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Muitos ficam chocados com a ideia de qualificar o nacional-socialismo como parte da esquerda. Na mentalidade esquerdista, aliás, todo e qualquer regime que tenha se oposto à esquerda é imediatamente rotulado como “fascista”, “extrema-direita” ou até mesmo como “nazista”, sem maiores precisões – vício de linguagem aprendido do vocabulário dos comunistas soviéticos, na Segunda Guerra Mundial.
Os diferentes tipos de socialismos
Karl Marx e Friedrich Engels, em O manifesto comunista, identificaram diferentes tipos de socialismo, que foram assim divididos: 1. o “socialismo reacionário”, representado no “socialismo feudal”; no “socialismo pequeno-burguês”; em sua versão extremada, ou seja, o “socialismo alemão ou ‘verdadeiro’ socialismo”; e no “socialismo conservador ou burguês”; 2. e o “socialismo e comunismo crítico-utópicos”, posição defendida por ambos. Assim, é espantoso como eles, ao resumir em 1848 “o socialismo alemão ou o ‘verdadeiro’ socialismo”, descreveram com precisão o tipo de socialismo associado aos nacional-socialistas: “[O socialismo alemão] proclamou que a nação alemã era a nação modelo, e o pequeno burguês alemão o homem modelo. A todas as infâmias desse homem modelo atribuiu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, que as tornava exatamente o contrário do que eram. Foi consequente até o fim, levantando-se contra a tendência ‘brutalmente destrutiva’ do comunismo, declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes”. Assim, a partir destas definições, pode-se deduzir que tanto o comunismo quanto o nacional-socialismo são socialismos – o primeiro, um socialismo de classe e internacional; e o segundo, um socialismo étnico e nacionalista.
As similaridades entre os dois regimes
Para aqueles que acham que o nacional-socialismo e o comunismo são sistemas diametralmente opostos, impõe-se o desafio de, a partir de fontes primárias (como os Arquivos Públicos da Antiga União Soviética) e de fontes secundárias abalizadas, mostrar as dissimilaridades entre os dois sistemas. E o que fica patente no estudo comparado das duas sociedades são as similaridades entre ambas, similaridades tanto teóricas como empíricas. Mencionemos algumas.
Os líderes do partido nacional-socialista se viam como legítimos socialistas, desprezando a aristocracia, o livre mercado, o capitalismo e a democracia liberal, abolindo a liberdade de imprensa, praticando a censura e apregoando uma teoria política com suposta fundamentação científica. E a sociedade alemã foi organizada pelos nazistas sob o efeito coercitivo da “camaradagem” como forma de grupamento social, onde, segundo Sönke Neitzel e Harald Welzer, “pensar, sentir e agir em categorias de condução de vida individual e de responsabilidade pessoal estava dissociado do ditame de uma moral que somente permitia o que estava a serviço” da sociedade. O alvo do nacional-socialismo era a “construção do Estado social do povo”, um “Estado social” exemplar, no qual “as barreiras (sociais) seriam progressivamente derrubadas”, de acordo com os dois autores. Na verdade, o nacional-socialismo era uma revolução política dinâmica, que condenava não apenas o bolchevismo, mas também o capitalismo. Assim, em todo o tempo, os industriais conservadores alemães estiveram debaixo do controle político do nacional-socialismo.
Tanto o comunismo quanto o nacional-socialismo são socialismos – o primeiro, um socialismo de classe e internacional; e o segundo, um socialismo étnico e nacionalista
Mas várias destas características da sociedade nazista estavam presentes na sociedade soviética, que a precedia historicamente – o comunismo chegou ao poder na Rússia soviética em 1917, enquanto os nazistas chegaram ao poder em 1933. Outras semelhanças entre os dois totalitarismos podem ser mencionadas: a coletivização que almeja suprimir a individualidade; a “propaganda totalitária”, no dizer de Hannah Arendt, e a estética de massa; o direito de extirpar por meio da violência política o “princípio maligno” que impede a chegada da sociedade perfeita, de acordo com Alain Besançon; o uso dos campos de concentração; a criação do “novo homem” por meio da reeducação ideológica; o militarismo; o nacionalismo; e o antissemitismo. Entre 1925 e 1929 os comunistas stalinistas ajudaram as forças armadas alemãs a se rearmarem – o que era proibido pelo Tratado de Versalhes –, e o treinamento da Luftwaffe (força aérea) e das Panzertruppen (forças blindadas) alemãs se deu em território soviético. E, como Richard Overy destaca, Hitler era representado como “redentor da nação alemã, Stalin como guardião do legado revolucionário de Lênin”. O primeiro era chamado Führer e o segundo, Vozhd, duas palavras com o mesmo significado: “líder”.
E, na “construção do socialismo”, entre 1932-1933, entre 6 milhões e 7 milhões de camponeses da Ucrânia, do norte do Cáucaso e do Cazaquistão foram mortos de fome por causa de um programa de industrialização forçada, que implicou a “coletivação da agricultura”. O genocídio ucraniano é conhecido como Holodomor (“matar pela fome”). No Grande Expurgo de 1934-1938, cerca de 1 milhão de supostos “opositores políticos” foram assassinados pelo NKVD (sigla de “Comissariado do Povo para Assuntos Internos”), aniquilando assim a “velha guarda bolchevista”. Em 1953, ano da morte de Stalin, havia quase 2,5 milhões de prisioneiros em campos de concentração (Gulags). E, por causa da morte do ditador, os planos para a transferência forçada dos judeus das áreas industriais da União Soviética para campos de concentração na Sibéria e no Cazaquistão foram abortados. Pouco conhecidas são “a noite dos poetas assassinados”, quando, em agosto de 1952, 13 poetas judeus foram assassinados na prisão de Lubyanka, em Moscou; e a assim chamada “conspiração dos médicos”, ocorrida entre 1952 e 1953, que seria o início da liquidação total da vida cultural judaica na União Soviética. Mas, como lembra Richard Pipes, em flagrante contraste com o nacional-socialismo, “nenhum responsável por esses crimes contra pessoas inocentes foi julgado depois que a União Soviética se desfez; na verdade, sequer sofreram o desmascaramento ou opróbrio moral e continuaram a levar uma vida normal”. Deve-se destacar que o genocídio em massa perpetrado pelo Estado totalitário é um dos produtos da própria ideologia revolucionária.
“Nazistas pintados de vermelho”
Para ilustrar as convergências de discurso entre nazistas e comunistas, podemos citar algumas frases de Adolf Hitler, que se tornou chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933. Em um discurso proferido em 1.º de maio de 1927, ele disse: “Nós somos socialistas, nós somos inimigos do atual sistema econômico capitalista para a exploração dos economicamente fracos, com seus salários injustos, com sua indecorosa avaliação do ser humano de acordo com a riqueza e a propriedade em vez de sua responsabilidade e desempenho, e nós estamos todos determinados a destruir esse sistema sob todas as condições”.
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O jornalista George Sylvester Viereck relatou, a respeito de uma entrevista feita em julho de 1932: “‘Por que’, perguntei a Hitler, ‘o senhor se diz um nacional-socialista, já que o programa do seu partido é a própria antítese do que geralmente se acredita ser o socialismo?’ ‘O socialismo’, replicou ele, agressivo, deixando de lado a xícara de chá, ‘é a ciência de lidar com o bem-estar geral. O comunismo não é o socialismo. O marxismo não é o socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. Vou tirar o socialismo dos socialistas. O socialismo é uma antiga instituição ariana e alemã. Nossos ancestrais alemães tinham algumas terras em comum. Cultivavam a ideia do bem-estar geral. O marxismo não tem direito de se disfarçar de socialismo. O socialismo, diferentemente do marxismo, não repudia a propriedade privada. Diferentemente do marxismo, ele não envolve a negação da personalidade e é patriótica. [...] Não somos internacionalistas. Nosso socialismo é nacional. Exigimos o atendimento das justas reivindicações das classes produtivas pelo Estado com base na solidariedade racial. Para nós, o Estado e a raça são um só’”. O discurso de Hitler era eclético, mesclando antissemitismo, mitologia alemã, cristianismo liberal, nacionalismo exacerbado, romantismo e socialismo. Mas essa última fala do ditador nazista é um lembrete da existência de vários tipos de socialismo, percepção que Marx e Engels tiveram tanto tempo antes.
