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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Os “cristãos progressistas”, a violência revolucionária e o Anticristo

Detalhe de "A pregação do Anticristo", de Luca Signorelli. (Foto: Reprodução/Domínio público)

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Durante 2021 tratei de como os “cristãos progressistas” se infiltraram em vários segmentos da Igreja Cristã como Cavalos de Troia, abordando em três artigos a compreensão desse grupo sobre a Sagrada Escritura, sobre o pecado e o Senhor Jesus e seu fervor religioso. Nesse texto, abordarei o uso da violência revolucionária por esse grupo herético, que está a serviço de partidos de esquerda, todos prontos a usar qualquer tática para alcançar o “outro mundo possível” – ao mesmo tempo que transformam a América Latina na vanguarda do atraso, com seus sistemáticos ataques ao Estado de Direito e à liberdade de expressão, com a promoção da corrupção sistêmica, da violência desenfreada, e também silenciando opositores por meio da desqualificação, assassinato de reputações, perseguição e, agora, “cancelamento” contra os que se opõem, por exemplo, às pautas identitárias e à teoria racial crítica – que compõem o “novo evangelho” da Seita Vermelha.

A violência como método

Os atuais esquerdistas continuam imitando as técnicas de violência revolucionária aprendidas com os dois grandes totalitarismos do século 20, o comunismo e o nacional-socialismo. Pois, para os esquerdistas, a democracia só é válida quando estão no poder. Se não estão no poder, segundo eles, não há democracia legítima. Como David Byrne escreveu, “os progressistas [...] contemporâneos imaginam um dia, no fim da história, em que seus valores triunfarão em todas as camadas sociais e intelectuais, e até mesmo nos bastiões mais conservadores”. Deste modo, para os crentes esquerdistas parece não haver uma alternativa que não seja apelar à violência revolucionária para apressar a vinda do “outro mundo possível”, um tipo de paraíso perfeito sem classes, sem religião e sem Deus – onde o Estado desapareceria, abrindo caminho para a perfeita era comunista, uma Nova Jerusalém sem YHWH. No processo, é legítimo o uso da violência para promover a igualdade e destruir o que eles entendem como o Inimigo: a sociedade cristã branca, capitalista, racista, machista, homofóbica e patriarcal.

Em 5 de fevereiro de 2022, o vereador Renato Freitas (PT) liderou uma invasão à Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Curitiba, tumultuando uma missa mesmo antes de forçar a entrada, levando o padre a apressar o fim da celebração. Dezenas de pessoas, com bandeiras do PT e do PCB, entraram à força no templo católico e gritaram palavras como “racistas” e “fascistas”. Mas este caso não é um episódio isolado. Episódios similares ocorreram na Venezuela, no Chile, na Argentina e em Cuba. Na verdade, a incitação à violência como meio de se alcançar a revolução que abriria as portas para o “outro mundo possível” está no cerne da ideologia esquerdista. Como atribuído a Mikhail Bakunin, “uma revolução requer destruição extensa e generalizada, já que desta forma e só assim novos mundos nascem”. Ou, como Leon Trotsky afirmou: “A burguesia mantém o poder, e não tem interesse de abandoná-lo. Ela ameaça arrastar toda a sociedade para o abismo. Somos forçados a cortá-la e arrancá-la fora. O Terror Vermelho é uma arma usada contra uma classe que, apesar de condenada à destruição, não quer perecer”. Os esquerdistas aceitam tal apelo a uma revolução violenta, e estão prontos a conspirar ativamente por uma revolução. E, para tal, aprovam uma ação direta violenta contra o que eles identificam como agentes do aparato repressor estatal e os “reacionários” e “fascistas” que apoiam o Estado nos moldes tradicionais e democráticos.

