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Franklin Ferreira

Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.

Marxismo e religião

Teologia da Libertação, o cavalo de Troia na Igreja Católica

Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação, em foto de 2016, durante evento no México. (Foto: Mario Guzmán/EFE)

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Em textos anteriores tratei dos “cristãos progressistas”, movimento que tem se infiltrado em igrejas evangélicas. Agora abordo a Teologia da Libertação, que se infiltrou na Igreja Católica, ainda que tenha exercido fascinação sobre alguns protestantes, como Richard Shaull, José Míguez Bonino e Rubem Alves. Os principais teóricos dessa teologia foram os católicos Gustavo Gutierrez, Juan Luis Segundo, Hugo Assmann, Jon Sobrino, Leonardo Boff, Carlos Meister e Frei Betto. Afirmações gerais sobre a Teologia da Libertação correm o risco de serem simplistas, porque não existe uma Teologia da Libertação uniforme, ainda que tenha um mesmo método e alguns temas comuns e centrais.

A teologia em diálogo com o marxismo

Para Gutiérrez, a teologia deveria começar a partir da situação histórica, particularmente do ponto de vista do pobre. Toda a história, da criação até o presente, seria a história de Deus realizando o processo de salvação universal. Toda a história seria sagrada e revelaria o plano redentor de Deus e a realização de seu Reino. Consequentemente, o Reino de Deus seria um projeto histórico que seria levado a cabo quando os pobres agissem para criar um mundo de justiça para todos. Para tanto, os teólogos da libertação desenvolveram uma visão radical para a reforma da sociedade, ao unir a teologia com o marxismo. Nesta teologia, o reino de Deus seria um projeto histórico, levado a cabo quando os pobres entram em ação para criar um mundo justo. A salvação não seria algo relacionado o mundo do além, mas sim à transformação da realidade humana. Essencial aqui é a união entre política e fé, para criar uma nova consciência e, assim, uma nova ordem social. A nova ordem visa se apropriar dos meios de produção e do processo político, por meio de uma revolução social, criando assim o Estado socialista.

A realidade histórica fundamental da pobreza, com que Gutiérrez está preocupado, seria analisada a partir da teoria dialética de Karl Marx. Os teólogos da libertação viam a realidade em termos da luta de classes e, por consequência, entendiam que a raiz da opressão na América Latina estaria no sistema capitalista internacional. Assim, a realização do Reino estaria acontecendo em meio à luta por uma revolução socialista. Só deste modo os homens poderiam se tornar “artesãos de seu próprio destino”, como escreveu Gutiérrez. A vinda do Reino representaria a construção de uma sociedade justa, e esta é entendida em termos socialistas. A pergunta básica para a Teologia da Liberação seria a seguinte: quem seria Deus para um continente imerso na pobreza como a América Latina? Como Deus se revelaria ao oprimido? A resposta se daria por meio de três mediações, de acordo com Leonardo Boff.

Os teólogos da libertação desenvolveram uma visão radical para a reforma da sociedade, ao unir a teologia com o marxismo

A primeira seria a mediação socioanalítica, que aconteceria a partir da perspectiva dialética. Boff insistia que a análise marxista seria a única que permitiria que o pobre fosse visto como tal por causa da opressão. Essa dialética entendia a pobreza como fruto de um sistema econômico que exploraria os trabalhadores. A segunda seria a mediação hermenêutica, que se valeria das contribuições da crítica socioanalítica. Ao entender as causas de opressão, a hermenêutica buscaria usar a Escritura e a tradição cristã para responder à situação de opressão. Assim, conquanto não reivindiquem que o tema de libertação da oprimido seja, em si mesmo, o único ou mais importante tema na Bíblia, este seria o tema mais importante e pertinente para o pobre e para o oprimido. Portanto, a fé cristã teria a obrigação de lutar pela justiça. Esta teologia revelaria sua preferência pelas narrativas bíblicas como as mais pertinentes a seus propósitos. Recebem ênfase o Êxodo, com sua história de libertação divina; os profetas, com a denúncia da injustiça contra os pobres; os evangelhos, que descrevem a centralidade da pessoa de Jesus e a mensagem de libertação do Reino; e Atos e Apocalipse, que descreveriam o ideal da comunidade cristã e a luta simbólica do povo de Deus contra as forças do mal na história.

