Vilma Gryzinski comentou a triste situação do povo venezuelano, dias antes do golpe derradeiro de Maduro: um golpe de Estado na acepção mais literal do termo, vez que foram anulados os poderes da Assembleia Nacional, que passaram para o Tribunal Supremo de Justiça (integralmente chavista), que, por sua vez, convocou uma eleição para a formação de uma Constituinte, cuja finalidade é entregar ao Executivo poderes ilimitados. Enquanto a oposição sofria – e continua a sofrer – todo o tipo de represália (o que inclui a prisão dos principais líderes oposicionistas e um saldo de mais de 100 manifestantes mortos), Maduro continua a investir no discurso cínico de que está pacificando o país e protegendo-o da “direita golpista” (soa familiar?). Uma cara de pau gigantesca e maliciosa é a marca registrada de sociopatas como Maduro. Ele chegou, num comício, a dançar ao som de uma paródia de “Despacito” que convocava o povo a votar na eleição da nova Assembleia Constituinte. Parece humor negro, mas aconteceu. Resultado: 80% dos eleitores não compareceram às urnas. Ainda assim, a Assembleia foi eleita e já começou os trabalhos destituindo a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz (que já denunciou o regime de Maduro) do cargo, congelando seus bens e impedindo-a de sair do país. Gryzinski, em seu artigo, sintetiza num episódio o que se passa na Venezuela: trata-se da morte por inanição da elefanta Ruperta, de um zoológico venezuelano. “O sofrimento do pobre animal, tão forte que sua agonia acompanhada no mundo todo durou anos, é evidentemente uma metáfora poderosa do que está acontecendo com os próprios venezuelanos”. Para quem ignorava o elefante branco no meio da sala que é o apetite ditatorial dos chavistas, agora uma elefanta está morrendo de fome naquele país – antes tão rico, e agora tão miserável – que é para ser bem eloquente sobre uma situação calamitosa que não pode ser mais relativizada.
É pior do que você imagina
Demorou muito para que jornais e analista políticos enxergassem o que Nicolás Maduro pretendia fazer em seu país. Os mais ousados chamavam-no de proto-ditador. Agora ele já pode receber o título de “aprendiz avançado de Fidel Castro”. Mas há ainda quem entenda que tudo o que se passa na Venezuela é para restaurar a normalidade democrática ao país, uma espécie de “contra golpe” para barrar a direita, que Maduro realmente está resistindo por seu povo. Rodrigo da Silva listou 30 razões por que alguém deveria ter vergonha de apoiar o regime de Nicolás Maduro. A lista é imperdível, e, se você não acompanha muito as notícias sobre a Venezuela, vai ampliar sua perspectiva sobre o tamanho do problema por lá. Há nela fatos ridículos, como quando Maduro acusou o Homem-Aranha de ser o principal culpado pelo aumento da violência em seu país; fatos que mostram a índole criminosa do governo, como o vice-presidente ser um narcotraficante bilionário; fatos que revelam a incompetência administrativa de Maduro, como ele ter assumido não ter mais nem dinheiro para imprimir dinheiro; além de todos aqueles crimes de abuso de poder, contra a liberdade individual, de pensamento.
Esquerda democrática?
Jean Wyllys, que integra os quadros do poder e sabe como as coisas funcionam na política, fez questão de declarar publicamente que não apoiava a ditadura de Maduro, tentando desvencilhar o que se passa na Venezuela do que pode vir a acontecer no Brasil caso a extrema-esquerda volte ao poder. Criticou a ausência de democracia no país e a condução da economia pelo regime chavista. Pelo jeito, Jean Wyllys já saiu do playground político-ideológico, aprendeu que política é a arte do possível, e está bancando o Lulinha Paz e Amor para não ofender o eleitorado. Só que seu discurso pró-liberdades teria alguma consistência se ele não fosse sabidamente um esquerdista de carteirinha. Tom Martins destaca: “Se a esquerda não deve apoiar regimes anti-democráticos, também não deve apoiar o socialismo, que sempre foi totalitário. E, se a esquerda não deve apoiar sistemas econômicos fracassados e ineficientes, ela não deve apoiar o marxismo, comprovadamente, na teoria e na prática, um sistema ineficiente”. E aí, deputado, vai mudar de lado, vai mudar de discurso, ou vai continuar abusando da má retórica?