A incitação à violência como meio de se alcançar a revolução que abriria as portas para o “outro mundo possível” está no cerne da ideologia esquerdista

Em 29 de maio de 2017, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) declarou, num evento na UnB, que “quem sabe faz a hora e faz a luta. A gente sabe disso e na Bíblia está escrito que sem derramamento de sangue não haverá redenção. Vamos à luta com quaisquer que sejam as armas”. Após a declaração, ela foi aclamada por uma plateia extasiada. O discurso proferido pela petista – que já foi membro da Assembleia de Deus e da Igreja Presbiteriana do Brasil – é um exemplo chocante da forma como os “cristãos progressistas” instrumentalizam a Escritura de acordo com sua ideologia. A frase bíblica citada pela deputada, em seu contexto diz: “Sem derramamento de sangue não há perdão. Portanto, [...] [Cristo] se manifestou de uma vez por todas, para aniquilar o pecado por meio do sacrifício de si mesmo. E, como está ordenado aos homens morrerem uma só vez, vindo depois o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos, aparecerá a segunda vez, não por causa do pecado, mas para a salvação dos que esperam por ele” (Hebreus 9,22-23.26-28). Assim, a ênfase da Escritura no sacrifício redentor do único salvador, o Messias Jesus, virou incitação à violência revolucionária no discurso da esquerdista. Só que a bravata da parlamentar do PT é recorrente entre os esquerdistas e seu braço religioso, os “cristãos progressistas”.

O exemplo da União Soviética

O apelo à violência como meio para se alcançar o “outro mundo possível” também caminha ao lado do ódio socialista à fé cristã. Por exemplo, ao longo da história da União Soviética houve períodos em que as autoridades soviéticas reprimiram e perseguiram brutalmente o cristianismo em diferentes graus, dependendo dos interesses do Estado. Pois a política marxista-leninista soviética defendia o controle, a supressão e, finalmente, a eliminação das crenças religiosas. Para isso, encorajou ativamente a propagação do ateísmo marxista-leninista na União Soviética e defendeu a destruição da religião. E, para atingir esse objetivo, denunciou oficialmente as crenças religiosas como supersticiosas e retrógradas.

Assim, na União Soviética, o aparato do Partido Comunista destruiu igrejas, ridicularizou, perseguiu, prendeu e executou milhões de cristãos. Algumas ações contra clérigos e fieis ortodoxos incluíam tortura, execução ou envio para campos de prisioneiros, campos de trabalho forçado ou hospitais psiquiátricos. Durante a revolução, em 1917, 322 bispos e clérigos foram assassinados e 579 monastérios e conventos foram destruídos. Nos primeiros cinco anos no poder, sob Vladimir Lenin, os bolcheviques executaram 28 bispos e mais de 1.215 padres ortodoxos. Muitos outros foram presos ou exilados. Em 1921, outros 8 mil foram mortos. No fim, entre 1917 e 1935, 130 mil clérigos ortodoxos russos foram presos. Destes, 95 mil foram condenados à morte, executados por fuzilamento. E o número de igrejas ortodoxas caiu de 29.584 para menos de 500. Entre 1937 e 1941, pelo menos 168,3 mil clérigos foram presos; destes, 106.3 mil foram executados.

No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, cristãos protestantes foram enviados à força para hospitais psiquiátricos ou foram julgados e presos (muitas vezes por se recusarem a entrar no serviço militar). Alguns foram privados à força de seus direitos parentais. Entre 1957 e 1964, sob Nikita Kruschev, a perseguição recomeçou. Houve fechamento maciço de igrejas (reduzindo o número de 22 mil para 7 mil em 1965), fechamento de mosteiros, conventos e seminários, proibição de cursos pastorais, o toque de sinos nas igrejas e encontros fora dos templos, além da proibição do direito dos pais a ensinar a fé aos filhos, da presença de crianças nos cultos e até a oferta da Ceia do Senhor para crianças maiores de 4 anos, além da exigência de registro das identidades pessoais de todos os adultos que solicitassem batismos, casamentos ou funerais na igreja. Também se implementaram aposentadoria forçada e prisões para clérigos que criticassem o ateísmo, que realizassem caridade ou que promovessem a fé por meio do exemplo pessoal.

