Quando hoje criticamos o diletantismo característico da intelectualidade brasileira, tão marcante entre egressos da “SanFran” e da FFLCH, mal sabemos que o problema é anterior à “esquerdização” da USP e das demais faculdades. A Universidade de São Paulo – que, convenhamos, é a universidade paradigma do Brasil, a melhor do país em todos os rankings – já nasceu com vocação para formar oradores, retóricos, com a particular característica de inclinação a floreios verbais e verborragia: juristas e professores de Humanas, em suma… Isso por conta da influência da educação jesuítica portuguesa, bastante voltada para o ensino da língua e da retórica, como da influência do pensamento romântico francês. A combinação desses dois ingredientes afastou quase que irremediavelmente a intelectualidade brasileira de qualquer tentação de objetividade e empirismo, colocando-nos no extremo oposto da tradição do pensamento anglo-saxão. Se a USP já começou assim, e depois ainda enveredou para o caminho da Escola de Frankfurt e de todos os queridinhos da New Left – ressaltando novamente: dando o padrão da produção acadêmica das demais universidades brasileiras –, é absolutamente incompatível com essa instituição o estudo de Edmund Burke, Michael Oakshott, Russel Kirk, Roger Scruton, e outros ícones do conservadorismo britânico, por exemplo, sem contar outsiders como Eric Voegelin. Olhando para a história do pensamento brasileiro vemos que o buraco é tão mais para baixo que, de fato, é de perder toda a esperança na Academia! Sejamos autodidatas! Martim Vasques da Cunha, neste texto, leva-nos a conhecer a criação das primeiras universidades na Idade Média, a ideia sob a qual elas foram erigidas, até chegarmos à criação da USP e entendermos seu papel no desenvolvimento da cultura nacional.
A liberdade de expressão como mãe das liberdades
Como disse acima, certas correntes de pensamento e certos pensadores são alienígenas no universo acadêmico. Dominar o status quaestionis de um objeto de estudo para quê, se você pode ignorar o que aqueles que não concordam com você – ou melhor, com seus professores – disseram, não é mesmo? E é assim que a Academia vai se tornando terreno infértil para os amantes do conhecimento, mas muito fértil para os influenciadores da política. O escritor inglês Ian McEwan proferiu um discurso aos formandos do Dickinson College em 2015, em que defendeu a importância de salvaguardarmos os direitos de liberdade de expressão e de pensamento, sobretudo entre os muros das universidades. Ressalta ele: “pode ser um pouco fácil demais, às vezes, desconsiderar argumentos que você não gosta como sendo ‘discurso de ódio’ ou reclamar que um palestrante o fez sentir ‘desrespeitado’. Sentir-se ofendido não pode ser confundido com um estado de graça; é o preço que, de vez em quando, todos nós pagamos por viver em uma sociedade aberta”.
John Milton e os livros infames
Em 1643, quando o Parlamento inglês decidiu tomar para si o poder de censurar publicações, John Milton escreveu um panfleto que até hoje é uma das mais belas e ponderadas defesas da liberdade de expressão. É evidente que nem todas as idéias em circulação são boas, e nem todas as informações são verdadeiras (Zuckerberg e censores de fake news estão aí para nos lembrar disso!), mas quando alguém ou algum órgão assume o papel de dizer o que é e o que não é apropriado para os demais, um problema ainda maior é criado. Não sou apenas que estou dizendo isso, mas John Milton! Confira aqui trechos da Aeropagítica, como este brilhante em que o autor diz: “Leia tantos livros quantos caírem em suas mãos, pois tu és suficiente tanto para julgar corretamente quanto para examinar cada questão. (…) Deus não costuma cativar o homem sob uma perpétua infância de prescrição, mas confia a ele o dom da razão para que seja ele a escolher”.
Censura e o politicamente correto
Percival Puggina mostra o cabresto mental que a linguagem politicamente correta nos impõe. Como conseqüência, testemunhamos não só uma profunda transformação cultural como uma queda na capacidade de percepção da realidade, ou seja, uma queda generalizada da inteligência.
Polarização pentelha ou censura velada?
Fabio Blanco desmonta a bobagem que é criticar a tal da “polarização política”: quem se incomoda não está acostumado a ser contestado. Mas é assim que se constrói uma nação democrática. Acostumem-se.
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