A inclusão digital móvel no Brasil se deu através dos celulares pré-pagos. Como o compromisso mensal do pós-pago pesava no orçamento apertado de muita gente, ter um aparelho que pudesse ser abastecido com créditos conforme a necessidade tornou-se uma alternativa acessível a milhões de brasileiros — ainda que o preço do minuto fosse exorbitante. Ligar para um número de operadora diferente da sua era proibitivo. Além de ser o país do pré-pago, nos tornamos o país do multichip! Lembram daqueles aparelhos xingling que suportavam 3 ou até 4 chips ao mesmo tempo?
No final dos anos 2000, os pré-pagos chegaram a quase 90% da base móvel total do país!
Contudo o cenário foi aos poucos mudando. O WhatsApp tornou desnecessários os múltiplos chips, já que possibilitou a livre conversa entre os usuários que relutavam em pagar caro por um único SMS. As operadoras reclamaram, boicotaram. Algumas tentaram correr atrás, com pacote diário de SMS ilimitados. Mas o WhatsApp estava um passo a frente, permitindo fotos, áudio, vídeo e logo em seguida, ligações por voz. Não dava mais para lutar contra esse “monstro”. As ligações por voz e os múltiplos chips se tornaram desnecessários. Só aí as operadoras acordaram.
Atualmente a base pré-paga está encolhendo sua fatia no bolo. Muitos usuários de telefonia móvel amadureceram seu uso — hoje o smartphone é uma ferramenta de trabalho, não mais um luxo — e migraram para planos pós-pagos do tipo “controle”, que atualmente estão bem acessíveis. A Anatel também afrouxou nas tarifas de interconexão, barateando a ligação entre operadoras distintas. Por isso, recentemente a maior parte das telecoms as incluiu nos minutos das franquias. O WhatsApp foi o santo milagreiro nessa mudança.
Mas tal mudança no perfil do usuário comum ainda é discreta no universo total da telefonia móvel no Brasil. O grande responsável pelo aumento da base pós-paga é a conexão “M2M”, ou “machine to machine”. São os chips que fazem rastreamento remoto de veículos, que abastecem as maquininhas de cartão de débito e crédito, entre outros.
Estamos assistindo uma virada:
Segundo a consultoria Teleco, a participação do pós-pago no total de linhas móveis do Brasil cresceu de 19,5% em abril de 2015 para 33,4% em abril de 2016. Em Campinas (DDD 19) o pós já superou o pré e o mesmo pode ocorrer em Vitória (27) e São Paulo (11) nos próximos meses.
Em Curitiba, a base pós-paga já alcançou 41% do total de linhas móveis. A TIM lidera com 728 mil pós-pagos e 34,5% de marketshare. A Claro ficou com a segunda colocação graças à sua liderança em acessos M2M, que representam cerca de 60% dos seus celulares pós-pagos. No DDD 41, os acessos M2M representam cerca de 32,1% da base pós-paga total.
Na última sexta-feira, eu e Rodrigo Ghedin batemos um papo sobre o cenário atual da telefonia móvel, qual operadora escolher e quais progressos os consumidores alcançaram nos últimos anos. Ouça: