A habilidade de inovar e pensar de forma criativa pode ser desenvolvida por qualquer um, e um líder coloca a empresa um passo à frente quando reconhece e favorece este processo de inovação.
O CESAR, centro de inovação do Recife, impulsiona o intraempreendedorismo nas organizações e potencializa suas estratégias digitais, além de implementar e executar estratégias de Corporate Venture Building (CVB)
Falar sobre inovação parece ter deixado de ser um desafio nos dias de hoje. Há uma série de publicações, entrevistas e estudos de caso sobre o tema que era de se imaginar que houvesse um domínio sobre seu processo.
Hoje, você pode ter aulas sobre inovação. Eu mesma sou parte disso. Há uns anos fiz um mestrado em Gestão e Inovação Organizacional. Olha aí… mestrado em Inovação. E o que isso significa para mim? Ao meu ver, a grande experiência que temos adquirido no assunto vem do "olhar para trás" para tentar traçar um caminho de saber como "chegar lá" antes das outras organizações.
Estudamos inovação e criamos seus processos por meio de estudos de caso de outras organizações que passaram por momentos transformacionais e desafiadores nos quais inovar - ou não inovar em alguns casos - foi a chave para o sucesso.
Mesmo com uma maior clareza sobre processos que levam uma empresa a ter sucesso com suas inovações, ainda parecemos errar muito o alvo. De acordo com uma publicação da Harvard Business School, 95% de todos os novos produtos lançados anualmente falham. E por que eles falham? Não vamos ter uma resposta exata para esta pergunta, mas podemos nos questionar sobre a forma como esta inovação vem sendo aplicada nas organizações e como este processo tem um impacto no final.
Até alguns anos atrás, a estratégia de uma empresa era o que ditava o ritmo dos negócios. Era como se já houvesse um futuro bem delineado para a companhia, bastava seguir os processos já estabelecidos. Se os gestores fizessem o que era esperado deles, o sucesso chegaria. Hoje, o mercado traz muito mais incerteza e complexidade do que em outros momentos. Planejar para o próximo trimestre já é um desafio. As organizações estão estruturadas para resultado hoje. Mas, e quem pensa no resultado do amanhã?
Lideranças executivas tendem a ter um pensamento voltado para negócios: tomam decisões rapidamente, separam o certo do errado e buscam precedentes para tomar uma decisão. O foco é remover: tirar do caminho os riscos, os erros, as falhas e as incertezas. Mas vivemos uma realidade de ambiguidade que não consegue ser simplesmente removida.
O desafio da liderança é mais complexo quando há instabilidade e incerteza na direção. Alguns desafios são tão complexos que precisamos parar, refletir e abordar a situação de forma não convencional. E usando uma abordagem de inovação, que vai abraçar a ambiguidade e vê-la como um mar de oportunidades.
Não é de hoje que sabemos que os grandes catalisadores deste processo são as pessoas e a cultura de uma organização (McKinsey, 2008). Mas, para usufruir destes catalisadores, as organizações precisam desenvolver e promover uma cultura de liderança criativa: um clima que promova e reconheça o processo criativo e inovador. Este pensamento inovador soma-se ao pensamento tradicional de negócios, permitindo que os líderes tragam uma nova energia para seu papel.
Não estou falando sobre descartarmos o pensamento de negócios. Falo sobre reconhecermos a existência de ambos e buscarmos um equilíbrio entre eles. Os líderes que incentivam inovadores corporativos, ou intraempreendedores, são aqueles que desenvolvem a habilidade de navegar entre diferentes abordagens. Inovação demanda uma liderança inovativa, apoio da alta gestão organizacional e uma cultura que valorize e estimule a criatividade. Um líder consegue colocar sua organização um passo à frente quando reconhece que a inovação é um processo e habilita sua equipe com ferramentas e recursos para explorar suas ideias inovadoras.
Mas, e onde estão os inovadores da minha organização? Um dos mitos da inovação é acreditar que esta é uma competência rara e que precisa ser feita por pessoas de fora da organização. Quando, na verdade, a habilidade de inovar e pensar de forma criativa pode ser desenvolvida por qualquer um.
O CEO da Consultoria Outthinker, Kaihan Krippendorff, deu uma entrevista na qual falou sobre o mito do herói inovador, mostrando o resultado de uma pesquisa feita em parceria com professores de Wharton, na qual identificaram que, das 30 inovações mais transformadoras das últimas décadas, 70% vieram de funcionários das empresas. Pessoas como você e como eu. Estes inovadores organizacionais têm algumas características semelhantes aos empreendedores: têm atitudes autônomas, consciência de mercado, pensamentos inovadores, mas não são muito propensos ao risco e gostam de políticas organizacionais.
Estas pessoas querem inovar, mas não sabem o que a empresa precisa com clareza. Geralmente, têm pouca visão da estratégia. Precisamos lembrar que ideias surgem mais nos corredores do que nas salas de conselho. Uma organização que deseja ganhar e manter sua vantagem competitiva precisa criar um ambiente no qual os intraempreendedores sintam-se empoderados e seguros para arriscar.
E como fazemos isso? Também não parece ser muito novidade. Há um artigo no The Wall Street Journal (2007) cujo título, em tradução livre, é: Juntos nós inovamos. O gênio solitário é um mito. Se desejamos ter inovação dentro da nossa organização, devemos começar quebrando barreiras e facilitando a criação de redes dentro de nossas empresas. Os colaboradores precisam conversar com seus pares, trocar ideias e colaborar. Esta falta de comunicação e os silos que as áreas tendem a se tornar são grandes responsáveis por travar a inovação.
Como já falamos anteriormente, temos estudado e discutido muito os casos de sucesso e insucesso de outras empresas e temos algumas soluções que podemos aprender com eles: inovação não se ordena. Fomenta-se. Ela deve ocorrer de forma descentralizada, porém coordenada.
Estimule pequenos ganhos para que os grandes venham em sequência, estimule a diversidade nos processos de inovação. Promova um clima emocional seguro, com respeito e com tomada de decisão compartilhada. Abrace a experimentação. Dê autonomia e espaço para que ideias sejam geradas (sem conflitar com modelo de negócios atual). E comece por seus líderes.
Desenvolva uma liderança que seja humilde, tenha autoconhecimento e que lidere por perguntas através de respostas, prezando pelo foco e adaptabilidade. No mais, como disse Bill Gates: "Nós sempre superestimamos a mudança que ocorrerá nos próximos dois anos e subestimamos a mudança que ocorrerá nos próximos dez anos".
*Juliana Queiroga é Head de Inovação Corporativa do CESAR
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