O Patriarcado de Moscou foi estabelecido por ordem de Stalin em 1943 como uma organização de fachada da NKVD – e, mais tarde, de sua sucessora, a KGB. Clérigos foram usados ​​como agentes da KGB para influenciar o Conselho Mundial de Igrejas e grupos de fachada, como o Conselho Mundial da Paz. Também receberam menção honrosa da KGB por serviços prestados ao país, inclusive por recrutar agentes no exterior. Havia rumores de que a infiltração do clero pela KGB chegou ao ponto de os agentes da KGB ouvirem as confissões feitas pelos fiéis. O número total de vítimas cristãs sob o regime soviético foi estimado em cerca de 12 milhões a 20 milhões. Os soviéticos também inundaram as escolas e os meios de comunicação com ensinamentos antirreligiosos e introduziram um sistema de crenças chamado “ateísmo científico”, com seus próprios rituais, promessas e proselitismo. Cuba, China e outros países dominados pelo comunismo poderiam ser mencionados também, como exemplos do ódio socialista à fé cristã.

O “outro mundo possível”

As crenças “cristãs progressistas” estão conectadas. Sem Escritura, pecado, expiação e ressurreição também não haverá lugar para o céu e o inferno. Pois, se nunca estivemos separados de Deus por causa de nossos pecados, qual seria o propósito de falar que pessoas podem ir ou para o céu ou para o inferno por toda a eternidade? Assim, como Alisa Childers destaca, é “por isso que muitos ‘cristãos progressistas’ afirmam alguma forma de universalismo”, isto é, “a ideia de que todos os seres humanos (e, em alguns casos, toda a criação e até mesmo os anjos caídos) serão salvos e passarão a eternidade com Deus”. Para estes, a crença no universalismo implica que Deus realizou na cruz a restauração, a redenção e a reconciliação de toda a criação e de todas as pessoas – independentemente de sua resposta de fé e arrependimento. Não há para os “cristãos progressistas” algo similar à doutrina do inferno. Assim, para estes, haverá esperança de uma salvação universal, inclusive para ditadores como Josef Stálin, Adolf Hitler e Mao Tsé-Tung.

A ênfase da Escritura no sacrifício redentor do único salvador, o Messias Jesus, já chegou a ser transformada pelos esquerdistas em incitação à violência

Pois, como Michael Kruger afirma, para os “cristãos progressistas” a “vida neste mundo é mais importante do que a vida no mundo vindouro”. De acordo com ele, “este princípio revela o pivô mais basilar dos progressistas, que se voltam deliberadamente contra assuntos eternos e enfatizam questões terrenas. Seus defensores pregam que o ser humano não precisa se preocupar com o que acontece depois da morte, pois ninguém sabe o que acontece. Tudo o que importa é ajudar o pobre, alimentar o faminto e aliviar o sofrimento humano”. Para estes, então, “considerar a eternidade, na melhor das hipóteses, é perda de tempo”, já que o céu e o inferno não seriam lugares reais. Por isso, os “cristãos progressistas” tentam se dedicar às boas obras, assumindo um compromisso com ser “bom” e fazer coisas “boas” – para, no fim, se tornar um tipo de religião rival ferozmente irracional e moralista. Mas Kruger termina por desmascarar as várias inconsistências das crenças “cristãs progressistas”: elas alegam “incertezas absolutas, mas depois introduz[em], sorrateiramente, suas próprias convicções, esperando que ninguém perceba a hipocrisia e a incoerência tão pungente” de suas crenças.

