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Robson Martins (à esquerda), o técnico Pupo Fernandes (centro) e Douglas Batista. Foto: Giulia Afiunde. Site Agência Pública.
Robson Martins (à esquerda), o técnico Pupo Fernandes (centro) e Douglas Batista. Foto: Giulia Afiunde. Site Agência Pública.| Foto:
Robson Martins (à esquerda), o técnico Pupo Fernandes (centro) e Douglas Batista. Foto: Giulia Afiunde. Site Agência Pública.

Robson Martins (à esquerda), o técnico Pupo Fernandes (centro) e Douglas Batista. Foto: Giulia Afiunde. Site Agência Pública.

Acostumado a ser Golias nos torneios de futebol internacional, o Brasil viveu seu dia de Davi. E não faz muito tempo não. No último dia 18, quatro jovens brasileiros conquistaram a Homeless World Cup, a Copa do Mundo dos Sem Teto, campeonato de futebol criado há dez anos para denunciar as precárias condições de moradia que afetam um grande número de pessoas no mundo.  O primeiro torneio, em 2003, reuniu moradores de rua de diversos países na cidade de Graz, na Áustria. O mais recente, que deu a vitória aos brasileiros reuniu equipes de 50 países em Poznan, na Polônia.

Hoje o torneio engloba também pessoas que vivem em “situação de risco”  por  morarem em áreas violentas, em habitações precárias, em áreas sem acesso a infraestrutura básica, condição em que se encaixam boa parte dos moradores das periferias das grandes cidades brasileiras.

O jogo é dividido em dois tempos de sete minutos e as equipes se organizam como no futebol de rua: três jogadores na linha e um no gol. Vale até aquela clássica tabela com a parede, usada pra ajudar a driblar os adversários em campinhos e quadras no Brasil. Naquele dia 18 de agosto, estavam na linha Darlan Martins, morador do Cantagalo (Rio), Douglas Batista, do Jardim Ângela (São Paulo) e Robson Martins, do Campo Limpo (São Paulo); Vinícius Araújo, da Rocinha (Rio) estava no gol.

Por falta de recursos, o “país do futebol” mandou a menor delegação entre os 59 países participantes: além dos quatro atletas, viajou o técnico Flávio “Pupo” Fernandes, professor de Educação Física. Guilherme Araújo, da ONG Futebol Social, responsável pela montagem da equipe, explica: “A gente já vinha trabalhando com o mesmo patrocinador desde 2011, o patrocínio para esse ano era algo quase que automático. Como o patrocinador nos apoia mediante a Lei de Incentivo ao Esporte, o projeto foi submetido ao Ministério do Esporte, mas não foi aprovado a tempo”, conta.

O patrocinador em questão é a Eletrobras, empresa estatal de energia elétrica, e como era considerado certo, a ONG já se mexia para conseguir os aportes para o ano, quando veio a notícia de que a verba não viria. “A informação que a gente teve era de que faltava uma carta de intenção de patrocínio. Esse nosso patrocinador, uma estatal, não faz esse tipo de carta. E a empresa está passando por uma grande reestruturação, passando por sua maior crise da história, então era inviável”, resume.

Diversos patrocinados sofreram cortes com crise da Eletrobrás, que chegou a registrar a maior queda de suas ações em quinze anos – 15% – em novembro do ano passado. O aporte dado à Confederação Brasileira de Basquete (CBB), por exemplo, caiu 42%: passando de R$ 13 milhões em 2012 para R$ 7,5 milhões em 2013.

Já a delegação mexicana, que disputou a final com o Brasil, levou 45 pessoas à Polônia: além de 20 atletas, incluindo a comissão técnica, 25 pessoas foram como convidadas da Fundação Telmex, braço social da Telmex, gigante do ramo das telecomunicações que atua em países como a Argentina, o Chile, a Colômbia, os Estados Unidos, o Equador, a República Dominicana, e até mesmo no Brasil, como controladora  da Claro, uma das quatro gigantes de telecomunicação brasileiras. O dono da Telmex, o bilionário mexicano Carlos Slim Helu, foi eleito o homem mais rico do mundo pelo quarto ano seguido no ranking da revista Forbes. Sua fortuna é estimada em nada menos do que R$ 73 bilhões, R$ 6 bilhões à frente do segundo colocado Bill Gates.

“O dinheiro com o qual eles mandaram essas 45 pessoas é o dinheiro que a gente consegue manter todo o nosso projeto durante um ano”, compara o técnico Pupo Fernandes.

Ainda assim, em uma final suada, os quatro atletas brasileiros venceram os mexicanos.  Na disputa dos pênaltis que se seguiu ao empate de 3 a 3, o goleiro brasileiro defendeu a primeira bola e Darlan Martins, eleito o melhor jogador do torneio, marcou o gol que deu o título ao Brasil. Após disputar dez partidas consecutivas, sem banco de reservas, sem verba, sem apoio, o time voltou com o caneco, mostrando a raça das periferias brasileiras.

Futebol social vs. Copa do Mundo

Impulsionar jovens a fazer carreira no futebol, porém, não é o objetivo central da ONG Futebol Social, responsável pela montagem da equipe brasileira para a Homeless World Cup, criada por Guilherme Araújo após uma experiência dele na revista Ocas, publicação vendida por pessoas em situação de rua como oportunidade para que voltem a exercer um trabalho remunerado.

“O projeto nasceu dentro da Ocas, cresceu dentro da Ocas e no fim de 2009 a gente fundou uma nova ONG”, conta Araújo. A Ocas havia sido convidada a representar o Brasil na “Homeless World Cup”, mandando um time de moradores de rua. “Eu treinei o time e tivemos dificuldades, porque muitos nunca tinham praticado um esporte, uma atividade física”, conta o técnico Pupo Fernandes.

Da experiência veio a ideia de usar o futebol como um agente de transformação social através de um projeto desenvolvido por uma rede de entidades parceiras como o Clube da Turma e o Estrela Nova, no extremo sul de São Paulo, e o Criança Esperança do Rio de Janeiro. A ONG Futebol Social também está presente em Minas Gerais, em Brasília e no Pará.

“Temos a meta de chegar a todas as regiões do Brasil, mas ainda estamos buscando recursos para isso”, conta Pupo Fernandes. “Nesse momento vemos que a mídia e os patrocinadores focam muito mais a Copa do Mundo do que projetos como o nosso. Por exemplo, um patrocinador prefere pegar R$ 100 mil e fazer mil bolas associando-se à Copa do que destinar a um projeto como o nosso”, avalia.

Matéria disponível no site Agência Pública, para ler a matéria na integra clique aqui.

*Artigo escrito por Ciro Barros e Giulia Afiune, especial para a Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo.

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