Alguns adeptos da esquerda, sobretudo os “cristãos progressistas”, acham que sabem em quem votarei nas eleições presidenciais desse ano. Perderá tempo quem procurar vídeo ou postagem minha declarando apoio ou orando junto a candidato à Presidência ou a outro cargo eletivo. Apresento análises e propostas sem explicitar meu voto. Até porque, diferentemente desses, entendo que a política ou o Estado não são a solução última para a sociedade. A salvação é encontrada somente na graça do Deus soberano, somente por meio do Senhor Jesus, o único Messias. Como Karl Barth tão bem escreveu: “Aquele de quem procede todo o poder e por meio de quem toda autoridade existente é estabelecida é Deus, o Senhor, o Deus desconhecido e abscôndito, o Criador e o Redentor, o Deus que elege e rejeita. Isso significa dizer que os poderes constituídos são medidos tendo Deus por referência, assim como são todos as coisas humanas, temporais e concretas. Deus é o seu princípio e seu fim, sua justificação e sua condenação, seu ‘Sim’ e seu ‘Não’.”
Aprendendo da Escritura Sagrada e da história
Eu estudo história desde cedo, ensinado por meu pai. Com pelo menos 12 ou 13 anos eu já lia obras de história, sobretudo aquelas que cobriam o horror da guerra no Leste Europeu entre 1941 e 1945, além de livros sobre a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã. E, por causa do que estudei sobre o longo século 20 e, depois, já adulto, ao ver pessoalmente o resultado direto do domínio da esquerda em viagens por Europa Central, Ásia e África, entendo que tal posição política, que semeou pobreza e irreligião e assassinou mais de 100 milhões de pessoas em cerca de 70 anos, não é uma opção viável para um cristão – ou nem deveria ser para qualquer pessoa com o mínimo de discernimento. Seus símbolos, a estrela vermelha, a bandeira vermelha e a foice e o martelo, deveriam causar horror e, por isso, foram banidos em praticamente todos os países do Leste Europeu e em alguns países da Ásia.
Aliás, há duas semanas ouvi um diálogo revelador de uma guia tcheca, enquanto passeava com um grupo de brasileiros por Praga, capital da República Tcheca. A guia perguntou ao grupo, em bom português: “Como estão as eleições no Brasil?” Resposta: “Temos Bolsonaro e Lula na frente da disputa”. Ela indagou, espantada: “Lula, o que foi preso e é socialista?” Resposta embaraçada: “Sim, ele mesmo”. A guia fez cara de nojo e falou alto: “Nem preciso dizer em quem vocês não devem votar, não? O que há de errado com vocês, latinos?” Seguiu-se um silêncio envergonhado do grupo. Quem sofreu sob o socialismo sabe que não se deve flertar com o demônio.
O socialismo, que semeou pobreza e irreligião e assassinou mais de 100 milhões de pessoas em cerca de 70 anos, não é uma opção viável para um cristão – ou nem deveria ser para qualquer pessoa com o mínimo de discernimento
E, mais importante, a leitura da Escritura Sagrada me levou a valorizar a divisão entre os poderes da República, o dever e direito de afastar governantes corruptos, a liberdade de expressão, uma noção não hierárquica da sociedade, e que cristãos que servem na esfera pública devem, em condições normais e civilizadas, defender suas ideias usando termos da filosofia e do comportamento humano histórico. Na verdade, a meditação continuada na Escritura Sagrada me levou a ter aversão a todo tipo de coletivismo. Em suma, defendo os valores cristãos que formaram os Estados Unidos, o Reino Unido, a Holanda e a Suíça, países onde nunca houve ditadura.
O que se aprende da Escritura pode ser contraposto às tentações políticas atuais por meio de antíteses, como tem circulado nas redes sociais: “É inútil crer no Senhor Jesus e votar para soltar Barrabás. Assim como é inútil orar como cristão e votar como ateu. Orar pela família tradicional e votar em quem não apoia ou defende a família. Orar para que Deus conceda vida e votar em quem apoia o aborto. Orar para os brasileiros serem libertos de todo engano espiritual e votar em quem quer proibir a Palavra de Deus de ser divulgada nos meios de comunicação, hospitais, presídios, praças. Orar pelos filhos e votar em quem defende a ideologia de gênero. Orar para Deus livrar os jovens do vício e votar em quem quer legalizar as drogas. Orar por mais segurança, mas votar em quem apoia bandidos”.
Somente por meio da perversão do cristianismo ou por meio de uma infeliz inconsistência pode-se tentar conciliar o esquerdismo com a fé em nosso Senhor Jesus. Cristianismo e esquerdismo são religiões rivais e opostas.
