Enquanto grandes empresas, como GM, Meta, Disney e Walmart já exigiram o retorno dos funcionários aos escritórios, diversas pesquisas seguem indicando que a maioria dos colaboradores prefere os formatos remoto ou híbrido de trabalho, e que, se pudesse, escolheria atuar nesses modelos para o resto de suas carreiras. O aparente embate entre funcionários e executivos normalmente envolve discussões sobre produtividade, flexibilidade, interação entre os trabalhadores e manutenção da cultura empresarial. Mas, às vezes, esquece-se de falar sobre a contribuição dos sistemas flexíveis de trabalho para outro tema que ganhou extrema relevância no mundo corporativo nos últimos anos: a agenda ESG (sigla em inglês que remete à Ambiental, Social e Governança) das grandes corporações.
Para além da economia para a companhia, o modelo híbrido tem um enorme potencial para aprimorar a sustentabilidade financeira, conservar recursos naturais e reduzir o impacto ambiental das organizações, além de melhorar o bem-estar dos funcionários e aumentar a inclusão. É uma oportunidade de ouro para que as empresas avancem em suas agendas ESG, um tópico considerado, cada vez mais, uma parte essencial da gestão empresarial e um fator crucial para a criação de valor a longo prazo.
Para citar um dos exemplos mais evidentes: de acordo com uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, o sistema híbrido, ao ajudar a evitar que os colaboradores façam deslocamentos desnecessários ao escritório e, de lá, de volta para casa, poderiam reduzir as emissões de carbono das companhias em até 20%. Mas ainda há outros fatores a se levar em conta.
O uso da tecnologia para gerenciar o modelo flexível pode ser um ponto determinante para assegurar uma real otimização dos recursos, colaborando para a redução do uso de energia elétrica, água, e mesmo do desperdício de alimentos. Um dos pilares da nossa plataforma, por exemplo, é justamente a otimização do uso de recursos através de uma gestão eficiente do espaço.
A ferramenta permite que as salas sejam reservadas e, dessa forma, cada espaço só é aberto quando há necessidade, evitando gastos de energia elétrica e ar-condicionado com áreas quase vazias. Há, também, a possibilidade de usar a chamada reserva por ocupação, em que determinados espaços - ou mesmo andares inteiros - nos prédios das empresas só são liberados para uso quando os anteriores já estiverem plenamente ocupados.
A adoção do modelo híbrido e de tecnologia para fazer a organização das rotinas do escritório nesse formato tem impacto ainda na gestão dos refeitórios: quando todos os funcionários estão na empresa diariamente, a base para a produção de refeições é sempre a mesma - mas, no modelo híbrido, a tecnologia permite que o funcionário reserve e confirme previamente sua refeição, evitando o desperdício de alimentos.
Um olhar para a inclusão e bem-estar
Outra maneira pela qual o trabalho híbrido pode colaborar na agenda ESG é através de uma melhor gestão de recursos humanos, promovendo bem-estar e inclusão. O trabalho remoto oferece mais flexibilidade e autonomia para os funcionários, permitindo que eles atuem de qualquer lugar, a qualquer momento. Isso em si cria mais oportunidades para pessoas que moram em localidades mais distantes, como cidades fora dos grandes centros, por exemplo.
Além disso, a flexibilidade e a não-exigência da presença física diária no escritório facilita a entrada no mercado de trabalho de grupos como as mães solo, que muitas vezes não conseguem conciliar um modelo exclusivamente presencial com as necessidades de cuidados dos filhos, e as Pessoas Com Deficiência (PCDs), que evitam deslocamentos diários - que podem ser difíceis, visto que a maior parte das cidades ainda sofre com falta de acessibilidade.
Nos Estados Unidos, por exemplo, um levantamento da Secretaria de Estatísticas do Trabalho demonstrou que, em 2022, depois da popularização dos modelos flexíveis, 21,3% das pessoas com deficiência estavam empregadas: esse é o maior percentual alcançado desde 2008, quando o índice começou a ser medido.
A maior satisfação dos funcionários com o trabalho remoto ou híbrido pode levar a uma força de trabalho mais produtiva, pois os colaboradores têm mais controle sobre sua agenda e ambiente e gastam menos tempo no trânsito - o que, inclusive, contribui para a atração e retenção de talentos.
O modelo híbrido, especialmente, tem a vantagem de proporcionar um local de trabalho adequado para o atendimento de certas demandas, como reuniões e uso de equipamentos que, às vezes, não estão disponíveis na casa do funcionário; além de contribuir para que, mesmo mantendo os benefícios do sistema remoto, o trabalhador não seja privado de oportunidades de socialização no espaço da empresa. Tudo isso pode resultar em níveis mais altos de satisfação e engajamento dos colaboradores.
Para alguns gestores, a virada de chave ainda pode ser um desafio: na Pesquisa de Trabalho Flexível e Remoto, divulgada no começo de março pela Mercer Brasil, 76% dos executivos acham que os funcionários não são igualmente produtivos sem uma supervisão mais próxima. Ainda, 66% pensam que há um excesso de reuniões online causadas pela ausência dos colaboradores diariamente nos escritórios físicos das empresas; e 51% afirmam ter dificuldade para treinar e integrar novos trabalhadores.
Porém, levando em consideração os benefícios do trabalho híbrido, a satisfação dos colaboradores e, além de tudo isso, a contribuição do modelo para as agendas ESG das companhias, fica claro que brigar contra os novos e flexíveis modelos de trabalho é um retrocesso. Tudo indica que é a mentalidade desses gestores apegados ao passado que precisa mudar. Os trabalhadores, e também o planeta, agradecem.
*Por Mário Verdi, CEO da Deskbee, plataforma multifunção de gestão do workplace
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