Com os recentes lançamentos de Apple e Samsung (respectivamente, iPhone X e Galaxy Note 8), chegamos a um novo patamar de preços para o segmento premium de smartphones. Se alcançar 4 dígitos (em dólar) para o consumidor americano soa chocante, imagine para nós, brasileiros, aceitar o fato que esses aparelhos poderão beirar os 5 mil reais.
No mercado norte-americano, o preço do iPhone X de menor capacidade de armazenamento, 64 GB será de U$ 999, enquanto o Galaxy Note 8 também de 64 GB custará U$ 929. A Samsung é mais “boazinha” e está oferecendo de brinde um óculos Gear 360 ou um cartão de memória mais carregador sem fio, à escolha do freguês. Mas note que, por enquanto, não é possível ter um Note 8 sem pagar esse preço cheio, e os brindes acabam soando como uma justificativa meio esfarrapada para o preço alto.
Afinal, o que houve de tão inovador com a tecnologia móvel para justificar a mudança nos preços?
Apesar dos componentes de informática terem barateado bastante na última década, o mesmo não tem acontecido com as peças do segmento mobile. As telas, componente mais importante, estão cada vez mais sofisticadas. Mesmo com a produção em escala, uma coisa é a tela de um aparelho de 50 dólares — geralmente de tecnologia já obsoleta — e outra é uma tela que incorpore as últimas tendências da indústria: grandes, de altíssima resolução, mais econômicas, sem bordas e às vezes até encurvadas. Ainda assim, não justifica a recente alta de preço: afinal, a cada ano novas gerações de dispositivos agregam novas funcionalidades mantendo o preço da geração anterior e barateando os antigos. Tem sido assim há uma década.
Se a dinâmica do mercado tecnológico não mudou, o mesmo não podemos dizer do consumidor. Nos últimos 10 anos, o papel dos smartphones na vida das pessoas se transformou radicalmente. Hoje, ele não é apenas um dispositivo de comunicação. A percepção de valor de um produto é muito diferente do mero custo de produção, pois envolve fatores psicológicos e sociais. Marca, modelo e até cor fazem parte de um complexo sistema cognitivo que trazem a sensação de aceitação, o senso de pertencimento. Exatamente como roupas, relógios, bolsas e automóveis.
Em um país extremamente desigual como o nosso, pegue tudo isso, jogue num balaio acrescentando o famigerado “custo Brasil” e o resultado será os surreais aparelhos de 4 ou 5 mil reais. Que muita gente estará apta a comprar logo no primeiro dia, nem que seja preciso entrar numa fila. Aliás, estar nessa fila (e postá-la nas redes sociais) também faz parte de todo o processo psicossocial envolvido na decisão de compra.
Há alguns anos fui criticada quando comentei que a Apple estava passando por essa transição de “marca geek” para “marca de luxo”. Sim, os fãs de tecnologia sempre estarão lá nas filas, ávidos por lançamentos. Mas eles não são mais a maioria. Hoje, o fã médio da marca não se importa com especificações técnicas. Ele quer ser visto com o aparelho. A Samsung almeja chegar nesse mesmo patamar com seus modelos premium, mas ainda está bem distante.
Quem liga para processamento? A maior feature de um smartphone de 4 mil reais é custar 4 mil reais. Se o próximo custar 5 mil reais, melhor, pois haverá ainda menos pessoas podendo comprar, aumentando o caráter de exclusividade. Por isso é importante que ele seja de uma cor que não existe nas gerações anteriores, que fique sempre em cima da mesa nos jantares e bem visível naquela selfie marota na frente do espelho.
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