Apagar o passado para “dobrar a meta”
Mas esses mesmos “cristãos progressistas” que acham que sabem em que votarei são os que durante décadas fizeram campanha para o PT, o PCdoB, o PSol e a Rede. Agora, alguns desses, se fingindo de inocentes, voltam a declarar apoio a Lula, que ataca o agronegócio e empresários, critica a polícia e é contrário à posse de armas por cidadãos de bem, defende a soltura de bandidos e a liberalização das drogas, quer regular os veículos de comunicação e avança contra padres católicos e pastores evangélicos que tratam de política – para o candidato do sistema, estes “não acreditam em Deus” e “não podem falar em nome de Deus”. Estes “cristãos progressistas” são os mesmos que, durante décadas, por meio do aparelhamento e infiltração de organizações cristãs, atacaram os pentecostais e carismáticos, acusando-os de praticar o “voto de cabresto”. Justamente o que fizeram durante décadas, e continuam tentando fazer agora mesmo.
Estes “cristãos progressistas” apoiaram fanaticamente Lula, o ex-presidiário de Curitiba que em nenhum momento foi absolvido pela Justiça, mas que teve suas penas por corrupção passiva e lavagem de dinheiro aplicadas por nove juízes em três instâncias anuladas por tecnicismo político do STF; que tem apenas o ensino fundamental completo e foi chamado por Caetano Veloso de “analfabeto”, “cafona” e “grosseiro”. Eles também apoiaram a inepta e medíocre Dilma Rousseff, que fez parte de dois grupos terroristas de extrema-esquerda, o Colina e a VAR-Palmares, que se “enganou” no currículo dizendo que seria mestre e doutora em Economia, mas que é incapaz de formular uma frase que tenha sentido, quebrou sua loja de R$ 1,99 e foi afastada da Presidência antes que completasse sua “obra” no país. Agora, como se o passado pudesse ser apagado, tal qual Josef Stalin fez ao apagar de fotos as imagens de Leon Trotsky, Nikolai Antipov, Sergei Kirov, Nikolai Shvernik e Nikolai Yezhov, estes “cristãos progressistas” resolveram “dobrar a meta”. Depois do mensalão, do petrolão e de quase uma centena de outros casos de corrupção e escândalos que escancaram a natureza maligna do esquerdismo, voltam a oferecer apoio a Lula e ao PT – de novo! Quer dizer, o que o PT requer de seus eleitores é fé cega. E seus eleitores demonstram ser esse tipo de devotos.
Mas eu lembro dos nomes dessas figuras! Desde o velho “cristão progressista” impenitente, com pose de intelectual, que em 1994 subiu com a estrela do PT no peito no púlpito da capela do seminário teológico batista onde estudei, até o burguês vermelho apoiador de partidos da extrema-esquerda, que deixou de depender da mesada dos pais para viver de bolsa de estudo dada pelo Estado. E esses não tiveram pudor de aparelhar igrejas, seminários teológicos e organizações evangélicas para fazer campanha pela esquerda durante décadas. Décadas! Impuseram sobre muitos sua ideologia como absoluta, como se ela fosse o Evangelho e o Reino de Deus, pervertendo a fé de muitos. E ai dos que discordassem! O “cancelamento” era certo!
Os “cristãos progressistas”, durante décadas, por meio do aparelhamento e infiltração de organizações cristãs, atacaram os pentecostais e carismáticos, acusando-os de praticar o “voto de cabresto”. Justamente o que eles mesmos fizeram e fazem agora mesmo
Como os adeptos da esquerda parecem viver desconectados da realidade, é bom lembrar que esses fazem campanha por uma ideologia totalitária que, se não bastasse ter semeado a morte, a desgraça e a pobreza na Europa Central, Ásia e África, dividiu o Brasil, se omitiu e até provocou com suas leis lenientes e incompetência a violência sem controle, criou a pior recessão do país quebrando-o economicamente, iniciou a mais dolorosa onda de desemprego de nossa história e gestou o maior esquema de corrupção da história do país. É a ideologia que norteia o infame Foro de São Paulo, organização que reúne todo o lixo político do continente, incluindo grupos terroristas e narcotraficantes, para tomar o poder na América Latina. Também são responsáveis diretos pela resiliência das ditaduras socialistas homicidas que comandam com mão de ferro Cuba e Venezuela – e que, nesse caso, resultou na imigração de 6,8 milhões de refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, número semelhante aos 6,8 milhões de refugiados da Ucrânia e aos 6,6 milhões de refugiados da Síria, países onde há guerras. Isso para não mencionar as turbulências por que passam Chile, Colômbia e, sobretudo, Argentina e Nicarágua. Esquerdistas são semeadores do caos!
