Os consumidores só alteram seus hábitos e a forma como pagam por alguma mercadoria ou serviço quando enxergam claramente um valor nessa mudança. E não é à toa que estão ainda mais preocupados com saúde e bem-estar, priorizando itens como higiene e segurança. A pandemia da Covid-19 que se alastrou pelo país foi responsável, entre outras consequências, por uma redefinição de valores, principalmente na maneira como as pessoas consomem.
Um desses hábitos é a preferência pelo uso de meios digitais de pagamento, por aproximação, em troca ao manuseio do dinheiro em papel. A crise criou uma necessidade de adotar experiências mais limpas e acelerou uma tendência que já era visível nos últimos anos. Transações via e-commerce ou apps e tecnologias que permitem o pagamento por aproximação têm se mostrado como uma alternativa interessante para as pessoas, como forma de tentar evitar a propagação do vírus e de auxiliar na manutenção do distanciamento social.
Divulgado em abril deste ano, um estudo da consultoria Kantar em parceria com a Visa mostrou que 41% dos consumidores no mundo estão usando menos dinheiro e mais cartões de débito, crédito e pagamentos móveis durante a pandemia. Nos EUA, uma pesquisa da RTi Research de março registrou que 30% dos consumidores usaram um método de pagamento por aproximação pela primeira vez, sendo que 70% desse total aprovaram a experiência e disseram que vão continuar a adotar esse modelo no futuro.
Trata-se de um movimento orgânico que pode ser notado em diferentes países, mesmo antes dessa crise global que estamos enfrentando. Alguns cafés e lojas de cidades como Londres, Estocolmo e Seul deixaram de aceitar dinheiro ou deram preferência a métodos de pagamentos com menos contato, como cartões ou celulares com a tecnologia por aproximação. Parques de diversão nos EUA também aderiram ao cashless, uma tendência que ganha força no mundo todo.
Quando olhamos para a nossa região, o cenário não é diferente. Durante a crise sanitária, consumidores da América Latina e do Caribe preferiram pagar com cartões de débito (72%) e crédito (63%) a usar dinheiro (44%), de acordo com levantamento da Visa.
No Brasil, o pagamento por aproximação já estava em ascensão: alcançou o marco de 7 milhões de transações mensais Visa em dezembro de 2019, de acordo com a Visa Consulting & Analytics. Esse crescimento tem sido exponencial desde então. Quando comparados os meses de março de 2019 com março de 2020, o aumento do uso de cartões Visa com pagamento por aproximação no país foi cinco vezes maior de um ano para outro.
Além da vantagem de exigir menor contato social, esse método de pagamento é simples, ágil e seguro. Com a aprovação da Associação Brasileira do Ensino de Ciências Sociais (Abecs) no início deste mês, os emissores poderão oferecer ao consumidor, em breve, um limite de valor maior em pagamentos por aproximação que não exigem o uso da senha: de 50 para 100 reais. Espera-se, com isso, que as transações com a tecnologia por aproximação ganhem ainda mais escala e levem mais conveniência e segurança a todos.
O desafio, daqui para a frente, é tornar mais popular e acessível essa prática, trazendo benefícios para toda a população e ampliando seu potencial ao associá-lo a dispositivos conectados que vão além de celulares, pulseiras e relógios.
Um passo importante já foi dado com a implementação dessa tecnologia em sistemas de transporte público de São Paulo e Rio de Janeiro. Um ótimo exemplo da mudança de hábito a que me referi no início deste artigo: quem experimenta essa forma de pagar não volta atrás, entende os benefícios, pois evita filas para reabastecer ou comprar bilhetes, não precisa ter trocados no bolso e acessa mais rápido o transporte.
É inevitável pensar no caminho de sociedades mais digitais, conectadas e menos dependentes do dinheiro em papel. Vivemos o que chamo de empoderamento do consumidor. É ele quem decide a forma que irá pagar. Nosso trabalho é oferecer opções que melhor se encaixem no dia a dia das pessoas.
*Alessandro Rabelo é diretor executivo de soluções da Visa do Brasil e atual responsável pela área de chip/contactless, autenticação e tokenização. É bacharel em ciência da computação pelo Centro Universitário do Sul de Minas e possui MBA em gestão de negócio e tecnologia pela Universidade Cruzeiro do Sul.