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Litoral sustentável

Imagem: Gazeta do Povo

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Dentre os grandes ecossistemas brasileiros, cerrado, caatinga, mata atlântica, pantanal, floresta amazônica, um se destaca de modo particular quando o verão se aproxima na faixa litorânea, a mata atlântica. Não por ter maior importância do que os demais em um contexto amplo, mas por que é o nosso bioma, que abriga uma rica biodiversidade, e a sua degradação se torna evidente de modo quase repentino para centenas de milhares de pessoas que só o frequentam em um período do ano.

As praias sofrem processos de erosão devido às mudanças climáticas em curso, ocupações desenfreadas das faixas de restinga, coleta e tratamento ineficazes dos esgotos sanitários, comerciais e industriais, lixo jogado pelos banhistas, e  os lançamentos clandestinos que promovem uma catastrófica poluição das águas, resultando em baixa balneabilidade (impróprias para o banho). As normas de ocupação do uso de solo são recentes e, ainda assim, pouco obedecidas, enchentes e deslizamentos podem ser uma surpresa desagradável para a população local e para os seus visitantes.

O litoral paranaense, cidades portuárias à parte, tem como grande fonte de renda o turismo; e essa atividade, como todas as demais, deve ser sustentável não apenas no sentido preservacionista ambiental, cultural e social, mas também no econômico. Um turismo economicamente sustentável pressupõe que o visitante, satisfeito com a estada e o bom tratamento recebido, tornará a vir ao local, e o divulgará positivamente para seus próximos, assegurando um fluxo constante de pessoas que o torne viável.

Nosso litoral acumula problemas de décadas, só resolvidos pontualmente, e a conta-gotas, à medida que se tornam graves demais para serem ignorados. Afora as sérias questões ambientais há dificuldades de acesso, racionamento de água, filas para compra de alguns produtos, má circulação viária, invasão de residências, uso de drogas lícitas e ilícitas, exploração sexual infantil e criminalidade em vários estágios.

A estrutura de hotelaria e alimentação é, em grande parte, deficitária, embora existam uns poucos hotéis e pousadas de boa qualidade e alguns restaurantes excepcionalmente bons. Um dos obstáculos à maior profissionalização no setor do turismo é a curta duração da temporada, os comerciantes temem, com razão, fazer grandes investimentos de que terão que obter retorno em poucos meses do ano. Isso leva à profusão de estabelecimentos mal instalados, com pessoal destreinado, e cobrando preços incompatíveis. A reclamação constante é de que os “banhistas” trazem tudo de suas cidades, comprando apenas o essencial, anacronismo de um tempo em que até água potável deveria ser trazida na bagagem, porém, também reflexo de um comércio que, com poucas exceções, não oferece muita variedade, cobrando altos preços por suas mercadorias.

Os comerciantes investem pouco em qualidade e cobram em suas faturas pela demanda irregular, os consumidores consomem pouco, ou não retornam, pelo baixo padrão e preços exagerados; um círculo infernal que deve ser rompido, e não o será pelos clientes – o cliente sempre tem opção – e a usa se não estiver satisfeito.

É dever do Estado garantir a segurança pública, prover educação e saúde, fiscalizar o cumprimento das leis sanitárias e ambientais, investir em mobilidade; mas há muito que os empresários podem fazer, dentre o que fazem de melhor: investir e correr riscos; e aquilo que lhes é mais doloroso: reduzir a lucratividade. A comunidade local também pode colaborar no desenvolvimento local sustentável, e o turista deve evitar comprar produto que explora os recursos naturais (pesca predatória e extração de espécies nativas da mata atlântica), respeitar a cultura caiçara e das outras comunidades locais, consumindo produtos artesanais e manufaturados para impulsionar a economia local.

A realização de cursos profissionalizantes, promoção de mais eventos durante o ano todo, busca de colaboração com a excelente UFPR Litoral e outras instituições que tem todo interesse no sucesso da região, e certamente promover extenso projeto de educação ambiental, tanto para preparação de profissionais que possam interferir nesta realidade, quanto produzindo ações alternativas para obter novo perfil desenvolvimentista, poderão articular os aspectos culturais, técnicos e ambientais geradores de renda para a comunidade.

Vigotski, psicólogo bielo-russo e um dos mais importantes pesquisadores da área educacional, afirmava que um procedimento reconstrutivo interno sempre ocorrerá a partir da interação com uma ação externa, provocada, por exemplo, pela natureza ou pelas próprias relações sociais. Tal ocorrência, segundo suas palavras, representa “uma parte ativa de um processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas”.

Não é nada fácil, não há solução pronta, não será barato, não há garantia absoluta de resultado. No entanto, é imprescindível que algo seja feito.

 

Artigo escrito por Wanda Camargo, representante das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil no Núcleo de Instituições Educacionais (NIES) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) e Rosane Fontoura, coordenadora executiva do CPCE. O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – CPCE é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.

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