“Eu tenho ouvido: ‘Não traga a religião para a política’. É precisamente para este lugar que ela deveria ser trazida e colocada ali na frente de todos os homens como um candelabro.” (C. H. Spurgeon)
Como se costuma dizer, “a política é o espaço do bem comum”, o que pode levar-nos a entendê-la como uma forma de praticar o amor cristão. E de fato é pela ação política que muitas pessoas no país podem ser beneficiadas pelo bem e pela justiça. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que a prática política seja guiada por valores éticos fundamentados na revelação. Não somente isso, mas também a transformação da conjuntura social por meio da cosmovisão cristã é uma forma de estabelecer o Reino. Portanto, com o objetivo de propor o voto consciente e responsável aos cristãos evangélicos, sugerimos alguns elementos que deverão ser considerados na hora de sua escolha eleitoral:
1. Conheça bem o candidato que receberá o seu voto. Pesquise seu histórico pessoal, seus feitos, valores e propostas. Pesquise também suas promessas durante a campanha eleitoral, avaliando se são plausíveis. Acompanhe as entrevistas que o candidato conceder na mídia e compare o que ele diz em cada uma. Veja também se o candidato se porta com decência e se sua escala de valores é voltada para o interesse público.
Deve-se tomar especial cuidado ao dar o voto a políticos originários de famílias que dominam o cenário político atual, ou então franquear o voto a políticos carreiristas que não abrem espaço para novas lideranças políticas. Se o candidato se identifica como cristão, é importante saber a que igreja ou comunidade ele está filiado e se ele é de fato participante e frequentador assíduo, buscando conselho e prestando contas de sua conduta cristã.
É pela ação política que muitas pessoas no país podem ser beneficiadas pelo bem e pela justiça
Enfim, não desperdice o seu voto com alguém de quem você nunca tenha ouvido falar, sem antes saber suas propostas e postura ética durante a campanha eleitoral. Conheça também os candidatos da coligação de seu candidato: se ele alcançar o coeficiente eleitoral, os votos suplementares ajudarão a eleger outro candidato. Lembre-se de que nosso sistema eleitoral é proporcional.
2. Examine os projetos do candidato para saber se estão de acordo com os do partido ao qual ele está filiado. Ao votar em um candidato, você ao mesmo tempo vota num partido, ajudando a eleger candidatos a ele afiliados. Por isso, é preciso conhecer os programas e a filosofia do partido. No caso de um candidato evangélico, é bom averiguar se ele e o partido não somente afirmam, mas estão de fato comprometidos com a separação entre a igreja e o Estado, lembrando que toda autoridade procede de Deus.
No Brasil, infelizmente, os partidos não representam ideologias ou programas claros. De legendas de aluguel a divisões internas que formam partidos dentro de partidos, passando por diferenças radicais de caráter ideológico em estados diferentes da União, é muito difícil identificar a postura e o posicionamento partidário. Procure saber sobre os líderes e atuais membros mais ativos do partido em sua região, cidade e estado.
Um quesito muito importante que deve ser levado em consideração é se o partido pertence a organizações internacionais e está submetido a decisões delas. Atualmente, esse é o caso do Foro de São Paulo. Vários partidos de esquerda, de centro-esquerda e de extrema esquerda (entre eles, PT, PCdoB, PCB e PDT) são membros dessa organização e adotam sua agenda e diretrizes.
3. Lute contra todas as formas de corrupção, apoiando mecanismos de controle do uso do dinheiro público e das prioridades do governo. Procure saber se seu candidato, caso já tenha mandato parlamentar, ajudou a desidratar a Lei da Ficha Limpa, que trata da ética nas eleições; ou se ele apoia outros projetos de lei que buscam combater a corrupção, como o da prisão em segunda instância. Denuncie, em conformidade com a Lei 9.840/99, o uso da máquina administrativa federal, estadual ou municipal para favorecer determinados candidatos, o que ocorre quando há compra de votos por meio de dinheiro, de programas assistenciais ou de promessas de vantagens pessoais, assim como quando alguém obriga o eleitor a votar em determinados candidatos, seja por meio de ameaças, seja por pressão religiosa.
4. Apoie propostas que defendem a vida e a dignidade do ser humano em qualquer circunstância. Para a fé cristã, a vida humana é dom de Deus, desde a concepção no ventre materno até o dia de sua morte. Portanto, proteger a vida inclui combater o aborto e a eutanásia; reprimir a violência com a criação de políticas de segurança pública realistas; promover uma ética do trabalho que enfatize virtudes bíblicas como honestidade, pontualidade, diligência, obediência ao quarto (“seis dias trabalharás”), oitavo (“não furtarás”) e décimo mandamento (“não cobiçarás”); defender o direito à propriedade privada como direito fundamental (cf. Êx 20,15-17; 1Rs 21,1-29).
O ensino das Escrituras é claro em estabelecer que o casamento é instituído por Deus, e é heterossexual e monogâmico (Gn 1,27; 2,24; 19,4-11; Lv 18,22-24; 20,13; Mt 19,1-9; Mc 10,1-12; Rm 1,18-32; 2,1-3,20; 1Co 6,9-10; 1Tm 1,10) – algo que as sociedades influenciadas pela fé cristã acolheram. No Brasil, esse princípio é protegido pela Constituição Federal (artigo 226 §3.º), não havendo sequer espaço na Bíblia para possibilidades de alternativas quanto à atribuição biológica dos dois gêneros, feminino e masculino, e à normalização da homossexualidade na igreja. Portanto, vote em candidatos que se oponham à ideologia de gênero e lutem pela compreensão bíblica do casamento.
5. Verifique qual é a proposta educacional do candidato, analisando se ele defende a qualidade e a liberdade do ensino, mesmo no âmbito religioso, e promove uma escola digna e de qualidade. Confira também se ele promove as liberdades individuais por meio do estabelecimento de normas gerais de conduta que redundem em liberdade de expressão, de associação e de imprensa.
Apoie propostas que defendem a vida e a dignidade do ser humano em qualquer circunstância. Para a fé cristã, a vida humana é dom de Deus, desde a concepção no ventre materno até o dia de sua morte
6. Rejeite candidatos e partidos esquerdistas, com ênfases estatizantes e intervencionistas nas esferas familiar, eclesiástica, artística, trabalhista e escolar, os quais concebem um ambiente em que se tem pouca ou nenhuma liberdade pessoal e econômica. Para a fé cristã, a família, a igreja, o trabalho e a escola são esferas independentes do Estado, pois existem sem este, derivando sua autoridade somente de Deus. Logo, o papel do Estado é o de mediador, intervindo quando as diferentes esferas entram em conflito entre si ou para defender os fracos contra o abuso dos demais. Portanto, os cristãos devem não somente não apoiar, mas também resistir a um sistema político autoritário ou totalitário (cf. At 5,29; Ap 13,1-18).
7. Repudie ministros, igrejas ou denominações que tentem identificar determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica. Como afirma a Declaração Teológica de Barmen, “rejeitamos a falsa doutrina de que à igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização a bel-prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes” (8.18). A igreja, ao proclamar com fidelidade a Palavra de Deus, influencia o Estado, de modo que suas leis se conformem com a vontade de Deus, decorrendo daí consequências políticas de fidelidade ao chamado primordial da comunidade cristã.
8. Apoie candidatos comprometidos com propostas e leis que sejam derivadas da lei de Deus, conforme revelada nas Escrituras, pois essa é a fonte última e absoluta da ética pessoal, eclesiástica e social. O candidato deve ter compromisso com o contrato social, aquele acordo entre os membros de uma sociedade pelo qual reconhecem a autoridade sobre todos de um conjunto de regras, a Constituição, que limita os poderes, organiza o Estado e define direitos e garantias fundamentais.
9. Valorize candidatos e partidos comprometidos com o modelo republicano de governo, no qual a nação é governada pela lei constitucional e administrada por representantes eleitos pelo povo, e em que há divisão e separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, de modo que nenhum governo ou ramo do governo monopolize o poder. Valorize também aqueles que respeitam a alternância do poder civil, a qual impede que um partido ou autoridade se perpetue no poder, e aqueles que defendem o pluralismo político e partidário.
10. Apoie candidatos que enfatizam as funções primordiais do Estado. Os governantes têm a obrigação principal de zelar pela segurança do povo – atribuição pela qual pagamos tributos (cf. Rm 13,1-7). Apoie igualmente candidatos que ressaltem a limitação do poder do Estado, pois, com base nas Escrituras, entende-se que o governo civil não tem autoridade para cobrar impostos exorbitantes, redistribuir propriedades ou renda, criar zonas francas ou confiscar depósitos bancários.
Pedimos que o Messias Jesus, o Rei, o único e absoluto soberano Senhor, nos sustente e conduza sempre em nossas opções políticas. Façamos das eleições um gesto de amor a este país e a nossos irmãos e irmãs, para a glória de Deus.
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