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Ouve-se falar que os trabalhadores serão substituídos pelos robôs e pela inteligência artificial e que o número de desempregados no mundo aumentará de forma incontrolável e progressiva. Certamente, o mundo do trabalho e toda economia mundial, em decorrência da evolução das tecnologias, experimentam transformações, de um lado, preocupantes, mas, de outro, desejáveis para o bem da humanidade.

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Todavia, não é somente nos dias atuais que as tecnologias vêm promovendo transformações nos tipos de empregos criando novas formas de trabalho anteriormente inexistentes e acabando com outros postos de trabalho que durante séculos empregavam milhões de trabalhadores. Hoje, porém, dois pontos devem ser observados com atenção quanto ao mundo do trabalho. Primeiro: a diferença nesta (necessária) substituição está acontecendo em um ritmo muito acelerado e, em muitas das vezes, imperceptível. Segundo: perdem-se quaisquer garantias que os novos empregos poderão ser mantidos por muito tempo mesmo aqueles criados recentemente.

Deve-se observar, todavia, que o homem jamais deixará de trabalhar embora o mundo do trabalho sofra profundas alterações promovidas pelas Revoluções Industriais, pois sempre existirão trabalhos que apenas os homens poderão executar.

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Afirma-se, categoricamente, que as máquinas, no presente, por excelência, são limitadas, sendo a maior deficiência apresentada por um robô e pela inteligência artificial o não reconhecimento pleno, absoluto e incondicional de padrões. Robôs tratam com linhas de forma analítica, lógica, mas não “entendem” que as mesmas linhas podem representar ou “falar” sobre rostos, frutas, automóveis.

Além do mais, não é possível aos robôs e à inteligência artificial “compreender” o comportamento do homem em sua complexidade e “ingenuidade”. Mais ainda, observa-se que o senso comum da humanidade não é lógico. Uma inteligência artificial (atualmente) não tem “compreensão” de situações tão elementares como “a água é molhada”, “um objeto grande não cabe dentro de uma caixa pequena”. Uma inteligência artificial não consegue “entender” a diferença entre “puxar” e “empurrar”, entre “pensar” e “sonhar”, entre “viver” e “sobreviver”, entre “cortar” e “rasgar”.

Para as máquinas não é nada fácil tratar ocorrências no nível da percepção, compreensão da linguagem, raciocínio e planejamento. Entretanto, as máquinas nos superarão totalmente em atividades que requerem trabalhos repetitivos exceto naqueles que envolvem, invariavelmente, imaginação, criatividade, liderança e análise tal como no fazer Ciência, criar na Arte, conjecturar na Filosofia, dentre outros.

Porém uma Indústria 4.0 ou Quarta Revolução Industrial já se instalou e avança muito rapidamente. Os sistemas cyber-físicos se desenvolvem com a capacidade para auto diagnóstico, auto configuração e auto otimização. Muito proximamente tanto as indústrias quanto todas as organizações serão totalmente conectadas. Máquinas, robôs, processos, serviços, sistemas inteligentes estarão interligados e serão comandados remotamente de qualquer lugar do mundo. Redes inteligentes serão incorporadas às cadeias de suprimentos, aos ambientes de manufatura, ao mundo dos negócios, à vida das pessoas. O homem, então, será chamado a dedicar sua vida e inteligência para desenvolver atividades mais nobres, criativas e muito mais complexas.

Existem estudos que revelam que, atualmente, 69% dos postos de trabalho do setor industrial no mundo poderiam ser automatizados e que mais de 50% dos estudantes do mundo estão sendo formados para carreiras que se tornarão obsoletas muito em breve.

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As transformações previstas trarão vantagens gigantescas para a economia mundial e, principalmente, para a saúde do trabalhador que não mais permanecerá longos períodos de tempo nos postos de trabalho com o passar dos anos. As máquinas, os robôs e a inteligência artificial realizarão trabalhos menos qualificados, repetitivos e perigosos.

Diante deste quadro transformador muitas são as especulações sobre quais empregos permanecerão, quais deixaram de existir e quais serão os novos trabalhos que ainda não existem (ou que começam a demonstrar necessidade de implementação imediata). Uma aposta, uma prospecção, que começa a ser considerada está centrada nos profissionais que desenvolverão trabalhos que venham complementar e assegurar a realização das tarefas que passarão a ser realizadas no campo da tecnologia cognitiva. Neste sentido, aposta-se nos trainers (os que treinam), nos explainers (os que explicam) e nos sustainers (os que monitoram).

Os que treinam (trainers) serão aqueles profissionais que, por um lado, ensinarão os sistemas de inteligência artificial a operar devidamente ajudando os processadores de linguagem natural e os tradutores de linguagem a cometerem menos erros (depuração) e, por outro, se dedicarão ao trabalho de ensinar os algoritmos de inteligência artificial a imitar comportamentos humanos.

Já os que explicam (explainers) seriam aqueles novos profissionais que estariam entre os tecnólogos e os gestores e terão a função de auxiliar a tornar clara as funções e funcionamento dos sistemas de inteligência artificial na medida em que estes vão se ampliando e se tornando cada vez mais sofisticados e complexos . Os trainers serão colaboradores que explicarão o funcionamento dos algoritmos complexos para todo aquele profissional não especializado.

Por fim, os que monitoram (sustainers) serão aqueles profissionais que terão a função de garantir que os sistemas de inteligência artificial operem conforme o planejamento. Estes profissionais passarão a atuar como uma espécie de vigilante e ombudsman para fazer cumprir as normas, defender os valores e os costumes humanos. Os sustainers serão como gerentes de ética e compliance nas Organizações.

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As três últimas profissões sugeridas integram uma nova força de trabalho que embora comece a surgir de forma insipiente já é defendida e proposta por especialistas que acreditam que as mesmas permearão todos os setores nos quais a Indústria 4.0 tenha seu desenvolvimento. Claro, entretanto, que dadas as especificidades envolvidas estas promoverão, também, mudanças políticas, sociais e pedagógicas tanto na maneira atual de se formar nas Universidades os futuros profissionais para o Mundo do Trabalho quanto sobre as legislações que regerão as diversas ações humanas proximamente.
*Artigo escrito por Carlos Magno Corrêa Dias, Professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Líder (Coordenador) do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) da UTFPR/CNPq. O do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.

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