Por frases e ditos como estes é que, no começo da década de 1930, o Partido Social-Democrata (SPD), um dos sustentáculos da República de Weimar, adotou a noção de que “vermelho é igual a pardo”, ao se referir aos comunistas e nazistas. Kurt Schumacher, do SPD, disse na mesma época que os comunistas eram “nazistas pintados de vermelho”, e que os dois movimentos possibilitaram um ao outro. Em outras palavras, os social-democratas alemães compreenderam que os dois totalitarismos eram similares e um real perigo à democracia liberal. O SPD se posicionou desta forma por causa da íntima cooperação entre os comunistas e nazistas em tentativas de referendos e greves ocorridas entre 1931 e 1932, e que almejavam minar o SPD na Prússia.
Em fontes primárias, nenhum líder ou adepto do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães se identificou como “conservador”, “direitista” ou de “extrema-direita”
Em agosto de 1939, alemães e soviéticos assinaram um tratado de não agressão, o Pacto Molotov-Ribbentrop, que incluía a partilha da Polônia. Em 1.º de setembro de 1939 a Segunda Guerra Mundial começou, com a invasão alemã da Polônia, o que acarretou uma declaração de guerra anglo-francesa. Duas semanas depois, os soviéticos invadiram a Polônia, para “assegurar a parte de Stalin no butim”. Consequentemente, como afirma Max Hastings, “a aliança de Stalin com Hitler levou muitos comunistas europeus, obedientes a Moscou, a se distanciarem da posição (...) [da Inglaterra e da França] contra os nazistas”. Esta postura durou até a invasão alemã da União Soviética, em 22 de junho de 1941. Até este momento, comunistas e nazistas tinham um pacto, e as duas ditaduras eram vistas por governos ocidentais como inimigas da democracia.
É preciso enfatizar: em fontes primárias, nenhum líder ou adepto do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães se identificou como “conservador”, “direitista” ou de “extrema-direita” – como se convencionou rotulá-los após 1945. Onde os 25 pontos do Programa do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, adotado em fevereiro de 1920, podem ser enquadrados como “conservadores”, “direitistas” ou “extremo-direitistas”? Há, por acaso, trechos de discursos de Hitler, Goebbels, Göring, Himmler ou Heydrich em que eles se apresentem como “conservadores”, “direitistas” ou “extremo-direitistas”? Há fontes primárias que demonstrem que o povo alemão, que aderiu maciçamente ao nacional-socialismo, percebia esse movimento como “conservador”, “direitista” ou “extremo-direitista”?
Na verdade, a compreensão que a sociedade alemã tinha de si mesma nos anos de 1933 a 1945 era outra. Em 1954, Dieter Eckhertz conduziu uma série de entrevistas com veteranos alemães que lutaram na Normandia, na França, em junho de 1944. Entre eles foi realizada uma entrevista com o tenente da Luftwaffe (força aérea) Thomas Beike, servindo no Jagdabschnittführer 5, e que, pilotando um Messerschmitt Bf-109G, metralhou as praias de desembarque aliadas. O extrato ilustra a compreensão que muitos alemães tinham de onde se enquadrava o nacional-socialismo no espectro político: “Minha visão sobre a guerra era a de que estávamos envolvidos em um conflito que era ideológico em sua origem, o conflito entre o nosso Nacional-Socialismo Alemão, que finalmente uniu a Europa depois de todos os séculos de conflito, e o interesse investido, representado pelos Bolcheviques. Você sabe, eu tive muito interesse nessas questões políticas. O conflito que tivemos com os aliados ocidentais foi acidental diante dessa primeira luta entre duas formas fundamentalmente competidoras e opostas de socialismo: Nacional e Internacional. Nós não tivemos nenhuma grande disputa com os americanos e ingleses. Mas o fato é que os países ocidentais estavam reunindo seus recursos com os russos, e os três poderes aliados estavam extraindo seus bens acumulados de seus bancos e agentes financeiros”.
