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Cai mais uma vez o grande circo


No ano passado li a pesquisa jornalística de Mauro Ventura, que retratou a história da maior tragédia envolvendo vítimas de incêndio. No dia 17 de dezembro de 1961, em Niterói, mais de 3 mil espectadores lotaram a matinê do Gran Circo Norte-Americano. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. 372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a 500 o número de vítimas fatais, das quais 70% eram crianças.

Surgiram no cenário grandes caras do Brasil, como Ivo Pitanguy e uma equipe de voluntários que se dedicaram durante meses ao tratamento das vítimas através das cirurgias reparadora e estética. Também veio o Profeta Gentileza, que plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo. Naquele ano o Brasil acabara de deixar o governo de Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas, que propunha aumento de 70% dos leitos em hospitais. Exceto pelo fato de que, na época da tragédia, vários feridos tiveram que ser transferidos para outros hospitais, já que o Hospital Universitário da região estava em greve.

Meio século depois, já com a notícia de que o Brasil superara o Reino Unido e já se tornara a sexta maior economia mundial, na madrugada de 27 de janeiro de 2013 acontecia, em Santa Maria (RS), mais uma tragédia envolvendo vítimas de incêndio. O auge do espetáculo foi o show pirotécnico da casa noturna, que estava sem a licença de funcionamento desde agosto de 2012, segundo um dos sócios da boate. Logo por isso nada foi surpresa aos milhares de espectadores que lotavam a plateia, dentre eles autoridades do governo como secretários de segurança pública, departamentos de fiscalização e Defesa Civil e Defensoria Pública do Estado.

Já estava na hora de descobrir quem causara essa tragédia. As investigações começaram sem saber se era a banda Gurizada Fandangueira e o show pirotécnico; se eram os donos da boate ou se eram os próprios espectadores, que esperavam a tragédia acontecer já que o local não foi fiscalizado, tal como igrejas, mercados e comunidades que também pegam fogo se procedimentos de segurança não forem cumpridos. Assim, a polícia prendeu quatro suspeitos, mas não há espaço na cadeia para todas as autoridades envolvidas.

Não me lembro das autoridades de Saúde cancelando a agenda para resolver o caos da greve nos hospitais públicos, quando milhares de procedimentos deixaram de ser realizados. Também não me lembro da mesma preocupação da Mídia com a vergonha do Mensalão e as novas declarações de Marcos Valério – que promete ainda ter muito a contar. Tal como aconteceu com as vítimas de Santa Maria, o jornalismo poderia divulgar o perfil de cada pessoa prejudicada por esse desvio de dinheiro público. Com certeza os números seriam maiores. E por falar em sensacionalismo, não vi a sociedade dando tanta audiência para as propagandas políticas e, assim, acompanhar quem irá representá-la para dar início a uma nova leva de espectadores.

Parafraseando o artigo publicado no Financial Times, estamos em um circo só esperando tragédias como essa acontecerem. “Idiotas existem em todo o mundo e é muito difícil de legislar contra eles. Até sábado, o Brasil não teve uma tragédia dessa escala por mais de meio século. Se o evento horroroso do fim de semana resultar em aplicações mais duras da lei, o Brasil terá feito mais progresso”.

Artigo escrito por Andressa Molina, colaboradora do Instituto GRPCOM.

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