A questão da duração de nossa existência, assim como a sua finalidade, tem preocupado filósofos, sociólogos, físicos e outros pesquisadores desde o que consideramos o início de nossa racionalidade, possivelmente localizada no período pré-socrático, ou seja, cerca de dois mil e quinhentos anos atrás.
Platão já afirmava que precisamos muito do devir, pois sem ele não poderíamos assumir plenamente nossa humanidade, sendo indispensável uma realidade estável sem a qual não concebemos vida nem pensamento; significando que, sem futuro não existe “a verdade do ser”.
Este mesmo pensador já concluía que, a partir da observação do estado atual de todo o universo seria perfeitamente possível determinar seu estado vindouro. Efetivamente, em termos materiais qualquer evento é causado por um evento anterior – outra forma de dizer que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma – o que torna possível predizer ou explicar nosso futuro com base em nosso presente. Considerando nosso presente é difícil ficarmos muito otimistas…
Nossa relação com o mundo e com o tempo não tem se caracterizado por uma preocupação consistente com a sustentabilidade, com as condições em que deixaremos o mundo para aqueles que nos sucederão. São nossos filhos, nossos netos, nosso futuro, e temos agido com eles como se tudo o que fizermos não venha a ter a menor implicação no planeta em que viverão.
Mesmo se considerarmos toda a complexidade de nossas vidas imersas na tecnologia de ponta, na indigência, no excesso, na falta, na miséria, no luxo, o pensamento voltado ao compartilhamento é essencial.
As tomadas de decisões em todas as organizações, em particular aquelas do meio empresarial, também devem contribuir para atender as necessidades das gerações presentes, não comprometendo as gerações futuras, atualmente no mundo das empresas, contamos com stakeholders com diversos interesses: acionistas ávidos por lucros, consumidores vorazes, comunidades carentes, fornecedores que extraem recursos naturais escassos, meio ambiente degradado, concorrência desleal, consequência da civilização competitiva que desenvolvemos. Muitas empresas que só pensam no curto prazo.
Tudo isso nos traz dúvidas sobre se realmente conseguimos satisfazer a demanda decorrente da cultura consumista de jovens e adultos ocidentais, que efetivamente detém a maior parte do poder financeiro mundial, tendo, por outro lado, comunidades carentes, de baixo índice de desenvolvimento humano e alta desigualdade.
Estamos exaurindo com extrema velocidade os recursos naturais, não apenas em quantidade, mas principalmente em qualidade, água, ar puro, biodiversidade, espécies da fauna e flora e solo fértil.
Assim, prosperar sem degradar tanto não tem sido tema de nossas ações, embora certamente instalar a cultura da sustentabilidade dentro dos governos, empresas e sociedade civil possa reverter este processo para garantir um bom futuro comum.
Os antigos gregos legaram dois princípios fundadores da cultura ocidental: a racionalidade da natureza – conjunto geral de pensamento a partir do qual toda a experiência humana possa ser interpretada de modo lógico e coerente; e o da democracia, como condição necessária da criatividade, da liberdade, e acima de tudo da responsabilidade em que este sistema de governo implica.
Podemos ser deterministas, ou talvez catastrofistas, e considerar que o futuro está pronto, não depende mais do que possamos mudar de agora em diante, que já ultrapassamos o limite planetário, que as alterações climáticas são irreversíveis e, segundo a filosofia trumpiana, “its not my fault”. Ou podemos ser o que queremos ser quando temos os melhores ideais: ético, solidários, preocupados realmente com nosso planeta e com as gerações futuras, e ainda que não nos sentindo culpados, reconhecendo que somos, sim, responsáveis.
Poucas entidades e pessoas fazem mais que o mero discurso politicamente correto, muitas vezes ações expressas em folhetos e sites não passam de simples marketing, falando em sustentabilidade e boas práticas como o se o bom senso houvesse sido inaugurado poucos minutos atrás. É preciso partir à ação, conciliando interesses das gerações presentes e futuras, como já alertavam pensadores de milênios atrás.
*Artigo escrito por Wanda Camargo – professora do UniBrasil Centro Universitário e por Rosane Fontoura coordenadora executiva do CPCE. O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.
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