Esse trecho ilustra a compreensão que muitos alemães tinham da versão nazista do socialismo e seu conflito sangrento com o comunismo, a versão soviética do socialismo. Assim, a grande tragédia do século 20 foi que, como George Orwell observou, “muitos haviam se tornado nazistas por um horror motivado do bolchevismo, e comunistas por um horror motivado do nazismo”.
As principais fontes de estudo
Talvez as primeiras obras que destacaram a similaridade entre os dois sistemas foram O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, de 1944; e Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt, publicado em 1951. Entre 1986 e 1989, a comparação entre o nacional-socialismo e o comunismo provocou uma longa controvérsia na Alemanha, na chamada “briga dos historiadores” (Historikerstreit). Entre os que defenderam a posição exposta neste texto estava o filósofo Ernst Nolte, com o apoio do jornalista Joachim Fest, do filósofo Helmut Fleischer e dos historiadores Klaus Hildebrand, Andreas Hillgruber, Rainer Zitelmann, Hagen Schulze, Thomas Nipperdey e Imanuel Geiss. De acordo com Ernst Nolte, a Alemanha nazista seria uma “imagem espelhada” (mirror image) da União Soviética socialista. Como afirmou Norman Davies: “O historiador alemão Ernst Nolte viu-se em dificuldades ao declarar que os nazistas tiraram vantagem da prática soviética. Não obstante, é incontestável que os campos soviéticos [de concentração] vieram antes, que os alemães vieram depois e que o sistema soviético era muito maior do que o seu equivalente alemão”. Entre 1995 e 1997, o historiador francês François Furet, ex-militante do Partido Comunista Francês (PCF), numa troca de cartas com Nolte, apoiou-o, chamando o nacional-socialismo e o comunismo de “gêmeos totalitários” (totalitarian twins), e afirmando a existência de um “nexo causal” (kausale Nexus) entre os dois totalitarismos.
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A avaliação final do debate foi assim resumida por Norman Davies: “Nos anos 1990, muitos dos argumentos iniciais tornaram-se redundantes. Quando vozes russas se juntaram às persistentes condenações do sistema soviético, a maioria dos seus antigos defensores perdeu o ímpeto. A publicação, em 1997, de O livro negro do comunismo, compilado por uma equipe de desiludidos comunistas franceses e europeus do Leste, mostrou-se irrefutável. A partir daí, os crimes soviéticos figuraram na agenda ao lado dos crimes nazistas”. Não custa lembrar que o nacional-socialismo alemão foi o responsável por pelo menos 20 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial. Inclusive 6 milhões de judeus foram exterminados em nome do nacional-socialismo. E o comunismo assassinou outros 100 milhões tentando implantar o “outro mundo possível”. Ambos os totalitarismos deveriam ser firmemente rejeitados, mas, infelizmente, o comunismo permanece bem vivo – até mesmo dentro das igrejas cristãs.
Em outras palavras, as revelações das barbaridades soviéticas após a queda do comunismo na Europa Oriental, entre 1989 e 1991, e o fim de um muro de censura praticamente total desacreditaram os críticos de Nolte e de seus colegas. E o veredito de Richard Piper é preciso: “O comunismo fracassou e está fadado a fracassar por duas razões: a primeira é que, para a igualdade vigorar, seu principal objetivo, é necessário criar um aparelho coercivo que demanda privilégios e, consequentemente, nega a igualdade; a segunda é que fidelidades territoriais e étnicas, quando em conflito com a fidelidade a uma classe, em todo lugar e em qualquer época, vencem de forma esmagadora, dissolvendo o comunismo em nacionalismo, daí o socialismo se combinar, tão facilmente, com ‘fascismo’”. Assim, o comunismo e o nacional-socialismo são modelos diferentes de socialismo. E o totalitarismo é um fenômeno exclusivo e consequência do radicalismo revolucionário utópico esquerdista.