A morte da social-democracia e a polarização política
Meu livro Contra a idolatria do Estado, publicado por Edições Vida Nova em 2016, é uma crítica e rejeição aos totalitarismos de esquerda, a partir da doutrina cristã, mas não contém nenhuma crítica à social-democracia pois, ainda que discordasse dela naquela altura, reconhecia na social-democracia uma esquerda democrática. Mas ser simpático ou aderir à social-democracia não significava absolutamente nada para os partidários da extrema-esquerda. Pois os partidários do PT, PSol e PCdoB são adeptos do mesmo fanatismo idolátrico da extrema-esquerda que não deu certo em lugar nenhum: o culto do Partido ou da Ideia. E é importante lembrar que social-democratas eram fustigados como inimigos tanto por nacional-socialistas como por comunistas nas décadas de 1920 e 1930 na Europa – como foi o caso do SPD, na Alemanha da República de Weimar.
Mas, atualmente, admito que precisaria reescrever alguns trechos de minha obra, sobretudo quando trato da social-democracia. Pois não há mais uma divisão nítida e clara entre social-democracia ou centro-esquerda e extrema-esquerda. As linhas de divisão ideológicas foram borradas. A esquerda, nos últimos anos, se radicalizou. Em outras palavras, os conservadores estão onde estavam há décadas – lutando por mais liberdades e menos Estado. De outro lado, hoje, há uma uniformidade ideológica na esquerda. Questões como homossexualidade, aborto, drogas, desmilitarização da polícia e o aumento do tamanho do Estado, que antes causavam divisões entre os vários ângulos da esquerda, agora são áreas de relativo consenso, mesmo entre os que se identificavam como social-democratas.
Com isso, aumentou a antipatia ideológica nos dois polos de disputa – ou seja, há uma crescente parcela de cidadãos que mantêm visões consistentemente esquerdistas ou conservadoras em uma ampla gama de questões. Com isso, o cenário político atual é marcado não apenas pelo aumento da uniformidade ideológica, mas também pela crescente animosidade política, já que tanto os esquerdistas quanto os conservadores veem o outro lado de forma desfavorável, com um aumento acentuado da polarização política – e, no processo, o chamado “centro”, que aglutinaria a centro-direita e a centro-esquerda, encolheu. E essa mudança destaca que os esquerdistas estão se movendo cada vez mais para a extrema-esquerda, com cada vez menos sobreposição entre os lados em disputa. Além do aumento da consistência ideológica, outro elemento importante na polarização tem sido o crescente desprezo que os dois lados têm pelo outro. Com certeza, não gostar de outro partido ou ideologia não é novidade na política. Mas, hoje, esses sentimentos são mais amplos e profundos do que no passado recente, sobretudo por causa da radicalização da esquerda. Agora, mais pessoas veem as políticas do partido oponente como uma ameaça ou inimigo a ser batido.
Assim, na atualidade, a agenda da esquerda e de seus bonecos de ventríloquo “cristãos progressistas” no Ocidente consiste na defesa de bandidos soltos e inimputáveis, descriminalização das drogas e do aborto, apoio à ideologia de gênero, educação doutrinada, saúde negligenciada, trabalho empobrecido, segurança pública sucateada (mas não a particular que os protege) e altos impostos para sustentar a súcia socialista no poder, com o Estado cada vez maior e mais controlador das escolhas individuais. E que não haja ilusões. Como avalia Deltan Dallagnol, se voltar ao poder, o PT buscará vingança contra seus inimigos. “O sistema corrupto e a velha política não vão parar só com o fim da [operação] Lava Jato, e Lula deixou isso bem claro”. Ele avançará com ódio contra formadores de opinião e meios de comunicação que se opuseram ao seu projeto de poder, também contra aqueles que ousaram investigar os crimes ocorridos nos governos do PT. Na verdade, a escalada totalitária da Nicarágua, com o regime socialista perseguindo e prendendo cristãos e até proibindo demonstrações públicas dos cristãos no Dia da Bíblia, pode servir de pista do que ocorrerá se o Brasil cair nas mãos do PT.
Uma exortação contundente
Por fim, o que George Orwell escreveu sobre a campanha de desinformação liderada por jornalistas e formadores de opinião ingleses esquerdistas que apoiaram a postura criminosa da União Soviética diante do Levante de Varsóvia, em 1944, se aplica claramente aos “cristãos progressistas”, que sacrificaram a moralidade cristã para apoiar um projeto de poder total, achando que trarão o “outro mundo possível”: “Em primeiro lugar, uma mensagem aos jornalistas ingleses de esquerda e intelectuais [socialistas] em geral: ‘Lembrem-se de que a desonestidade e a covardia têm sempre de ser pagas. Não imaginem que por anos a fio vocês poderão se fazer de propagandistas lambe-botas do regime soviético [...], e de repente voltar à decência moral. Uma vez prostituta, sempre prostituta’”.
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