Era fascinada por desenhos animados na infância, principalmente pelos da Disney. Tanto que até um tempo atrás arriscaria afirmar ter assistido a maioria dos que passavam na televisão aberta. Por sorte não o fiz, pois dia desses, enquanto relatava a amigos um episódio de impaciência no trânsito, descobri que ao menos um ficou de fora dessa lista. É o “Goofy in Motor Mania”, de 1950, divulgado no Brasil como “Pateta no trânsito”. O vídeo mostra de forma divertida como uma pessoa gentil e educada pode se transformar em um ser humano nervoso e agressivo ao entrar em um carro. O bondoso e calmo Pateta é quem interpreta o personagem em “metamorfose”.
Depois de assistir é impossível negar que qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Além de ficar fácil entender porque a expressão “Síndrome do Pateta” é tão aplicável atualmente. Um desenho tão antigo, mas que não deixará de ser atual enquanto o uso do automóvel estiver ligado à sensação de poder.
E não faltam notícias para comprovar isso. Uma delas saiu do centro da capital paranaense em 2010 e ganhou manchete nacional, quando dois motoristas protagonizaram uma cena de violência, com direito a agressão com barra de ferro, na movimentada Avenida Marechal Deodoro, em Curitiba, Paraná. O motivo: um deles parou para estacionar o carro, mas não sinalizou a manobra. O outro, que vinha atrás, buzinou em repúdio à falta de sinalização e à demora do que estacionava – o estopim para a briga. Outro caso, dessa vez marcando o uso do carro como arma, foi o atropelamento de manifestantes ciclistas no Rio Grande do Sul, em 2011. E o mais recente, ocorrido neste mês no Rio de Janeiro, quando uma discussão entre passageiro e motorista de ônibus resultou em tragédia. O ônibus despencou do viaduto e oito pessoas morreram.
É claro que os casos citados são o extremo da intolerância no trânsito. Mas pequenas atitudes de impaciência e nervosismo podem sim culminar em situações trágicas ou, no mínimo, ajudarem a tornar o trânsito um lugar definitivamente insuportável. Cada vez que se nega uma gentileza, como dar a vez a um carro que está saindo da garagem do prédio, ou irrita-se porque o veículo da frente demorou um pouco para avançar o semáforo, gera-se uma reação em cadeia. E o resultado será esse, em que um desenho de 1950, auge da indústria automobilística, ainda consegue refletir o motorista atual.
*Artigo escrito por Christiane Kremer, colaboradora do Instituto GRPCOM em Curitiba
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