Para aqueles que quiserem aprofundar os estudos sobre os dois totalitarismos, uma bibliografia básica inclui: Hannah Arendt, Origens do totalitarismo (Companhia das Letras, 1989); Alain Besançon, A infelicidade do século (Bertrand Brasil, 2000); Friedrich Hayek, O caminho da servidão (LVM Editora, 2010); Richard Pipes, O comunismo: história concisa da Revolução Russa (Bestbolso, 2008); Richard Pipes, Propriedade e liberdade (Record, 2001); Michael Geyer e Sheila Fitzpatrick, Beyond totalitarianism: Stalinism and Nazism compared (Cambridge University Press, 2009); Roger Moorhouse, O pacto do diabo: a aliança de Hitler com Stálin, 1939-1941 (Objetiva, 2021); Richard Overy, Os ditadores (José Olympio, 2004); Timothy Snyder, Terras de sangue: a Europa entre Hitler e Stálin (Record, 2012); François Furet e Ernst Nolte, Fascism and communism (University of Nebraska Press, 2001); Ernst Nolte, Marxism, Fascism, Cold War (Humanities Press, 1982); Ernst Nolte, Three Faces of Fascism: Action Française, Italian Fascism, National Socialism (International Thomson, 1966); A. James Gregor, The Faces of Janus (Yale University Press, 2000). Os textos originais da Historikerstreit foram traduzidos e publicados em inglês por James Knowlton, Forever in the Shadow of Hitler? (Humanities Press, 1993).
A memória do mal totalitário
Após a queda do comunismo, entre 1989 e 1991, foram criadas instituições de pesquisa na Europa que se concentraram na análise comparada do nacional-socialismo e do comunismo: o Hannah-Arendt-Institut für Totalitarismusforschung (“Instituto Hannah Arendt para a Pesquisa sobre o Totalitarismo”), fundado em 1993, na Alemanha; o Instytut Pamięci Narodowej (“Instituto da Memória Nacional”), fundado em 1998, na Polônia; e o Ústav pro studium totalitních rezimů (“Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários”), fundado em 2007, na República Tcheca.
Em junho de 2008, na conferência “Consciência europeia e o comunismo”, realizada em Praga, na República Tcheca, vários intelectuais europeus prepararam a Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo – entre os signatários estavam Václav Havel e Joachim Gauck, além de outros políticos, antigos dissidentes e historiadores europeus. A partir daí, a União Europeia e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) têm tratado o nacional-socialismo e o comunismo como duas formas comparáveis de totalitarismo, denunciando seus muitos crimes contra a humanidade. Desde então têm sido realizados esforços crescentes para conectar os dois totalitarismos em museus, monumentos públicos, dias comemorativos e eventos na Europa. E a data de 23 de agosto foi estabelecida como o Dia Europeu em Memória das Vítimas do Stalinismo e do Nacional-socialismo.
Um documentário seminal foi lançado em 2008: The Soviet Story (“A história soviética”) aborda o comunismo na União Soviética e as relações germano-soviéticas, o genocídio ucraniano, o Grande Expurgo, o massacre dos oficiais poloneses em Katyn, a colaboração do NKVD soviético com a SS nazista, as deportações em massa na União Soviética e as experiências médicas nos gulags. O filme contém entrevistas com historiadores ocidentais e russos, como Norman Davies, Pierre Rigoulot e Boris Sokolov, o escritor russo Viktor Suvorov, o dissidente soviético Vladimir Bukovsky, membros do Parlamento Europeu e vítimas do terror soviético. Até onde sei, The Soviet Story nunca foi lançado comercialmente no país, e, parece, nunca passou na tevê brasileira.
Por fim, durante a Guerra Fria foram produzidas algumas obras que são leitura obrigatória para formar uma mentalidade crítica frente ao totalitarismo: O zero e o infinito (1941), de Arthur Koestler; A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1949), de George Orwell; Mente cativa (1953), de Czeslaw Milosz; Arquipélago Gulag (1973), de Aleksandr Solzhenitsyn; e Cartas a Olga (1988), de Vaclav Havel.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos