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Mulheres e sustentabilidade

FOTO: REUTERS/ Ali Hashisho (Foto: )
FOTO: REUTERS/ Ali Hashisho

FOTO: REUTERS/ Ali Hashisho

Dados das Nações Unidas indicam que 80% dos participantes de militância ecológica são mulheres, o que talvez se deva ao movimento feminista, que desde a década de 70 defende a ideia de que o meio ambiente natural é feminino e, por este motivo, a proteção da natureza estaria ligada à emancipação da mulher e sua maior influência no desenvolvimento local e global.

 Denotando a importância da mulher nos processos de mudança, a  mais importante conferência sobre meio ambiente da história, a Rio 92, abrange em um de seus princípios a necessidade das mulheres participarem ativamente no objetivo de atingir o desenvolvimento sustentável no mundo. A plataforma dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM (2000) também traz o tema da Igualdade dos Sexos e Valorização da Mulher e, além disso, o princípio número seis do Pacto Global preconiza ‘Eliminar a discriminação no emprego’ (2004).

Visando dar condições das mulheres atuarem em prol da sustentabilidade, o Fundo de  Desenvolvimento das Nações Unidas para as mulheres – UNIFEM, assim como o Pacto Global,  lançaram em 2004 os  Princípios de Empoderamento das Mulheres, mostrando a urgência de que todas as empresas estabilizem um alto nível de liderança corporativa para igualdade de gênero, garantindo segurança, saúde e bem-estar a todos, promovendo a educação, formação e desenvolvimento profissional das mulheres, demonstrando o seu compromisso institucional e facilitando socialmente a liderança feminina.

Algumas políticas públicas possuem componente importante de gênero, como o programa Bolsa Família, em particular, concedido preferencialmente às mulheres, proporcionando inclusão e relacionamento com a rede de comércio local, fortalecimento e valorização da mulher nas relações familiares, e entre tantas outras, a percepção da cidadania. Essa concessão preferencial se assenta em concepções tradicionais e culturalmente dadas sobre o papel social das mulheres e, mais especialmente, das mães.  Mulheres tem compromisso biológico com a segurança, levarão em seu corpo novas vidas, protegerão por anos seres absolutamente indefesos; dificilmente se deixam levar pela irresponsabilidade. Em qualquer família, de qualquer situação econômica e social, sabe-se quem elas desempenham atividades que não proporcionam visibilidade na composição da geração de riqueza nacional, mas nem por isso deixam de ter impacto econômico abrangente, e principalmente social.

No Brasil, a participação das mulheres no mercado de trabalho subiu de 39% para 60% em 17 anos, e elas estão aumentando sua presença em todas as áreas do mundo laboral – o percentual de mulheres chefes de empresas no mundo chega 21% – embora ainda sejam as grandes molas propulsoras do trabalho exercido na informalidade.

Atualmente o sexo feminino é maioria em grande parte dos cursos universitários, e isso não pode deixar de ter consequências no perfil de trabalho do futuro, principalmente no quesito sustentabilidade, mesmo sem ter chegado ainda à igualdade, já que a remuneração média da mulher é inferior à do homem em mesma função.

Na outra ponta do aspecto social, onde as consequências de nossa obscena distribuição de renda são mais sentidas e mais doloridas, são mulheres as responsáveis pela maioria das famílias, mantendo os filhos em casa e na escola até onde é possível. Não é à toa que os organismos dedicados ao financiamento de moradias populares preferem que as casas sejam registradas em nome do casal, e, se não for possível, em nome da mulher, só em última hipótese no do marido. Os gerentes de banco sabem que o risco de emprestar a mulheres é bem menor do que emprestar a homens de mesma idade e extrato social; mulheres são melhores pagadoras.

Se listarmos as mulheres de maior proeminência no mundo dos negócios, da política, da arte, da educação, veremos que a maioria delas deve seu protagonismo, em primeiro lugar às suas próprias qualidades. Não ocupam suas posições por concessão masculina, ou pela condescendência de regimes de cotas.

O que há de comum entre elas é que vivem em sociedades em que os direitos civis e o acesso imparcial de homens e mulheres à educação e ao trabalho são garantidos em lei e respeitados, e é isso que faz a diferença, em condições iguais de partida, ambos são igualmente capazes.

É grande o passivo nesta questão de gênero no mundo e no Brasil. Durante séculos as mulheres não tiveram oportunidades de estudo ou trabalho fora de casa; sem estudar não poderiam exercer atividades intelectuais, o trabalho braçal exigia maior força física e não poderia ser feito por elas, o que parece contrassenso se considerarmos o desgaste brutal que o desempenho das tarefas caseiras de rotina impunha antes das máquinas modernas.

É a escola que mais uma vez nos dá o rumo. A educação foi o primeiro mercado massivo de trabalho para as mulheres fora das ocupações domésticas e do trabalho braçal nas lavouras, e foi apenas pelo acesso ao estudo que puderam realizar esta conquista. Espera-se delas, na medida em que evolua o acesso a diversas áreas de atuação, mais e melhores contribuições para o desenvolvimento sustentável. Mesmo no século XXI há ainda muitos mitos em relação às mulheres, porém cada vez mais vemos que este é o século dos desafios, e a conquista da igualdade de gênero é também possibilidade de reduzir a violência física, moral e psicológica que muitas ainda sofrem.

Artigo escrito por Wanda Camargo, representante das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil no Núcleo de Instituições de Ensino Superior (NIES) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE,) e Rosane Fontoura, coordenadora executiva do CPCE. O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – CPCE é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.

 

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