Em janeiro de 2022, participei de uma viagem para Israel, com um grupo de 33 brasileiros – uma viagem que já vinha programada havia quase dois anos. Junto com os pastores batistas Jonas Madureira e Luiz Sayão, guiamos o grupo durante dez dias por meio de reflexões e meditações nos lugares que visitamos em Israel. Para os cristãos, Israel é um país fascinante. Como O. Palmer Robertson escreveu, Deus “preparou [Israel como] a ponte de terra dos continentes, esse lugar onde ele pôde realizar a operação da redenção a favor de pecadores de todas as nações do mundo”. E “como um grande palco para o desenrolar do drama dos eventos críticos da redenção, essa terra serviu bem a Deus e ao homem. Ainda hoje presta um serviço relevante ao reino de Cristo. Se vista corretamente, pode reforçar, iluminar e dramatizar as verdades [...] da Bíblia. Pode inspirar um amor mais profundo à Palavra de Deus e aperfeiçoar o entendimento salvífico do plano eterno da redenção”. Assim, não importa quantas vezes se visite Israel – esta foi minha quarta visita ao país –, sempre haverá outras descobertas, novas reflexões sobre a fé e mais surpresas.
Jerusalém, a cidade do grande Rei
Tendo cumprido todos os protocolos de saúde, chegamos ao aeroporto de Tel Aviv no dia 19 de janeiro no início da madrugada. Tão logo passamos pelo controle de passaporte, todo o grupo fez novo teste de PCR no aeroporto. Logo depois, seguimos para o hotel onde ficamos hospedados em Jerusalém. Aguardamos no hotel durante o dia seguinte pelo resultado da testagem, que saiu à noite. Todos foram liberados para seguir viagem. Naquela primeira noite em Jerusalém, nos reunimos na sinagoga do hotel para as apresentações iniciais do grupo e orientações da viagem, quando tive a grande alegria de ler para o grupo trechos de meu livro novo, que será lançado em breve por Edições Vida Nova, sobre a relação entre Israel e a Igreja. Os trechos lidos tratam da importância do conceito de “terra” (eretz) no Antigo Testamento, e em como eles devem ser interpretados literalmente no Novo Testamento. Não se trata de interpretar Israel e a terra como tipos e sombras transcendidas pela igreja. Mas de compreender que Israel e a terra são microcosmos do que Deus fará a todas as nações no Dia do Senhor. Nesse sentido, em termos bíblicos, a terra de Israel pertence aos judeus por direito divino.
Não importa quantas vezes se visite Israel – esta foi minha quarta visita ao país –, sempre haverá outras descobertas, novas reflexões sobre a fé e mais surpresas
No primeiro dia do roteiro, visitamos o Cenáculo, o Bairro Judaico, o Cardo Romano-Bizantino, o muro da época do primeiro Templo, o Muro das Lamentações e o Davidson Center. Também visitamos a Igreja de Cristo, uma igreja anglicana localizada dentro da Cidade Velha de Jerusalém. Consagrada pelo bispo Samuel Gobat em 21 de janeiro de 1849, é a primeira igreja protestante do Oriente Médio. Sua congregação é composta principalmente de cristãos judeus de língua inglesa, com festas cristãs e judaicas sendo igualmente celebradas. Esta igreja foi fundada por sionistas evangélicos britânicos, com o firme intento de apoiar a volta dos judeus à sua terra ancestral, assim como ajudá-los e apresentar a eles a mensagem de Jesus como o Messias. Desde o início, foi apoiada pela Sociedade de Londres para a Promoção do Cristianismo entre os Judeus, agora conhecida como Ministério da Igreja entre o Povo Judeu. Tive a grande honra de poder conduzir o grupo numa reflexão sobre como o amor pelo povo judeu une denominações cristãs diferentes, e da expectativa que os cristãos devem ter de que Deus irá restaurar seu povo judeu ao redor do Messias Jesus: “Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem este mistério, para que não fiquem pensando que são sábios: veio um endurecimento em parte a Israel, até que tenha entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo. [...] Quanto ao evangelho, eles são inimigos por causa de vocês; mas quanto à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11,25-26, 28-29). Anexo a esta igreja, há um pequeno museu onde são preservadas importantes e valiosas maquetes de Jerusalém e do segundo Templo, construídas por Conrad Schick, em meados do século 19.
