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Acabou a festa, mas não o trabalho

Daniel Castellano / Gazeta do Povo

No início do ano uma notícia surpreendeu os moradores de Petrópolis quando o prefeito, Rubens Bomtempo, declarou que em 2013 o repasse de verbas carnaval da cidade seria cancelado, e o dinheiro seria investido na saúde do município, já que se encontra em um estado precário.

E o que isso tem a ver com sustentabilidade? Tudo. A cultura foi retratada como a base de sustentação dos pilares da sustentabilidade pela ONU no documento de referência para a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

Portanto, quando uma cidade escolhe não seguir uma tradição, pode mexer em um ponto crítico da identidade da sua comunidade. E no caso do carnaval, é uma das tradições mais sagradas do Brasil, símbolo da cultura tupiniquim e faz parte da alma do brasileiro. E assim, logicamente, é um elemento importante da cultura do país.

Ao cancelar o carnaval, Rubens Bomtempo assumiu um grande risco para sua carreira política se opondo à estratégia do “pão e circo”, usada desde a Roma antiga até os dias de hoje. Afinal, não é difícil imaginar que em futuras campanhas isso será amplamente usado contra ele e, provavelmente, com um grande efeito. Por outro lado, o prefeito pode conseguir passar a mensagem de que a saúde é mais importante e merece mais atenção do que uma festa. E isso, se entendido pelas pessoas, pode ter efeitos transformadores na vida de todos da comunidade. Há no mundo diversas experiências que sustentam que onde os governos tiveram a coragem de fazer o que o povo precisava – e não necessariamente o que o povo ou alguns políticos queriam – houve melhorias significativas na qualidade de vida.

Olhando para o pilar econômico da sustentabilidade, o investimento que seria repassado para a montagem do carnaval se torna um investimento em saúde, que pode significar mais estrutura, equipamentos ou pessoas para as unidades de saúde no município. Se o valor investido ficar na economia da cidade, a mudança não produz grandes impactos. O impacto ambiental é difícil ser avaliado sem sabermos quais serão os investimentos em saúde; mas o impacto social pode ser muito benéfico para a qualidade de vida da população, já que melhores condições para o atendimento da saúde podem reduzir o sofrimento de várias pessoas.

Sem julgar se a decisão foi correta ou não, o inquestionável é que essa atitude do poder público demonstra bastante coragem. E, quem sabe, exemplos desse tipo possam inspirar outros governantes a refletirem que o risco de se fazer o que é preciso existe, mas que é um risco que vale a pena correr.

*Artigo escrito por André F. Bongestabs, articulador no SESI-PR, parceiro do Instituto GRPCOM

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