A mediação hermenêutica pode ser descrita como o ponto no qual a reflexão teológica formal acontece. A experiência do pobre seria interpretada do ponto de vista da revelação e então relacionada à Doutrina Social da Igreja. A Doutrina Social da Igreja era descrita por Boff como uma construção abstrata, que não estaria relacionada com a situação concreta do Terceiro Mundo. O resultado da mediação hermenêutica seria o chamado à ação. Assim, a história bíblica apresentaria um Deus que trabalha nas vidas do povo de Deus para a real libertação histórica. Isto conduz diretamente à terceira mediação, a práxis, que estaria relacionada a uma ação concreta para produzir mudança social. A ação visaria trazer justiça, renovação da Igreja e a transformação da sociedade. Neste nível, o trabalho dos sacerdotes e leigos seria considerado muito importante, porque eles entrariam em contato com situações específicas, que necessitariam de mudança. A mediação prática determinaria que tipo de mudança seria viável e desenvolveria estratégias para produzi-la. E, para Boff, a não violência seria preferida, mas a possibilidade do uso da força não deveria ser descartada.

A pessoa de Jesus Cristo

Na interpretação sobre Jesus Cristo oferecida por Boff, a ênfase estaria na pessoa de Jesus como homem. Boff afirmou que a divindade de Cristo não deveria ser procurada fora de sua humanidade. Assim, a encarnação concretizou uma possibilidade que existe dentro do humano. Ele interpretou Cristo em categorias existenciais, como o ser humano que vivia o seu “ser-para-os-outros” e “para-o-Outro-Absoluto”, de modo que Cristo conseguiu se identificar com eles.

O Cristo de Boff seria filtrado pelos pressupostos do método histórico-crítico, de maneira que o Cristo da fé deveria ser distinto do Jesus histórico. Ele falava da “jesulogia” e da “cristologia” como sendo áreas distintas. “Jesulogia” trataria do homem histórico Jesus de Nazaré, enquanto a “cristologia” trataria do Cristo proclamado pela Igreja. Desta maneira, Boff negava que vários eventos registrados nos evangelhos tivessem acontecido na história da pessoa de Jesus. Por exemplo, para Boff os autores dos evangelhos colocaram palavras na boca de Jesus e inventaram histórias quando foi necessário. Jesus não fez as profecias sobre sua morte e ressurreição, “porque elas pressupõem já a Paixão e a Páscoa até em seus detalhes”, como se a previsão do futuro não fosse possível para Jesus. Também a confissão de Pedro, “Tu és o Cristo” (Mc 8,29), não teria ocorrido, mas sido inventada e colocada no evangelho como uma confissão da fé primitiva da Igreja. A preocupação dos evangelistas não seria a comunicação de fatos e eventos históricos sobre a vida de Jesus, mas sim “anunciar para ouvintes dos anos 80-90 d.C. quem é e o que é para a comunidade dos fiéis Jesus de Nazaré”.

Então, a interpretação correta da vida de Jesus começaria com a desmitologização do texto. As histórias sobrenaturais, como o nascimento virginal, não representariam eventos históricos que aconteceram, mas seriam, na verdade, símbolos de realidades mais profundas. “O símbolo é humanamente mais real e significativo do que a história factual e os dados frios”, escreveu Boff. O que é simbolizado pela vida de Jesus é a possibilidade da realização do infinito por todos os seres humanos. Jesus, então, foi o homem cuja existência foi “totalmente orientada e vivida para os outros e para o Grande Outro”. Assim, Jesus nos mostrou “qual é o verdadeiro ser e existir do homem”. E Boff afirmou: “Quanto mais o homem-Jesus estava em Deus, mais se divinizava. Quanto mais Deus estava em Jesus, mais se humanizava”. Desta maneira, o homem poderia se tornar divino como Jesus se tornou. Jesus, na sua vida, mostrou o caminho da libertação. Ele inaugurou o reino e se identificou com os oprimidos. A sua vida mostrou o caminho do “êxodo da condição humana e a erupção para dentro de Deus”.

