A opinião de gestores de empresas brasileiras reflete uma divisão nas expectativas sobre os resultados das discussões da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho.
É o que revela a pesquisa “Desenvolvimento sustentável no Brasil – Das visões do empresariado às práticas das organizações”, conduzida pela empresa de consultoria Deloitte, entre 9 de abril e 15 de maio. Foram ouvidos gestores de 108 organizações, de todos os portes e setores, que faturam juntas R$ 700 bilhões, o que corresponde a 17% do PIB do Brasil em 2011.
Quase metade dos empresários entrevistados (45%) acredita que a Rio+20 contribuirá para acelerar as discussões em curso. Enquanto isso, o mesmo percentual de respondentes aposta que a conferência não trará mudanças significativas. Os 10% restantes têm visões bastante distintas, que vão da aposta no evento para promover grandes transformações, até a possibilidade de que ocorra um retrocesso nas negociações globais.
Das discussões para a ação
Para transformar as questões a serem discutidas na Rio+20 em ações concretas, as alternativas mais assinaladas pelo empresariado indicam para a necessidade de definir metas claras a serem cumpridas e definir sanções legais a países e empresas que não cumprirem as metas.
Outro caminho bastante indicado pelos entrevistados é a importância de aumentar o envolvimento com os temas da sustentabilidade, por parte das pessoas, como cidadãos e consumidores (22% das respostas), o próprio governo (13%) e as empresas (9%). Foram indicadas também outras soluções como a criação de órgãos supranacionais para tratar da sustentabilidade (10%) e o estabelecimento de protocolos entre as nações (8%).
De acordo com Anselmo Bonservizzi, sócio da Deloitte e líder da área de Consultoria Ambiental e Sustentabilidade, a visão predominante do empresariado sinaliza uma preocupação de ordem prática. “As organizações brasileiras entendem hoje a importância de se discutir as melhores soluções para o desenvolvimento sustentável, especialmente num contexto em que os agentes de negócio se voltam para a construção de uma economia verde, um dos temas centrais da Rio+20. No entanto, o avanço do mercado e da sociedade nessa direção dependerá de definições muito claras e objetivas, tempo de transformação, incentivos, fiscalização e métricas que permitam acompanhar o desenvolvimento e assegurem que os acordos fechados se transformem em realidade”.
Dos aspectos a serem discutidos na Rio+20, o empresariado acredita que os que trarão maior impacto à gestão de suas organizações, após a conferência, serão a adoção de novas tecnologias (20% dos apontamentos), a implantação de certificações e auditorias (19%), a racionalização do uso de recursos naturais, com o emprego de matérias-primas e insumos (16%) e a necessidade de aderência a regulamentações na área ambiental (14%).
Conhecimento sobre eventos e acordos
A pesquisa identificou que 94% dos entrevistados apresentam algum grau de conhecimento sobre a Rio+20. O Protocolo de Kyoto, por sua vez, é o acordo pelo desenvolvimento sustentável mais conhecido do empresariado brasileiro. Quase a totalidade (98%) dos entrevistados indica ter algum nível de conhecimento sobre o tratado que estabeleceu, em 1997, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), prevendo a redução da emissão de gases de efeito-estufa em países industrializados e o incentivo a projetos ambientalmente sustentáveis em todo o mundo.
Outra questão da mesma pesquisa reforça a importância do Protocolo de Kyoto na visão dos entrevistados: esse acordo foi, segundo 78% deles, aquele que, na história, mais conquistou resultados de alta ou média relevância.
Para Lucilene Batista, gerente sênior da área de Consultoria Ambiental e Sustentabilidade da Deloitte, “essa visão do empresariado se explica pelos impactos que o Protocolo de Kyoto exerceu na própria estratégia de muitas empresas e no mercado como um todo. Ele foi fundamental para motivar o desenvolvimento da energia eólica, por exemplo”. Ela lembra também que o Brasil teve papel pioneiro no desenvolvimento de projetos sustentáveis, conforme previsto pelo Protocolo, tanto pela iniciativa privada quanto governamental.
Compromisso e práticas adotadas
O compromisso com o desenvolvimento sustentável está formalizado no planejamento estratégico de 77% das empresas abrangidas pela pesquisa. A adoção de políticas e diretrizes de sustentabilidade ocorre em 47% das organizações (outras 26% indicam que pretendem adotar). A elaboração de relatórios de sustentabilidade se dá em 43% das empresas, com outros 25% delas informando intenção de fazê-lo. O gerenciamento de impactos ambientais ocorre em 42% da amostra.
Cerca de metade das empresas (51%) respondeu ter metas socioambientais estabelecidas. A prática de vincular a remuneração dos funcionários a metas associadas à sustentabilidade já faz parte da realidade de 27% das corporações entrevistadas.
Entre os programas e iniciativas pró-sustentabilidade mais adotados hoje pelas empresas, destacam-se, conforme a pesquisa: a coleta seletiva de lixo (73% delas já a praticam e 20% pretendem praticar), ações de responsabilidade social (65% já as realizam na comunidade e 60% entre os funcionários), a racionalização do uso de recursos naturais (54% já o fazem e outras 26% indicam intenção de fazê-lo) e atividades de educação ambiental (51% já adotam e 30% pretendem adotar).
A evolução dos últimos anos
A adoção de práticas sustentáveis vem ganhando gradativamente maior adesão no ambiente empresarial brasileiro, como se verifica na comparação entre os resultados da pesquisa recém-realizada pela Deloitte com outro estudo promovido pela consultoria em 2009. Na ocasião, 78% das empresas de uma amostra numericamente semelhante à atual responderam que adotavam práticas sustentáveis e 18% pretendiam adotar. Na pesquisa de 2012, 85% afirmam adotar essas práticas e 12% (na sua grande maioria, pequenas e médias empresas) manifestam intenção de fazê-lo.
Outra comparação entre os dois estudos é sobre o montante de investimentos em iniciativas pela sustentabilidade. Em 2009, 29% das empresas direcionavam entre 1% e 3% da sua receita para práticas desse tipo. Em 2012, o índice caiu para 7%. Da mesma forma, em 2009, 15% das empresas ficavam na faixa de menor investimento (com apenas 0,1% da receita sendo destinada a iniciativas sustentáveis), contra 21% na amostra atual.
Essa aparente diminuição de investimento merece ser contextualizada, de acordo com Anselmo Bonservizzi, da Deloitte. “No final da última década, principalmente as grandes empresas estavam numa fase mais intensa de aderências a novas práticas ambientais, enquanto, hoje, o foco está na manutenção desse perfil de iniciativa e no aumento de investimentos em outras áreas ligadas à sustentabilidade, como a social. Esperamos, entretanto, que o perfil de empresas aderentes a estas práticas seja expandido”, explica o consultor.
*Post elaborado com informações da assessoria de comunicação da Deloitte.
**Quer saber mais sobre cidadania, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Siga o Instituto GRPCOM também no twitter: @institutogrpcom.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS