Marcado por um silêncio quase total nos veículos de comunicação, o dia 9 de agosto é um dia de muito pesar para o movimento social brasileiro. Há 13 anos, nesta data, Herbert de Souza, o Betinho, faleceu vitimado pela Aids.
A frase de título (assim como as demais destacadas abaixo, ao longo do texto) é absolutamente atual dentro do contexto eleitoral que estamos vivendo. Mas a vida de Betinho foi além de palavras. Lembrar o aniversário da morte dele significa lembrar-se de alguém que superou com dignidade seu terrível drama pessoal e se engajou na luta por um Brasil melhor. Mais do que isso: Betinho deu novo significado às palavras cidadania e solidariedade, lutando pela vida de milhões de brasileiros.
“Em resposta a uma ética da exclusão, estamos todos desafiados a praticar uma ética da solidariedade”.
Como seus dois irmãos, o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, Betinho era hemofílico e tornou-se portador do vírus da Aids após uma transfusão de sangue. Ameaçado pela morte desde que nasceu, foi o maior defensor da vida no Brasil. Embora tenha iniciado sua atuação política em 1955, Betinho se tornou nacionalmente conhecido pela Ação da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida, movimento que, sem ajuda financeira do governo, distribuiu toneladas de alimentos à população carente.
“Miséria é imoral. Pobreza é imoral. Talvez seja o maior crime moral que uma sociedade possa cometer”.
A Ação da Cidadania nasceu em uma época de intensa agitação política no Brasil. Em 1993, Betinho e grandes nomes da sociedade brasileira lideraram o pedido de impeachment do presidente Collor; toda a população se mobilizou para lutar pela democracia. Betinho, então, aproveitou a onda de participação social e canalizou os anseios da sociedade para a percepção de que democracia e miséria eram incompatíveis e que todos podemos fazer alguma coisa para combater o problema.
“O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”.
A Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria e pela Vida teve seu auge nos anos de 1993 e 1994. Neste período, o Brasil viveu um dos movimentos mais solidários de sua história: 25 milhões de pessoas contribuíram de alguma forma – doando dinheiro, alimentos e roupas – e outras 2,8 milhões se engajaram diretamente na campanha, metendo a mão na massa em um dos 4 mil comitês da Ação da Cidadania que foram criados em todo o país.
É impossível contabilizar o número real de doações que foram feitas nos quatro anos de campanha. Em cada beco de favela, havia um comitê da campanha criado pelos próprios moradores. Os atos de solidariedade se multiplicaram.
“Solidariedade, amigos , não se agradece, comemora-se”.
A iniciativa de Betinho foi um marco de extrema importância para revitalizar, em âmbito nacional, a conscientização para a solidariedade. O movimento despertou também a vontade de atuar para a resolução de problemas imediatos e o aumento de reivindicações junto ao governo. Além de arrecadar e distribuir de forma transparente toneladas de alimentos à população brasileira, Betinho também incentivou o voluntariado, a cidadania e a participação política.
“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura”.
Importante pesquisador e teórico, escreveu livros, artigos e tantos outros materiais para se compreender melhor o Brasil. Deixou também o legado de uma campanha que mobiliza anualmente milhares de brasileiros e uma das mais atuantes organizações não-governamentais do país, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). Mas o obstinado trabalho em favor dos 32 milhões de brasileiros totalmente desamparados é certamente o seu grande legado.
“O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade”.
Se hoje a arrecadação de alimentos já não é ação urgente e prioritária como era há alguns anos, a atuação de Betinho permitiu que a população se engajasse socialmente e encontrasse formas de participação. Seja na política, na cidadania ou até mesmo no voluntariado, cada dia mais é possível encontrar formas de participar da construção de uma sociedade mais justa, humana e fraterna, fazendo do legado de Betinho uma bandeira para a transformação do Brasil.
“Para nascer um novo Brasil, humano, solidário, democrático, é fundamental que uma nova cultura se estabeleça, que uma nova economia se implante e que um novo poder expresse a sociedade democrática e a democracia no Estado”.
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