Durante séculos a sociedade, economia e política se organizaram em torno dos recursos materiais, como terra, ouro ou petróleo, que por serem tangíveis se consomem com o uso e são finitos. E essa finitude criou uma economia da escassez, baseada em modelos de competição. Porém os recursos intangíveis, como cultura, conhecimento, experiência, são infinitos, renováveis e podem representar uma economia da abundância, baseada em modelos de colaboração.
Observando processos bem sucedidos, em qualquer setor, percebemos que há um padrão – que revela uma espécie de círculo exponencial da abundância. Um ciclo sustentável, baseado em intangíveis e que se constrói a partir de quatro pilares, todos eles de natureza abundante, infinita. Um pilar revelando e ativando o outro. O primeiro deles é o dos recursos intangíveis (a “matéria prima” da economia criativa), que não apenas não se esgotam como se renovam e multiplicam com o uso. Só esse fato já deveria fazer com que a economia criativa fosse prioridade estratégica – num momento em que o grande impasse é como seguir com ampliação de qualidade de vida e geração de renda se o planeta é um só, finito. Mas, se os átomos da Terra são finitos, os bits das novas tecnologias são nosso segundo infinito. Com eles podemos criar muitos mundos virtuais e infinitas formas de potencializar, conectar, recriar e interagir. E isso gera nosso terceiro pilar: as infinitas formas em que a sociedade em rede se organiza, produz, reinventa. Os exemplos são muitos: novos modelos de produção colaborativa como o Circuito Fora de Eixo; movimentos cívicos organizados em rede; as centenas de sites de crowd sourcing surgidos em poucos anos; os negócios mesh, originados no compartilhar; a produção colaborativa de conhecimento como a Wikipedia. E o quarto pilar é a chave para que de fato seja possível revelar e atuar com os pilares anteriores: uma visão multidimensional de riqueza, que temos chamado Economia 4D, pois considera recursos e resultados nas quatro dimensões da sustentabilidade, ou seja não apenas na dimensão financeira, mas também na ambiental, social e cultural.
O fascinante é que cada um desses “pilares / infinitos” ativa o outro, permite que ele deixe de ser potencial e se converta em realidade. O infinito 1, dos recursos intangíveis (cultura, conhecimento, criatividade, experiências), sempre existiu, claro. E são abundantes em países e regiões consideradas “pobres”. Mas as novas tecnologias do infinito 2 fizeram com que se tornassem visíveis e acessíveis permitindo que seu potencial se concretize. Exemplo é a possibilidade de juntar tempo, conhecimento e vontade do coletivo resultando no que é, provavelmente, o maior recurso do futuro: o excedente cognitivo (como proposto por Clay Shirky). A combinação dos dois infinitos gera o terceiro, aquele das novas formas de organizar pessoas, relações, empreendimentos, criação e produção – enfim, a tal “sociedade em rede”. E finalmente, para viabilizar este processo precisamos “tangibilizar o intangível”: desenvolver métricas e indicadores que permitam reconhecer avaliar, trocar e monitorar recursos e resultados, para além do quantitativo e financeiro. E aqui está nosso quarto pilar: índices multidimensionais de riqueza. Ao usar “Lentes 4D” percebemos que há Recursos (o que temos) e Resultados (o que geramos) nas quatro dimensões da sustentabilidade (e portanto da economia): Ambiental; Financeiro; Simbólico – Cultural; Sócio- Político.
Se tivermos a coragem de deixar para trás muitos dos modelos – conhecidos e confortáveis apesar de equivocados – do século XX e fizermos as escolhas certas, esse “quarteto de infinitos” pode trazer a possibilidade de criar o outro mundo sustentável e justo que desejamos. E é possível…
*Artigo escrito por Lala Deheinzelin, pioneira da economia criativa no Brasil e autora do livro Desejável Mundo Novo – disponível para download. Lala também é coordenadora da primeira pós-graduação em Economia Criativa e Colaborativa, pela ESPM e Núcleo Educacional de Economia Criativa/IBQP e colabora de forma voluntária no blog Giro Sustentável.
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