã contra a opressão e a tirania.

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Este tributo na Abadia de Westminster destaca o sacrifício que Bonhoeffer fez em nome da fé, inspirando gerações a enfrentar as injustiças com coragem e fidelidade aos valores cristãos; também reafirma que a fé cristã não é uma fuga do mundo, mas um chamado a transformar a realidade, mesmo ao custo da própria vida. A vida e a morte desse mártir continuam a ecoar hoje como um testemunho poderoso de que o verdadeiro discipulado implica ação e risco, especialmente em tempos de crise moral.

Assim, o filme A redenção: a história real de Bonhoeffer serve para gerar reflexão e discussão sobre como a fé cristã deve ser vivida em tempos de crise moral e social. E sua mensagem é clara: a fé deve ser acompanhada de ação corajosa e comprometida. Como Bonhoeffer escreveu: “A ação não nasce do pensamento, mas da prontidão para assumir a responsabilidade”. Hoje, os que visitam o Centro Memorial da Resistência Alemã, no Bendlerblock, em Berlim, encontram uma sala exclusivamente dedicada à memória de Bonhoeffer, no prédio que homenageia aqueles que resistiram ao nacional-socialismo na Segunda Guerra Mundial. Que sua vida continue a inspirar os cristãos a lutar pelo que é certo, mesmo quando isso exige o máximo sacrifício.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]