Nos dois dias seguintes, visitamos o Monte das Oliveiras, o Getsêmani e a Igreja de Todas as Nações, também conhecida como Igreja da Agonia. Ainda tivemos uma aula de arqueologia no Parque Nacional Emek Tzurim. Apesar de sua importância histórica, nenhum arqueólogo conseguiu realizar uma escavação no Monte do Templo. Mas, em novembro de 1999, cerca de 9 mil toneladas de solo foram removidas do Monte do Templo pelos muçulmanos, sem nenhum cuidado. Tratado pelos árabes como lixo, todo o solo foi obtido pelos israelenses e transferido para Emek Tzurim. Além do trabalho arqueológico, o parque tem caráter educativo, atraindo centenas de milhares de turistas que podem fazer trabalhos arqueológicos supervisionados por funcionários do parque. Fomos ao tanque de Betesda, e tivemos uma experiência inusitada: a Igreja de Santa Ana, que supostamente marca o local do nascimento de Maria e onde o tanque está localizado, estava fechada para visitação. Mas o padre, ao saber que um grupo de brasileiros queria visitar o local, permitiu nossa entrada. A igreja – a mais bem preservada das construídas pelos cruzados na cidade – tem uma das melhores acústicas do mundo, e um dos membros do grupo cantou para todos Ao Deus de Abraão louvai: “Ao Deus de Abraão louvai, do vasto céu Senhor, / eterno e poderoso Pai e Deus de amor. / Imenso é seu poder, que terra e céu criou. / Louvor minha alma vai render ao grande Eu Sou”. Bem próxima à igreja fica a Porta dos Leões, por onde passaram as tropas da 55.ª Brigada da Reserva de Paraquedistas, das Forças de Defesa de Israel, em junho de 1967, quando finalmente retomaram a cidade de Jerusalém depois de quase 1,8 mil anos de exílio.
Por fim, visitamos o Túmulo do Jardim, que fica próximo ao Portão de Damasco. Esta tumba, escavada na rocha e que foi descoberta em 1867, é considerada por alguns protestantes como o local do sepultamento e ressurreição de Jesus. A organização evangélica que mantém o Túmulo do Jardim não afirma que este é o túmulo autêntico de Jesus, ao mesmo tempo em que aponta as semelhanças com o local descrito na Escritura Sagrada, e o fato de o Túmulo do Jardim preservar melhor sua aparência antiga do que o lugar mais tradicional, a Basílica do Santo Sepulcro, construída em 355. O Jardim da Tumba, por sua quietude e beleza, é um espaço muito apropriado para refletir sobre a morte expiatória do Senhor Jesus por nossos pecados, seu sepultamento e ressurreição corporal – em cumprimento do Antigo Testamento. Aliás, em Jerusalém, por onde passávamos éramos celebrados, por sermos uma das primeiras caravanas de brasileiros a visitar Israel desde março de 2020. Por causa da pandemia, muitas lojas do comércio estavam fechadas, bem como a maioria dos museus. E mesmo os museus e pontos turísticos que reabriram suas portas ainda estavam com suas lojas fechadas.
No deserto
Visitamos Qasr el Yahud, no Rio Jordão, o provável local do batismo de Jesus. Também fomos ao sítio arqueológico de Qumran, onde foram descobertos em 1947 os Manuscritos do Mar Morto. E, por fim, visitamos as ruínas de Jericó, a “mais antiga cidade do mundo”, com mais de 8 mil anos de história. Infelizmente, desde que a área passou à administração árabe cessaram os trabalhos arqueológicos no local. Ao chegarmos a Jericó fomos saudados pelos árabes, por sermos o primeiro grupo de brasileiros a visitar o sítio histórico desde o começo da pandemia.
Na Galileia
Após estas visitas fomos a Yardenit, no Rio Jordão, o único lugar liberado para batismos cristãos no rio. Também visitamos o lugar onde supostamente o Senhor Jesus pregou seu “sermão da montanha”, registrado nos Evangelhos de Mateus e Lucas. Na Igreja das Beatitudes, uma freira recitou a Oração do Senhor, o Pai Nosso, em aramaico.
