Todo período de início de ano, quando o ciclo se renova, é comum fazermos as tradicionais limpezas de armários e gavetas para encaminharmos materiais usados para a reciclagem. Geralmente esse descarte ainda passa por alguns materiais impressos como jornais, revistas, livros, agendas, blocos de anotações que julgamos sem mais necessidade.
Neste início de ano, estava fazendo exatamente esse processo quando encontrei um encarte de um jornal, a GAZETA MERCANTIL de janeiro de 1998. Era um caderno de uma coleção denominada “Domínio da Administração” e que trazia artigos traduzidos dos originais do FINANCIAL TIMES, apresentando conteúdos bem elaborados e profundos sobre gestão de negócios, o que dava certa longevidade para esses materiais e a necessidade de guardá-los para leituras posteriores.
Quando estava fazendo uma última folheada para o descarte, encontrei um artigo intitulado “Ecologia: ameaça ou oportunidade”. Confesso que não lembro de, na época, ter dado tanta importância para a leitura desse tipo de assunto, até porque os que mais me interessavam tinham (e têm até hoje) relevância na área econômica e financeira.
O autor, Georges Haour, trazia uma conexão da parte de negócios com as questões ambientais e provocava reflexões sobre produtos verdes e destino de embalagens, temas que, então, não apresentavam tanta relevância, pelo menos em se tratando de Brasil. E teve um parágrafo que me chamou muita atenção, que dizia o seguinte:
“Reconciliar a ecologia com a economia faz sentido, tanto do ponto de vista ético como empresarial. De fato, as soluções ecológicas favorecem a utilização eficaz de energia e dos materiais, diminuindo os desperdícios e os custos de transporte e armazenamento.”
Após a leitura deste trecho, parecia que o autor tinha elaborado esse conteúdo no dia anterior, diante da tamanha atualidade da relação entre economia empresarial e responsabilidade ambiental. Vejo que muito da viabilidade da sustentabilidade na gestão empresarial passa por entendimentos nessa linha. Quando o gestor consegue conciliar a viabilidade econômica com a responsabilidade ambiental, ele é assertivo sob duas perspectivas, visto que consegue demonstrar a preocupação que a empresa possui diante dos fatores sistêmicos do meio ambiente, contribuindo muito para a melhoria da imagem e da reputação empresarial perante vários stakeholders (principalmente externos) e, ao mesmo tempo, cumpre com um fator primordial na gestão dos negócios que é a viabilidade financeira. Dificilmente um projeto ambiental terá vida longa sem que tenha uma contrapartida, mesmo que indireta, na esfera financeira. Quando o gestor consegue combinar esses dois fatores, sem esquecer do fator social, ele começa a criar sinergia e harmonia entre as três principais dimensões da sustentabilidade.
Atualmente, projetos na linha de gestão de resíduos, nas diversas fases do processo produtivo e de consumo, podem, sim, gerar economia ao negócio e contribuição para os fatores ambientais. Ou seja, em termos mais diretos, é muito mais barato gerenciar resíduos do que desperdiçá-los.
Outro exemplo está na linha dos projetos de eficiência energética. Nesse tipo de projeto a empresa reavalia todo o seu processo de consumo até com a busca de fontes menos impactantes, aspectos estes que irão gerar uma economia no caixa e uma contribuição para o ambiente.
E, por fim, outro projeto que também passa pela reavaliação de processos, que é a redução de emissão de gases de efeito estufa, os quais trazem enormes benefícios na redução dos volumes de gases e consequentemente redução de custos com compra de combustíveis. Diante disso, quando o gestor consegue perceber os benefícios compartilhados entre a dimensão econômica e ambiental, ele e a empresa dão um salto gigantesco para processos e negócios mais sustentáveis…
Parece algo tão obvio e que ainda precisamos frisar, mesmo tendo sido escrito há mais de duas décadas.
*Artigo escrito por Pedro Salanek Filho, consultor e professor na área de finanças corporativas e sustentabilidade empresarial.
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