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Após o colapso da União Soviética, em 1991, a Ucrânia se tornou uma nação independente. Contudo, nas regiões de Donetsk e Luhansk, minorias russas começaram a reivindicar mais autonomia política. No final de 2010, o governo ucraniano buscou uma aproximação com a Europa Ocidental, a qual a Rússia se opunha. Em 2013, em meio a uma crise econômica, o presidente Viktor Yanukovych rejeitou um acordo com a União Europeia e iniciou uma reaproximação com o governo russo. A população ucraniana começou enormes protestos – retratados no documentário Winter on Fire – e o presidente renunciou em fevereiro de 2014. No mês seguinte, em meio à instabilidade política ucraniana, a Rússia anexou ao seu território a região da Crimeia. Em abril, uma revolta armada no leste da Ucrânia, insuflada por militantes pró-Rússia, levaram à separação das regiões de Donetsk e de Luhansk.
A invasão russa da Ucrânia
Depois de um longo impasse, no fim de 2021, o governo russo moveu uma enorme quantidade de tropas e equipamentos para a fronteira ucraniana. O presidente russo, Vladimir Putin, se opôs à aproximação da Ucrânia com o Ocidente e ao ingresso do país na OTAN. Ele via a Ucrânia, assim como outros países da Europa oriental, como parte da zona de influência russa, afirmando que a presença militar da OTAN no leste da Europa colocava a Rússia em perigo. Em 24 de fevereiro de 2022, após uma longa crise, que culminou no reconhecimento russo da independência das regiões de Donetsk e Luhansk, a Rússia lançou um ataque maciço à Ucrânia. Estamos, agora, no quarto dia de guerra, e até onde se sabe, as forças militares ucranianas têm infligido severas baixas ao invasor russo, que ainda tenta conquistar as principais cidades do país e as saídas para o Mar Negro e o Mar de Azov.
Mas, como Niall Ferguson escreveu: “Conheço a Ucrânia o suficiente para ter certeza de que a rendição não está nos planos. Um amigo ucraniano me disse que seu povo vai lutar contra o exército de Putin da mesma forma que os mujahideen afegãos lutaram contra o Exército Vermelho na década de 1980. Uma recente pesquisa de opinião do grupo de Estratégia Europeia de Yalta atesta a extensão do apoio popular à adesão à OTAN e à União Europeia, e a relutância da maioria dos ucranianos comuns em se submeter ao ataque russo”. No domingo à noite, pesquisas apontavam que 91% dos ucranianos apoiam as ações de seu presidente, Volodymyr Zelensky, enquanto 70% creem numa vitória ucraniana que garanta a independência do país.
Não há nenhuma justificativa moral para a invasão russa da Ucrânia. Como Zachary B. Wolf destacou, a invasão russa é uma quebra contratual do direito internacional, pois a Ucrânia é um país independente, democrático e com presidente eleito que foi atacado. “As ações de Putin são um exemplo clássico do crime de agressão, que foi considerado o crime internacional supremo pelo Tribunal de Nuremberg após a Segunda Guerra Mundial”, ele escreveu. Não dá para entender como alguém pode defender uma barbárie como a perpetrada pela Rússia contra os ucranianos.
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A fraqueza europeia
Em meio à invasão russa da Ucrânia, a fraqueza militar europeia foi exposta. Por exemplo, autoridades da Alemanha reconheceram que suas forças armadas não têm como proteger as fronteiras de seu país. Por exemplo, o Inspetor do Exército Alemão, general Alfons Mais, escreveu: “A Bundeswehr e o Exército que tenho o privilégio de liderar estão mais ou menos despidos. As opções que podemos oferecer aos políticos para apoiar a aliança são extremamente limitadas”. E a ex-Ministra da Defesa da Alemanha, A. Kramp-Karrenbauer disse: “Estou com tanta raiva de nós mesmos por causa do nosso fracasso histórico. Depois [das invasões russas na] Geórgia [em 2008] e na Crimeia e Donbass [em 2014], não preparamos nada que pudesse realmente deter Putin”. O mais chocante é que ambos os comentários foram postados no Twitter. Em 2018, em reunião da OTAN, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que “a Alemanha é refém dos russos porque 60% do gás que abastece o país vem da Rússia”. E “em vez de se proteger dos russos, o governo alemão vai gastar milhões com o gás que vai chegar de um novo gasoduto da Rússia”. Agora, os alemães resolveram aumentar o investimento militar e, depois de muita relutância, também enviaram equipamento militar para os ucranianos.
Mas, nas últimas décadas, a Europa se desmilitarizou e destruiu a noção de patriotismo em seu território. Gastou trilhões de euros com pautas como o multiculturalismo, o meio ambiente e as políticas identitárias. Ao mesmo tempo, a fé cristã tem sido constrangida e cerceada na Europa. Agora, os europeus estão à mercê dos anseios expansionistas da Rússia e dependente do gás que vem de lá. Enquanto as forças russas continuam a atacar a capital da Ucrânia, Kiev, os ucranianos arcarão com sofrimentos, privações, perdas e separações que virão. Diante dos heróis que estão tombando em defesa do país, como o fuzileiro Vitaliy Skakun Volodymyrovych, e Iryna Tsvila, uma veterana da Brigada de Resposta Rápida da Guarda Nacional da Ucrânia, mãe de 5 filhos, cantar a piegas Imagine diante de embaixada russa, como aconteceu em Budapeste, na Hungria, nessa última semana, é inútil. Aliás, as comoventes imagens de reservistas ucranianos se despedindo de suas famílias para ir para o campo de batalha para defender seu país da agressão russa lembra a frase de G. K. Chesterton: “O verdadeiro soldado luta não porque ele odeia o que está a sua frente, mas porque ele ama o que está atrás”.
O papel dos Estados Unidos no “Grande Jogo”
Os Estados Unidos, com Joe Biden na presidência, seguem o mesmo caminho europeu. Aliás, a eleição de Biden, um presidente senil, incapaz de formular uma frase, tornou o mundo um lugar muito perigoso – ainda que, em sua eleição, fosse celebrado por jornalistas que não mais informam, mas só fazem torcida, esperando que ele fosse trazer milagrosamente, através de seu palavrório woke, a paz definitiva. Sob o governo medíocre dos Democratas, os Estados Unidos vivem uma das piores crises políticas de sua história, experimentam inflação alta e aumento da violência nas grandes cidades, e desmoralização internacional.
A saída vergonhosa e humilhante dos Estados Unidos e da OTAN do Afeganistão foi criminosa. E sinalizou para a Rússia e a China que estes países podem fazer o que bem quiserem em suas áreas de interesse e os Estados Unidos e seus aliados ocidentais só falarão em sanções econômicas – e mais nada. Aliás, é preciso lembrar que a Crimeia foi conquistada pela Rússia no governo do inepto Barack Obama, e que tinha como seu vice-presidente Biden. Quando Putin interveio na Síria, tudo o que Obama fez foram discursos indignados. Agora, a Ucrânia é invadida no governo Biden. Não custa destacar que os países que apoiam Putin e a Rússia são ditaduras brutais como Irã, China, Coreia do Norte, Síria, Venezuela, Cuba, Bielorrússia e Nicarágua. Quando ditaduras brutais apoiam uma invasão injustificada, sabemos com certeza que algo está profundamente errado.
Diante da complacência e fraqueza ocidentais, Vladimir Putin avança para tentar se tornar o “Soberano de toda a Rússia: a Grande, a Pequena, e a Branca”. Seus heróis são Pedro, o Grande, Catarina, a Grande e os Romanov – aliás, o presidente russo afirma que Pedro, o Grande, é seu “líder favorito”. “Ele viverá”, declarou o presidente russo, “enquanto sua causa estiver viva”. Como Ferguson escreveu: “Qual foi a causa de Pedro? Em essência, fazer da Rússia uma grande potência europeia, capaz de igualar a Áustria, Grã-Bretanha, Prússia e França, tanto no poderio militar quanto nos fundamentos econômicos e burocráticos [...]. Nenhum historiador contestaria que ele conseguiu isso. Na Batalha de Poltava (8 de julho de 1709), o czar Pedro obteve a vitória mais importante de seu reinado, derrotando o exército de Carlos XII da Suécia, que havia sido uma das grandes potências durante o século 17. Poltava fica a cerca de 320 quilômetros a leste de Kiev, não muito longe de Luhansk e Donetsk. Esta é a história que inspira o atual czar Vladimir, muito mais do que os capítulos sombrios do reinado de terror de [Josef] Stalin, que será para sempre associado nas mentes ucranianas ao Holodomor, a fome genocida [...] infligida à Ucrânia em nome da coletivização agrícola [comunista, quando foram mortos cerca de 7 a 10 milhões de ucranianos]. É uma história que nos lembra o quão crucial foi a vitória no território que hoje é a Ucrânia para a ascensão da Rússia como grande potência europeia. Recorda-nos também que este território era tão disputado no início do século 18 como é hoje”.
Em suma: na atualidade, governos esquerdistas, como nos Estados Unidos e em grande parte da União Europeia, têm como foco principal políticas e causas identitárias e o crescimento da burocracia estatal, além da agenda climática – que levou a Alemanha a depender quase exclusivamente do gás e petróleo russo. Mas estes governos, ao reduzir a política de seus países a estes fins, se tornaram um perigo mortal para o Ocidente e para o resto do mundo. Na verdade, os esquerdistas no Ocidente são traidores da cultura greco-judaica que fundou o Ocidente, e podem terminar por entregar o Ocidente e seus aliados no Oriente Médio, África e Ásia numa salva de prata para a Rússia e a China. O Ocidente precisa recuperar com urgência sua herança intelectual e espiritual robusta, se quer ser, de fato, uma opção ao avanço de russos, chineses e islamitas.
