Em 14 anos no mercado de trabalho, fui testemunha da mudança de gerações. Em 2006, durante meu primeiro emprego, o modelo de gestão era muito próximo ao que meus pais tiveram na década de 1980. Hoje, as demandas dos jovens profissionais já estão obrigando as empresas a se adaptarem, mudando prioridades e comportamentos.
Em um passado não tão distante, não havia muitos formatos alternativos para ganhar dinheiro. Quem era funcionário, por mais qualificado que fosse, deveria acatar todas as ordens, ainda que não fossem coerentes com seu ideal pessoal.
O cenário agora é bem diferente. Os jovens profissionais desejam que seus empregos lhes tragam muito mais do que dinheiro. Desejam sentir-se realizados e ter suas prioridades pessoais alinhadas com as demandas profissionais. Empoderados, querem ter espaço para expressar sua opinião e serem ouvidos.
Vendo essa mudança acontecer e novos conflitos emergirem dentro dos times, as empresas passaram a se adaptar para não estariam correndo o risco de perder talentos.
Muitas adotaram o formato de gestão horizontal, comum em startups. Esse modelo acaba com a relação de poder baseada apenas na hierarquia, da mais autonomia para cada indivíduo e privilegia decisões em conjunto. O resultado tende a ser um time mais engajado, que se sente parte do negócio. Além disso, permite maior divisão de demandas por vários profissionais, que, somados, conseguem entregar mais resultados.
A gestão horizontal possibilita que os líderes sejam mais acessíveis aos colaboradores da empresa e não apenas aquela figura que dá ordens. Isso cria um permanente canal aberto que é o sinal de que estamos no caminho certo. O psiquiatra Robert Waldinger, que dirigiu um estudo de 75 anos sobre desenvolvimento adulto na Universidade de Harvard, afirma que pessoas que criam conexões são mais felizes.
Porém, muitas empresas esbarram em dificuldades ao implantar esse modelo e a principal delas é estabelecer limites. Isso porque autonomia pode ser simples de explicar, mas na prática é um desafio. Nessa gestão, há mais flexibilidade na hierarquia e na tomada de decisões, mas continua sendo necessário cumprir prazos, realizar as entregas previstas e ouvir quem tem mais experiência. Quanto mais autonomia, maior é a responsabilidade.
Para os líderes, estabelecer os limites pode ser um trabalho desgastante, mas é preciso seguir em frente. Gosto de ressaltar que os millennials, apesar de suas novas demandas, cresceram com um modelo educacional com rígida hierarquia.
Assim, transitar por um mercado que oferece autonomia e liberdade pode ser um aprendizado, tanto para os líderes quanto para os profissionais mais jovens. A boa notícia é que as gerações mais novas deverão ter menos dificuldade.
*Henrique Cantagesso é diretor de operações da fintech Bcredi.
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