Assim, os “cristãos progressistas” são defensores da ideia de que todos os caminhos levam a Deus. Portanto, eles afirmarão o universalismo, implicitamente negando o conceito do inferno, ou explicitamente, declarando que todas as pessoas serão reconciliadas com Deus, independentemente de suas crenças ou práticas religiosas. Este conceito de reconciliação universal, isto é, de que Deus reconciliará todos os pecadores consigo mesmo, foi popularizado na igreja evangélica por meio do best-seller A Cabana. O autor do livro, William Paul Young, escreveu em As mentiras que nos contaram sobre Deus: “Será que estou sugerindo que todos já estamos salvos? Que acredito na salvação universal? É exatamente isso que estou dizendo!” Os cristãos que aderem à causa esquerdista podem achar que estão sendo inovadores e relevantes ao romper com os limites da ortodoxia. Na realidade, eles estão reprisando a ideologia que deu início a todas as falsas religiões desde a Queda do homem: “Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito para sempre” (Romanos 1,25). Não somos menos condenáveis por Deus se a “criatura” idolatrada for nós mesmos ou as ideologias totalitárias que inventamos para substituir a ausência criada pela negação da existência do Senhor Todo-poderoso.

O ensino bíblico do inferno é importante, pois revela a maneira de Deus de lidar com o mal. A promessa de Deus de fazer novas todas as coisas e enxugar todas as lágrimas de nossos olhos é baseada no fato de que Deus lidará com o mal de uma vez por todas, haverá um fim para o mal. De um lado, a crença no céu é o ápice do grande plano redentor de Deus. Assim, nas Escrituras, o céu é um lugar onde aqueles que colocaram sua confiança em Jesus passarão a eternidade com o Deus que amam. De outro lado, o mal é tratado por Deus com seriedade, um ato de rebelião cósmica contra o bom Deus. E o inferno é o espaço da condenação eterna para aqueles que permancem na maldade, a exclusão definitiva do amor divino. Assim, se todos estão convidados a se reconciliarem com Deus por meio da fé e arrependimento em Jesus, o Senhor não deixará ninguém entrar no céu com seus pecados e maldade. Se Deus o permitisse, isso revelaria que o Senhor é impotente para, por meio de Jesus, redimir, perdoar e santificar um pecador convertido. Logo, a Igreja deve constantemente apelar a que todos se converstam. Esta conversão é a adesão à vida nova encontrada ao se achegar a Jesus, não ao se afastar, como meio de se entrar no céu: “Quem não é por mim é contra mim” (Lucas 11,23). Pois Jesus, o eterno Filho de Deus, o salvador da humanidade, será o centro do céu.

Como demonstrado anteriormente, nada do que os “cristãos progressistas” estão ensinando é novo. Ao longo da história da igreja, essas ideias surgiram repetidas vezes. São velhos dogmas heréticos reciclados como idéias novas. São apenas a reaparição do gnosticismo, do marcionismo, do arianismo e do pelagianismo. Como Trevin Wax escreveu: “Um dos aspectos insuportáveis ​​dos hereges e das heresias é como eles são chatos, previsíveis e reciclados. A ortodoxia é emocionante em sua união de paradoxo e mistério. As heresias são limitadas porque são capitulações à sua época”. Assim, as crenças “cristãs progressistas” não são simplesmente variações em questões secundárias da fé sobre as quais podemos concordar em discordar. Na verdade, o movimento “cristão progressista” está promovendo uma outra Escritura que não revela a vontade do Espírito Santo, um outro Senhor Jesus que não morreu por pecadores e ressuscitou, e um outro Deus que não pode salvá-los. Assim, os “cristãos progressistas” estão promovendo um outro “evangelho” – e não as boas novas que realmente nos libertam para a vida com Deus e seu Eterno Filho por meio do Espírito. Logo, tais rupturas com o consenso cristão têm impacto direto na visão que os “cristãos progressistas” têm do fim.

Assim, a posição dos “cristãos progressistas” desfigura e perverte a real mensagem do cristianismo – a verdadeira mensagem do Senhor Jesus. Nos Evangelhos, fica claro que o Senhor se preocupava com o sofrimento da humanidade e o mal. Mas o sofrimento e o mal não foram tratados por Jesus por meio de moralismo. Ao contrário, o Messias Jesus ofereceu uma resposta total na graça da cruz e da ressurreição. Em resumo, não há como conciliar a heresia do “cristianismo progressista” com o Evangelho revelado na Escritura.

Preparando o caminho do Anticristo

Mas que ninguém se iluda. Os esquerdistas e sua Seita Vermelha tentarão promover a desordem no Brasil para chegar ao poder neste 2022. E o farão porque não respeitam a democracia e não a têm como um valor inegociável; acham que têm o monopólio da virtude; querem continuar escondendo seus crimes; e acreditam na função redentora da violência. Mas o apelo ao uso da violência não terminará com a chegada do “outro mundo possível”. Como Byrne coloca: “A visão cristã alerta para a existência de falsos profetas, aqueles que nos prometem virtudes sem Deus. [...] Se a história segue mesmo alguma lei, deve ser a Lei de Deus, porque milhares de anos de história humana não relevaram nenhuma lei humana incontestável, e sim apenas pessoas que acham que encontraram essas leis. Não pode haver um fim da história criado pelo homem porque não há valores permanentes criados pelo homem. Uma das lições que a história ensina é da transformação e a imprevisibilidade, e não da permanência. Um estudo da história intelectual desde o surgimento da civilização mostra que a mentalidade da classe intelectual está sempre mudando. Por que deveríamos pressupor que essa tendência chegará ao fim?” Assim, de um lado, “aqueles que desejam a perfeição mundana e qualquer tipo de fim da história buscam isso em vão”. Como aprendemos na história, tal apelo à crença num paraíso terrestre sem Deus e na violência revolucionária termina por abrir as portas para a vinda do Anticristo, “aquele que se coloca em lugar de Cristo”, um impostor mentiroso  – o adversário de Cristo.

Os esquerdistas e sua Seita Vermelha tentarão promover a desordem no Brasil para chegar ao poder neste 2022. E o farão porque acham que têm o monopólio da virtude, querem continuar escondendo seus crimes e acreditam na função redentora da violência

Como Wolfhart Pannenberg lembra, devemos ter em mente que o “Anticristo se manifesta [...] particularmente em doutrinas intramundanas [utópicas] de redenção e salvação, às quais as pessoas das sociedades modernas estão expostas”. Na escatologia das utopias intramundanas “explicitaram-se, pois, as consequências do aproveitamento funcionalista dos indivíduos [...], particularmente no caso do marxismo pelo fato de a felicidade dos agora vivos ser sacrificada sem escrúpulos em nome do pretenso alvo da humanidade”, em que “apenas os indivíduos da geração então vivente poderiam participar” deste “milênio secularizado”. E o contraste entre esta utopia e a esperança ensinada pela fé cristã é claramente estabelecido: “Em toda escatologia intramundana [como o marxismo] a consumação (supostamente) geral tem de ser buscada e afirmada à custa dos indivíduos [em que ‘os indivíduos de gerações passadas’ não ‘participarão da concretização futura de sua destinação’]. Essa é a estrutura anticristã da escatologia intramundana. Em contrapartida, a escatologia cristã preserva o vínculo indissolúvel de destinação individual e geral da humanidade. Através da glorificação dos indivíduos de mãos dadas com a glorificação do Pai e do Filho por eles, se concretizará o reino de Deus e será não apenas consumada, mas também aceita em geral a justificação de Deus perante os sofrimentos do mundo”.

Assim, os “cristãos progressistas”, ao justificarem a violência revolucionária como meio para se alcançar “o outro mundo possível”, se tornam os precursores do Anticristo. Acima foram mencionadas as violentas perseguições ocorridas contra a Igreja Cristã na União Soviética. Deve-se lembrar que Josef Stalin estudou para ser padre. Mas apostatou da fé cristã e assumiu o comunismo como a base de sua crença – que redundou em cerca de 20 milhões de mortos em campos de trabalho forçado, coletivização forçada, fome e execuções. Ele foi um Anticristo, um daqueles descritos há tanto tempo pelo apóstolo João (1 João 2,18-28). Portanto, como bem lembrou Bento XVI, que nos acautelemos a todo o custo da “teologização da política”, que se tornará meramente a “ideologização da fé” – pois esta, servindo-se da violência revolucionária, pode abrir as portas para a vinda de novo Anticristo.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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