Evidentemente, Boff rejeitou a compreensão sobre Jesus Cristo afirmada pela tradição cristã. Portanto, é difícil encontrar em suas obras o Jesus que é o Logos eterno, que assumiu uma natureza humana para salvar seu povo dos seus pecados. O Cristo de Boff é muito mais parecido com um ser humano que consegue se abrir para Deus e, assim, foi divinizado, mostrando como todos podemos fazer o mesmo. O problema de sua interpretação de Cristo é a dependência de pressupostos naturalistas. A aparente redução de Jesus a um homem que se divinizou é uma negação do testemunho dos apóstolos, de que sua proclamação foi de eventos históricos ocorridos numa pessoa, Jesus, o Deus eterno que assumiu a carne humana. Assim, enquanto Boff nega que o nascimento virginal aconteceu e que Jesus predisse sua morte na cruz, os evangelhos insistem que esses fatos foram eventos que ocorreram na história, e que os autores dos mesmos os presenciaram (1Jo 1,1-4).

O significado da morte de Cristo

Diante dos textos bíblicos que afirmam que Jesus predisse sua morte violenta, Boff escreveu: “Contudo, a exegese séria se pergunta desde o começo deste século [20]: Estamos diante de textos autênticos de Cristo ou diante de uma interpretação teológica, à luz da fé e novidade da ressurreição, elaborada pela comunidade primitiva? As profecias são literariamente tardias e supõem um conhecimento pormenorizado da paixão e da ressurreição. Parece que, realmente, são vaticinia ex evento [‘profecia após o evento’], formuladas posteriormente com o fito de dar sentido ao problema teológico contido na pergunta: Se Deus se manifestou estar do lado de Cristo pela ressurreição, por que não manifestou isso antes?” O que devemos notar nesta colocação é que o que a domina é o pressuposto do naturalismo. É muito importante entender que não existe nenhuma evidência documental, na forma de tradições ou textos mais antigos, para sustentar a noção de que existia uma história de Jesus sem os elementos que Boff disse terem sido acrescentados posteriormente. A única base para negar as profecias bíblicas é a hipótese de que elas tenham detalhes demais para terem sido feitas de antemão. Em outras palavras, Jesus não poderia ter tido o conhecimento detalhado do futuro porque tal conhecimento não é possível. Tal pressuposto é coerente com o ateísmo, porque somente se o Deus da Bíblia não existisse de verdade seria impossível para Jesus ter este conhecimento.

Leonardo Boff rejeitou a compreensão sobre Jesus Cristo afirmada pela tradição cristã. O Jesus de Boff é um “libertador” que não pode nos libertar

Outro pressuposto de Boff seria de que somente a exegese que se vale do método histórico-crítico seria séria. Isto é consistente com a afirmação de vários teólogos protestantes liberais de que eles empregam um método “objetivo” e “científico”. Mas seu critério para interpretar o texto bíblico seria a imposição de um pressuposto filosófico sobre o texto, vindo de fora, e sem a menor tentativa de justificá-lo. O que Boff estava dizendo seria que, se somente abordarmos o texto bíblico a partir da ótica do naturalismo, nossa exegese poderia ser levada a sério. Por isso, toda exegese cristã tradicional, ele declara, seria inválida. Mas não existe nada que seja científico ou objetivo nesta afirmação. Ela seria nada menos que um preconceito fundamentado no ateísmo.

Não é de se admirar que Boff e outros acusem os cristãos primitivos de serem mentirosos, ao inventar histórias e mitos que nunca aconteceram, simplesmente para validar suas crenças. Mesmo se ele negasse que seria isto que ele quis dizer, deveríamos, com franqueza, reconhecer que seria exatamente isto que quer dizer a frase “uma interpretação teológica, à luz da fé e novidade da ressurreição, elaborada pela comunidade primitiva”, se o sentido seria o de que a história foi inventada e apresentada ao mundo como a verdade pela qual as pessoas devem morrer, mesmo que os autores soubessem que os eventos nunca aconteceram de fato. Se o texto bíblico não for autêntico, como Boff diz, então o texto bíblico deve ser inautêntico. No caso dos evangelhos, Boff conseguiu miraculosamente transformar o que seria inautêntico e fraudulento em uma expressão de fé. Tudo isto seria de se esperar de alguém que alega que “os evangelhos não querem ser obra histórica, mas profissão de fé, onde história e interpretação da história à luz da fé se amalgamam numa unidade vital”.

O que significaria a morte de Cristo para Boff, então? Primeiro, fica claro que ela não significaria a expiação penal e substitutiva de nossos pecados, já que tudo isto teria sido invenção posterior da Igreja. Para Boff, Jesus nunca falou deste modo, mas sim a Igreja, que colocou as palavras na boca de Jesus, posteriormente, para explicar sua fé. A morte de Cristo foi um exemplo de sua vida, como “um dar-se, um ser-para-os-outros, a tentativa e a realização, em sua existência, da superação de todo os conflitos”, mesmo no momento de seu abandono por Deus, revelando “uma vida de extraordinária autenticidade e originalidade”. Assim, Cristo superou “o conflito fundamental da existência humana” e venceu o mal pelo amor. Enfim, a interpretação de Boff consiste no acréscimo de categorias marxistas à interpretação de Jesus como modelo de libertação. Mas, no fim das contas, ele nos deixou com um salvador que, por não ter feito expiação pelos nossos pecados, não pode nos salvar. O Jesus de Boff é um “libertador” que não pode nos libertar.

A salvação e o Reino de Deus

Já que para a Teologia da Libertação todo pecado seria social, a salvação deve ser social também. Por isso, a salvação seria percebida como o resgate da sociedade das injustiças sociais. O reino de Deus seria construído na terra, à medida que a ética de Jesus fosse colocada em prática na sociedade. Tendo por base o marxismo, a Teologia da Libertação negou a salvação da alma para a eternidade. Uma vez que a eternidade foi eliminada, o único lugar que resta para construir o reino seria este mundo presente. Aqui não custa lembrar que o próprio marxismo era uma versão secularizada da escatologia cristã, que trocou o reino de Deus pelo reino do homem, na utopia comunista prometida.

O ensino do reino, segundo a Teologia da Libertação, pode ser assim resumido: 1. O Reino de Deus seria a comunhão de toda humanidade, uns com os outros e com Deus. O reino seria um dom de Deus, a libertação da opressão e da injustiça que estão enraizadas na desintegração da comunhão. O reino libertaria do pecado e das estruturas sociais opressivas; 2. Ainda assim, essa comunhão não faz referência a algum tipo de salvação espiritual para algum lugar fora da história, como o novo céu e a nova terra, mas deveria e poderia se realizar na história. Assim, o reino seria a restauração da justiça na sociedade; 3. Seguindo os passos dos ensinos marxistas, diz-se que a opressão e a destruição da comunhão entre as pessoas seria o produto da luta de classes, provocada pelo sistema fundamentado na heresia do capitalismo internacional; 4. Assim, pregar o reino significaria proclamar a mensagem de libertação destas estruturas opressivas e 5. lutar para estabelecer uma sociedade socialista que as eliminará. Tal sociedade corresponderia à sociedade sem classes, conforme a visão marxista; 6. Já que o sistema capitalista seria um tipo de violência contra os pobres, seria correto empregar a violência para derrubá-lo e criar uma sociedade socialista – nesse sentido, a Teologia da Libertação desempenhou um papel essencial na formação do “sandinismo” e da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que hoje persegue clérigos e fiéis católicos e fecha meios de comunicação na Nicarágua.

É muito importante afirmar que o evangelho tem um papel importante na reforma da sociedade. Mas tal reforma só faz sentido à luz da esperança da vitória final de Jesus e da total chegada do reino de Deus no futuro. Como anteprojeto do reino por vir, nossas tentativas de demonstrar a realidade de Deus no mundo, por meio da luta por justiça, têm real significado. Podemos mostrar ao mundo o desdobramento do reino contra as forças do mal, por meio de nossa conduta justa, de nossa compaixão e da reforma da cultura segundo a ética bíblica. Mas, se temos somente esperança neste mundo, então, como Paulo disse, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1Co 15,32).

