Para além da economia para a companhia, o modelo híbrido tem um enorme potencial para aprimorar a sustentabilidade financeira, conservar recursos naturais e reduzir o impacto ambiental das organizações.| Foto: Sigmund / Unsplash
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Enquanto grandes empresas, como GM, Meta, Disney e Walmart já exigiram o retorno dos funcionários aos escritórios, diversas pesquisas seguem indicando que a maioria dos colaboradores prefere os formatos remoto ou híbrido de trabalho, e que, se pudesse, escolheria atuar nesses modelos para o resto de suas carreiras. O aparente embate entre funcionários e executivos normalmente envolve discussões sobre produtividade, flexibilidade, interação entre os trabalhadores e manutenção da cultura empresarial. Mas, às vezes, esquece-se de falar sobre a contribuição dos sistemas flexíveis de trabalho para outro tema que ganhou extrema relevância no mundo corporativo nos últimos anos: a agenda ESG (sigla em inglês que remete à Ambiental, Social e Governança) das grandes corporações.

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Para além da economia para a companhia, o modelo híbrido tem um enorme potencial para aprimorar a sustentabilidade financeira, conservar recursos naturais e reduzir o impacto ambiental das organizações, além de melhorar o bem-estar dos funcionários e aumentar a inclusão. É uma oportunidade de ouro para que as empresas avancem em suas agendas ESG, um tópico considerado, cada vez mais, uma parte essencial da gestão empresarial e um fator crucial para a criação de valor a longo prazo.

Para citar um dos exemplos mais evidentes: de acordo com uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, o sistema híbrido, ao ajudar a evitar que os colaboradores façam deslocamentos desnecessários ao escritório e, de lá, de volta para casa, poderiam reduzir as emissões de carbono das companhias em até 20%. Mas ainda há outros fatores a se levar em conta.

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O uso da tecnologia para gerenciar o modelo flexível pode ser um ponto determinante para assegurar uma real otimização dos recursos, colaborando para a redução do uso de energia elétrica, água, e mesmo do desperdício de alimentos. Um dos pilares da nossa plataforma, por exemplo, é justamente a otimização do uso de recursos através de uma gestão eficiente do espaço.

A ferramenta permite que as salas sejam reservadas e, dessa forma, cada espaço só é aberto quando há necessidade, evitando gastos de energia elétrica e ar-condicionado com áreas quase vazias. Há, também, a possibilidade de usar a chamada reserva por ocupação, em que determinados espaços - ou mesmo andares inteiros - nos prédios das empresas só são liberados para uso quando os anteriores já estiverem plenamente ocupados.

A adoção do modelo híbrido e de tecnologia para fazer a organização das rotinas do escritório nesse formato tem impacto ainda na gestão dos refeitórios: quando todos os funcionários estão na empresa diariamente, a base para a produção de refeições é sempre a mesma - mas, no modelo híbrido, a tecnologia permite que o funcionário reserve e confirme previamente sua refeição, evitando o desperdício de alimentos.

Um olhar para a inclusão e bem-estar

Outra maneira pela qual o trabalho híbrido pode colaborar na agenda ESG é através de uma melhor gestão de recursos humanos, promovendo bem-estar e inclusão. O trabalho remoto oferece mais flexibilidade e autonomia para os funcionários, permitindo que eles atuem de qualquer lugar, a qualquer momento. Isso em si cria mais oportunidades para pessoas que moram em localidades mais distantes, como cidades fora dos grandes centros, por exemplo.

Além disso, a flexibilidade e a não-exigência da presença física diária no escritório facilita a entrada no mercado de trabalho de grupos como as mães solo, que muitas vezes não conseguem conciliar um modelo exclusivamente presencial com as necessidades de cuidados dos filhos, e as Pessoas Com Deficiência (PCDs), que evitam deslocamentos diários - que podem ser difíceis, visto que a maior parte das cidades ainda sofre com  falta de acessibilidade.

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Nos Estados Unidos, por exemplo, um levantamento da Secretaria de Estatísticas do Trabalho demonstrou que, em 2022, depois da popularização dos modelos flexíveis, 21,3% das pessoas com deficiência estavam empregadas: esse é o maior percentual alcançado desde 2008, quando o índice começou a ser medido.

A maior satisfação dos funcionários com o trabalho remoto ou híbrido pode levar a uma força de trabalho mais produtiva, pois os colaboradores têm mais controle sobre sua agenda e ambiente e gastam menos tempo no trânsito - o que, inclusive, contribui para a atração e retenção de talentos.

O modelo híbrido, especialmente, tem a vantagem de proporcionar um local de trabalho adequado para o atendimento de certas demandas, como reuniões e uso de equipamentos que, às vezes, não estão disponíveis na casa do funcionário; além de contribuir para que, mesmo mantendo os benefícios do sistema remoto, o trabalhador não seja privado de oportunidades de socialização no espaço da empresa. Tudo isso pode resultar em níveis mais altos de satisfação e engajamento dos colaboradores.

Para alguns gestores, a virada de chave ainda pode ser um desafio: na Pesquisa de Trabalho Flexível e Remoto, divulgada no começo de março pela Mercer Brasil, 76% dos executivos acham que os funcionários não são igualmente produtivos sem uma supervisão mais próxima. Ainda, 66% pensam que há um excesso de reuniões online causadas pela ausência dos colaboradores diariamente nos escritórios físicos das empresas; e 51% afirmam ter dificuldade para treinar e integrar novos trabalhadores.

Porém, levando em consideração os benefícios do trabalho híbrido, a satisfação dos colaboradores e, além de tudo isso, a contribuição do modelo para as agendas ESG das companhias, fica claro que brigar contra os novos e flexíveis modelos de trabalho é um retrocesso. Tudo indica que é a mentalidade desses gestores apegados ao passado que precisa mudar. Os trabalhadores, e também o planeta, agradecem.

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*Por Mário Verdi, CEO da Deskbee, plataforma multifunção de gestão do workplace