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A imortalidade exigirá novos paradigmas para a sustentabilidade

A quarta revolução industrial (a RI 4.0), ou indústria 4.0, atualmente bate em nossas portas trazendo cloud computing, robôs autônomos, manufatura aditiva, técnicas de padrões abertos, realidade aumentada, big data analytics, cyber security, machine to machine (M2M),  IoT/IIoT, frameworks, smart factory, integração e interoperabilidade, dentre muitos outros conceitos.

Embora a RI 4.0 seja ainda uma revolução desconhecida de muitos, já é intensamente utilizada e vem permitindo aumentar a capacidade de resposta, a eficiência e a qualidade dos serviços, processos ou produtos gerados para atender as novas demandas dos mercados ou das pessoas que passam a requisitar procedimentos mais inteligentes e com maior flexibilidade ou abrangência.

A RI 4.0 mais que um movimento que amplia fortemente a realidade da indústria automatizada e informatizada gerada durante a terceira revolução industrial (RI 3.0) constitui uma nova forma de pensar tanto a indústria quanto o mundo em que vivemos e a realidade pessoal de cada um, onde, necessariamente, a resiliência e a sustentabilidade devem conduzir à integração estrita horizontal e vertical da informação e da comunicação.

Assim, tanto os profissionais quanto as pessoas em geral deverão estar familiarizados com as tendências e tecnologias requeridas para que possam tomar decisões estratégicas de forma alinhada com a nova demanda do mercado e com as inúmeras possibilidades de um novo viver atendendo contínuas extensões que se apresentam diariamente.

Inevitavelmente, o avanço e os progressos das correspondentes tecnologias estão permitindo revolucionar a vida humana. Em decorrência dos surpreendentes desenvolvimentos tecnológicos, a expectativa de vida humana cresce ano após ano. O que era ficção científica há poucos anos atrás hoje passa a ser realidade presente, como é o caso das inovadoras impressoras 3D que já permitem a criação de órgãos humanos artificiais eficientes e de baixíssimo custo. Com o uso de impressoras 3D é possível, também, gerar pele humana, bem como ossos artificiais para substituição de peles queimadas ou ossos necrosados. A ficção tornou-se realidade.

Descobertas e trabalhos em nanociências e em nanotecnologias permitem o desenvolvimento de tratamentos altamente eficazes para a cura de diversas doenças que antes consumiam a vida das pessoas sumariamente. Técnicas revolucionárias em nanoengenharia com a utilização de nanomateriais mostram-se poderosíssimas para a cura de alguns tipos de câncer antes tidos como incuráveis.

A vida humana passa a ser ampliada e a longevidade vislumbra a imortalidade não mais como ficção científica. Previsões dão conta que no ritmo que a RI 4.0 avança muito provavelmente a imortalidade será atingida ainda neste século. A morte não mais será um limitante, pois sendo possível substituir quaisquer dos órgãos doentes por outros artificiais construídos a exata semelhança dos originais será possível sim viver para sempre. Seremos, então, imortais.

Mas, imagine, por hipótese, que a humanidade atinja, de fato, como algumas previsões insistem em alardear, a imortalidade ainda neste século. A simples ideia (sem mudança completa do conceito de vida) é insustentável. As populações não poderão morrer e sempre gerarão seus descendentes que, também, não morrerão. Um ciclo assustador terá início, pois muito provavelmente, a despeito da “evolução” tecnológica que manterá para sempre a vida é possível que possamos regredir a um estado de barbárie.

Pensemos em alguns dilemas possíveis: “as tecnologias me garantem a vida eterna, mas não tenho o que comer”. Por outro lado, “se a Terra é um planeta limitado, em pouco tempo não haverá mais lugar para todos habitar uma vez que os seres humanos não morrerão mais e continuarão a gerar outros humanos que, também, não morrerão”.

Se vamos conseguir a imortalidade ou não está não será, porém, a questão primordial para a sustentabilidade. O ponto central da questão é que, inevitavelmente, nas próximas décadas, o rápido avanço das tecnologias da RI 4.0 proporcionará, de um lado, surpreendente aumento do tempo de vida humana e exponencial melhoria da qualidade de vida e, de outro lado, exigirá, por exemplo, absurda produção de alimentos para manter as populações sempre crescentes e com muito mais tempo de vida. Mais terras serão, também, necessárias para produzir alimentos. Terras ocupadas para a produção de comida serão disputadas com os espaços para habitação das mesmas pessoas que deverão comer.

Diante da problemática em consideração e sem radical modificação dos atuais protocolos de desenvolvimento em tecnologia, certo é que as questões sobre sustentabilidade deverão acompanhar muito proximamente a velocidade da RI 4.0 que aumenta velozmente e que pretende ser ubíqua (onipresente). Sempre foi necessária a integração entre as tecnologias e a inteligência quando se pensa em modificar a forma como nós podemos viver melhor e mais. Mas, no caso da atual revolução industrial parece que questões sobre sustentabilidade estão passando batidas.

Veja-se que a RI 4.0 vem transformando nossas vidas com acesso a uma grande variedade de produtos, serviços e soluções mais eficientes onde por intermédio da informação a realidade é ampliada e o planeta é encolhido, pois ao passarmos a conhecer praticamente tudo em tempo real a vida se desenvolve mais plenamente com menores distâncias. Mas,todavia, as questões sobre sustentabilidade continuam sendo orientadas por paradigmas clássicos que não conseguem acompanhar a atual transformação (revolução) tecnológica que nos impulsiona para uma nova maneira de viver e acompanhar o funcionamento do mundo. São exigidos, então, novos paradigmas para nortear a sustentabilidade.

Além do mais, pensar a sustentabilidade para o presente ritmo no qual as populações aumentam e se mantém já é tarefa das mais complexas. Garantir sustentabilidade para futuras gerações que viverão muito mais e com maior qualidade de vida será trabalho que exigirá esforços complexos e conjugados de todos. Todavia, se uma humanidade imortal se instaurar ainda neste século sem a correspondente evolução da concepção de sustentabilidade, muito possivelmente homens imortais habitarão um mundo insustentável.

Impõe-se, então, pensarmos a sustentabilidade para as possibilidades futuras nos segmentos diretamente impactados pela RI 4.0. É preciso analisar a viabilidade e as consequências de cada uma das novas tecnologias da RI 4.0 em associação com a sustentabilidade. Não é aceitável esperar o momento futuro para se engendrar as soluções que serão exigidas em sustentabilidade quando o mundo dos humanos imortais acontecer. As soluções são, então, chamadas a engendrar agora.

*Artigo escrito por Carlos Magno Corrêa Dias, Professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Líder (Coordenador) do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) da UTFPR/CNPq. O Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.

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