Passeamos de barco pelo Mar da Galileia e visitamos o Museu Ginossar, que abriga um barco de 2 mil anos retirado do fundo do Mar da Galileia. Também visitamos Magdala, provável local de nascimento de Maria Madalena. Escavações realizadas entre 2009 e 2013 descobriram uma impressionante sinagoga. E nesta sinagoga foi encontrada uma pedra esculpida representando a Menorá, o candelabro de sete braços que estava localizado no Segundo Templo, tornando-se a representação mais antiga e que parece ter sido feita por uma pessoa que viu a Menorá no Templo. Em 2021, outra sinagoga foi encontrada na localidade. Como chegamos tarde, a igreja católica já estava fechada. Mas, mesmo assim, o frei Eamon Kelly abriu a bonita igreja católica para visitarmos, explicando vários dos detalhes da arquitetura do templo. Em certo momento, havia um clérigo reformado, um clérigo batista, um clérigo católico e um leigo greco-ortodoxo conversando animadamente sobre fé, história e arqueologia. Penso que isso agradaria a C.S. Lewis, com sua ênfase no “cristianismo puro e simples”, isto é, “a fé comum a praticamente todos os cristãos em todos os tempos”. Como ele escreveu:
“Em primeiro lugar, as questões que dividem os cristãos entre si quase sempre envolvem pontos da alta teologia ou mesmo de história eclesiástica, que devem ser tratados apenas pelos verdadeiros conhecedores da matéria. [...] Em segundo lugar, penso que se deve admitir que a discussão dos pontos disputados não contribui em nada para trazer para o âmbito cristão uma pessoa de fora. Enquanto nos ocuparmos em escrever e discutir sobre estes temas, estaremos fazendo mais para impedir essa pessoa de ingressar em qualquer comunidade cristã do que para trazê-la para a comunidade à qual pertencemos. Nossas divisões só devem ser discutidas na presença dos que já chegaram a acreditar que existe um único Deus e que Jesus Cristo é seu único Filho”.
Visitamos ainda o chamado “portão de Abraão”, situado no Parque Nacional de Tel Dan, no norte de Israel. Estes são os arcos mais antigos encontrados em Israel, construídos em cerca de 1750 a.C., durante o período canaanita. Provavelmente, esta é a cidade mencionada na história de Abraão e Ló (Gênesis 14,14). Também visitamos a Vila de Nazaré, um museu ao ar livre na cidade de Nazaré, que reconstrói e reencena a vida numa aldeia na Galileia no tempo de Jesus. Há casas, curral de ovelhas, campos, sinagoga, lagares de vinho e azeite, olaria, todos construídos para se assemelharem ao que teria sido uma aldeia judaica da região no século 1.º d.C. Judeus e árabes cristãos se vestem com trajes da época e mostram aos visitantes como os trabalhos agrícola, doméstico e artesanal eram realizados. O grupo ainda foi a Corazim, às ruínas de Megido, a Haifa e a Cesareia Marítima.
Aqueles que amam esses lugares, que testemunham da revelação do Deus de Israel na Escritura, e de seu amor, eleição e aliança para com seu único povo, devem ser gratos ao Estado de Israel por fomentar trabalhos arqueológicos nesses sítios, e por preservar e guardar todos esses lugares, estimulando o turismo, a reflexão e o estudo num ambiente de segurança e conforto.
Desafios na jornada
Mas, durante o passeio em Nazaré, eu e um amigo, Anderson Nazário, fomos diagnosticados com Covid-19 no teste de PCR que havíamos feito na véspera – faltando 48 horas para voltarmos para casa. Com isso, fomos imediatamente separados do grupo e conduzidos para um hotel em Jerusalém, reservado exclusivamente para turistas contaminados com Covid-19. O grupo retornou ao Brasil em 26 de janeiro, mas nós dois ficamos sete dias no hotel de quarentena, com todos os custos pagos pelo governo de Israel. A despeito da solidão, a comida era ótima, tínhamos internet e fomos testados. E da janela do hotel vimos cair neve em Jerusalém, um fenômeno raro.
Preciso registrar minha gratidão a Israel Sayão e Rachel Sayão, os dois irmãos que dirigem a Byblos, assim como ao presidente da Sar-El Tours, a Samuel Smadja, e à gerente de operações, Virginia Syvan. Em todo o tempo em que estivemos em quarentena em Israel, todos eles nos deram total apoio, sempre disponíveis para nos atender. Além da saborosa e abundante comida que nos foi oferecida no hotel do governo em Jerusalém, ganhamos uma deliciosa e farta cesta de frutas e pães da Sar-El. Também estendo minha gratidão a Moshe Garcia e a sua esposa, Yehudit. Moshe nos acompanhou como guia durante a viagem e depois foi muito mais do que um guia. Além de nos oferecer um conhecimento incrivelmente detalhado da região, comunicado de forma passional, ele e sua esposa foram nossos cuidadores, nos recebendo em sua casa enquanto permanecíamos em Israel após a liberação do isolamento.
