Fake news, robôs, privacidade, censura. Parece que ultimente todas as conversas circundam apenas por esses temas. Por que as fake news despertaram de repente tanta atenção? Como resolver o problema?
O termo é recente, mas as notícias falsas e a internet coexistem desde os primórdios, ainda que com outros nomes, como “boatos” ou “golpes virtuais” — neste caso, quando um agente tenta obter vantagens. Antes das redes sociais eram por email — atire o primeiro mouse aquele que nunca recebeu correntes sobre um príncipe nigeriano ou de textos atribuídos a Caio Fernando Abreu ou Arnaldo Jabor.
Boatos nas redes sempre foram tratados como algo menor, mesmo quando muitos casos levaram a consequências fatais. O caso mais notório, aqui no Brasil, foi o da jovem do Guarujá que foi linchada após a divulgação no Facebook de um retrato falado e a acusação de prática de magia negra com crianças. Não houve comoção generalizada, todavia, os veículos de comunicação passaram a levar a questão a sério após as eleições que levaram Donald Trump à presidência. Sua vitória só teria sido possível graças à publicações de notícias falsas em redes sociais, alavancadas com a ajuda de russos — uma alegação controversa. Por ser uma figura odiada pela imprensa em geral, as fake news se tornaram uma grande preocupação e passaram a ser vistas como vilãs da democracia. O fato é: as redes sociais já participam das discussões políticas bem antes das referidas eleições. Os boatos, mensagens apócrifas e mentiras em geral afligem atores de todos os matizes ideológicos.
Se antes eram tratadas como inofensivas e seus disseminadores como ingênuos, as fake news agora trazem implicações jurídicas. A desembargadora carioca que fez um post indignado após acreditar que a vereadora assassinada Marielle Santos foi esposa de traficante está respondendo legalmente por reforçar o boato. Assim, todos nós devemos estar mais atentos com o conteúdo que nos chega pelas redes sociais.
A primeira proposta que surgiu para o combate às fake news foram as agências de fact-checking. Um grupo de jornalistas faria uma curadoria das principais notícias controversas que criculam nas redes e as desmentiriam nos veículos oficiais. Pessoalmente, considero esta iniciativa problemática. Primeiro porque jornalistas são um grupo pequeno e posseum viés ideológico. É impossível acompanhar pessoalmente todos os boatos que circulam e, por mais que tentem ser neutros, o grupo sempre tenderá a checar as notícias e boatos que mais incomodam sua visão de mundo. Além disso, as notícias só são checadas depois que já fizeram o estrago, passando por um bocado de gente.
A proposta mais recente é o uso de algoritmos. Só mesmo softwares tem condições de acompanhar as notícias falsas que circulam como rastilho de pólvora nas redes. Por serem softwares, podem não se deixar influenciar por visões ideológicas e, agindo instantaneamente, barrariam a circulação de informações falsas logo no começo. Entretanto, nem tudo são flores. As tecnologias de aprendizado de máquina exigem treino comandado sempre por um humano, e essa inteligência artificial pode seguir a visão de mundo de quem a treinou. E há ainda um debate sobre o que fazer após a detecção do conteúdo falso. Sinalizar? Censurar? Não é tão simples como parece.
Eu particularmente gosto da iniciativa da FakeNewsAutentica, que mistura algoritmos com humanos. Além de um bot que rastrearia notícias marcadas pela comunidade com a hashtag do projeto, uma curadoria rotativa de profissionais complementaria o trabalho dos usuários.
No último sábado participei de um debate na CBN Curitiba a respeito do tema. Falamos dos aspectos jornalísticos, legais, das preocupações dos usuários. O autor do FakeNewsAutentica também fez uma participação, elucidando a dinâmica de sua proposta. Ouça a íntegra do programa:
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