O fracasso da Teologia da Libertação

A influência da Teologia da Libertação diminuiu após seus defensores serem criticados pela Congregação para a Doutrina da Fé em dois documentos, Libertatis nuntius (“Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”), de 1984, e Libertatis Conscientia, de 1986. Foram condenados os principais fundamentos da Teologia da Libertação, como a ênfase exclusiva no pecado coletivo ou sistêmico, excluindo os pecados individuais; a eliminação da transcendência religiosa; a desvalorização da tradição cristã; e o incentivo à luta de classes. Clodovis Boff (irmão de Leonardo e também teólogo, mas que se distanciou da Teologia da Libertação) sintetizou a crítica em dois pontos: “a Teologia da Libertação, [...] devido à sua ambiguidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: [a] instrumentalização da fé ‘para’ a libertação”. A Teologia da Libertação ‘parte do pobre e encontra Cristo’, enquanto a mensagem da Igreja cristã ‘parte do Cristo e encontra o pobre’. [...] Quem encontrou Cristo vai ao encontro do irmão pobre e sofredor. [...] O social deriva do espiritual”.

A análise marxista é a ferramenta principal na busca da Teologia da Libertação por justiça. Mas a Teologia da Libertação não ofereceu um plano coerente para alcançar a justiça prometida

Os críticos da Teologia da Liberação destacaram, entre seus vários problemas, que a história demonstrou que, onde o socialismo foi implantado plenamente, como na União Soviética, China e Cuba, o resultado foi um regime politicamente opressivo – e que resultou no próprio empobrecimento daquela sociedade. Na verdade, a história do comunismo é a história da matança desenfreada: 100 milhões de mortos no século 20. O marxismo produziu o maior número de assassinatos e mortes políticas na história da raça humana e falhou em cumprir suas promessas para acabar com a opressão, criando ainda mais opressão. A razão não é difícil de entender. Um Estado socialista ou comunista não pode tolerar a individualidade ou a oposição porque tem de coordenar e controlar todas as atividades políticas e econômicas. E para controlar essas atividades é necessário controlar o povo. Além disso, o socialismo exige uma extraordinária confiança na benevolência da elite governante. O socialismo almeja colocar todo o poder econômico e político nas mãos dessa elite governante, na esperança de que ela será mais justa que os governantes burgueses anteriores. Mas a história do socialismo mostra que, por causa do pecado humano, isto não aconteceu – e nem acontecerá.

Apesar do fracasso do marxismo, ele permanece como uma ideologia importante, especialmente entre os acadêmicos, clérigos e políticos. A análise marxista é a ferramenta principal na busca da Teologia da Libertação por justiça. Mas a Teologia da Libertação não ofereceu um plano coerente para alcançar a justiça prometida. Ela fez muitas críticas ao sistema existente. Mas somente criticar não é um programa positivo de ação. E, como cristãos, precisamos perguntar: já que, na Teologia da Libertação, são negadas a ressurreição de Cristo, a salvação dos pecadores e a expectativa da vinda do novo céu e nova terra, que vêm do futuro, por que devemos nos importar com a imposição de um governo socialista na sociedade de hoje? Qual o valor da redistribuição dos bens materiais se o destino de todos será a extinção? Por que os ricos devem se importar com os pobres se não existirá nada após esta vida, nem galardão nem castigo?

Ao fim, precisamos lembrar que nenhuma ideologia é absoluta e nem pode ser confundida com o evangelho. A Declaração de Barmen, no seu final, afirma: “Rejeitamos a falsa doutrina de que à igreja seria permitido substituir a forma de sua mensagem e organização, a seu bel-prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes”. Sempre que a Igreja cristã ou clérigos e teólogos identificaram determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica, essa foi não apenas distorcida, mas acabou sendo perdida. Isso aconteceu na Alemanha nacional-socialista, na União Soviética e entre os ideólogos da Teologia da Libertação na América Latina. A mensagem evangélica está acima das ideologias totalitárias, as quais, por sinal, algumas vezes não passam de pobres heresias e perversões do Evangelho.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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