Depois de liberados, visitamos mais lugares em Jerusalém: a Via Dolorosa, a Basílica do Santo Sepulcro, a Torre de Davi – onde se encontram as ruínas do Palácio de Herodes, onde o Messias Jesus foi julgado –, o Museu do Holocausto e o Museu de Israel. Fomos também ao Herodiom, construído por Herodes, o Grande. Este foi o palácio onde ele foi enterrado, e que posteriormente foi usado por guerrilheiros judeus como refúgio nas duas guerras judaico-romanas. Fomos ao Vale de Elah, onde Davi lutou e venceu o gigante filisteu Golias. Também visitamos Yad La-Shiryon, onde está o famoso Sítio Memorial e Museu do Corpo de Carros Blindados das Forças de Defesa de Israel. O museu é impressionante, com 110 blindados e veículos em perfeito estado de conservação, representando as vitoriosas guerras travadas por Israel em 1948, 1956, 1967, 1973, 1982 e 2006 contra inimigos islâmicos muito mais numerosos, bem equipados e que ainda hoje buscam o extermínio do país. Nesse museu, há um memorial que honra todos os militares do Corpo de Carros Blindados que morreram em combate nestas guerras.
Em certo momento, havia um clérigo reformado, um clérigo batista, um clérigo católico e um leigo greco-ortodoxo conversando animadamente sobre fé, história e arqueologia. Penso que isso agradaria a C.S. Lewis, com sua ênfase no “cristianismo puro e simples”
Terminei esta viagem inesquecível por Israel orando na Igreja de Santo André, também conhecida como Igreja Memorial dos Escoceses, um templo presbiteriano construído em Jerusalém, em 1927, para homenagear os militares escoceses que morreram para expulsar os turcos otomanos da região, em 1917-1918, durante a campanha no Sinai e na Palestina, na Primeira Guerra Mundial. Os soldados britânicos, sob o comando do general Sir Edmund Allenby, conquistaram Jerusalém em dezembro de 1917 – simultaneamente, a liderança militar turca exigia o extermínio dos cristãos e judeus na cidade. Mas tal não ocorreu pela velocidade do avanço dos vitoriosos britânicos, que entraram a pé em Jerusalém, sem bandeiras desfraldadas, pelo portão de Jaffa. Na ocasião, Allenby teve ao seu lado Lawrence da Arábia. Na batalha do Megido, em setembro de 1918, as forças britânicas massacraram em combate o exército turco otomano, libertando toda a região.
Retornamos ao Brasil em 3 de fevereiro.
O “quinto evangelho”
A paisagem e a geografia são importantes em toda a Escritura. Por exemplo, no Evangelho de Mateus, o tema do monte é importante na estrutura e no enredo, funcionando como o motivo literário e símbolo teológico do evangelho. O monte é um cenário teológico para o ministério de Jesus e, portanto, é importante, servindo como um dos dispositivos literários pelos quais Mateus estruturou sua narrativa: os montes da tentação (Mt 4,8); do ensino (Mt 4,23-8.1); da alimentação (Mt 15,21-39); da transfiguração (Mt 17,1-9); das Oliveiras (Mt 21,1.24-25); e do comissionamento (Mt 28,16-20), sendo este o ponto culminante dos três temas teológicos de Mateus, a saber, a messianidade de Jesus, o lugar do povo de Deus e o desdobramento da história da salvação.
