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A indústria de Venture Capital tem passado por um forte ajuste, o volume global investido pelo setor no primeiro trimestre de 2023 reduziu 53% se comparado com o primeiro trimestre de 2022, de acordo com Crunchbase. A queda acontece na esteira da quebra do Silicon Valley Bank, que balançou a confiança dos investidores de risco, e também em meio à expectativa de desaceleração econômica, em que 63% dos economistas chefes esperam uma recessão global em 2023, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial, puxada principalmente pela Europa, Estados Unidos e América Latina.
Um dos aspectos-chave desta crise no investimento de risco é o fenômeno dos valores inflados das empresas de capital fechado. Na busca por altos retornos, os venture capitalists investiram quantidades substanciais em startups com base em um valuation que não se alinhavam ao verdadeiro valor ou potencial dessas empresas. Como resultado, quando o mercado sofre uma correção ou desaceleração, essas startups supervalorizadas lutam para atender às expectativas dos investidores, levando a dificuldades financeiras, rodadas com valores menores aos captados anteriormente e possível fechamento de operações.
Outro fator que contribui para a crise do capital de risco é a falta de diversidade e inclusão na indústria. Historicamente, o Venture Capital tem sido dominado por um grupo homogêneo de investidores, resultando em decisões de financiamento enviesadas. Isso levou a oportunidades limitadas para fundadores sub-representados, incluindo mulheres, pessoas negras e empreendedores de comunidades marginalizadas. A falta de diversidade entre investidores perpetua um ciclo de desigualdade e também impacta negativamente a geração de inovação tecnológica para todos. O reconhecimento dessa disparidade desencadeou um movimento para promover mais diversidade na indústria, mas o progresso tem sido lento.
O cenário de crise tem levado os capitalistas de risco a reavaliar suas estratégias de investimento, priorizando o crescimento sustentável dos modelos de negócios. A cautela aumentou nas decisões de portfólio, concentrando-se em empresas com fundamentos fortes e maiores chances de atingir o equilíbrio financeiro no curto e médio prazo. A recente crise do capital de risco serve como um alerta para a indústria promover um ecossistema mais equilibrado e inclusivo que possa apoiar de forma sustentável a inovação e o empreendedorismo.
Como consequência, os investidores foram atraídos para setores mais resilientes, como saúde e educação, e setores emergentes como energia verde e tecnologia para resiliência climática. Esse movimento também representa uma janela para o investimento de impacto social e ambiental, pois pode ser exatamente a oportunidade de repensar a composição do portfólio de investimento para atender necessidades urgentes da base da pirâmide social ao mesmo tempo em que contribuem fortemente para a retomada do crescimento econômico. De quebra, a diversificação por meio do investimento de impacto pode trazer maior retorno aos investidores.
Um estudo de 2020 da Global Impact Investing Network (GIIN) descobriu que 88% dos investidores de impacto relatou retornos financeiros que atenderam ou excederam suas expectativas. Nesse novo contexto, o investimento de impacto pode deixar de ser visto como uma abordagem de nicho e se tornar um importante impulsionador do retorno financeiro de longo prazo, juntamente com crescimento econômico e progresso social.
*Itali Collini, economista, Investidora Anjo e diretora da Potencia Ventures.