Na manhã de domingo de 21 de maio, uma megaoperação das polícias Civil e Militar contra o tráfico na Cracolândia foi com sucesso realizada, desmantelando o principal polo de “comércio livre” de drogas na maior cidade do país. 53 pessoas foram presas, e imóveis depredados foram demolidos para posterior revitalização. O recado foi dado: acabou a leniência com o tráfico. O prefeito João Doria ainda entrou com pedido de tutela de urgência para que viciados fossem tirados das ruas e internados compulsoriamente. Até que enfim um prefeito teve a coragem de enfrentar um dos graves problemas da cidade. Ah, mas sempre haverá aquela turma da esquerda que consegue arranjar justificativa para criticar tudo o que faz o prefeito mais à direita que São Paulo teve em décadas. Se conseguiram tacar pedras até no Corujão da Saúde, nada os agradará, ainda mais em se tratando de um grupo ideológico já inclinado a endossar políticas de liberalização das drogas. Trago a opinião do urbanista Nabil Bonduki, que considerou a operação uma “oportunidade para [Doria] se promover como um eficiente defensor da ordem e da limpeza urbana e social”. De passagem, ainda disse que o blusão preto que o prefeito usara no dia o recordava das milícias fascistas. Acredita que a Cracolândia só se espalhou pelo centro da cidade e que direitos humanos foram desrespeitados no processo.
Ideologizaram a Cracolândia
Pelos comentários de quem desaprovou a operação na Cracolândia, percebe-se que as críticas vieram com carimbo ideológico à esquerda. Ideologia é aquele conjunto mais ou menos pronto de ideias às quais uma pessoa adere e pelas quais passa a raciocinar e interpretar a realidade. Ou seja, a limitação da percepção de mundo é automática. Nesse processo, vale mais promover uma ideia e – importantíssimo! – conduzir ao poder a patota que defende essa ideia, do que meditar sobre soluções concretas para problemas reais da vida em sociedade. Vilma Gryzinski apontou o absurdo que é defender a permanência da Cracolândia, o fechar de olhos perante um antro de violência e criminalidade, o respeito à “decisão” dos “usuários” do crack de permanecerem se drogando – como se conservassem algum tipo de liberdade depois de completamente submetidos ao vício; tudo por causa de uma birra ridícula com um prefeito “de direita” que está fazendo um bom trabalho!
Insensibilidade estúpida
Nunca deixa de me surpreender até que ponto vai a falta de empatia com o sofrimento alheio em nome da defesa de uma ideologia. É preciso fechar os olhos para a realidade para conseguir transformar a iniciativa de peitar traficantes e ajudar aqueles que foram degradados até a alma pelo crack – mesmo que contra a vontade – num atentado contra os direitos humanos. Insensatos precisam ser tratados como tal. Criminosos precisam ser tratados como tal. E o “tough love” às vezes é a melhor forma de compaixão. Mas nem todos pensam assim – pelo menos não enquanto nenhuma das pessoas que ama definhou drogando-se ou sofreu algum tipo de violência nas mãos de viciados e traficantes. Eric Balbinus comenta o texto de Gryzinski, que indiquei acima, mas mostra que o buraco é mais embaixo: até movimento social foi criado para defender a Cracolândia, o tal do “Craco Resiste”.
Um testemunho do cotidiano na Cracolândia
O site O Implicante citou texto da psiquiatra Clarice Sandi, que desenvolvia um trabalho de ajuda à comunidade da Cracolândia. Clarice não tem uma visão glamourizada do que se passa naquele lugar, e ninguém vai duvidar das boas intenções e da ajuda real que ela prestou às pessoas que lá viviam. Ela traz um ponto importantíssimo: mesmo que viciados e traficantes apenas tenham se espalhado pela cidade, ao menos a operação serviu para mostrar aos meninos que vêm uma carreira no tráfico como um projeto de vida que eles podem acabar presos.
Até Drauzio Varella
Até o Dr. Drauzio Varella foi enfático ao dizer que a internação compulsória desses viciados é medida urgente de saúde pública, e que é absurdo tornar isso tema de divergência ideológica. Completa: “Se fosse sua filha naquela situação, você deixaria lá para não interferir no livre arbítrio dela?’ Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá”.
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