Jerônimo, o tradutor da Vulgata que morou em Belém e viajou pela região, escreveu: “Entendemos as Escrituras mais claramente quando vemos a Judeia com nossos próprios olhos e descobrimos o que ainda resta de cidades antigas”. Escrevendo a Marcela, em nome de suas amigas Paula e Eustóquia, Jerônimo a instou a se juntar a eles na Palestina:
“Nunca chegará o dia em que juntos entraremos na caverna do Salvador e juntos choraremos no sepulcro do Senhor? Então tocaremos com nossos lábios a madeira da cruz, e nos levantaremos em oração e deliberaremos no Monte das Oliveiras com o Senhor que ascendeu. Veremos Lázaro sair amarrado com mortalhas, veremos as águas do Jordão purificadas para o lavar do Senhor. [...] Se você vier, iremos ver Nazaré, como seu nome indica, a flor da Galileia. Não muito longe Caná será visível, onde a água foi transformada em vinho. Faremos o nosso caminho até o Tabor e veremos ali os tabernáculos que o Salvador compartilha, não como Pedro uma vez desejou, com Moisés e Elias, mas com o Pai e com o Espírito Santo. Dali chegaremos ao Mar de Genesaré, e quando lá, veremos os lugares onde os 5 mil se encheram com cinco pães e os 4 mil com sete. A cidade de Naim encontrará nossos olhos, no portão do qual o filho da viúva foi ressuscitado. [...] Nossos olhos estarão voltados também para Cafarnaum, o cenário de tantos sinais de nosso Senhor – sim, e também para toda a Galileia. E quando, acompanhados por Cristo, tivermos feito o nosso caminho de volta para nossa caverna através de Siló e Betel, e aqueles outros lugares onde as igrejas são estabelecidas como estandartes para comemorar as vitórias do Senhor, então cantaremos com entusiasmo, devemos chorar copiosamente, devemos orar incessantemente. Feridos pela seta do Salvador, diremos uns aos outros: ‘Encontrei Aquele a quem ama a minha alma; Eu vou segurá-lo e não vou deixá-lo ir’”.
Cirilo de Jerusalém foi bispo em Jerusalém, de forma intermitente, entre 350 e 386, pastoreando a Basílica do Santo Sepulcro, construída sobre o sepulcro de Jesus pelo imperador Constantino. Ele pregou uma série de sermões catequéticos por volta de 350, a apenas alguns passos da tumba, e lá declarou a diferença que fazia estar na terra de Israel. Usando a topografia da cidade, e apelando às faculdades visuais, ele afirmou que “existem muitas testemunhas da ressurreição do Salvador”, tais como “a rocha do sepulcro que o recebeu; [...] até mesmo a pedra que foi então removida, ela mesma testemunha a ressurreição [...]. Os anjos de Deus que estavam presentes testificaram da ressurreição do Unigênito: Pedro e João, e Tomé, e todos os demais apóstolos; alguns dos quais correram ao sepulcro e viram as vestes mortuárias com as quais ele estava envolto antes, deitado ali depois da ressurreição; [...] Mulheres também foram testemunhas, que seguraram seus pés e viram o poderoso terremoto, e o brilho do anjo que estava por perto [...]; o próprio local também, ainda pode ser visto – e esta casa da Santa Igreja, que devido ao amoroso afeto a Cristo do imperador Constantino, de bendita memória, foi construída e embelezada. [...] Até hoje está aí o Monte das Oliveiras, diante dos olhos dos fiéis, quase exibindo aquele que ascendeu em uma nuvem [...]. Pois do céu desceu a Belém, mas ao céu subiu do Monte das Oliveiras; no primeiro lugar iniciando seus conflitos entre os homens, mas no último, coroado depois deles. Você tem, portanto, muitas testemunhas; você tem este mesmo lugar da ressurreição; você também tem o local da ascensão”. Portanto, “nunca se deve cansar de ouvir falar de nosso Senhor coroado, especialmente neste santo Gólgota”. E ele conclui: “Outros apenas ouvem. Nós vemos e tocamos”. Assim, a terra de Israel, de acordo com Jerônimo, é o “quinto evangelho”, uma fonte viva de testemunho para a fé.
Desde a época de Cirilo e Jerônimo, peregrinos têm viajado a Israel para ler “o quinto evangelho”. Mas viajar para Israel deveria ser muito mais do que lembrar fatos, tirar fotos, aprender datas ou caminhar em meio a ruínas arqueológicas. A própria terra tem um caráter santo. Claro, é inteiramente possível perder de vista a presença de Deus na terra, estar muito cansado para percebê-la ou muito distraído para ouvi-la. Isso pode acontecer. Além disso, os eventos descritos nas Escrituras não foram escritos para satisfazer nossa curiosidade histórica, mas para guiar nossa formação espiritual, doutrinal e ética. As narrativas bíblicas nos convidam a ser participantes delas, não meros observadores. Quando a terra e o texto são integrados, é como se a Escritura ganhasse uma terceira dimensão. A Escritura sem a terra é um tanto quanto monocromática. Mas a terra sem a Escritura é apenas mais geografia; mais montanhas, cidades, rios e trilhas. Mas quando a Escritura e a terra são combinados e alinhados, encontramos o quinto evangelho – a terra de Abraão, Josué, Davi e Jesus, a terra que testemunha a salvação de Deus operando na história.
Leshaná Habaá BiYerushalaim – no próximo ano, em Jerusalém!
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