A consciência da transitoriedade, de pessoas, corporações e até países, desperta a atenção para a ideia do legado, do que se deixará às gerações seguintes e sucessores; o que ficará para os filhos, para a sociedade. As empresas preocupam-se com seu legado, os governantes dos países justificam muitos de seus atos em nome dele, as pessoas de um modo geral associam sua obra presente a memória de seu nome e o orgulho/honra de seus filhos e netos.
Pensar nos que virão depois de nós geralmente nos torna melhores, mas cabe sempre a reflexão sobre se estamos, de modo consciente, focados no que dizemos ser nossa preocupação, e dentre elas talvez a mais importante seja a sustentabilidade.
A Organização das Nações Unidas (ONU), ciente da importância do tema e de que este ocupa as atenções de muitas empresas, lançou em 2010, por meio do Pacto Global, o “Plano para Liderança em Sustentabilidade”, com o objetivo de estabelecer um padrão de ação para as empresas membros, que melhore as habilidades e compromissos. A ONU constata que, embora o número de dirigentes participantes da agenda de sustentabilidade tenha aumentado, ainda são muitas as empresas que entendem conceitos como ambientalismo, solidariedade, tolerância, sustentabilidade, responsabilidade social apenas como lugares comuns, meros rótulos a enfeitar discursos e constar em “missões” inscritas em material promocional e sites.
A importância da liderança em uma corporação não pode ser exagerada, o verdadeiro líder estabelece o rumo da empresa, e também a sua cultura, os valores que guiarão suas ações. Os colaboradores acreditarão no que acredita a alta administração, se esta for coerente e praticar de modo inequívoco sua crença.
Com esta preocupação, o Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), participante do Pacto Global, promoveu recentemente encontro entre os professores conselheiros do seu núcleo de Instituições de Ensino Superior – IES, representantes do Centro Internacional de Formação de Atores Locais da América Latina (CIFAL – Curitiba), e professores e alunos da Kennesaw State University (KSU). O evento assumiu maior importância no momento em que o país enfrenta turbulências políticas e econômicas, mas precisa também resolver a urgente e sempre adiada melhoria de seu processo educacional; usou-se o inglês como língua padrão, dentro também do princípio de que a internacionalização do sistema educativo brasileiro é urgente e necessária, troca de experiências é fundamental para atingir eficiência.
Foram discutidas as atividades praticadas pelos cursos de graduação e pós-graduação em Administração de Empresas mantidos pelas instituições de Curitiba: UFPR, ISAE, UTFPR, UNIBRASIL, UNINTER, FAE, PUC, FAE e UTP e da KSU para a formação de líderes sustentáveis, fiéis às suas diretrizes gerais de observação de valores éticos e manejo de recursos para a garantia de sobrevivência do planeta sem, no entanto, afetar a produtividade empresarial, essencial para atendimento às demandas crescentes de alimentos, vestuário e outros bens materiais.
Procurando resposta para a sempre fluida questão do que seria um líder sustentável, diversas pesquisas convergiram para a descrição de qualidades indispensáveis ao trabalho nesta área:
– Crença firme nos valores que estruturam o conceito de sustentabilidade. Talvez o atributo de maior importância. Algo que supera e transcende o mero pragmatismo utilitário e a busca de “agregar valor ao negócio”, apresentando-o como sustentável. Trata-se de crença real em valores como respeito ao outro, à natureza e ecossistemas, à justiça, ao diálogo e à transparência; e de vivenciar essa crença como norteadora das escolhas, simples e estratégicas, praticando na empresa a mesma ética e moral seguidas com amigos e familiares, o que norteia a noção de Pessoas, Planeta e Paz que estão nos eixos do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS que apresentam 17 objetivos.
– Compreensão real de que os sistemas econômico, ambiental e social são interdependentes. Compreensão que leva o líder, e por extensão a empresa, a adotar valores menos autorreferentes, assumindo que a corporação não é o centro do universo, e que os negócios e o lucro não estão acima da sociedade e da natureza. Cria-se uma nova noção de Prosperidade, na qual o verdadeiro bom negócio é bom para todas as partes nele envolvidas, num equilíbrio entre lucro justo, proteção ao meio ambiente e justiça social.
Um legado não é, absolutamente, um monumento autoglorificante como o que descreve o poeta inglês Shelley num soneto em que um viajante encontra no deserto os escombros de uma estátua imensa, em cujo pedestal ainda se podia ler: “Meu nome é Ozymandias, rei dos reis / contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperem!”. E nada mais resta: junto à decadência das ruínas colossais, ilimitadas e nuas, as areias solitárias e inacabáveis estendem-se longe.
Se deixaremos algo de valor para o mundo será o próprio mundo, melhor do que o encontramos, e para isso são fundamentais as lideranças comprometidas com a sustentabilidade.
*Artigo escrito por Wanda Camargo, representante do UniBrasil Centro Universitário no Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE). O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – CPCE é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.
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