Desafios para os cristãos
Os cristãos precisam perceber que estamos no meio de um conflito entre o globalismo pagão ocidental, o nacionalismo imperialista russo e o totalitarismo comunista chinês – ao mesmo tempo em que a Ucrânia era atacada, a China comunista continuava suas provocações na Ásia, enviando aeronaves militares para violar o espaço aéreo de Taiwan. Como cristãos, não há como apoiar nenhuma das três opções ideológicas – e nem está sendo mencionado o perigo que o islã político também representa para o Ocidente.
Diante dessas ameaças, será que os cristãos ainda podem defender uma noção de “guerra justa?” Diante da invasão russa à Ucrânia, os cristãos devem lembrar que há uma longa tradição cristã da ideia de uma guerra justa. Esse conceito pode ser encontrado nas obras de Agostinho de Hipona e, principalmente, nas de Tomás de Aquino. De acordo com esses escritores, normalmente as condições para uma guerra justa são sete: (1) a causa pela qual a guerra está sendo realizada tem de ser justa; (2) o propósito justo deve permanecer durante as hostilidades; (3) a guerra tem de ter a intenção de estabelecer um bem (4) ou corrigir um mal; (5) deve ser efetuada por meios aceitáveis; (6) deve ser apenas um último recurso (7) e deve ter o alvo de uma paz justa. A defesa da Ucrânia confirma todos os critérios de uma guerra de defesa e justa.
O poder da oração em meio à guerra
Em meio à guerra, sinais da vitalidade cristã aparecem na Ucrânia, como a imagem do ucraniano orando ao pé da cruz em Kiev. A demanda pelas Escrituras no país devastado pela invasão russa é tão alta que a Sociedade Bíblica da Ucrânia ficou sem cópias de Bíblias. Assim, em meio à guerra, os ucranianos estão se voltando à Palavra para encontrar esperança e consolo. Se tornou viral o vídeo, publicado pela Christian Emergency Alliance, de cristãos ucranianos adorando em uma estação de metrô em Kiev. Eles cantavam sobre o perdão, a salvação, a misericórdia, a alegria, a paz ao povo da Ucrânia. A luz do Messias Jesus, como revelado na Bíblia, brilha na escuridão da guerra.
Assim, esta semana, a World Evangelical Alliance (Aliança Evangélica Mundial), por meio de seu secretário geral, Thomas Schirrmacher, e a World Reformed Fellowship (Fraternidade Reformada Mundial), por meio de seu diretor internacional, Davi Charles Gomes, publicaram o seguinte chamado conjunto à oração. Como preâmbulo, Davi Charles Gomes escreveu: “Enquanto muitos buscam algum tipo de unificação global política, de mercado ou coisa e tal, ou ainda qualquer coisa que pretenda inverter o que Deus fez em Babel, a única agência verdadeiramente global e de escopo universal é a igreja visível de Cristo. A Igreja global, aquela manifestação visível do Reino de Cristo que se espalha por todo canto da terra, tem sido o sal e luz neste mundo tenebroso. Neste momento em que contemplamos estarrecidos a invasão da Ucrânia, duas agências para-eclesiásticas (que existem para dar apoio e suporte à Igreja Global), a WEA (World Evangelical Alliance) e a WRF (World Reformed Fellowship), representando milhares de organizações e centenas de denominações associadas e, assim, dezenas de milhões de membros, resolveram se manifestar conjuntamente e de forma singela”. Segue a declaração conjunta:
“Nós, líderes e membros da World Evangelical Alliance e da World Reformed Fellowship, expressamos nossa profunda consternação quanto aos recentes eventos na Ucrânia.
Instamos os líderes políticos e militares que cessem imediatamente todos os atos de hostilidade, pelo bem do povo da Ucrânia.
Pelos cristãos Evangélicos e Reformados, e por todo o povo ucraniano, empenhamos nossas orações ao Pai Celeste, que na Graça de Cristo ele os conforte e os proteja neste tempo tão sombrio.
Para cristãos Evangélicos e Reformados fora da Ucrânia, pedimos que se juntem a nós em súplice oração pelo povo ucraniano e instamos demonstrações de apoio a todas as pessoas da Ucrânia, mas especialmente às igrejas Evangélicas e Reformadas, às organizações cristãs e aos indivíduos cristãos na Ucrânia”.
Portanto, que os cristãos atendam ao chamado da Escritura: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças em favor de todas as pessoas. Orem em favor dos reis e de todos os que exercem autoridade, para que vivamos vida mansa e tranquila, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus, homem, que deu a si mesmo em resgate por todos, testemunho que se deve dar em tempos oportunos” (1Timóteo 2.1-6).
Pois o que cabe nesse momento aos cristãos é, ao mesmo tempo que se portam com discernimento, orar e suplicar para que Deus tenha piedade de todos aqueles que estão nas regiões em conflito e de seu povo, batizado no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, na Rússia e na Ucrânia – assim como na Lituânia, Letônia, Estônia, Polônia e Taiwan. E que seu único Filho, o Messias e Senhor Jesus, retorne em triunfo para implantar em definitivo seu poderoso Reino de paz.