Nosso país sempre teve políticas econômicas e industriais baseadas na abundante fonte de recursos naturais, diversidade da fauna e flora, recursos hídricos e minerais na extensa dimensão territorial (capital natural), assim como grande disponibilidade de mão de obra (capital intelectual e social).
Acreditávamos que, com a possível exceção de algumas zonas áridas no nordeste, teríamos água para tudo e para sempre. O crescimento populacional e a concentração da população em áreas urbanas, o desmatamento, industrialização, consumismo, poluição, somados às mudanças climáticas, desfizeram nossa ilusão. Como exemplo, no Brasil o consumo per capita é de 187 litros por dia, e apenas para a produção de 1 quilo de carne bovina são necessários 15 mil litros de água, aproximadamente 3.5 mil litros para 1 quilo de carne de frango. Uma calça jeans demanda 15 mil, uma camiseta 3,5 mil e um quilo de milho consome para sua produção 900 litros de água.
Desde o ano passado temos recebido notícias alarmantes do sudeste. Os reservatórios de água, principalmente os que abastecem a região metropolitana de São Paulo, atingiram cotas abaixo dos níveis de segurança, e os mesmos supostos gestores que fingiram ignorar a realidade por mais de um ano ainda hesitam em reconhecer a seriedade da situação. Com as chuvas de verão houve algum alívio, mas não o suficiente para justificar declarações ufanistas e irresponsáveis, existe ainda o risco de racionamento de água ou, como preferem dizer alguns: rodízio. Racionamento, ainda que não seja do agrado de ninguém, é um recurso extremo quando água, alimentos, energia, se tornam escassos demais e a distribuição contida permite algum controle sobre a demanda, induzindo os consumidores a economizar, com sacrifício e também benefício de todos.
Nós brasileiros temos o privilégio de contar com um grande potencial hídrico (12% da água potável do mundo), mas sua exploração demanda conhecimento, tecnologia, energia e preservação das matas ciliares em torno dos rios, já que estes estão assoreados e poluídos.
Uma parte da região sul de nosso país está sobre uma das maiores reservas mundiais de água subterrânea, o chamado Sistema Aquífero Guarani, que se espalha em mais de um milhão de quilômetros quadrados, com potencial em volume d’água para suprir o mundo inteiro por muitos anos. Mas nem tudo é simples, grande parte dessa água encontra-se em profundidades que chegam a mais de mil metros, demandando técnicas de exploração assemelhadas às utilizadas para petróleo; em vários locais a água não é própria para consumo por apresentar excesso de sais minerais, necessitando de tratamento caro demais; e o aquífero não é homogêneo, tem descontinuidades.
Como a disponibilidade hídrica mundial de água com fácil acesso – lagos e rios – representa apenas 0,3% do total do volume de água existente no planeta, vivemos a escassez de água doce para consumo, indústrias e irrigação, e já se travam guerras pelo seu controle; as próximas décadas serão marcadas pela necessidade cada vez maior de uso racional, reuso, busca de novas fontes.
Um empreendimento é dito sustentável se gerar mais recursos do que os que forem aplicados nele, e se mantiver essa condição ao longo do tempo, sem impactar negativamente aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais. Para o desenvolvimento sustentável é indispensável a preservação ambiental de rios, diminuindo o prejuízo econômico da escassez de água, e repensar a cultura do desperdício.
A preocupação, tanto no plano pessoal quanto empresarial, da pegada hídrica, ou seja, o volume total de água doce utilizado para produzir os bens e serviços consumidos, poderá reduzir lavagens de carro, calçadas e outras práticas domésticas. Empresas que não se preocupem apenas com o imediatismo de custo e benefício poderiam adotar boas práticas de reuso da água, dirigentes governamentais tornarem-se mais eficazes na proteção das bacias hidrográficas, e na adoção de medidas pragmáticas de contenção de consumo.
Melhorar a forma de usar a água envolve algo muito mais sério que um lucro ou conforto imediato, é a garantia do desenvolvimento com perspectivas melhores para as próximas gerações.
*Artigo escrito pela professora Wanda Camargo representante do UniBrasil Centro Universitário no Núcleo de Ensino Superior (NIES) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE). O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – CPCE é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.
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