Um vírus, surgido em terras longínquas, tão pequeno e que, para a maioria das pessoas, não provoca grandes complicações de saúde, tem a capacidade de alterar a rotina do mundo todo. As pessoas estão preocupadas, inseguras, não saem mais de casa, fazem estoques de mantimentos, evitam até mesmo reuniões familiares, tudo em nome da prevenção. Isolamento esse que, por hora, é essencial para diminuir a transmissão, evitar uma catástrofe nos pronto-atendimentos hospitalares e, também, preservar a própria saúde e a de familiares e pessoas próximas.
Muitos já trabalham em home office e crianças, para não perder conteúdos, fazem lições de casa online. Mas aí nos deparamos com mais um fator complicador: o preconceito contra a tecnologia.
Lembro quando, no início dos anos 2000, iniciei a divulgação de uma empresa que oferecia capacitações a distância. Ninguém levava a sério ou acreditava que funcionaria, e portanto era uma dificuldade conseguir o devido espaço na mídia. Hoje, no entanto, temos até MBAs feitos online por meio de recursos tecnológicos acessíveis à maioria da população mundial.
É evidente a dificuldade das pessoas em aplicar soluções disponíveis já há algum tempo e que foram criadas não para combater uma pandemia, mas para nos ajudar no dia a dia. Home office não é novidade, mas será que acreditamos na eficiência do trabalho remoto? Temos capacidade de nos organizar para uma rotina de trabalho sem o chefe por perto? Será que os acordos realizados em uma reunião remota são tão válidos quanto aqueles definidos em uma presencial?
Aí me pergunto: por que somos tão refratários aos recursos tecnológicos, se eles são pensados justamente para nos auxiliar em situações que nem imaginamos ainda? Há um ano, optei por mudar de país, mesmo tendo uma vida estável no Brasil, sendo empreendedora responsável por uma empresa com dez profissionais e 18 clientes fixos, que está em evolução constante.
Sofri na pele a recusa de alguns clientes em trabalhar com uma empresa na qual a chefe trabalha a distância. Cheguei a perder alguns, inclusive. E hoje, por ironia do destino, é justamente o trabalho remoto que salva da improdutividade diversas empresas, inclusive aquelas que não aceitaram este método no passado.
Vejo a dificuldade das pessoas em usar arquivos em nuvem, aplicativos de reuniões online ou até mesmo o já popularizado WhatsApp como uma forma de manter o trabalho em tempos de coronavírus. Não tenho dúvidas que, depois que esta crise passar, os hábitos corporativos mudarão. Muitas viagens serão substituídas por encontros virtuais, redes migrarão para as soluções de armazenamento virtuais e o velho e bom telefone voltará a funcionar como antigamente para promover um bom diálogo.
Sim, o trabalho remoto funciona e é tão eficaz quanto o presencial. As pessoas passam mais tempo concentradas, aprendem a cumprir metas simplesmente porque foram definidas em conjunto e devem ser feitas; e as reuniões são mais diretas, curtas e eficientes. Ganhamos tempo para sermos profissionais e pessoas completas! Não é pecado trabalhar de casa, basta se organizar e ter disciplina. É isso que me ensinou o meu ano de trabalho a distância. Hoje, enquanto muitos ainda se atropelam para se adaptar em um mundo tecnológico, para mim esse cenário faz parte da minha vida profissional faz tempo, e com muito sucesso.
Não estou aqui afirmando que o contato pessoal não seja importante ou que as conversas presenciais não fazem sentido. A minha reflexão é apenas para quebrar o paradigma: o que é remoto também pode ser muito bom. Pode ainda ser mais barato, eficiente, produtivo e lucrativo para qualquer organização, seja ela pequena, média ou grande. Que todos se mantenham saudáveis.
*Silvana Piñeiro Nogueira é jornalista, mestre em Estudos Políticos pela Sorbonne e pós-graduada em Marketing pela FAE Business School. Ela mora na Alemanha, é casada, tem dois filhos e administra a Smartcom Inteligência em Comunicação, que há 10 anos atua na área de comunicação internacional B2B.
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