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O humor é a arma que nos resta

Fonte: Youtube (Foto: )

Danilo Gentili, no Twitter, ironizou certas incoerências de posicionamento da deputada Maria do Rosário, e em resposta, recebeu uma notificação extrajudicial diretamente da Câmara dos Deputados, numa clara tentativa de intimidação mediante abuso de poder. Gentili não deixou por isso mesmo e publicou um vídeo no Facebook em que aparecia picando em pedacinhos a notificação e esfregando-os nas suas partes, digamos, aquelas que ele mostrou ter de sobra. Por essa razão ele foi repreendido por diversas figuras públicas – todas muito chocadas com a falta de educação do rapaz, e nem um pouco incomodadas com a tentativa de censura por parte de Maria do Rosário. Em toda sociedade livre, os governantes – que naturalmente estão em posições de prestígio – sempre foram alvo de críticas e chacota. É até uma forma simbólica de diminuir o desnível entre os que têm e os que não têm poder. Desde a antiguidade a comédia ocupa-se de expor os absurdos da política. O direito de fazer piada devia ser salvaguardado como um dos mais preciosos, até porque é um desdobramento da liberdade de expressão. No Brasil de hoje, o que nos resta além de rirmos da nossa tragédia? Pois até isso querem proibir. O Implicante comentou o caso.

Histrionicamente correto

Um dos sinais de nossa decadência civilizacional é a progressiva substituição, no imaginário popular, da moral cristã pela moral politicamente correta. Décadas atrás, ninguém se chocava com fumantes, ninguém se chocava com cantadas na rua, ninguém se chocava com piadas. Mas, por exemplo, seria considerado um abuso de poder um político assediar processualmente um comediante que fizesse troça com ele. Pior ainda seria defender publicamente um estuprador. Pois é, Maria do Rosário, que bom para a senhora que Vossa Excelência nasceu na época certa, senão já teria sido enxotada da vida pública. No politicamente correto, o importante é afinar o discurso com a defesa das minorias – e em qualquer situação, procure que você vai achar uma minoria para defender, é só se perguntar: é mulher?, é trans?, é homoafetivo?, é afrodescendente?, é menor de idade?, é da melhor idade?, é desfavorecido financeiramente?, é usuário de entorpecentes?, é oprimido de algum modo pela sociedade capitalista, patriarcal, heteronormativa, judaico-cristã?. O pior pecado, segundo a moralidade dos justiceiros sociais, é usar algum tipo de “linguagem ofensiva”. Não é possível manter a sanidade mental desse jeito, com o constante patrulhamento da linguagem, e numa escala de valores completamente diferente da que a humanidade conhecia até pouco tempo atrás. E, que opurtuno!, uma sociedade burra e tolhida perde a capacidade de reagir aos desmandos de quem a governa. Flávio Morgenstern mostra que George Orwell foi profético ao descrever um sistema totalitário de governo que controla até o que as pessoas dizem.

Politicamente correto na crítica literária

Tudo é passível de ser contaminado pelo discurso politicamente correto. Bernardo Souto fala da “escola do ressentimento”, nome dado pelo crítico literário Harold Bloom à “rede acadêmico-jornalística que deseja derrubar o Cânone [literário] para promover seus supostos (e inexistentes) programas de transformação social”. Nos cursos de Letras mundo afora, Shakespeare, por exemplo, é anacronicamente interpretado à luz de conceitos como o da luta de classes, do machismo, do racismo… Ou seja, tais críticos reduzem toda a profundidade de significados e de símbolos contidos numa obra clássica ao próprio limitado horizonte de consciência.

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