Por Instituto Legado
Relatório publicado recentemente na Harvard Business Review informa que 1 em cada 4 dólares gerenciados por fundos de investimento profissionais estão direcionados para negócios que atendam a critérios de impacto ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Um bem-vindo movimento de abertura da mão invisível, pois foi Adam Smith quem primeiro afirmou que o objetivo econômico do ser humano será sempre o de garantir o seu próprio benefício. A partir daí, e por cerca de 200 anos, o ser humano foi reduzido ao homo economicus, ser unidimensional e eticamente neutro, que apenas pensa em seu próprio lucro.
Mas grandes eventos, como a emergência ecológica, para qual despertamos apenas a partir do relatório da ONU de 1987, as sucessivas crises financeiras, em especial a do “subprime” de 2008, e o retrocesso político com Trump, nos EUA, Brexit, na Grã Bretanha, para ficar apenas nestes, evidenciaram as nefastas consequências das falhas estruturais e morais desse modelo econômico aético.
De fato, nas últimas décadas, o racional homo economicus produziu uma realidade distópica e disfuncional, na qual das 100 maiores economias do mundo 69 são megacorporações e 1% da população controla 99% de toda a riqueza.
Por isso, uma nova filosofia econômica, amparada em economistas críticos contemporâneos como Amartya Sen, Joseph Stiglitz, Thomas Piketty e outros, fomenta a aliança entre economia e bem estar na esfera pública e propõe a conjugação entre negócios e impacto social e ecológico no campo privado.
Emergindo desta onda de novo patamar consciencial, novos agentes econômicos, empreendedores, gestores e também ativistas cívicos, começam a criar novas linguagens e prototipar designs inovadores, como empreendedorismo social, negócio social, negócio com propósito, startup social, setor 2.5., quarto setor, filantropia empreendedora, valor compartilhado, empresa humanizada, empresa B, economia de compartilhamento, economia de custo marginal zero, economia generativa, empreendedorismo criativo, finança social, banco ético e outros modelos diversos que atuam em todas as escalas e ressignificam a noção de sucesso nos negócios.
Para surpresa da mão invisível, levantamento feito para um período de 20 anos, evidenciou que na comparação entre o principal índice da Bolsa de Nova Iorque e o indicador das chamadas Empresas Humanizadas americanas, este último ganhou de lavada, com performance de 2.077% contra apenas 269% do grupo Standard & Poor’s 500.
No Brasil, em um período de 10 anos de medição, o índice Ibovespa (da Bolsa de Valores de São Paulo) perde muito para o grupo de empresas que compõe o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial. O primeiro gerou uma valorização de apenas 113,72% contra 185,01% do segundo.
Segundo o artigo da revista de Harvard, já mencionado, foram cerca de 11,6 trilhões de dólares investidos em empresas ESG no ano passado e Larry Fink, o poderoso CEO do fundo Black Rock, gestor de 6 trilhões de dólares em todo o mundo, afirmou em carta aberta que questões ambientais e sociais serão decisivas para as avaliações de investimentos.
Thomas Khun ensina que quando estamos diante de uma mudança de paradigma é possível observar, cada vez com mais frequência, o aparecimento de “anomalias” que confirmam a transformação em curso.
A ética do impacto é a anomalia que muda o eixo econômico da Terra. Estamos diante de uma combinação única, um movimento transformador massivo, no qual significativa parcela da sociedade é mais livre, inclusiva, inovadora, colaborativa, empática, consciente e com total acesso à informação e tecnologia.
Estes novos atores, distribuídos em todas as classes e culturas do planeta, compartilham do propósito de gerar impacto positivo no mundo e estão aprendendo rapidamente a se utilizar dos mecanismos de mercado para isso. É a Era do Impacto que chega irreversivelmente à economia do século 21.
*Artigo escrito por James Marins, pós-doutor pela Universidade de Barcelona, presidente do Instituto Legado de Empreendedorismo Social, co-autor do livro Empreendedorismo Social e Inovação Social e autor do livro A Era do Impacto. O Instituto Legado é parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.
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