Adauto J. B. Lourenço| Foto: Divulgação
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Faleceu em 18 de abril deste ano o renomado professor e pesquisador evangélico Adauto Lourenço.

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Tiago J. Santos Filho, graduado em Direito e pós-graduado em Estudos Bíblicos, um dos pastores da Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos (SP), cofundador, professor de Teologia Moral e diretor de Ensinos Avançados do Seminário Martin Bucer, e diretor-executivo do Ministério Fiel, que publicou vários dos livros de Adauto, tais como Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo e Gênesis 1 & 2: a mão de Deus na criação, compartilha conosco nessa semana uma homenagem póstuma.

Uma homenagem póstuma

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Adauto José Boiança Lourenço foi uma figura notável no necessário e saudável diálogo entre fé, crença e cristianismo e a ciência, particularmente as ciências exatas e biológicas, tendo adentrado num terreno onde poucos se aventuram com tanta habilidade e coragem, tendo exercido um trabalho pioneiro e desafiador. Nascido em 1958, em Limeira-SP, sua jornada acadêmica foi diversificada e ampla, abrangendo estudos de teologia no Seminário Bíblico Palavra da Vida, em Atibaia, São Paulo, e posteriormente estudou física, na Bob Jones University, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Depois fez um mestrado na Clemson University, nos Estados Unidos. Desenvolveu ainda seu trabalho e pesquisas no renomado Max Planck Institut für Strömungsfurchung, na Alemanha e no Oakridge National Lab, nos Estados Unidos.

Adauto foi um homem virtuoso. De postura sempre discreta, mas altaneira; voz baixa e mansa; disciplinado e metódico, e dedicado à sua família. Ele foi capaz de entrelaçar sua fé cristã com uma exigente formação científica e pôde extrair da fé, nas Escrituras Sagradas, as respostas para as quais a ciência silenciava e encontrava seus limites.

O interesse de Adauto, porém, não era meramente apologético ou especulativo. Homem de fé, entendia ser sua missão mostrar como os cristãos são chamados a investir na formação acadêmica, a fazer perguntas difíceis e a não sossegar com simplificações. Como também a buscar no estudo da criação e das coisas criadas os instrumentos que corroboram a revelação bíblica de que há um Criador sábio para todo este universo, e que este Criador chama os seres humanos para uma relação verdadeira e pessoal com ele.

Assim, ele não apenas pregava sobre a compatibilidade entre ciência e religião, mas também vivia essa síntese na prática. Nos seus últimos 25 anos, ele se tornou um defensor eloquente da Teoria da Criação Especial, também conhecida como criacionismo, argumentando com a certeza de quem conhece ambas as frentes do debate. Ele se familiarizou com integridade científica e acadêmica com as formulações de seus rivais, defensores do evolucionismo ateísta, assim como dos seus contrapontos, mostrando a inconsistência e insuficiência de ambos. Com uma comunicação clara e didática, ele se destacava em suas apresentações, palestras, aulas, simpósios e conferências, que não eram apenas informativas, mas também provocativas, na medida certa. Deixava perguntas inquietantes para seus adversários do campo evolucionista.

Tendo feito palestras para grupos pequenos de igrejas a salas de universidades no Brasil e no exterior, Adauto alcançou centenas de milhares de pessoas. Suas participações em conferências de grande circulação de pessoas, como a Consciência Cristã, em Campina Grande-PB, frequentada por mais de cem mil pessoas. Como também nas tradicionais Conferências do Ministério Fiel, tanto no Brasil como em Portugal, e Moçambique, no continente africano, tornaram seu nome conhecido e respeitado em todo país e imediatamente associado ao criacionismo e à ciência. Mas, acima de tudo, à aspiração de que seu trabalho glorifique o Deus trino, revelado nas Escrituras Sagradas, e equipe os cristãos para serem capazes de lidarem com as demandas que enfrentam em seu próprio espaço universitário e escolar.

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Esta é uma razão pela qual Adauto era particularmente admirado por jovens (e, numa menção pessoal, destaco que dois de meus filhos se matricularam numa faculdade federal de física por influência do professor Adauto, que era um amigo precioso de nossa família). Mais recentemente, teve oportunidade de falar na Rede Record, inclusive.

Assim, Adauto foi um crítico astuto do modelo evolucionista, frequentemente apontando as lacunas e os desafios filosóficos que seus proponentes enfrentam. Adauto questionava: “como processos naturais desconhecidos poderiam produzir a complexidade imensa do DNA, um código genético que contém mais de três bilhões de letrinhas organizados de forma tão precisa e perfeita?”

Em seu livro premiado, Como tudo começou, ele desafiou a concepção dominante do Big Bang e ofereceu uma interpretação alternativa, que considera um design inteligente como a causa primária do universo. O livro não apenas desafia a narrativa científica predominante, mas também proporciona uma exploração detalhada  dos principais conceitos da física, astronomia, biologia, entre outras, trazendo à luz a perspectiva criacionista como uma alternativa muito mais viável e lógica para explicar a origem do universo e a origem da vida.

Se servindo da lógica como um importante fundamento para questionarmos a ideia de um universo surgido de forma espontânea, já no prefácio de seu livro Adauto se serve da analogia do relojoeiro para ilustrar o conceito de design inteligente. Ele argumentou que, assim como a existência de um relógio sugere a presença de um relojoeiro, a complexidade do universo, e a precisão das leis naturais, implicam um criador inteligente. Essa argumentação, longe de ser simplista, era respaldada por um raciocínio lógico robusto que desafiava seus interlocutores a reconsiderar as premissas de suas próprias crenças científicas.

Adauto colocava-se ao lado de figuras históricas da ciência, como Isaac Newton e James Clerk Maxwell, que não viam conflito entre sua fé e suas investigações científicas. Assim como esses pioneiros, Adauto via sua fé como uma força motivadora para seu rigor acadêmico, e não como um obstáculo. Citando Albert Einstein, que disse que “a coisa mais incompreensível sobre o universo é que ele é compreensível”, Adauto reforça a ideia de que a capacidade de compreender o universo implica uma ordem subjacente e intencional, algo que transcende a mera casualidade. “Não!”, ele diria – o universo não é fruto de eventos aleatórios desconhecidos. A vida não pode ter surgido da matéria inorgânica. A organização complexa do código genético de um inseto, de uma flor, ou do ser humano não pode ser resultado de eventos caóticos desconhecidos. É preciso que toda exuberância da vida tenha sido criada por um ser maior e perfeito. Isto explica melhor a existência de tudo que existe, e Adauto foi um grande entusiasta desta explicação.

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Adauto deixou um legado profundo através de suas obras, palestras e o exemplo de sua vida, mostrando que é possível uma vida dedicada tanto à fé quanto à investigação científica

Sua morte prematura aos 65 anos foi uma grande perda para a igreja cristã evangélica, para a comunidade científica e para a comunidade teológica, Mas as sementes que plantou continuam a germinar em debates, pesquisas e nos corações e mentes daqueles que buscam entender o intrincado balé entre ciência e espiritualidade.

Adauto ainda fala por meio de suas obras, de seu ensino precioso, de seu testemunho de fé e na vida de seus familiares e amigos. Sua partida é uma perda para nós, deste lado da existência. Ficamos mais pobres. Mas temos a alegria de saber que Adauto finalmente encontrou-se com o seu Criador, a quem ele tanto amou, serviu e proclamou. Estou seguro de que de tudo dito e escrito, seu maior desejo é que seus alunos e leitores experimentem esta mesma alegria e convicção de fé que sempre pautou sua vida.

“Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. (1 Coríntios 15, 20-26)